ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores HUGO CREPALDI (Presidente sem voto), EDGARD ROSA E AZUMA NISHI.

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de São Paulo, em que é apelante TÂNIA MARIA DA ROCHA CARACAS, é apelada MARIA ISABELA FELIPE GAVA. ACORDAM, em 25ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores HUGO CREPALDI (Presidente sem voto), EDGARD ROSA E AZUMA NISHI. São Paulo, 11 de agosto de Claudio Hamilton RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Apelação Cível nº Comarca: Foro Central Cível Apelante: Tânia Maria da Rocha Caracas Apelado: Maria Isabela Felipe Gava Juiz: Carlos Eduardo Borges Fantacini VOTO DIREITO DE VIZINHANÇA - OBRIGAÇÃO DE FAZER - INDENIZATÓRIA - DANOS MATERIAIS E MORAIS - Apartamento em edifício - Vazamentos e infiltrações na unidade da autora, provenientes da unidade da ré - Comprovação dos fatos pela prova técnica realizada - Dano material estimado pelo perito em R$ 9.800,00 - Dano moral fixado em R$ ,00 - Alegação da ré no sentido de que o vazamento e infiltrações decorrem da prumada do prédio e são de responsabilidade do condomínio - Afastamento, diante da prova técnica realizada - Procedência parcial da ação - Recurso da ré desprovido. Trata-se de ação de obrigação de fazer c.c. indenização por danos materiais e morais com pedido de tutela antecipada que MARIA ISABELA FELIPE GAVA move em face de TÂNIA MARIA DA ROCHA CARACAS, julgada parcialmente procedente para condenar a ré a indenizar a autora em R$ ,00 pelo dano moral, corrigidos a partir desta sentença, e arcar com o dano material estimado pelo perito, de R$ 9.800,00, com correção a contar do laudo pericial (maio de 2015 fls. 616/7); sobre todos os valores incidindo os juros de mora de 1% ao mês a contar da citação. A ré foi condenada no pagamento das custas e despesas Apelação nº Voto nº rmr 2

3 do processo e verba honorária fixada em 10% sobre o valor da condenação. Apelo da ré pretendendo a reforma da sentença, alegando, em síntese, que o imóvel é antigo e apresenta uma série de problemas decorrentes de manutenção inadequada. Aduz que contratou empresa de caça vazamentos que informou que o vazamento não era proveniente dos encanamentos da unidade, já que os registros estavam fechados e o banheiro sem uso desde janeiro de Argumenta que efetuou a troca da tubulação de PVC por outra mais resistente. Assevera que restou constatado que há umidade nas paredes e tetos do entorno da prumada do prédio e que atingem não somente a unidade da autora, mas também outros apartamentos de final 4. Alega que o perito concluiu que a origem dos problemas de umidade ao longo de boa parte da prumada de final 04 não se encontra em seu apartamento. Informa que em setembro de 2013 o condomínio realizou impermeabilização de caixa d'água superior, cujo vazamento pode ser a causa das infiltrações. Invoca a existência de divergências entre as conclusões dos engenheiros Walmir Pereira Modotti e Luiz Antonio Gargione, que deveria ser sanada por terceira opinião técnica. Alega que cumpriu o prazo e realizou todas as reformas necessárias em seu imóvel para cessar os vazamentos e infiltrações. Insiste que o perito não conseguiu determinar a origem real das infiltrações ou vazamentos. Afirma que sofreu enorme constrangimento moral ao Apelação nº Voto nº rmr 3

4 ser apontada como causadora dos problemas de infiltrações e vazamentos na unidade 24, os quais persistem até hoje, não obstante as obras já realizadas em sua unidade. Recurso respondido. É o relatório. Alega a autora, em síntese, que é proprietária do apartamento 24 do Edifício Sobradão, localizado na Rua Bela Cintra 1744, Jardins, São Paulo. Aduz que desde meados de janeiro de 2012 teve de enfrentar e conviver com sério problema de infiltração e vazamento no banheiro de seu imóvel. Afirma que tentou acordo amigável com a parte ré, contratando profissionais, porém, a moradora do apartamento 34 não permitiu os reparos, insistindo que o vazamento é de responsabilidade do condomínio. Assevera que notificou extrajudicialmente a ré em data de 12/09/2012, pedindo esclarecimentos sobre o vazamento, mas não logrou solucionar o problema. Anota que distribuiu medida cautelar de produção de provas que tramitou perante a 26ª Vara Cível, cujo laudo veio em data de 01/07/2013 Assim, é a presente ação para requerer, em sede de tutela antecipada, que a ré comprove se a tubulação do seu banheiro foi devidamente reparada, juntando laudo do profissional contratado com as devidas informações e esclarecimentos dos serviços prestados. Caso contrário, requer a intimação da ré para apresentar empresa especialista em consertos de tubulações no Apelação nº Voto nº rmr 4

5 prazo de 48h, sob pena de multa diária. No mérito, requer a condenação da ré no ressarcimento dos danos materiais causados no importe de R$ ,56, bem ainda a condenação da ré no dano moral, estimado em R$ ,56 equivalente ao dano material. A ré, citada, contestou, alegando, em preliminar, ilegitimidade de parte passiva, já que não é a proprietária da unidade 34. No mérito, sustentou que não é responsável pelos vazamentos e infiltrações, havendo impugnado o laudo pericial realizado na medida cautelar. Asseverou que a rachadura na tubulação de seu apartamento teria sido causada pelos pedreiros da autora quando da perícia. Requereu a improcedência. 596/617 e 654/667. Houve réplica (fl. 453 e seguintes). Laudo pericial a fl. A ação foi julgada parcialmente procedente. Não obstante os argumentos esboçados no apelo da ré, a resultante da ação não pode ser outra, a não ser aquela trazida em primeiro grau. O perito WALMIR PEREIRA MODOTTI, após vistoria in loco no apartamento da ré e de outras unidades do prédio, concluiu que: Daquilo que restou anteriormente exposto, tem-se que as Apelação nº Voto nº rmr 5

6 infiltrações que afetavam a unidade da requerente tinham origem, indubitavelmente, nas redes(ramais) que serviam exclusivamente a requerida (fl. 616). Porém, o perito também ressaltou que: Todavia, a situação atual se alterou com problemas de umidade ao longo de boa parte da prumada de final 4 e cuja origem não se encontra no apartamento da requerida. Quanto a regularidade das obras levadas a efeito pela requerida, o perito nada pode informar a respeito, já que não as acompanhou. Ainda assim é fato que ela não causa os problemas atuais, já que o sanitário da unidade se encontra desativado, posto que não teve sua instalação concluída. Relativamente aos valores reclamados para reembolso, constata-se que eles extrapolam a execução de simples reparos dos danos causados pelas infiltrações vindas da propriedade da requerida e englobaram valores de uma reforma mais ampla do imóvel. Em assim sendo, e pelos motivos expostos em capítulo anterior, os valores que podem ser relacionados com os serviços de reparação da unidade da requerente, e decorrentes dos danos causados pelas infiltrações oriundas do imóvel da requerida, perfaz Apelação nº Voto nº rmr 6

7 o total de R$ 9.800,00 (fl. 616). Ou seja, a perícia inicialmente não afastou a responsabilidade da unidade 34 pelos vazamentos e infiltrações existentes na unidade 24, de propriedade da autora. Tanto que ressaltou que as infiltrações da unidade 24 eram provenientes indubitavelmente, da unidade da ré. Aliás, a alteração da situação fática posteriormente, ao que tudo indica, diante da constatação de infiltrações e vazamentos na prumada do prédio de final 4, que atingiu inclusive outras unidades do mesmo final, não quer significar que a unidade da ré não deva ser responsabilizada pelos problemas relatados nesta ação, em razão da constatação pericial técnica de que eram provenientes dessa unidade. Note-se que o próprio perito judicial comentou que: (...) na oportunidade foi aberta inspeção no teto do sanitário da unidade da requerente, quando então se constatou que o local estava seco. Dessa forma, foi então demonstrado que naquela oportunidade o vazamento se limitava à unidade da própria requerida, sem qualquer contribuição dos níveis superiores (fl. 665). E ainda comentou que: pelos exames feitos nas duas perícias, é possível dizer que as infiltrações anteriores se limitavam Apelação nº Voto nº rmr 7

8 à unidade da requerida e que as atuais são diversas, vindas das unidades superiores, conforme se demonstrou no corpo do laudo tendo acrescentado, ainda, que as demais colocações da requerida não se chocam com os termos do laudo oficial, motivo pelo qual nada há para se comentar a respeito (fl. 667). Ademais, quando da vistoria realizada na medida cautelar de produção de provas (processo nº ), o perito rebateu as críticas formuladas, conforme anotou o magistrado. Observe-se que o perito disse que a causa do problema foi bem demonstrada, e está nos pontos de ruptura das tubulações do banheiro da requerida Tânia, tanto no ramal do chuveiro, quanto no do vaso sanitário (fl. 319), tendo ressalvado, ainda, que as infiltrações que afetavam o apartamento dos requerentes provinham em menor grau da tubulação do vaso sanitário e, em maior escala, do ramal do chuveiro, ambos do apartamento da requerida Tânia (fl. 325). Portanto, ainda que venha a parte alegar que o banheiro está desativado, anotando que, em vistoria recente, o síndico verificou que o vazamento na unidade 24 era decorrente da prumada do prédio, não se pode descartar as conclusões emanadas das provas realizadas nestes autos, diante do fato de que se trata de modificação da situação anterior. Quanto ao pedido indenizatório por dano moral formulado Apelação nº Voto nº rmr 8

9 no apelo, evidentemente não pode ser conhecido, eis que somente agora levantado pela parte apelante, não obstante as discussões existentes nos autos em primeiro grau. grau. Consequentemente, fica mantida a sentença de primeiro Posto isso, nega-se provimento ao recurso. CLÁUDIO HAMILTON Relator Apelação nº Voto nº rmr 9