INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS: EM BUSCA DA COMPETITIVIDADE Luis Afonso Lima *
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- Lúcia Pereira Fragoso
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1 Carta da SOBEET ANO XIV N 61 Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica Novembro/ 2011 O investimento brasileiro direto constitui um fenômeno recente, que ganhou impulso na segundo metade da década passada. Apesar de este movimento ser relativamente recente, as empresas brasileiras já estão presentes em 78 países, de acordo com os últimos dados disponibilizados pelo Banco Central. Um dos principais motivos para a internacionalização, mas não o único, é a busca por novos mercados. Outras motivações contemplam a busca por matérias-primas e o interesse de estar em mercados com melhor ambiente de negócio. A internacionalização de empresas brasileiras pode ser observada em diferentes empresas de setores da Indústria, de Serviços, da Agropecuária e do Extrativismo Mineral. INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS: EM BUSCA DA COMPETITIVIDADE Luis Afonso Lima * Introdução Não é novidade que há anos existe uma clara tendência de direcionamento dos fluxos de Investimento Direto Estrangeiro (IDE) por origem em favor de economias em desenvolvimento. De fato, em 1980 os países desenvolvidos eram destino de 86% dos fluxos globais de IDE, já em 2010, esse percentual reduziu-se para 48%. Ou seja, economias em desenvolvimento são desde 2010, o destino de mais da metade dos fluxos globais de IDE. O que pouco se discute, entretanto, é que a mesma tendência favorável aos países em desenvolvimento também existe no que se refere à origem dos fluxos globais de IDE. Nos últimos 30 anos os fluxos originados em países desenvolvidos passaram de 94% para 71% dos fluxos globais de IDE. Mantida a atual velocidade de desconcentração dos fluxos de IDE por origem, em 2017, empresas de economias em desenvolvimento deverão ultrapassar economias desenvolvidas como fonte de IDE. O Brasil não constitui exceção em meio a estes dois movimentos de redirecionamento dos fluxos globais de IDE em favor de economias em desenvolvimento. Em termos de destino dos fluxos globais de IDE, os ingressos de IDE no Brasil alcançaram 5,4% dos fluxos globais de IDE, a maior taxa já observada, de acordo com os últimos dados disponíveis da OCDE. Em termos de origem, por sua vez, também é possível dizer que um crescente número de empresas brasileiras busca expandir suas atividades no exterior. O objetivo deste artigo é apresentar algumas características desse movimento de internacionalização das empresas brasileiras nos últimos anos. Busca-se compreender as Pedro Augusto Godeguez da Silva ** motivações para a internacionalização, as intenções de investimento, as formas de atuação no exterior e, por fim, as barreiras e entraves à internacionalização no país e no exterior. Nessa tentativa de lançar luzes sobre a compreensão do movimento de internacionalização das empresas brasileiras, serão apresentados alguns dos resultados obtidos pela pesquisa de Multinacionais Brasileiras realizada pela SOBEET em parceria com o Valor Econômico nos anos de 2009, 2010 e Fez-se a opção metodológica de enviar questionário eletrônico a um universo de 150 a 200 empresas brasileiras com presença no exterior. Como critério de seleção, foi obedecido o critério estabelecido pelo Banco Central do Brasil de selecionar empresas com mais de 10% do capital de filiais e investimento no exterior superior a US$ 10 milhões. O questionário enviado foi dividido em duas partes. Na primeira parte, de cunho quantitativo, o intuito foi a elaboração de um ranking de índices de internacionalização estimados de acordo com a metodologia da United Nations Conference on Trade and Development, a UNCTAD. Este índice de internacionalização considera a média entre as proporções de ativos, funcionários e receitas no exterior em relação aos seus respectivos totais. A segunda parte do questionário, que será a utilizada neste artigo, possui informações qualitativas referentes a motivações, intenções, formas e barreiras à internacionalização. Espera-se assim, obter indícios que auxiliem na compreensão do movimento de internacionalização das empresas brasileiras. A seguir apresentamos os principais resultados obtidos dessa pesquisa qualitativa. * Luis Afonso Lima é Diretor Presidente da Sobeet. ** Pedro Augusto Godeguez da Silva é Economista e Pesquisador da Sobeet. As informações expressas nesta Carta são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a posição institucional da SOBEET. 1
2 Motivações para a internacionalização Quando questionadas a respeito dos motivos que as levaram a se internacionalizar, as empresas pesquisadas apontam para a busca da competitividade internacional. Na comparação entre as respostas de 2011 e de anos anteriores, é interessante observar a queda da importância da demanda mundial nos motivos de internacionalização. O cenário internacional instável e a desaceleração do crescimento das economias centrais, entre outros fatores, justificam a redução do percentual dessa resposta. Quais os principais motivos que levaram sua empresa a se internacionalizar? 27,1 25,9 26,3 17,6 19,5 17,5 13,7 14,0 15,2 15,1 13,3 14,0 13,1 11,4 8,8 8,8 9,8 9,8 5,3 3,6 2,0 3,5 1,8 1,0 1,0 0,0 1,0 Competitividade internacional da empresa Redução da dependência do mercado interno Busca de economias de escala Demanda mundial Estabelecer plataformas de exportação em outros países Acompanhar concorrentes / clientes em mercados internacionais Saturação do mercado interno brasileiro Incentivos fiscais Outro Em relação aos fatores de maior importância para a escolha da localização da empresa em mercados internacionais, as três respostas mais freqüentes atribuem importância à dimensão e ao crescimento do mercado local, bem como ao acesso a terceiros mercados. Estes fatores, associados ao fato de que alternativas relacionadas à produção, como a disponibilidade de mão de obra, a busca por cadeias de produção e o ambiente estável para o investimento terem sido menos freqüentes, pode indicar uma característica de market-seeking projects, como sugerem as respostas apresentadas no gráfico abaixo. Quais os fatores mais importantes que influenciam a localização de sua empresa no exterior? 41,1 35,7 31,3 31,9 28,5 25,1 17,8 16,3 11,7 2 Tamanho do mercado Acesso a mercados internacionais e/ou regionais 3,6 Crescimento do mercado local 9,2 7,1 6,1 Ambiente estável Busca por cadeias para o investimento de produção globais 4,8 4,6 3,6 Disponibilidade de mão de obra 8,9 1,7 1,8 Outro
3 Intenção de internacionalização A desaceleração da economia mundial ao longo de 2011 vem afetando os fluxos de investimentos diretos no mundo. Os últimos dados divulgados pela Unctad confirmaram os efeitos da crise. Diante do cenário de retração da demanda, as empresas tiveram de adotar estratégias diferenciadas. Nesse contexto, ao serem questionadas a respeito das intenções de investimentos voltados para internacionalização, as respostas mais freqüentes foram a manutenção do mesmo nível de investimento com mais de 46% das respostas nos dois últimos anos pesquisados, e o aumento de até 30% dos investimentos em internacionalização. Interessante observar que a somatória de respostas referentes à redução de investimentos reduziu-se ante anos anteriores. É verdade que o momento em que os questionários foram respondidos, o primeiro semestre de 2011, ainda não contava com a deterioração do cenário econômico observado no segundo semestre do ano. De qualquer modo, vale registrar que os fluxos de investimentos diretos de empresas brasileiras para o exterior cada vez mais denotam um movimento estratégico de longo prazo. Nesse sentido, momentos adversos podem fazer adiar a expansão de determinadas atividades no exterior, mas não as interromper definitivamente. Qual a tendência do investimento da sua empresa voltado para internacionalização em frente a 2010? 45,7 46,3 42,9 34,7 36,6 28,6 8,6 12,2 10,2 14,3 12,2 2,9 2,4 2,4 0,0 Permanecer igual Aumento de até 30% Aumento de mais de 30% Redução de mais de 30% Redução de até 30% Formas de internacionalização Questionadas sobre as formas de atuação no exterior, as empresas brasileiras internacionalizadas indicaram que a principal forma de comprometimento no mercado internacional é por meio da instalação de unidades próprias, sejam elas de produção/prestação de serviços ou de apoio às exportações. Por outro lado, a forma de atuação no mercado internacional por meio da aquisição de empresas estrangeiras aponta para a internalização de imperfeições do mercado ou mesmo o aproveitamento das novas oportunidades nos negócios internacionais. Comparando os dados obtidos entre 2009 e 2011, podemos observar que a única alternativa significativa que apresentou queda foi a de atuação por meio de exportações com licenciamentos ou representantes. Se associarmos a este fator a tendência de crescimento da atuação por meio de instalações próprias, que saltou de 21,4% em 2009 para 33,6% em 2011, podemos reforçar a idéia de aprofundamento gradual da internacionalização das empresas brasileiras. Isso reforça a nossa percepção de que os fluxos de investimentos diretos de empresas brasileiras para o exterior cada vez mais denotam um movimento estratégico de longo prazo. 3
4 Quais as principais formas de atuação da sua empresa nos mercados internacionais? 33,6 32,7 30,2 28,9 32,1 21,4 22,0 19,5 17,9 12,8 16,2 14,3 8,9 5,4 1,4 1,3 1,3 0,0 Instalação de unidades de produção / serviços próprios no exterior Exportação por meio da instalação de escritórios próprios voltados à comercialização no exterior Aquisição de empresas estrangeiras para produzir / ofertar serviços no exterior Exportação por meio de licenciamento de distribuidores / representantes estrangeiros Outra Exportação por meio de terceiros Em relação às formas de financiamento das operações internacionais, a alternativa mais comum foi a de financiamento por meio de capital próprio, registrando mais de 50% das respostas nos últimos três anos. Entre as formas alternativas de financiamento estão as dívidas no exterior, empréstimos de bancos no exterior e as linhas de financiamento do BNDES. As respostas colhidas nos levantamentos realizados indicam que a maior parte das empresas segue ainda dependente de seus próprios recursos para o financiamento de suas atividades no exterior. Entre outros fatores, esse resultado pode refletir que, a despeito do volume de recursos disponibilizados pelo BNDES para atividades de internacionalização, estes estão disponíveis ainda para um reduzido número de empresas de grande porte. Quais as principais formas de financiamento das atividades de sua empresa no exterior? 70,9 57,6 50,1 23,8 17,0 13,8 9,5 5,5 11,9 13,0 7,3 7,3 0,5 2,9 Capital próprio Dívidas no Exterior BNDES Banco no exterior Outra 4
5 Barreiras à internacionalização As respostas sobre as barreiras internas à internacionalização foram heterogêneas. Entre os fatores mais citados estão a elevada carga tributária brasileira, a flutuação do real, a concorrência com projetos no Brasil, que pode ser justificada pelo grande mercado interno que tem se mostrado aquecido. Além disso, foi citado o custo do crédito no Brasil, fator que contribui com a opção de financiar a internacionalização através de capital próprio. A despeito dessa heterogeneidade, vale notar que a principal barreira apontada em 2011 para a internacionalização de empresas foi a elevada carga tributária, com 19,2% das respostas. Vale notar que essa barreira vem ganhando relevância nos últimos anos. Quais as principais barreiras internas para sua empresa se internacionalizar? 23,6 19,218,8 17,4 10,9 14,4 13,8 11,411,6 10,9 10,8 7,2 9,6 8,4 8,4 7,8 7,3 7,2 6,1 6,7 6,0 5,5 4,8 5,1 12,7 1,5 2,8 1,8 1,2 Elevada cargaconcorrência tributária no com projetos Brasil no Brasil Custo do crédito no Brasil Custos elevados de logística Flutuação dafalta de apoio Falta de Dificuldade de Baixas Falta de moeda governamental pessoal com acesso a economias deconhecimento brasileira competências necessárias canais de distribuição escala, sobre os mercados nos mercados potenciais internacionais tornando os custos de produção elevados em relação aos concorrentes internacionais Outra A principal barreira externa indicada pelas empresas brasileiras no exterior foi a de enfrentar a alta competitividade em mercados maduros. Neste sentido, a dificuldade em explorar as vantagens de propriedade de maneira a neutralizar as vantagens das empresas locais conhecedoras do mercado pode ser uma hipótese, reforçada pela segunda resposta mais freqüente, em que as empresas atribuem ao ambiente regulatório dos países a sua maior dificuldade. Quais as principais barreiras externas para sua empresa se internacionalizar? 31,231,5 25,0 16,9 14,314,8 16,7 14,3 14,2 16,7 9,2 10,1 9,7 7,4 6,2 5,1 5,6 9,2 5,66,1 5,4 1,9 1,9 3,1 3,6 3,7 1,4 0,2 0,2 0,0 Alta Ambiente Barreiras Dificuldades de Barreiras Dificuldades dedificuldadesdificuldades deprazos e riscolegislação de competitividade regulatório dos tributárias gestão das impostas no captação de para obter as captação de de crédito do patentes em mercados países (bitributação operações país de destino recursos no garantias recursos no comprador maduros sobre lucro, internacionais dos mercado requeridas para mercado externo cobrança de investimentos interno em o financiamento externo em impostos sobre resultados de variações da sua empresa condições competitivas condições competitivas cambiais) Outra 5
6 Considerações finais O investimento brasileiro direto constitui um fenômeno recente, que ganhou impulso na segundo metade da década passada. Apesar de este movimento ser relativamente recente, as empresas brasileiras já estão presentes em 78 países, de acordo com os últimos dados disponibilizados pelo Banco Central. Um dos principais motivos para a internacionalização, mas não o único, é a busca por novos mercados. Outras motivações contemplam a busca por matérias-primas e o interesse de estar em mercados com melhor ambiente de negócio. A internacionalização de empresas brasileiras pode ser observada em diferentes empresas de setores da Indústria, de Serviços, da Agropecuária e do Extrativismo Mineral. A internacionalização de empresas brasileiras não é uma panacéia. Entre outros benefícios esta permite estimular as exportações e aumentar a competitividade das exportações brasileiras. Diante disso, vale termos uma estratégia definida de atuação de empresas brasileiras na arena global. Um dos grupos de estratégias, ou políticas públicas, deveria contemplar acordos de dupla tributação. Nesse sentido, a pesquisa realizada aponta que as empresas que voltam suas atividades ao exterior de fato carecem de acordos de bitributação. A perspectiva da dupla tributação é apontada como uma das principais barreiras à internacionalização. Nesse sentido, o país assinou apenas um reduzido número de acordos de bitributação nos últimos 10 anos. Outro grupo de políticas poderia contemplar acordos e tratados de investimento de modo a proteger os ativos e interesses de empresas no exterior. De fato, já há precedentes de interesses de empresas brasileiras afetados no exterior, inclusive na América Latina. O argumento utilizado para evitarmos tais acordos, entre outros, é de que o Brasil ainda é mais importador do que exportador de investimentos diretos. A lógica desse argumento é a de que ao assinarmos acordos de investimento estaríamos mais protegendo investimentos estrangeiros do que sendo protegidos. Vale colocar, entretanto, que isso já não é mais uma verdade absoluta para todos os países. Entre o Brasil e diferentes países da América Latina, da África e até mesmo países desenvolvidos, como o Canadá, há mais investimentos brasileiros a serem protegidos do que o contrário. Talvez a mais necessária ação ou estratégia, entretanto, esteja em relacionada ao financiamento. O elevado percentual de empresas que utiliza recursos próprios para financiar suas atividades no exterior fala por si só. É verdade que o BNDES já vem atuando nesse sentido por meio de linhas de financiamento voltadas à internacionalização de grandes grupos brasileiros. No entanto, valeria que também as empresas de menor porte tivessem acesso a esses recursos. Em tempos de crise, as dificuldades de financiamento tendem a aumentar, mas oportunidades de negócios surgem em intensidade ainda maior. 6
7 SOBEET- SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDOS DE EMPRESAS TRANSNACIONAIS E DA GLOBALIZAÇÃO ECONÔMICA PRESIDENTE: Luis Afonso Lima (Grupo Telefónica) VICE-PRESIDENTE: Reynaldo Passanezi (BBVA) DIRETOR: Nicola Tingas (Acrefi) DIRETOR: Eduardo Luiz Machado (IPT) DIRETOR: Frederico Turolla (Pezco) DIRETOR: José Augusto Guilhon de Albuquerque (USP) DIRETOR: Ernesto Lozardo (FGV/EAESP) DIRETOR: José Roberto de Araujo Cunha Junior (FIA/USP) DIRETOR: Roberto Padovani (Votorantim Corretora) DIRETOR: Fernando Sarti (Unicamp) CONSELHO CONSULTIVO: PRESIDENTE: Hermann Wever (Siemens Brasil) André Costa Carvalho (UBS Investment Bank); Antônio Corrêa de Lacerda (PUC-SP); Antonio Prado (BNDES); Armando Castelar Pinheiro (IPEA); Arno Meyer; Carlos Eduardo Carvalho (PUC-SP); Carlos Kawall (Banco Safra) ; Christian Lohbauer (Associação Nacional dos Exportadores de Cítricos); Gustavo Franco (Rio Bravo Investimentos); John E. Mein (Consentes); Luciano Coutinho (BNDES); Marcelo Resende Allain (FIPE/USP); Maria Helena Zockun (FIPE-USP); Maurício Mesquita Moreira (BID); Octavio de Barros (Bradesco); Otaviano Canuto (BIRD); Renato Baumann (IPEA); Ricardo Bielschowsky (CEPAL-Brasil); Rolf-Dieter Acker (BASF); Rubens Barbosa (Ex-Embaixador do Brasil em Washington); Rubens Ricupero (Ex-Secretário Geral da UNCTAD); Sandra Polónia Rios (CNI); Vera Thorstensen (FGV); Virene Roxo Matesco (EPGE/IBRE-FGV-RJ); Winston Fritsch. tel/fax: sobeet@sobeet.org.br - site: MANTENEDORES 7
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