Representante do Ministério Público: LUCAS ROCHA FURTADO;

Transcrição

1 Tribunal de Contas da União Representante do Ministério Público: LUCAS ROCHA FURTADO; Dados Materiais: c/ 01 volume Assunto: Tomada de Contas Especial Acórdão: VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Tomada de Contas Especial, instaurada pela Caixa Econômica Federal - CEF, em virtude de irregularidades verificadas na Filial/MS por Comissão de Sindicância da Instituição, de responsabilidade solidária dos empregados João Pereira Filho e Paulo Roberto Giresini Siviero, pelos saldos devedores dos contratos provenientes de operações financeiras com as empresas ITAÓCA Empreendimentos Imob. Ltda. e ROCA Comércio e Representação Ltda. Considerando que, regularmente citado, os responsáveis apresentaram defesa que não logrou elidir as irregularidades constatadas (práticas irregulares na operacionalização de contrato de empréstimo firmado com a CEF, gerando dispêndio indevido à Instituição); Considerando que, em Sessão de 18/05/2000, este Tribunal, por sua Segunda Câmara, rejeitou as alegações de defesa apresentadas e fixou novo e improrrogável prazo para o recolhimento das importâncias devidas (Decisão nº 160/2000/Ata 18/2000); Considerando a jurisprudência que vem se consolidando nesta Casa no sentido de que, para se evitar a cobrança em duplicidade de importâncias devidas à pessoas distintas, não haja cobrança de débitos aos responsáveis, ficando o referido débito, dessa maneira, submetido às providências judiciais cabíveis; Considerando que a CEF já adotou as medidas judiciais pertinentes, com vistas a ressarcirse dos prejuízos sofridos mediante ação judicial; Considerando que restou comprovada a culpa dos responsáveis na prática dos atos irregulares; Considerando, ainda, os pareceres uniformes do Ministério Público junto ao Tribunal e da Unidade Técnica;

2 ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão da 2ª Câmara, com fundamento nos arts. 1, inciso I; 16, inciso III, alínea b, da Lei n 8.443/92, c/c os arts. 19 e 23, inciso III, da mesma lei, em: 8.1 julgar irregulares as contas dos Srs. João Pereira Filho e Paulo Roberto Giresini Siviero, aplicando-lhes, individualmente, a multa prevista no art. 58, I, da Lei nº 8.443/92 no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), fixando-se o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprovem perante o Tribunal (art.165, inciso III, alínea a, do Regimento Interno/TCU) o recolhimento do referido valor aos cofres do Tesouro Nacional; e Colegiado: Segunda Câmara Classe: Classe II Sumário: Tomada de Contas Especial. Irregularidades em contrato de financiamento de habitação. Citação. Defesa insuficiente para comprovar sua regular aplicação. Rejeição (Decisão 160/ Ata 18/2000). Cientificação. Apresentação de elementos adicionais que não lograram sanar as irregularidades verificadas. Adoção de providências para o ressarcimento do débito pela CEF. Contas julgadas irregulares. Multa. Autorização para a cobrança judicial da dívida. Natureza: Tomada de Contas Especial Data da Sessão: 25/10/2001 Relatório do Ministro Relator: Adoto, como Relatório, parecer exarado pelo Sr. Eduardo Duailibe Murici, Secretário de Controle Externo da atual 2ª Secex, constante às fls. 70/2-Vol.1: Trata-se do expediente às fls. 2/8 deste volume, autuado inicialmente como Recurso de Revisão da Decisão nº 160/ TCU - 2ª Câmara, e encaminhado a esta Secretaria para análise preliminar de admissibilidade mediante o Memorando 10ª Secex nº 204/2000, à fl. 42.

3 Conforme lembra o analista no item 2 de sua instrução, à fl. 62, a supramencionada Decisão não tem caráter definitivo, não sendo cabível recurso de revisão, e sim apresentação de novos elementos de defesa, conforme os 1º e 2º do art. 23 da Resolução TCU 36/95, devendo estes serem apreciados por esta Unidade Técnica. O presente processo trata da Tomada de Contas Especial, autuada no Volume Principal, instaurada pela Caixa Econômica Federal - CEF em cumprimento à Decisão nº 206/92 - Plenário, em virtude de irregularidades verificadas na Filial/MS por Comissão de Sindicância da Instituição. A referida TCE concluiu (fls. 88 e 89 do Vol. Principal) pela responsabilidade solidária dos funcionários João Pereira Filho e Paulo Roberto G. Siviero, juntamente com as empresas, pelos saldos devedores dos contratos provenientes de operações financeiras com as empresas ITAÓCA Empreendimentos Imob. Ltda. e ROCA Comércio e Representação Ltda.. A CEF interpôs contra a empresa ITAÓCA Ação Ordinária de Repetição de Indébito e contra a empresa ROCA Ação Ordinária de Cobrança, tendo realizado com esta última Contrato de Confissão de Dívida, e remetido a esta Corte os comprovantes de recebimento dos valores, às fls. 345/356 do Vol. Principal. Conforme Despacho do Ministro-Relator Fernando Gonçalves, à fl. 179 do Vol. Principal, foi realizada citação dos Srs. João Pereira Filho e Paulo Roberto Giresini Siviero, solidariamente, em virtude das irregularidades verificadas no Contrato com a empresa ITAÓCA. A Decisão nº 160/2000, de , objeto da solicitação de revisão, rejeita as defesas apresentadas pelos Srs. João Pereira Filho, ex-gerente Operacional da filial da Caixa Econômica Federal - CEF - em Mato Grosso do Sul (aposentado) e Paulo Roberto Giresini Siviero, ex-gerente de Núcleo daquela agência, dado que suas alegações não ilidiram suas responsabilidades perante os débitos junto ao referido banco oficial, em função de irregularidades nas operações de financiamento para construções habitacionais, ocorridas ao arrepio das normas internas da CEF e ensejando prejuízo à Empresa. Nos novos elementos de defesa, às fls. 2/8, os responsáveis, representados por seu procurador, citam a Decisão nº 523/ TCU - Plenário (TC /94-1), de , posterior portanto à Decisão pretensiosamente recorrida, para solicitar o arquivamento dos autos, devido a existência da cobrança do débito por via judicial, e, no mérito, a modificação da Decisão para reconhecer que, se houve a indevida conduta deles, esta se deu por falha de interpretação da Administração da CEF.

4 A supracitada Decisão nº 523/2000, seguindo o entendimento firmado pela Decisão nº 859/99 - TCU - Plenário (TC /96-7), arquiva o processo / por racionalidade administrativa, considerando que não devem ensejar instauração de TCE prejuízos decorrentes de operações concedidas sem observância das normas internas da instituição financeira, no contexto de uma política de captação de mercado, em que não restou caracterizado benefício próprio ou de parente ou afins, por caracterizar risco de crédito decorrente do dia a dia das operações bancárias, devendo as providências para o ressarcimento serem adotadas pela própria Instituição, nos termos disciplinados por seus normativos internos, e o fato ser informado a este Tribunal em suas contas anuais. É oportuno mencionar que na Declaração de voto do Ministro Adhemar Ghisi, referendada pelo voto de desempate do Ministro Iram Saraiva, na referida Decisão nº 523/2000, um dos argumentos utilizados foi a inconveniência da possibilidade de duplicidade de cobrança, já que a CEF possui normativos próprios para buscar a reparação civil pela via judicial. Este entendimento já foi consignado por este Tribunal em outros processos (Acórdão nº 77/ Plenário, TC /1996-6, Acórdão nº 149/ Plenário, TC /1997-8, Decisão nº 859/ TCU - Plenário, TC /1996-7), sendo oportuno transcrever trecho da manifestação do Subprocurador-Geral Paulo Soares Bugarin, acolhido pelo Ministro Relator Carlos Átila, no TC /1997-8: Vale registrar, por oportuno, que a CEF adotou providências com vistas a promover a execução Judicial da dívida contra a empresa beneficiada com as operações de crédito (fl. 127), cujos processos encontram-se em andamento, consoante informado à fl Dessa forma, a condenação do responsável ao pagamento do débito representaria duplicidade de cobrança de uma mesma dívida. Tal constatação fica mais evidente na medida em que não restou configurada a solidariedade entre a empresa inadimplente e o ex-gerente. Na verdade, as investigações promovidas no âmbito da Caixa Econômica Federal concluíram que houve grave descumprimento das normas internas, sem, todavia, ficar caracterizada a existência de conluio ou locupletação. Por todo o exposto, e tendo em vista os princípios da racionalidade administrativa e da economicidade, de modo a evitar que sejam executados judicialmente dois responsáveis diferentes pela mesma dívida, este Representante do Ministério Público, com fulcro nos arts. 1º, I, 16, III, alínea c, e 19, parágrafo único, da Lei nº 8.443/92, propugna pela irregularidade destas contas com aplicação da multa prevista no art. 58, III, do referido diploma legal, no valor máximo, ao Sr. Valdir Tietz, sem prejuízo de ser adotado, no caso em tela, o procedimento estabelecido no 3º do supracitado art. 16, ante o fundamento legal da proposta condenatória. De fato, como ressalta o Diretor Técnico à fl. 69, o caso em tela não se harmoniza completamente ao do processo que resultou na Decisão nº 523/2000. A irregularidade consistiu em estornar e creditar com correção monetária parcelas já liberadas corretamente

5 em contratos firmados para financiamento de construção de imóveis residenciais. Essa correção sobre as parcelas, na prática, eram antecipações de valores, as quais não estavam sendo contabilizadas. Em síntese, os recursos ficavam a disposição das empresas sem a devida correção monetária em uma época de inflação alta, entre junho e setembro de Entendo que este não é o caso de um risco de crédito decorrente do dia a dia das operações bancárias, como condiciona a Decisão nº 859/1999. Logo, verifica-se que não é o caso de aplicar-se o entendimento firmado na Decisão nº 859/99 (TC /96-7, Ata 51/99), com o arquivamento do processo, pois o prejuízo apurado não foi decorrente de risco inerente à operação de crédito, dentro do contexto de uma política de captação de mercado, mas sim fruto de uma falha na operacionalização de um contrato já firmado com a Instituição, com liberação financeira indevidamente antecipada à empresa tomadora dos recursos. Todavia, a existência de cobrança judicial pela Instituição deve ser levada em consideração, tendo em vista as diversas deliberações deste Tribunal no sentido de julgar casos similares com irregularidade das contas e aplicação de multa, sem imputação de débito (e.g. TC /1997-8, supramencionado). No caso em análise, verifica-se que o Tribunal não entendeu pela responsabilidade solidária da empresa, e, se houver a imputação de débito dos responsáveis nesta TCE, de fato haverá a duplicidade de cobrança, já que existe um processo judicial contra a empresa tomadora dos recursos movido pela Instituição. Ressaltese que a CEF já obteve a quitação da dívida da empresa ROCA, apurada nesta mesma TCE, por meio de Contrato de Confissão de Dívida. Também não se configura nos autos a existência de dolo ou conluio por parte dos responsáveis. O débito é proveniente de erro de contabilização em uma época de inflação alta, contrariando normas da instituição que tinha recentemente recebido as atribuições do extinto BNH. Ante os fatos que expôs, o Sr. Secretário concluiu aduzindo manifestar-se de acordo com a proposta consignada pelo Sr. Diretor da 2ª Divisão da 2ª Secex à fl. 69 -Vol.1, no sentido do julgamento pela irregularidade das presentes contas e a aplicação da multa prevista no art. 58, III, da Lei nº 8.443/92. O Ministério Público, considerando que no presente caso o prejuízo não decorreu de risco inerente às operações bancárias de crédito, mas de procedimentos incorretos adotados na operação de um contrato de empréstimo, anuiu à proposta supra (fl. 73). Voto do Ministro Relator:

6 Perfilho o entendimento do Sr. Secretário de Controle Externo, endossado pelo Ministério Público, no sentido de que o presente caso não se enquadra nas situações elencadas por ocasião da prolação da Decisão Plenária nº 859/1999 (TC /96-7, Ata 51/99), uma vez que está fartamente caracterizado que o dano não decorreu de risco inerente à operação de crédito, dentro do contexto de uma política de captação de mercado, mas sim de práticas irregulares na operacionalização de contrato de empréstimo firmado com a CEF, que gerou dispêndio indevido à Instituição. Quanto ao mérito, estando devidamente comprovado nos autos a responsabilidade dos Sres João Pereira Filho e Paulo Roberto Giresini Siviero na irregularidade praticada, acompanho a proposta no sentido do julgamento pela irregularidade de suas contas. Entendo também mais razoável, na esteira da jurisprudência que vem se consolidando nesta Casa, para se evitar a cobrança em duplicidade do valor devido de pessoas distintas, que não haja imputação de débito aos responsáveis e sim aplicação de multa, ficando o referido débito, dessa maneira, submetido às providências judiciais cabíveis, inclusive já adotadas pela CEF. Diante do exposto, Voto por que seja adotado o Acórdão que ora submeto à consideração desta Segunda Câmara. T.C.U., Sala das Sessões, em 25 de outubro de ADYLSON MOTTA Interessados: Responsáveis: João Pereira Filho e Paulo Roberto Giresini Siviero Grupo: Grupo I Indexação: Tomada de Contas Especial; CEF; Contrato; Financiamento; Habitação; Empresa; Multa; Data da Aprovação: 30/10/2001 Unidade Técnica: SECEX-MS - Secretaria de Controle Externo - MS;

7 Quorum: Ministros presentes: Valmir Campelo (Presidente), Adylson Motta (Relator), Ubiratan Aguiar e Benjamin Zymler. Ementa: Tomada de Contas Especial. CEF. Irregularidades em contratos de financiamento e habitação firmados com empresa privada. Ausência de contabilização da correção monetária nos contratos. Alegações de defesa já rejeitadas. Contas irregulares. Multa. Data DOU: 01/11/2001 Número da Ata: 39/2001 Entidade: Caixa Econômica Federal, filial Mato Grosso do Sul Processo: / Ministro Relator: ADYLSON MOTTA;