TRIBUNAL DE JUSTIÇA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL ACÓRDÃO

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1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO Nº Apelante 1: CONDOMÍNIO DO EDIFÍCIO AUSER Apelante 2: RICARDO MIRANDA MOTTA Apelados: OS MESMOS Origem: Juízo de Direito da 47ª Vara Cível da Comarca da Capital ACÓRDÃO APELAÇÃO. Condomínio horizontal. Responsabilidade civil. Obrigação de fazer, c/c reparação de danos materiais e morais. Laudo pericial conclusivo no sentido de que aos danos existentes no apartamento do autor deram causa deficiência no sistema de impermeabilização do terraço e falhas no revestimento de paredes externas, ambas de responsabilidade do Condomínio. Se este vier a ser impedido pelo condômino autor de ter acesso à área do terraço de sua unidade imobiliária, para o cumprimento de ordem judicial - impermeabilização do piso -, a obrigação se resolverá, a teor do disposto no art. 248 do CC/02. A multa imposta pela sentença tem por finalidade compelir o destinatário ao cumprimento da ordem, além de preservar a autoridade das decisões judiciais. Daí porque pode ser, como o foi, imposta de ofício (CPC, art. 461, 4º). Dano moral configurado. Verba compensatória que se reduz. Dano material comprovado. Parcial

2 provimento do primeiro recurso e provimento do segundo. Vistos, relatados e discutidos estes autos de apelação nº , originários do Juízo de Direito da 47ª Vara Cível da Comarca da Capital, em que figuram, como apelante 1, CONDOMÍNIO DO EDIFÍCIO AUSER, como apelante 2, RICARDO MIRANDA MOTTA, e, como apelados, OS MESMOS, os Desembargadores que compõem a Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro ACORDAM, por unanimidade, dar parcial provimento ao primeiro recurso e dar provimento ao segundo, nos termos do voto do Relator. Rio de Janeiro, 29 de maio de Des. Jessé Torres Relator

3 SEGUNDA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO Nº VOTO Relatório nos autos. Ricardo Miranda Motta propôs a presente ação de obrigação de fazer, c/c pleito reparatório de danos materiais e morais, ao argumento de que, em decorrência de infiltrações e vazamentos provenientes do terraço do edifício, o seu imóvel foi danificado, razão pela qual requereu a condenação do Condomínio a: (a) fazer obras de reparos no terraço, com o fim de evitar novas infiltrações; (b) reparar os danos materiais causados em sua unidade; (c) compensar os danos morais que suportou (fls. 13, pasta 00002). A sentença, com esteio na prova técnica, acolheu parcialmente o pedido do autor, contra o que ambas as partes se insurgem, como relatado. sentido de que: Resultou de prova técnica laudo conclusivo, no

4 Os danos existentes no apartamento do Autor foram causados por deficiência no sistema de impermeabilização do terraço e por falhas no revestimento de paredes externas, ambas de responsabilidade do Condomínio (fls. 179, pasta 00162). Ao contrário do asseverado pelo Condomínio, os danos ocasionados ao imóvel do condômino autor, aqui segundo apelante, decorrem daqueles fatores, e não da abertura de vão entre a laje do apartamento do autor e o terraço, como expressamente repelido pelo perito: Os danos existentes no apartamento do autor não foram causados pela abertura do vão no teto da sala/quarto (fls. 177). Mais: A abertura do vão na laje de cobertura do apartamento do autor rompeu a manta de impermeabilização aparentemente já comprometida, mas esta não foi a causa das infiltrações. Devido a localização bem diversificada das manchas das infiltrações, podemos concluir que a causa principal é o comprometimento da manta de impermeabilização do terraço, acrescida de falhas nos revestimentos das paredes externas, ambas de responsabilidade do Condomínio. (fls. 178). O Condomínio alega que os reparos não foram executados porque o autor impediu o ingresso de profissionais no terraço, tanto que a sua negativa ensejou a propositura de ação

5 distribuída ao Juízo da 20ª Vara Cível, que deferiu tutela antecipada para que fosse permitido o acesso necessário à execução das obras. Embora o louvado houvesse afirmado que o acesso à parte da frente do terraço somente pode ser feito pelo apartamento do autor, este, em missiva enviada à administradora do Condomínio, informa que o meu material está numa área restrita do condomínio, que dá acesso à cobertura do prédio, onde nenhum morador tem acesso. Apenas eu e os porteiros temos as chaves. E não está atrapalhando a circulação deles (fls. 159, pasta 00162). Ora, se os porteiros têm as chaves da porta que dá acesso à cobertura do prédio, significa dizer que o Condomínio as possui, não se havendo de cogitar de que a impermeabilização do piso do terraço deixou de ser executada por culpa do autor, o que não foi objeto de prova, a tanto não correspondendo o fato de o Condomínio o haver acionado visando compeli-lo a permitir o acesso para a realização de obras de reparos na contenção de reboco da fachada (o grifo não consta do original - fls. 199, pasta 00199). Por outro lado, se o Condomínio vier a ser impedido pelo autor de entrar na área do terraço de sua unidade imobiliária, para o cumprimento de ordem judicial impermeabilização do piso -, a obrigação se resolverá, a teor do disposto no art. 248 do CC/02 ( Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do devedor, resolver-se-á a obrigação; se por culpa dele, responderá por perdas e danos ), sem embargo de o Condomínio deduzir, na instância própria, o incidente de execução que lhe parecer pertinente. A multa imposta pela sentença tem por finalidade compelir o destinatário ao cumprimento da ordem, além de preservar a autoridade das decisões judiciais. Daí porque pode ser, como o foi no caso, imposta de ofício (CPC, art. 461, 4º), não se havendo de cogitar de a sentença haver extrapolado os limites da lide, tampouco

6 de haver violado preceito infraconstitucional (CC/02, art. 944) ou constitucional (CR/88, art. 5º, V e X). Se a prova técnica atesta o nexo causal entre os danos ocorridos no imóvel do autor e a falha no sistema de impermeabilização do terraço, há o dever de indenizar por aquele que responde pelo sistema, no caso o Condomínio. Em relação ao dano moral, resultou configurado em face do constrangimento do autor de habitar local que apresenta mofo provocado por vazamentos, paredes manchadas, piso e teto danificados, situação que ultrapassa o mero aborrecimento. Entretanto, o valor arbitrado (R$ 8.000,00) não se compadece com o caráter dúplice da reparação (sanção e compensação), bem assim com a conduta do agente causador do dano, a extensão deste e a situação econômica das partes, nem se amolda aos parâmetros dos artigos 884 e segs. do CC/02, que censuram o enriquecimento sem causa, sendo de reduzir-se aquele valor na conformidade do disposto no art. 944 da lei civil. No concernente ao dano material, induvidoso que o vazamento proveniente do terraço danificou a unidade de propriedade do autor, tanto que será necessária a realização dos reparos enumerados pelo perito, que também lhes estimou os respectivos valores (fls. 175, pasta 00162), verbis: Para reparação dos danos encontrados no apartamento do Autor elaboramos o seguinte orçamento: Piso: demolição, fornecimento e colocação do novo 44,00m2 =R$3.200,00 Teto: banheiro - refazimento do emboço 3,60m2 =R$800,00 Rebaixamento com gesso =R$400,00 ( mínimo) Pintura - VB =R$2.200,00 Revisão instalação elétrica- VB =R$300,00

7 Retirada de entulho - ensacado =R$200,00 Total parcial =R$7.100,00 Eventuais ( 10% ) = R$710,00 Administração (10%) = R$710,00 Total geral: R$ 8.520,00. Como cediço, o dano patrimonial é suscetível de avaliação pecuniária, e pode ser reparado, senão diretamente, mediante restauração natural ou reconstituição específica da situação anterior à lesão -, pelo menos indiretamente por meio de equivalente ou indenização pecuniária (Antunes Varela, in Das obrigações em geral, 8º ed., Almedina, p. 611). Eis os motivos de votar por que se: (a) dê parcial provimento ao primeiro recurso, do Condomínio réu, para reduzir o quantum reparatório de dano moral a R$ 5.000,00 (cinco mil reais), a ser atualizado monetariamente a partir desta data (verbetes de nº 97 e 362, das Súmulas do TJRJ e STJ, respectivamente), acrescido de juros a contar da citação; (b) dê provimento ao segundo apelo, do autor, para: (I) condenar o Condomínio réu a pagar ao condômino autor R$ 8.520,00 (oito mil, quinhentos e vinte reais), a título reparatório de dano material, monetariamente corrigidos a partir da data do laudo ( ) e acrescidos de juros moratórios de 1% ao mês, fluentes de , data em que o Condomínio foi notificado para fazer cessar o vazamento (fls. 35, pasta 00021); (II) satisfazer as custas e os honorários, estes de 10% sobre o valor da condenação, a teor do disposto no art. 20, 3º, do CPC, mantida a sentença em seus demais capítulos. Rio de Janeiro, 29 de maio de Des. Jessé Torres Relator