ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores DIMAS RUBENS FONSECA (Presidente) e CESAR LUIZ DE ALMEIDA.

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Santos, em que é apelante RAFAEL JESUS GONÇALVES (JUSTIÇA GRATUITA), é apelado CARLOS OLIVEIRA DOS SANTOS (JUSTIÇA GRATUITA). ACORDAM, em do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento em parte ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores DIMAS RUBENS FONSECA (Presidente) e CESAR LUIZ DE ALMEIDA. São Paulo, 4 de agosto de Cesar Lacerda RELATOR Assinatura Eletrônica

2 VOTO N º: APELAÇÃO Nº COMARCA: SANTOS APELANTE: RAFAEL JESUS GONÇALVES APELADO: CARLOS OLIVEIRA DOS SANTOS JUIZ: SIMONE CURADO FERREIRA OLIVEIRA Direito de vizinhança. Ação de indenização por danos morais e materiais. Infiltração de água no imóvel do autor pelo forro dos quartos, banheiro e sala do seu apartamento, decorrente de obra realizada no imóvel do réu, seu vizinho. Água que atingiu e deteriorou as camas, o rack do computador, uma cômoda e dois guardas-roupas. Transtornos que ultrapassam o conceito de mero dissabor e ensejam o dever de indenizar o abalo extrapatrimonial suportado. Valor que deve ser arbitrado em harmonia com critérios de balizamento usuais. Se o valor arbitrado revela-se excessivo para compor a reparação do dano moral experimentado, impõese sua redução. Recurso parcialmente provido. A respeitável sentença de fls. 179/185, cujo relatório se adota, julgou procedente em parte a ação de indenização por danos morais e materiais em razão de vazamento no imóvel movida por Carlos Oliveira dos Santos em face de Rafael Jesus Gonçalves. Inconformado, apela o réu (fls. 187/194). Sustenta, em síntese, que o valor da condenação dos danos morais não levaram em consideração que a demora para se ressarcir o autor dos móveis se deu por culpa dele, que exigia padrão diverso do indicado no laudo pericial, bem como instalação da rede elétrica que não foi atingida. Aduz que não houve privação prolongada do uso do imóvel, que ficou restringida a um ou dois dias. Assevera que a perita oficial não constatou umidade no imóvel, além da já existente no banheiro, bem como não ficou Apelação nº

3 demonstrado que o autor ou familiar tenha ficado doente em razão do alagamento. Afirma que as partes são beneficiárias da justiça gratuita, residem em conjunto habitacional próximo à Rodovia Anchieta, em bairro de classe média baixa e conforme indicam as fotografias acostadas aos autos, as residências são de pessoas humildes, sem luxo. Diz que sua condição financeira foi demonstrada pela dificuldade com que conseguiu comprar os móveis para ressarcir ao autor, em parcelas e cartão de crédito. Pugna pela reforma da decisão para reduzir a condenação por danos imateriais ao valor de R$ 2.000,00. Recurso regularmente processado, com resposta (fls. 199/202). É o relatório. Respeitado o entendimento da d. magistrada sentenciante, o recurso comporta parcial acolhida. É induvidoso o sofrimento moral experimentado pelo autor, além do incômodo, dos sentimentos de angústia e desassossego que experimentou com a situação decorrente do alagamento de seu imóvel, como bem salientado no laudo pericial houve infiltração de água pelo forro dos quartos, banheiros e sala do apartamento (...) no forro dos quartos a infiltração deve ter sido maior e formou gotículas de água, como vemos nas fotos de fls No forro da sala a água alastrou-se na laje (fls. 29/30). No banheiro também ouve infiltração, mas como o forro já estava com muita umidade pela falta de ventilação no local, as fotos não são tão elucidativas. A água atingiu as camas dos quartos, e ainda o rack de computador, uma cômoda e dois guardaroupas (fls. 119). Apelação nº

4 Os danos imateriais emergem com clareza dos elementos dos autos, e são de intuitiva percepção, ante as circunstâncias do caso. Inquietação espiritual, sofrimento injusto, angústia, desconforto, desassossego, são sentimentos que o autor e sua família tiveram que enfrentar, eis que conviveram diariamente com os estragos, os quais tornaram desagradável e tormentosa a ocupação do imóvel. Conquanto o réu tenha procurado atenuar as consequências do vazamento, suas providências não foram eficazes a ponto de afastar a existência do padecimento moral, que deve ser reparado. Cabe registrar, aliás, o pensamento que tem prevalecido nesta Câmara, reiteradamente afirmado pelo eminente Desembargador Celso Pimentel, com espeque em jurisprudência do Colendo Superior Tribunal de Justiça: "A propósito, dano moral, exatamente porque moral, não se demonstra nem se comprova. Afere-se segundo o senso comum do homem médio. Resulta por si mesmo da ação ou omissão culposa, in re ipsa, porque se traduz em dor física ou psicológica, em constrangimento, em sentimento de reprovação, em lesão e em ofensa ao conceito social, à honra, à dignidade." (Conforme, dentre outras, apelações com revisão n s /5; /0; /6; /5). É consabida a dificuldade de que se reveste a quantificação da indenização por danos morais, que deve levar em conta a gravidade do dano, a sua extensão, a posição social e econômica das partes, as finalidades reparatória e punitiva da indenização, devendo ser ela suficiente para coibir novos abusos do ofensor, sem que, todavia, permita o enriquecimento sem causa dos ofendidos. Apelação nº

5 E levando-se em conta ainda se tratam de partes beneficiadas pela gratuidade da justiça, residentes em conjunto habitacional, localizado em bairro de classe média baixa. Sopesados todos os aspectos antes mencionados, tem-se que a indenização pelo prejuízo imaterial verificado na espécie foi fixada em patamar muito elevado (R$ ,00) e comporta redução, encontrando melhor harmonia com os contornos dos danos e com a posição econômica das partes se estimada na importância de R$ R$ 3.940,00, equivalente a cinco salários mínimos, quantia moderada, mas adequada para compor o prejuízo moral experimentado pelo apelante em atenção aos elementos de balizamento acima aludidos, com correção monetária e juros nos termos da sentença. Conclusivamente, a parcial reforma da sentença recorrida impõe-se como medida de rigor, apenas para o fim de reduzir o valor arbitrado para a indenização pelo dano moral experimentado pelo autor, sem alteração do carregamento das verbas da sucumbência. Diante do exposto, dá-se parcial provimento ao recurso, para o fim de reduzir o valor da indenização por danos morais. CESAR LACERDA Relator Apelação nº