COMPOSTAGEM Realização: Patrocínio:

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2 INSTITUTO CENTRO DE CAPACITAÇÃO E APOIO AO EMPREENDEDOR Presidente: Tânia Maria Machado Silva Vice Presidente: Silvia Machado Redação e revisão: Alice de Cassia Ferreira Ilustração: Elio Silva Gráfica: Gráfica Difusora Tiragem: exemplares Distribuição: gratuíta Contato: ccape@centrocape.org.br Reprodução permitida, desde que citada a fonte: Instituto Centro de Capacitação e Apoio ao Empreendedor

3 Apresentação O Instituto Centro Cape é uma organização não governamental, criada em 1994, que trabalha em prol do desenvolvimento, principalmente da indústria artesanal, do artesão e da micro e pequena empresa. Dentre as diversas preocupações do Centro Cape está a questão do meio ambiente. Sabemos que se não nos preocuparmos com o nosso entorno, nossos filhos e netos terão muito mais dificuldade do que nós, no seu dia a dia. Por trabalharmos, também, com o segmento artesanal, sabemos que muitos dos resíduos existentes podem muito bem ser aproveitados para a criação de novos produtos. Ser ambientalmente correto é, inclusive, uma forma de agregar valor ao seu produto final. Os consumidores, hoje, estão atentos à questão dos resíduos: se são descartados de qualquer forma, ou se são reaproveitados. Estes livretos, ora lançados, são tão somente guias para o conhecimento de todos, mas que sirvam de inspiração para outros desenvolvimentos e que coisas simples no nosso dia a dia possam ser realizadas sem nenhum esforço maior. Agradecemos, mais uma vez, ao sistema Fiemg por ter possibilitado o lançamento destes 12 manuais, que serão de grande valia para aqueles que geram resíduos, ou que são usuários de resíduos de terceiros. Instituto Centro de Capacitação e Apoio ao Empreendedor Rua Grão Mogol, 662 Belo Horizonte Minas Gerais ccape@centrocape.org.br 1

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5 Introdução A abundância dos bens de consumo é considerada, frequentemente, um símbolo do sucesso, nas economias capitalistas modernas. Os bens, em todas as culturas, funcionam como manifestação dos valores e da posição social de seus usuários. O consumo desenvolve identidades sociais e torna quem consome, determinados bens, integrante de um grupo social. O consumo envolve também coesão social, produção e reprodução de valores. Desta forma, o consumo é uma atividade que envolve a tomada de decisões políticas e morais, praticamente todos os dias. Quando consumimos, de certa forma, manifestamos a nossa maneira de ver o mundo. Há, portanto, uma conexão entre valores éticos, escolhas políticas, visões sobre a natureza e comportamentos relacionados às atividades de consumo. O consumismo, que surgiu na Europa no século XVIII, se espalhou por todo o mundo. Mas não houve, junto com o aumento do consumo, a preocupação do que fazer com os resíduos gerados, como as embalagens e o enorme volume de produtos possíveis de serem reusados ou reciclados. Os problemas com os resíduos surgiram rapidamente e, com eles, protestos e reações, exigindo uma nova postura do consumidor. Mais da metade de todo o lixo domiciliar é constituída por matéria orgânica. A compostagem é uma forma de tratar esses resíduos, dando a eles um destino útil. É um processo natural de decomposição biológica. Evita a acumulação dos resíduos sólidos urbanos nos aterros e devolve à terra os nutrientes de que necessita, transformando um problema numa solução. E a venda do composto orgânico produzido pode ser uma alternativa de negócio ou o seu uso na produção de hortaliças ou plantas ornamentais pode ser uma opção de redução dos custos de produção. 3

6 Os resíduos orgânicos O homem não teceu a teia da vida. Ele é apenas um de seus fios. O que quer que faça à teia, ele faz a si mesmo. Chefe Seattle Nas grandes cidades brasileiras, cerca de 50% dos resíduos urbanos são orgânicos. Grande parte desse lixo orgânico resulta do desperdício de alimentos: restos de comida cozida, talos de verduras, cascas de frutas e de ovos, sementes etc. Estudo realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) mostra que o brasileiro joga fora mais do que aquilo que come. Em hortaliças, por exemplo, o total anual de desperdício é de 37 quilos por habitante. Nas dez maiores capitais do Brasil, o cidadão consome 35 quilos ao ano dois a menos do que o total que joga no lixo. 4

7 O uso racional dos alimentos As cascas, folhas e sementes de alguns vegetais podem ser consumidas, como é o caso das cascas da cenoura, beterraba, abóbora, batata inglesa e doce, maçã, pera, das sementes da abóbora, melancia, maçã, chuchu, e das folhas da cenoura, beterraba, couve flor, batata doce, abóbora, rabanete, dentre outras. A utilização total dos alimentos, além de aproveitar melhor o potencial nutritivo, contribui com a redução do lixo orgânico, evitando o desperdício e diminuindo os gastos com a alimentação. O ciclo ideal da matéria orgânica: 5

8 A importância da mudança de hábitos A geração dos resíduos orgânicos pode ser reduzida por meio de medidas como: mudança nos hábitos alimentares, revendo-se preconceitos da nossa cultura alimentar: talos de verduras, cascas de frutas, sementes, entre outras coisas, jogadas no lixo, podem ser usadas como alimentos, em diferentes formas; melhoria nos sistemas de produção, armazenamento, transporte e apresentação dos alimentos; revisão nas formas de servir o cliente nos estabelecimentos de alimentação. 6

9 Compostagem A compostagem é o processo de reciclagem da matéria orgânica, formando um composto. A compostagem propicia um destino útil para os resíduos orgânicos, evitando sua acumulação em aterros e melhorando a estrutura dos solos. Outras vantagens da compostagem: é fácil de fazer; tem custos reduzidos; melhora a estrutura do solo e atua como adubo; tem fungicidas naturais e organismos benéficos que ajudam a eliminar organismos causadores de doença, no solo e nas plantas; diminui a contaminação dos solos, dos lençóis de água e cursos de água subterrâneos. Pode Restos de comida cozida e da preparação Cascas de frutas, legumes e ovos Folhas e resíduos de jardim Restos de madeira Não pode Carne, peixe, frutos do mar Laticínios (queijo, manteiga etc) Gorduras Resíduos de jardim com pesticidas Plantas doentes Plásticos, vidros, metais, tecidos, tintas, produtos químicos, medicamentos 7

10 Etapas da compostagem Primeira etapa O tempo de duração é de 10 a 15 dias. É a etapa da decomposição da matéria orgânica facilmente degradável, como, por exemplo, carboidratos. As proteínas, aminoácidos, lipídios e carboidratos são decompostos em água, gás carbônico e nutrientes, liberando calor. A temperatura pode chegar a 65-70º C. Nessa temperatura, durante um período de cerca de 5 dias, é possível eliminar as bactérias patogênicas, como, por exemplo, as salmonelas, e as ervas - inclusive as daninhas, ovos de parasitas, larvas de insetos etc. Nesta fase, a temperatura deve ser controlada para que não ultrapasse os 75º C, pois pode causar a produção de odores, pelas reações químicas que acontecem no processo, e não mais a ação biológica de micro-organismos. Segunda etapa A temperatura fica na faixa de 45-30º C e o tempo pode variar de 2 a 4 meses. É a fase de semimaturação: os participantes frequentes desta fase são as bactérias e os fungos. Terceira etapa Esta é a fase de maturação / humificação: nesta fase, celulose e lignina são transformadas em húmus ou composto. A temperatura cai para 25 a 30º C. O composto é um tipo de matéria orgânica mais resistente à decomposição pelos micro-organismos. No solo, o húmus vai sendo lentamente decomposto pelos microorganismos e liberando nutrientes que serão utilizados pelas raízes das plantas. 8

11 Fatores que influenciam na compostagem Aeração O oxigênio é um fator importante durante a decomposição, principalmente, na primeira fase. A falta de oxigênio pode liberar odores desagradáveis, provenientes de produtos de decomposição anaeróbia como gás sulfídrico. Matéria-prima A presença de material orgânico não adequado à compostagem, como carnes e gorduras, pode gerar cheiros desagradáveis na compostagem. Os materiais com tamanhos menores se decompõem mais rapidamente. Por isso, é importante picar os resíduos antes da compostagem. A presença de materiais contaminados, produtos químicos, medicamentos, vidro, metal, plástico vai gerar um composto contaminado, indesejável do ponto de vista estético e de segurança. Micro-organismos Normalmente o material orgânico já contém os micro-organismos necessários para o processo. Quando necessário, pode-se adicionar composto maturado. 9

12 O composto Características Maturado tem aspecto marrom, pouca umidade e cheiro de terra. Ao esfregá-lo com as mãos, elas se sujam, porém o composto se solta facilmente. É biologicamente estável e pouco agressivo aos organismos do solo e plantas. É utilizado para melhorar as características do solo e aumentar a produção de vegetais, por exemplo, em hortas. Deixa o solo mais fofo e leve, possibilitando que as raízes utilizem água e nutrientes mais facilmente. A água e os nutrientes retidos tornam o solo melhor estruturado, necessitando de menos irrigação, economizando energia e tornando-se mais resistente à erosão. Ajuda, também, na fertilidade do solo, devido à presença de nutrientes minerais (N, K, Ca, Mg, S e micronutrientes), além de nitrogênio, potássio e fósforo (NKP), que são encontrados em valores médios de 1%, 0,8 % e 0,5%, respectivamente. 10

13 Como fazer uma composteira doméstica Reservear um recipiente, em local apropriado, apenas para o descarte de resíduos orgânicos. As embalagens ou objetos de plástico, vidro, metais etc, devem ser descartados em outro recipiente. Escolher um canto, de preferência assombreado, onde será montada a composteira. Contorne o espaço escolhido com bambu, madeira velha, tela de galinheiro, blocos ou tijolos (sem cimento). Depositar, na composteira, o material orgânico, já separado do lixo. Cubri-lo com folhas, grama cortada, serragem e esterco seco misturado com terra, até que não dê para ver o material orgânico (restos de alimentos) embaixo. Regar o monte para umedecer essa camada de cobertura mais seca. Esta cobertura também protege o monte do sol direto. Importante A cada dois ou três dias arejar bem o monte, passando o material de um lado para o outro. Após esses revolvimentos o material esquenta não será fácil manter a mão no meio do monte por muito tempo indicando que a decomposição está ocorrendo corretamente. Em qualquer momento, pode-se adicionar mais material orgânico à composteira, repetindo a etapa 3. Fungos, tatuzinhos, besouros, piolhos-de-cobra e trilhões de bactérias estarão trabalhando, decompondo o material. Esses bichinhos são inofensivos e não se espalham para além do monte. Se o composto for ser vendido, quando estiver pronto, ele deve ser peneirado antes de ser ensacado, e os bichinhos devem ser devolvidos ao monte, para que eles possam continuar o trabalho de decomposição. Quando não couber mais material na composteira, começar outra, seguindo o mesmo procedimento. O monte deve ser revirado e regado, por cerca de 2 meses. Após esse período, o monte terá murchado pela metade. Pronto! O material será um composto, pronto para ser usado, se o monte: tiver cor marrom café e cheiro agradável de terra; estiver homogêneo e não der para distinguir os restos (talvez um ossinho ou caroço mais duro); não esquentar mais, mesmo após o revolvimento. Fonte: 11

14 Tipos de recipientes para compostagem caseira 12

15 O que devemos fazer quando Problema Causa possível Solução Cheirar a podre Temperatura muito baixa Temperatura muito alta Insetos (moscas) Pilha muito compactada Pouco ar Falta de materiais verdes Pilha muito grande Pouco ar A pilha tem restos de carne ou restos de comida com gordura Mexer a pilha ou reduzir o seu tamanho; não colocar grandes quantidades de óleos ou cinzas na pilha; injetar ar. Mexer a pilha; colocar materiais verdes, como aparas de grama, esterco ou restos de comida; aumentar o tamanho da pilha ou colocar palha. Diminuir o tamanho da pilha; injetar ar; mexer a pilha. Tirar estes alimentos da pilha e cobrir com terra, folhas ou serragem; mexer a pilha para subir a temperatura. 13

16 Compostagem em lata 1. Material Folhas, restos de comida, cascas de frutas e legumes, pó de café e outras sobras 1 lata de 20 litros 1pedaço de madeira, ou metal, ou plástico, para tampar a lata Terra Esterco seco 1prego grande 1 martelo Pás de jardinagem 2. Como fazer Misture terra com esterco em partes iguais. Fure uma lata de 20 litros no fundo e dos lados, em vários pontos, com um prego grande. Forre o fundo com uma camada de um centímetro de folhas. Coloque camadas alternadas de resíduos orgânicos e de terra com esterco (camada fina). Mantenha a mistura úmida. Tampe a lata para não atrair moscas. Deixe em local arejado por causa do cheiro. 14

17 Riscos para a saúde O composto pode apresentar Risco de contaminação por várias bactérias e fungos patogênicos. Risco de toxidade, principalmente pela presença de metais pesados. Quando conduzida adequadamente, a maior parte dos micro-organismos patogênicos são destruídos durante a compostagem, pois a temperatura fica em torno de 55ºC, podendo chegar a 70ºC, durante 15 a 20 dias. Ao final do processo, o composto não apresenta risco de contaminação. O controle rigoroso das matérias-primas usadas na compostagem é muito importante, pois alguns resíduos sólidos, depois de desfeitos, podem liberar partículas metálicas. Depois da compostagem, esses materiais, aplicados ao solo, podem provocar sérios problemas de toxicidade. 15

18 Os cuidados As chuvas As composteiras devem ter proteção contra chuvas. Pode ser um telhado, uma tampa ou uma lona. As chuvas, caso penetrem em uma pilha de resíduos em decomposição resulta na produção de um líquido, chamado lixívia, que pode, potencialmente, estar contaminada com agentes patogênicos. As bactérias e outros agentes patogênicos São eliminados durante o processo de compostagem, pela temperatura que o material alcança. Mas, durante o processo, ainda há risco. As ferramentas As ferramentas que tiverem contato com o material em compostagem podem ser uma fonte de contaminação. Devem ser bem limpas após o uso. Equipamentos de segurança Luvas O uso de luvas é indispensável, mas isso não diminui a necessidade de lavar as mãos com todo o cuidado, após o manuseio dos resíduos e da compostagem. As luvas devem ser bem limpas, após o uso. Botas e aventais Como as luvas, as botas e aventais devem ser sempre usados e desinfetados, após o uso. 16

19 Usina de Compostagem Uma usina de compostagem é uma unidade para produção de composto orgânico em escala industrial. Uma tonelada (1.000 Kg) de lixo doméstico rende cerca de 500 Kg de composto orgânico. Fonte: 1ª etapa O lixo é transportado até uma mesa, na qual se realiza a separação manual de plásticos, papéis, tecidos, vidros e metais. Esses materiais são vendidos para indústrias de reciclagem ou oficinas de reutilização. 2ª etapa O que restou da primeira separação é levado para o separador magnético. Por meio de um eletroímã, objetos de ferro e aço são retirados. 17

20 3ª etapa O lixo restante segue para a câmara de fermentação aeróbica, um local fechado onde correntes de ar revolvem os dejetos. Parte da energia liberada nesse processo se converte em calor, atingindo a temperatura de 70º C, o que provoca a morte da maioria dos microrganismos patogênicos que se desenvolvem no lixo. 4ª etapa Após a fermentação, a mistura é peneirada. Os pedaços maiores (pedras, galhos) ficam retidos e são levados para um aterro sanitário. A porção que passou pela peneira é o composto orgânico cru. Este composto passa pela cura: fica ao ar livre por cerca de 60 dias. Depois, pode ser usado em hortas, jardins e pomares. 18

21 Um jardim de ervas Material Vaso grande ou, de preferência, uma jardineira (as de plástico são mais leves) Pedras para forrar o fundo do vaso Terra Composto orgânico Mudas de ervas, de boa procedência 19

22 Usar os vasos escolhidos. Os vasos de barro são fáceis de encontrar, em diversos tamanhos e formatos, com preços acessíveis. Os vasos de plástico ou de cimento também podem ser utilizados, sempre de acordo com o gosto de quem faz o jardim. Observar que o vaso deve ser do tamanho suficiente para receber as plantas, e ter drenos suficientes para que o excesso de água possa sair. Forrar o fundo com pedras pequenas. Preencher o vaso com composto orgânico misturado com terra, em partes iguais. Muito poucas plantas não se dão bem em vasos. Experimentar. Misturar diversos tipos de ervas. Além de variadas, pode trazer um resultado decorativo muito interessante. Basta obser var algumas de suas características básicas, como quantidade de água e de iluminação que cada uma requer. Plantar, no mesmo vaso, as que têm características semelhantes. Marcar os locais onde vão ser colocadas as mudas e distribui-las bem, no vaso, para que as plantas possam crescer à vontade. Não se esquecer de retirar os sacos plásticos das mudas, antes de plantar. Fazer buracos onde for colocar as mudas, colocar com cuidado e pressionar para que ela fique bem firme. Lembrar que algumas ervas ficam bem maiores que outras. Pensar nisso quando for escolher os lugares, para que uma não sufoque a outra. 20

23 Depois que plantar, não deixar de cuidar das plantas, sempre. Periodicamente, adubar os vasos, garantir a rega na frequência adequada, verificar sua posição em relação ao sol da manhã ou da tarde. Estes cuidados básicos devem ser complementados com a limpeza e com a observação de eventuais pragas. Fazer regas regulares, mas nunca encharcar a terra. As ervas precisam de luz solar, pelo menos algumas horas por dia. Sem isso, é praticamente impossível cultivá-las. Retirar folhas velhas, amareladas e secas e verificar, periodicamente, se não há ataques de pragas. Nesses casos, evitar produtos químicos e usar apenas inseticidas naturais (calda de fumo, calda de sabão etc.), pois as ervas serão utilizadas como tempero e no preparo de chás. Adubar, a cada 3 meses, com composto orgânico. Substituir as plantas, que já não apresentem um bom aspecto, por outras novas. Fonte: 21

24 Um exemplo a ser seguido A Prefeitura de Azambuja, em Portugal, distribuiu vários destes compostores, gratuitamente. O objetivo foi sensibilizar a população para reduzir a produção de resíduos sólidos urbanos e realizar a compostagem. 22

25 ANOTAÇÕES 23

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