PATRIMÔNIO CULTURAL. Capela situada no Sítio Santo Antônio da Bica (Sítio Roberto Burle Marx). Parte II
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- Eliana Vasques Imperial
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1 PATRIMÔNIO CULTURAL Foto: Paulo Vidal Capela situada no Sítio Santo Antônio da Bica (Sítio Roberto Burle Marx). Parte II
2 GOVERNADOR DO RIO DE JANEIRO Luiz Fernando de Souza Pezão SECRETÁRIA DE ESTADO DE CULTURA Adriana Scorzelli Rattes SUBSECRETÁRIA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS Olga Campista SUBSECRETÁRIO DE PLANEJAMENTO E GESTÃO Mario Cunha INSTITUTO ESTADUAL DO PATRIMÔNIO CULTURAL Paulo Eduardo Vidal Leite Ribeiro Diretor-geral Maria Regina Pontin de Mattos Assessora Dina Lerner Assessora DEPARTAMENTO DE PATRIMÔNIO CULTURAL E NATURAL Denise de Souza Mendes DEPARTAMENTO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO Sergio Linhares Miguel de Souza DEPARTAMENTO DE BENS MÓVEIS E INTEGRADOS Rafael Azevedo Fontenelle Gomes DEPARTAMENTO DE PATRIMÔNIO IMATERIAL Luciane Barbosa de Souza CONSELHO ESTADUAL DE TOMBAMENTO Paulo Eduardo Vidal Leite Ribeiro Presidente Cláudio Valerio Teixeira Dora Monteiro e Silva de Alcântara Ítalo Campofiorito Leticia Von Kruger Pimentel Maria Regina Pontin de Mattos Mozart Vitor Serra Olga Maria Esteves Campista Silvia Finguerut Victorino Coutinho Chermont de Miranda
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12 Genealogia e Patrimônio Cultural: um diálogo em começo I Oconhecimento genealógico está para o homem, como a preservação patrimonial para as cidades. Quem fala em Genealogia, fala em memória, história de família, identidade e pertencimento a um determinado grupo social. Quem fala em Patrimônio Cultural o faz de um conjunto de bens e valores, de ordem material ou imaterial, que se constitui num referencial de identificação do cidadão com o seu habitat. Em ambos os casos, cuida-se de um feixe de inter-relações essencial ao desenvolvimento humano. Um e outro demarcam o locus próprio de cada indivíduo no meio em que vive e servem à construção de sua identidade. Um e outro precisam ser protegidos do esquecimento e da destruição, pois a perda de qualquer deles equivale a uma verdadeira mutilação da alma humana. II A Genealogia contribui, assim, para reforçar nas pessoas a autoestima e a ideia de pertencimento tão necessárias num mundo de relações atomizadas. Ela lhes dá, em primeiro lugar, a certeza de que homem algum é uma célula isolada. Todos somos elos de uma cadeia que vem de longe, passa por nós e se projeta sobre o futuro. Resgatar essa memória genética e histórica é reencontrarmo-nos com nossas origens, com nossos maiores, conosco mesmo. Mas o conhecimento genealógico serve também para estabelecer uma identificação da pessoa com a sua terra, na medida em que lhe permite compreender, a partir da trajetória de seus pais, avós e bisavós, o processo de construção da região onde viveram e do próprio legado que deixaram. Que o digam as colônias de imigrantes espalhadas por esse Brasil, com suas histórias e vínculos de parentesco remontando a seus torrões natais. E a experiência da comunidade negra de Morro Alto, no Rio Grande do Sul, com o alargamento de sua memória familiar para além dos vínculos de consanguinidade, aliança e compadrio, como forma de sustentar a identidade do grupo. E, mais recentemente até, a criação, no Rio de Janeiro, do Museu da Maré, onde as crianças, descobrindo a história de sua comunidade e de suas famílias, têm oportunidade de desenvolver a ideia de pertencimento fundamental para o exercício da própria cidadania. Fazer genealogia é, portanto, resgatar raízes. Raízes que criam laços. Laços que estabelecem pontes. Pontes que levam ao outro o ascendente, o parente, o contraparente numa sucessão de vínculos que se vão estendendo e acabam por abarcar a cidade em que se nasceu. 58
13 III Assim, é importante carrear tal potencial de identificação para os programas de educação patrimonial, incutindo em todos os cidadãos e comunidades, mas especialmente nas crianças e jovens, a ideia de que família e cidade se completam na formação de sua identidade. É tarefa a começar em casa e na escola. Alguns se contentarão com uma ou outra informação; outros irão além e buscarão estórias, papéis, retratos e objetos, para reconstituir a história de sua família. E descobrirão, quem sabe, bibliotecas e arquivos, sítios e tradições, e, com eles, a riqueza e a diversidade do Patrimônio Cultural de sua cidade. E aprenderão a dialogar com ela, não como estranhos, mas como herdeiros de um passado que lhes pertence. E mais: cada um verá, à medida que reconstitui a história dos seus, que o tempo em que eles viveram como que se faz e refaz, permitindo recolher, nos marcos que ficaram, um pouco de suas vidas. E, assim, cativo desse sortilégio, acabará descobrindo o verdadeiro significado do Patrimônio Cultural de sua terra e será mais um a lutar por ele. Victorino Coutinho Chermont de Miranda Advogado Membro do Conselho Estadual de Tombamento 59
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20 pesquisa com um tema definido, ou seja, que dentro do universo a ser pesquisado (folguedo, por exemplo), se escolha previamente um determinado tipo de folguedo (auto do boi, por exemplo) e não todos os folguedos populares ou os de determinada região do país. Um país de dimensões tão amplas como o nosso, apresenta manifestações em todo o seu território, com características próprias de cada região. O auto do boi, apresenta-se do norte ao sul, sob os nomes mais variados e com coreografias, enredos e atividades diferenciadas. Sugerimos que os professores encaminhem seus alunos primeiramente para um levantamento e estudo do folclore de seu município (rua, bairro, zona urbana, zona rural), e, a partir daí, estenda seu olhar para o nosso estado, para a região sudeste e para as demais regiões do Brasil. Por fim, sugerimos uma consulta ao Portal do Inepac: Lá os professores poderão encontrar uma grande variedade de informações relativas ao Folclore Fluminense (Módulo Patrimônio Imaterial), além de vasta e especializada bibliografia (Módulo Bibliografia/Patrimônio Imaterial). Departamento de Patrimônio Imaterial Mapa de Cultura do Rio de Janeiro / Diadorim Ideias/ Cris Isidoro 66 Pesca Artesanal Praia Grande - Arraial do Cabo
21 Educar para o Patrimônio Patrimônio, palavra que remete à herança dos pais. Aqueles que nos geraram nos legam um patrimônio genético e, possivelmente, histórico e afetivo. Os valores culturais de um povo são constituídos primeiramente pelas heranças deixadas por seus antepassados. Não há nação que não tenha constituído a sua história nem povo que não guarde na memória afetos e lembranças de indivíduos e grupos, ainda que de maneira fragmentada. Poderíamos afirmar que a memória é inescapável, cada indivíduo ou grupo está permeado por elas. Quanto à história, esta é a narrativa selecionada por historiadores e cronistas que capturam, por meio de textos e imagens, fatos e dramas de seu povo. A memória pode ser individual ou coletiva. Quando guardamos lembranças de nossa infância e adolescência, alguns momentos podem ter um registro particularmente importante: o presente especial recebido no aniversário, nosso primeiro dia na escola ou mesmo a lembrança traumática de um acontecimento. A memória coletiva se constitui quando algumas dessas lembranças são compartilhadas pelo grupo em uma comunidade ou entre vários grupos e comunidades. Maurice Halbwachs nos fala que: o conceito de memória coletiva refere-se a uma memória social, exterior ao indivíduo, estendida no tempo, que guarda eventos acontecidos há muito. Essa memória é o invólucro das memórias individuais e conserva os fatos acontecidos na sociedade à qual o indivíduo pertence ¹. A história, por outro lado, pertence ao campo dos pesquisadores que dedicam tempo e apuro selecionando fatos e documentos para fundamentar suas narrativas. Esta se constrói com técnica e precisão de documentos e testemunhos. A memória se revela na emoção, no calor dos fatos lembrados, é preenchida com as impressões que nos ocorreram no momento que vivemos os acontecimentos e as reminiscências que resistem ao tempo. A memória é sempre pessoal, mesmo sendo partilhada pelo grupo. A história, ao contrário, se pretende impessoal e objetiva, são narrativas desvestidas de emoção e subjetivismo, pelo menos assim esperam os historiadores. A história deve ser submetida a renovadas interpretações sempre que novos fatos, documentos e testemunhos se imponham. A memória é única, não pode ser desmentida, pois é forjada no calor da emoção do narrador, é uma verdade que se impõe pela singularidade do indivíduo. No espaço entre memória e história, o historiador francês Pierre Nora (1993) afirma que a memória perdura-se em lugares, como a história em acontecimentos (Nora, 1993, p.25). Os lugares para Nora são fragmentos onde se ancoram as lembranças. Segundo o autor, nossa necessidade de lugares de memória surge no mundo contemporâneo porque perdemos os meios de memória. O que era transmitido de geração em geração, numa narrativa oral que permitia manter viva a tradição de famílias e coletividades, perdeu-se em novos hábitos que não contemplam mais estas antigas formas de transmissão do vivido. Nossa necessidade de memória, da qual falaremos um pouco mais adiante, nos impõe acercarmo-nos de fragmentos de memória, objetos e lugares que nos remetam ao familiar, instâncias que nos ajudem a 67 1 Apud. Monastirsky, Leonel Brizola. Espaço urbano: memória social e patrimônio cultural. Terra Plural, Ponta Grossa, v3, n2, p , jul./dez.2009.
22 Pedra do Sal - Lugar de memória e celebração da cultura africana no Rio de Janeiro. Acervo Inepac fixar uma identidade, que nos ancorem no pertencimento. Assim surgem os lugares de memória, nos quais pequenos fragmentos de lembranças são encontrados. São objetos diversos: livros, medalhas, documentos, bandeiras ou grandes edifícios e monumentos que possam narrar nossas memórias e tradições. É preciso, portanto, acionar as lembranças de fatos e emoções que nos marcaram. O patrimônio cultural, nossos lugares de memória, são particularmente importantes em momentos de incerteza. Vivemos no tempo de mudanças vertiginosas, que nos dificultam a possibilidade de planejar o futuro. Um eterno agora se impõe, feito de milhares de fragmentos de fatos sem duração. Uma transição permanente se apresenta cotidianamente. O tempo, no dizer de Zygmunt Bauman, tornou-se líquido: vivemos tempos líquidos, nada é para durar. No rastro desta modernidade líquida e instantânea, os lugares também perderam fixidez e permanência. Ser cidadão do mundo pode ser muito excitante, mas implica também uma perda: a perda do lugar, do nosso lugar, familiar e afetivo, preenchido de reminiscências que nos dão identidade. O antropólogo francês Marc Augé nos fala que se um lugar se pode definir como identitário, relacional e histórico, um espaço que não pode se definir nem como identitário, nem como relacional, nem como histórico definirá um não lugar. O mundo globalizado parece ter nos subtraído o lugar ao qual pertencemos, aquele com o qual podemos nos identificar, reconhecer uma história, estabelecer uma relação mais duradoura. Tudo parece transformar-se em uma grande estação, um entreposto, onde estamos apenas e apressadamente de passagem. 68 Em um mundo que muda aceleradamente é urgente encontrar algo que permaneça, um lugar em que repouse minimamente a tradição. Não se trata de uma fuga para o passado, uma nostalgia idílica, trata-se de encontrar uma base, um ponto de partida para o futuro. É possível imaginar que este lugar, tecido pela memória, seja o patrimônio.
23 Nossa identidade depende do nosso patrimônio. A cor de nossos olhos, ou mesmo nossas emoções são frutos das primeiras heranças que recebemos. O comportamento, formas de pensar e agir dependem da base sobre a qual fomos educados, são heranças, portanto, das memórias e histórias de nossos educadores. Estes educadores não são apenas aqueles que nos devotaram tempo e empenho na lida cotidiana do aprender e ensinar, mas também as cidades, os bairros, as gentes, seus modos de ser e de fazer, as celebrações e ritos de todo tipo que nos atravessaram o caminho. Sobre esta base nos edificamos; sobre esta plataforma, saltamos, criando novos caminhos, memórias e histórias que constituirão o patrimônio de tantos outros. Recorremos então ao patrimônio, vestígios e fragmentos do passado: um objeto remanescente da infância, o bolo de tapioca da bisavó, ou ainda aquela praça em que brincávamos com os amigos. Restos materiais que avivam as memórias e recontam as histórias. A preservação destes vestígios do passado que constituem o patrimônio cultural é fundamental, mas não suficiente para podermos nos apropriar de seu sentido e importância. É necessário uma ação voltada para o despertar do olhar sobre o patrimônio. A educação para o patrimônio cultural se apresenta como uma via para este resgate, tanto no ensino formal quanto nas comunidades e museus. Educar para o patrimônio é avivar os sentidos, despertar o olhar para encontrar um lugar com o qual nos identificamos: um bairro, uma praia, um museu ou um monumento histórico. Este último pode parecer distante de nossa história e memórias imediatas, mas certamente faz sentido para a comunidade ou a nação à qual estamos ligados, ajudando a compreensão do momento presente a partir da história. Os bens culturais carregam a alma de seu povo, sua forma de ser, os conflitos, sua fé e sua razão. Consideramos patrimônio cultural tudo que testemunha um ou vários desses elementos. O patrimônio tem a propriedade de nos contar uma história. Sua linguagem pode ser arquitetônica, paisagística, ritual, palatável, sonora, enfim, há uma diversidade de modos em que um bem pode nos falar. Se pudermos compreender um pouco da linguagem do patrimônio, nos habilitaremos a um universo culturalmente rico de significados. Sergio Linhares/ Acervo Inepac 69 Antigo morador visita as ruínas da cidade de São João Marcos
24 Coreto do Jardim do Méier - Lugar de encontros, andanças e memórias Pedro Oswaldo Cruz/Acervo Inepac Paulo Freire nos inspira. De sua literatura pedagógica podemos nos valer para aprender um pouco do vocabulário patrimonial. A primeira lição que aprendemos com o mestre é sobre o diálogo no processo educativo. Uma ação de educação deve colocar frente a frente os diversos protagonistas desse processo. Educandos e educadores podem estabelecer um diálogo profícuo sobre o que é patrimônio, sobre os bens que devem ser preservados e por quê. Como sinaliza Freire, o diálogo deve ser a primeira condição na relação com quem aprende, porque ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo. O mundo do patrimônio cultural configura-se como um conjunto rico de sentidos. São impregnados de símbolos de uma sociedade, valores do passado que ajudaram a configurar o presente e que podem oportunizar ao ser em formação mediações educacionais cruciais para a percepção sobre a sua sociedade, o seu território e sua cultura. O patrimônio cultural não está depurado, contudo, das contradições da sociedade à qual está ligado, ao contrário, é instrumento de expressão de todo o complexo histórico de um povo: quanto maior for a sua ressonância, maiores serão as contradições a que testemunha. A opressão e as guerras estão muitas vezes gravadas a ferro e pedra nos monumentos expostos em parques e praças. Por tudo isso, o patrimônio cultural de um povo deve ser preservado e revisitado. Os olhos do presente devem perscrutar o passado, revendo conceitos, fazendo novas escolhas a partir do vivido. 70 Quando um órgão público tomba um bem, fruto de uma demanda da população ou por iniciativa governamental, faz-se uma escolha. Perceber as motivações históricas, políticas, estéticas ou sociais que determinaram essa escolha, discordar e concordar com essa seleção, são intervenções críticas necessárias ao processo da educação patrimonial.
25 A pedagogia freiriana pode nos ajudar a mediar a relação do educando com o patrimônio cultural na apropriação e problematização deste frente aos símbolos e histórias que contêm. Freire determina três etapas para o desenvolvimento do método: as etapas de investigação, tematização e problematização. Na etapa da investigação, educadores e educandos buscam conjuntamente as palavras e temas mais significativos da vida do aluno, dentro de seu universo vocabular e da comunidade onde ele vive. Nessa fase, é preciso perceber com os alunos quais são e o que falam os bens que poderiam ser considerados patrimônio para cada um e para sua comunidade. A etapa da tematização é o momento da tomada de consciência do mundo, por meio da análise dos significados sociais dos temas e palavras. Perceber o patrimônio como um discurso político, ideológico, estético etc, é tomar consciência do seu significado e o que de fato representa para aquela comunidade. O Pelourinho, nome de um bairro na Cidade de Salvador, representa o símbolo da escravidão no país. A preservação desse sítio pode estar fundamentada na consciência dessa grande injustiça histórica. Suntuosas residências podem ser tão significativas como marcos da desigualdade social quanto pelo seu valor arquitetônico. Finalmente, a etapa da problematização, em que o educando é desafiado a superar a visão mágica e acrítica do mundo, para uma postura conscientizada. problematização do tema patrimônio histórico por parte dos atores deve ensejar uma reflexão sobre a identidade, sobre a memória e, no limite, sobre o poder envolvido nas iniciativas governamentais voltadas para a preservação do patrimônio cultural. Por quê? O quê? E para quem preservar o patrimônio? Quais os grupos sociais e históricos estão representados nos bens protegidos pelo poder público? Como superar as assimetrias identificadas no campo das representações sócio-históricas? A educação para o patrimônio cultural é uma proposta nascente e como tal, merece um aprofundamento em seus postulados. A pesquisa de pedagogos, sociólogos e historiadores, entre outros, deve ser incentivada, inclusive por órgãos governamentais de fomento. Cursos de pós-graduação em nível de mestrado e doutorado podem contribuir para consolidação de um marco teórico que aprofunde a contribuição de práticas diversas implementadas por diversos atores dentro e fora da escola. Evandro Luiz de Carvalho Pesquisador Departamento de Pesquisa e Documentação do Inepac A 71
26 Referências bibliográficas AUGÉ, Marc. Não-lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. Campinas: Papirus, BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O Que é o método Paulo Freire? São Paulo: Editora Brasiliense,1986. CARVALHO, Evandro Luiz de. Os alunos do Colégio Estadual Souza Aguiar e a apropriação do patrimônio cultural da Lapa:um estudo de caso.[dissertação de mestrado]. Rio de Janeiro. Fundação Getúlio Vargas CPDOC, FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, GONÇALVES, José Reginaldo Santos. A retórica da perda: os discursos do patrimônio cultural no Brasil. Rio de Janeiro. Editora UFRJ; IPHAN, Antropologia dos objetos: coleções, museus e patrimônios. Rio de Janeiro: MINC/IPHAN, HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Tradução de Yara Aun Khoury. Revista do Programa de Estudos Pós-graduados em História do Departamento de História da PUC-SP. São Paulo, n. 10, p. 7-28, dez
27 Cidades Invisíveis Consideramos Cidades Invisíveis as ruínas de quatro cidades extintas do Estado do Rio de Janeiro. Percorremos os vestígios do que um dia foram igrejas, pontes, ruas, câmaras e residências. Por meio de fragmentos registramos a história dessas antigas vilas. Ativas entre os séculos XVIII e XX, Santo Antônio de Sá, São João Marcos, Vila de Iguassú e Vila de Estrela, importantes no processo de ocupação do solo fluminense, desapareceram em meio a crises econômicas, epidemias e o abandono dos portos depois do advento das estradas de ferro e o desrespeito à história e a memória. São João Marcos As Cidades Grande distrito cafeeiro no período imperial, São João Marcos surgiu quando João Machado Pereira, vindo de Resende, ali instalou uma fazenda. Logo em seguida abriu-se uma estrada pela qual pudessem transitar com segurança, os quintos de ouro com destino ao Rio de Janeiro. O mesmo fazendeiro mandou edificar uma capela dedicada a São João Marcos, em torno da qual aglomerou-se pequena população, surgindo assim um povoado, elevado a categoria de Freguesia em Em função do grande desenvolvimento do café, São João Marcos foi um dos municípios mais importantes do Estado do Rio de Janeiro no século XIX, ao lado de Resende, Valença, Vassouras e Paraíba do Sul. Com a decadência da cultura cafeeira fluminense, a região foi perdendo a importância. Seu centro histórico foi tombado pela Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan), em 19 de maio de 1939, atual Iphan. São João Marcos já havia passado a distrito de Rio Claro, em 1938, e encontrava-se ameaçada pelo represamento das águas de Ribeirão das Lajes, solução encontrada pela Light para aumentar a geração de energia elétrica para o Rio de Janeiro. No ano seguinte, São João Marcos, considerada pelo Sphan Como raro exemplo intacto de conjunto de arquitetura colonial, deixou de ser monumento nacional pelo Decreto n 2269, de 3 de junho de 1940, assinado pelo então presidente Getúlio Vargas. 73 Ruínas de São João Marcos Sergio Linhares Acervo Inepac
28 Desapropriada, São João Marcos teve um fim dramático. Recusando-se a abandonar suas casas, mas irremediavelmente expulsos, os habitantes viram sua cidade ser implodida e demolida como forma de impedir qualquer tentativa de reocupação. Ainda assim, o local só foi inundado uma vez, pois as águas da represa subiram apenas alguns metros. Em um vale, na confluência dos antigos rios Araras e Panelas, fica tudo o que restou do antigo núcleo: trechos de caminhos calçados com pedras, vestígios de prédios dinamitados, muros em cantaria, muitos dos quais encobertos pela vegetação. Durante algum tempo depois da implosão dos principais monumentos e edificações, seus habitantes voltavam à cidade destruída, reunindo-se onde antes havia praças e rezando missas no local da paróquia. Atualmente na área, a Light administra o Parque Arqueológico Ambiental de São João Marcos. Vila de Estrela Durante o período colonial e até a metade do século XIX, Vila de Estrela contou com um dos mais ativos portos do território fluminense, o principal porto de escoamento da produção aurífera mineira no século XVIII e do café do Vale do Paraíba no século XIX, e de seus produtos agrícolas. Em 1846, Estrela foi elevada à categoria de vila, tornando-se sede do município de Estrela com as freguesias de Pilar, Guia de Pacobaíba, Inhomirim, Suruí e Petrópolis. Pedro Oswaldo Cruz Acervo Inepac Ruínas da Vila de Estrela Anualmente registravam-se embarque e desembarque de ouro vindo das Gerais, milhares de metros cúbicos de madeiras nobres, outros milhares de caixas de açúcar e pipas de aguardente e, após o período colonial, com o acentuado plantio do café no Vale do Paraíba, a produção representada por centenas de milhares de arrobas desse produto. Situado à margem direita do rio Inhomirim, quase na junção com o rio Saracuruna, o porto de Estrela possuía um extraordinário movimento. Estes dois rios formam o rio Estrela que deságua no litoral norte da baía de Guanabara. 74
29 O porto e as casas de comércio, fortemente abastecidas, constituíam verdadeiro empório que dava atendimento às necessidades das populações litorânea, ribeirinha e interiorana. O povoado era o portão de entrada para o atalho do Caminho Novo do Ouro, aberto em 1724, a variante do Proença, que reduzia a viagem em alguns dias, proporcionando mais segurança no trajeto da Corte para as Gerais. Com o advento da ferrovia e a construção da Estação inicial Guia de Pacobaíba no Porto de Mauá, a vila viu o fim de seu tempo de prosperidade, embora tenha mantido um trânsito regular. Com a mudança do sistema de transporte, ampliada pela Estrada de Ferro D. Pedro II, na década de 1860, o porto tornou-se obsoleto, o que motivou sua gradual desativação. Após a abolição da escravatura, já em plena decadência, a sede da vila foi transferida para a povoação de Raiz da Serra, elevada a Vila de Inhomirim, em A antiga vila, já em plena agonia, não mais podendo resistir como célula política, sucumbiu em 8 de maio de 1892, passando a fazer parte do 6º distrito de Magé. A crise, que já vinha atingindo grande parte da Baixada Fluminense, levou ao progressivo abandono do Porto de Estrela. Hoje, restam da antiga Vila de Estrela, a escada do porto, as ruínas da casa das três portas e da igreja de Nossa Senhora de Estrela dos Mares - fundada em 1650 por Simão Botelho, e, ao fundo da igreja encontra-se o que resta do cemitério. Vila de Iguassú Hoje conhecida como Iguaçu Velha, o povoado iniciado em 1699, com a construção da Capela de Nossa Senhora da Piedade de Iguassú, foi elevado à Vila de Iguassú e sede de município em 1833, à beira do velho caminho para a serra, numa região de vários engenhos de açúcar. Tendo crescido com o transporte de café do Vale do Paraíba, Iguassú se transformou num centro de comunicação se expandindo com o aumento do comércio na serra. A importante Estrada do Comércio, aberta para atender à exportação do café e a importação de produtos da Inglaterra, concluída em 1819 pela Real Junta do Comércio, pode ser considerada como um dos fatores de grande importância para a fundação do município. A vila era uma região de passagem e comércio da produção de ouro, café e vários produtos importados. vários produtos importados. Iguaçu Velha guarda vestígios da história da colonização do sertão fluminense. Dos vários portos construídos ao longo do rio Iguaçu destacavam-se os portos do Feijão, do Tejam e dos Saveiros. Durante o auge da produção cafeeira do Vale do Paraíba, Iguassú possuía grandes armazéns e estabelecimentos comerciais que faziam girar vultosos capitais. Ruínas da Vila de Iguassú Pedro Oswaldo Cruz Acervo Inepac 75
30 Toda essa atividade começa a declinar já em 1854, quando o Barão de Mauá constrói a primeira via férrea ligando a Estação Guia de Pacobaíba, partindo do porto de Mauá, à margem da baía da Guanabara, à Estação de Fragoso, na Freguesia de Inhomirim. A navegação do rio Iguaçu foi decaindo e o caminho d'água, descuidado, assoreou-se com o aumento de pântanos que se alastraram por imensas superfícies. Com eles veio a malária, associada à epidemia de cólera-morbo de 1855, que assolou sua zona rural. Em 1858, foi construído o primeiro trecho da Estrada de Ferro D. Pedro II, do Rio de Janeiro a Queimados, seguindo logo para Belém, em Japeri, em direção ao Vale do Paraíba. E o que restava do esplendor comercial da antiga vila sumiu definitivamente. Em pouco tempo a Vila de Iguassú transformou-se num povoado abandonado. Em 1891, a sede do município foi transferida para a estação de Maxambomba, que se transformou em Nova Iguaçu. No final do século XIX e início do XX, os surtos frequentes de doenças tropicais provocaram a extinção da Vila de Iguassú. A paisagem atual é marcada pelas ruínas da Matriz de Nossa Senhora da Piedade de Iguassú, da qual resta apenas a torre sineira, de 1764, do muro do cemitério de Nossa Senhora do Rosário, pelos alicerces de antigas construções e vestígios do porto. Vila de Santo Antônio de Sá A cidade está soterrada em torno das ruínas do Convento de São Boaventura, conhecidas como ruínas do convento de Macacu, e da torre sineira da antiga Igreja Matriz de Santo Antônio de Sá. Envolvidas por um cenário natural de extrema beleza, as ruínas do convento se destacam majestosas onde existiu, no século XVIII, a antiga Vila de Santo Antônio de Sá. Em 1612, foi erguida a Capela de Santo Antônio de Sá, origem do povoado de mesmo nome. Em 1768, foi iniciada uma reforma na igreja, que lhe deu os contornos finais, finais, já com a torre sineira. A construção do convento e da igreja data do fim do século XVII. No século XVIII, em 1784,o convento e a igreja sofreram profundas 76 Ruínas da Vila de Santo Antônio de Sá Pedro Oswaldo Cruz Acervo Inepac
31 modificações, com a ampliação do convento para receber maior número de religiosos. Ainda nesse ano, iniciou-se a construção da igreja da Ordem Terceira, ao lado da Igreja de São Boaventura. Santo Antônio de Sá era um importante posto comercial, exportava a sua produção de madeira, farinha, açúcar e aguardente, utilizando o rio Macacu para alcançar a baía da Guanabara, e daí a cidade do Rio de Janeiro. Constituía também ponto de passagem da produção cafeeira, que descia de Nova Friburgo e Cantagalo, já no século XIX. O declínio de Santo Antônio de Sá começa em Tomada por uma forte epidemia, que dizimou a população até aproximadamente a década de 1850, a Vila perdeu em muito a sua importância com o abandono do convento pelos franciscanos. A origem das febres estaria ligada à obstrução dos rios e, consequentemente, à formação de brejos e pântanos. A Vila necessitava de obras urgentes para a manutenção do transporte fluvial, porém, com a inauguração do primeiro trecho da Estrada de Ferro Cantagalo, em 1860, ligando Porto das Caixas a Cachoeiras de Macacu, Santo Antônio de Sá perdeu a função de ponto de passagem de mercadorias. Em 1868, a sede administrativa de Santo Antônio de Sá foi transferida para Santana de Macacu. Em 1875, a Vila foi anexada ao município de Itaboraí. Em 1922 as ruínas do convento passaram aos beneditinos e, posteriormente, as terras foram vendidas a diversos proprietários. Atualmente, o que resta de Santo Antônio de Sá situa-se na área rural do município de Itaboraí, no delta do rio Macacu, próximo a Porto das Caixas. Nesta área a Petrobras está construindo o polo petroquímico do Comperj. Este estudo resultou no filme Cidades Invisíveis, de Beth Formaggini, realizado em 2009, com 32 minutos. A ideia do documentário surgiu por ocasião do início dos estudos de tombamento da Vila de Estrela, em Magé. Foi realizado nas ruínas de Santo Antônio de Sá, São João Marcos, Vila de Iguassú e Vila de Estrela. Produzido pelo Inepac, o filme percorre os vestígios da ocupação, ouvindo os antigos moradores (caso de São João Marcos) e seguindo o rastro dos cronistas que por ali passaram, as pegadas daqueles que por ali viveram, amaram, trabalharam e ajudaram a construir uma cultura rica como a nossa. Através destes fragmentos trazemos à vida essas cidades, fazendo ver a importância do tombamento dos bens fluminenses e a luta pela preservação de suas memórias. Elizabeth Versiani Formaggini Historiadora Departamento de Pesquisa e Documentação 77
32 Mapa de Cultura do Rio de Janeiro / Diadorim Ideias/ Isabela Kassow Quilombo São José da Serra, Valença Jongo no Sudeste: Patrimônio Cultural Imaterial. Registro Iphan, ano
33 O Patrimônio Cultural Imaterial: Conceitos e propostas para ações educativas Patrimônio cultural imaterial, transmitido de geração em geração, é constantemente recriado pelas comunidades e grupos com um sentido de continuidade e identidade e promovendo o respeito da diversidade cultural e à criatividade humana. Unesco, Patrimônio Cultural Imaterial OPatrimônio Cultural Imaterial pode ser compreendido por meio das práticas e domínios da vida social, do cotidiano das comunidades e grupos, da organização social do trabalho e da religiosidade, da ocupação do território e das expressões e manifestações da sociedade em geral. Deve ser considerada a profunda relação existente de construção social e de criatividade humana, ou seja, a interdependência existente entre o patrimônio cultural imaterial e o patrimônio material cultural e natural. Quando falamos de Patrimônio Cultural Imaterial nos referimos às comunidades e aos detentores desse patrimônio, principalmente aos grupos sociais denominados povos tradicionais: Art. 3º I - Povos e Comunidades Tradicionais: culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição. (Decreto n 6.040, de 7 de fevereiro de Institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais). A Constituição Federal, em seus artigos 215 e 216, amplia e define a noção de patrimônio cultural. O Estado então reconhece a existência de bens culturais tangíveis e intangíveis, estabelece outras formas de preservação: o Registro e o Inventário, além do tombamento como instrumentos de proteção. O Decreto nº 3.551, de 4 de agosto de 2000, que institui o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem o Patrimônio Cultural Brasileiro, define e determina a preservação do patrimônio cultural e da diversidade cultural. As definições de Patrimônio Imaterial segundo o Iphan são: Os Bens Culturais de Natureza Imaterial dizem respeito àquelas práticas e domínios da vida social que se manifestam em saberes, ofícios e modos de fazer; celebrações; formas de expressão cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas; e nos lugares (como mercados, feiras e santuários que abrigam práticas culturais coletivas). (Disponível em: A Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco, em 17 de outubro de 2003, ocorrida em Paris (disponível em define: 79
34 Para os fins da presente Convenção, 1. Entende-se por patrimônio cultural imaterial as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas - junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural. Este patrimônio cultural imaterial, que se transmite de geração em geração, é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade e contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana. Para os fins da presente Convenção, será levado em conta apenas o patrimônio cultural imaterial que seja compatível com os instrumentos internacionais de direitos humanos existentes e com os imperativos de respeito mútuo entre comunidades, grupos e indivíduos, e do desenvolvimento sustentável. 2. O patrimônio cultural imaterial, conforme definido no parágrafo 1 acima, se manifesta em particular nos seguintes campos: a) tradições e expressões orais, incluindo o idioma como veículo do patrimônio cultural imaterial; b) expressões artísticas; c) práticas sociais, rituais e atos festivos; d) conhecimentos e práticas relacionados à natureza e ao universo; e) técnicas artesanais tradicionais. 3. Entende-se por salvaguarda as medidas que visam garantir a viabilidade do patrimônio cultural imaterial, tais como a identificação, a documentação, a investigação, a preservação, a proteção, a promoção, a valorização, a transmissão essencialmente por meio da educação formal e não-formal - e revitalização deste patrimônio em seus diversos aspectos. Luciane Barbosa Acervo Inepac 80 Roda de Capoeira, Grupo Senzala, Mestre Toni Vargas. Cais do Valongo, Rio de Janeiro Reconhecida pela Unesco, em 26 de novembro de 2014, como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Registro Iphan: Roda de Capoeira e Mestre de Capoeira, ano 2008
35 O Patrimônio Cultural Imaterial, após a Constituição Federal de 1988 e após o Decreto nº (de 04/08/2000), tem o reconhecimento do Estado Brasileiro e a definição de um plano de preservação instituído nos valores universais dos Direitos Humanos. Esse avanço do Estado e essa construção das ações dos órgãos de preservação do patrimônio cultural não devem ignorar o papel dos indivíduos e grupos que desempenham importante função na produção e na manutenção do patrimônio, na construção de suas identidades, contribuindo para enriquecer a diversidade cultural e a criatividade humana. Esses indivíduos e grupos são os detentores dos bens culturais. E esse Patrimônio, que é passado de geração a geração, são as tradições que se mantiveram vivas até os dias atuais pelo simples fato dos indivíduos e grupos preservarem o seu patrimônio cultural, reinventando e sobrevivendo, com seus valores e suas tradições ancestrais. O reconhecimento do Estado brasileiro é a legitimação e a garantia da defesa e da preservação do patrimônio cultural brasileiro, da valorização da diversidade étnica e regional, da preservação das formas de expressão, dos modos de criar, fazer e viver. Presentes em todo o território brasileiro e, sobretudo na imensidão do nosso território fluminense, nosso dever é garantir a permanência desse patrimônio vivo¹ nas nossas terras: culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, como formadoras da cultura fluminense. Mapa de Cultura do Rio de Janeiro / Diadorim Ideias/ Cris Isidoro Darci Tupã da Aldeia Indígena Tekoa Mboy-Ty Camboinhas, Niterói Como contribuição às ações pedagógicas para a formação de educadoras e educadores nas bases de uma educação para o patrimônio cultural sugerimos alguns pontos da prática educativa como fundamentais: - Estado laico; - Fim da intolerância religiosa; - Fim do preconceito à cultura popular; - Fim do racismo; - A Lei nº , de 2008, que inclui o artigo 26-A da LDBN 9.394/96 (ampliando o artigo 26 da LDBN instituído pela Lei nº , de 9 de janeiro de 2003) que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena. - Importância das ações educativas no contexto escolar ao longo do ano letivo, ou seja, ações para além da Semana do Folclore, da Semana do Patrimônio Cultural, da Semana da Consciência Negra. Destacamos que a valorização do Patrimônio Cultural é todo o dia. Luciane Barbosa de Souza Pedagoga Diretora do Departamento de Patrimônio Imaterial 2 Indivíduos e grupos que preservam saberes e costumes, ou seja, o seu patrimônio cultural. Ver legislação estadual de preservação do Patrimônio Cultural dos estados de Alagoas, Ceará e Pernambuco. 81
36 Referências bibliográficas BOSI, Alfredo. Dialética da Colonização. São Paulo: Companhia das Letras, BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de Brasília. Disponível em: BRASIL. Lei nº , de 10 de março de Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei nº , de 9 de janeiro de Disponível em: BRASIL. Lei nº , de 09 de janeiro de Instituiu a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana no Currículo da Educação Básica. Disponível em: CAPUTO, Stela Guedes, Educação nos terreiros - e como a escola se relaciona com crianças de candomblé. Rio de janeiro, Pallas: 2012 FANON, Frantz. Pele Negra, Máscaras Brancas. Salvador: UFBA, 2008 IPHAN. Patrimônio Imaterial: O Registro do Patrimônio Imaterial: Dossiê final das atividades da Comissão e do Grupo de Trabalho Patrimônio Imaterial. 2ª ed. Brasília: /Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, IPHAN. Dossiê de Registro das Matrizes do Samba do Rio de Janeiro. IPHAN. Disponível em: IPHAN. Dossiê de Registro da Capoeira do Rio de Janeiro. IPHAN. Disponível em: IPHAN. Dossiê de Registro do Ofício das Baianas de Acarajé. IPHAN. Disponível em: IPHAN. Dossiê de Registro da Festa do Divino Espírito Santo de Paraty. IPHAN. Disponível em: LONDRES, Cecília [et al.] Celebrações e saberes da cultura popular: pesquisa, inventário, crítica, perspectivas. Rio de Janeiro: FUNARTE, Iphan, CNFCP, POLLAK. Michel. Entre Próspero e Caliban: colonialismo, pós-colonialismo e inter-identidade. Em: RAMALHO, Maria Irene; RIBEIRO, António Sousa. Entre Ser e Estar: raízes, percursos e discursos da identidade. Porto: Afrontamento, SILVA, Daisy Rafaela. Patrimônio cultural imaterial: antecedentes e proteção jurídico ambiental. Disponível em: UNESCO. Qué es el patrimonio cultural inmaterial? Patrimonio Cultural Inmaterial. Disponível em: VIANNA, Letícia C. R. Legislação e Preservação do Patrimônio Imaterial: perspectivas, experiências e desafios para a salvaguarda da cultura popular. Textos Escolhidos de Cultura e Artes Populares, vol. 1, n.1, YEMONJÁ, Mãe Beata de. Caroço de dendê - a sabedoria dos terreiros: como Ialorixás e Babalorixás passam conhecimentos a seus filhos. Rio de Janeiro: Pallas [1997]
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