ESTADO DA PARAÍBA TRIBUNAL DE JUSTIÇA ACÓRDÃO

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1 5 4 ESTADO DA PARAÍBA é - kno.-.k PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Apelação criminal n Comarca de Remígio Relator : O Exmo. Des. José Martinho Lisboa Apelante : Maria Margarete Viana de Souto Advogado : Karl Marx Valentim Santos Apelada : a Justiça Pública ;, USURA Art. 4, alínea "a", da Lei n 1.521/51 Condenação Inconformismo da ré Pedido de. reunião Alegativa de crime continuado Inexistência de unidade de desígnios lnocorrência de continuidade delitiva Empréstimo de dinheiro a juros superiores à taxa permitida em lei Provas robustas - - Delito configurado Pena-base Fixação levando em conta a reincidência da acusada Certidão errônea de antecedentes criminais -- Corrigenda que se impõe Provimento parcial do apelo. - Não se pode confundir continuidade delitiva com habitualidade criminosa, já que, na primeira hipótese, há unidade de desígnios, ao passo que, na segunda, cada ação constitui a reiteração de um ilícito penal, razão ; pela qual pouco importa o breve espaço de tempo entre a prática de um delito e o outro. - Se o agente empresta dinheiro a í juros superiores à taxa estabelecida pelo Dec. n /33, comete o crime de usura a que se refere o art..' 4, alínea "a", da Lei n Se a juíza, ao fixar a pena-base, leva em consideração a reincidência, esta., baseada em certidão de antecedentes' criminais errônea, deve a instância a. quem proceder a devida corrigenda, reduzindo a pena imposta. - Se o réu, embora respondendo -' vários processos criminais, ostenta -1 condição de primário, tendo sua penai é,è.t

2 , I i I * ESTADO DA PARMIRA 2 PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUS'IlÇA iecórdão base sido fixada abaixo da médica dosimétrica, faz jus a substituição a que 'alude o art. 44, caput, do referido diplórna legal. Vistos, relatados e discutidos estes autos de apelação criminal, acima identificados: Acorda a Egrégia Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, por votação confluente, em dar provimento parcial ao apelo, em desarmonia com o parecer da d. Procuradoria de Justiça. Na Comarca de Remígio, Maria Margarete Viana de Souto, já qualificada, foi denunciada como incursa no art. 4, alínea "a", da Lei n 1.521/51, porque, no mês janeiro de 2000, teria emprestado a Antônio Jerônimo da Costa a importância de R$ 2.000,00 (dois mil reais), cobrando juros de 10% (dez por cento) ao mês, tendo a vítima pago os juros por mais de um ano, mas, como não mais pôde arcar com as despesas, se viu constrangida com as cobranças da denunciada, que passou a denegri-lo com ameaças e palavras pejorativas. Ultimada a instrução criminal, a MM. Juíza a quo, julgando procedente a denúncia, condenou a increpada à pena definitiva de 02 ' (dois) anos de detenção, a ser cumprida em regime semi-aberto, e 100 (cem) dias-multa, esta no valor de 1130 do salário mínimo vigente à época do fato (fls. 142/147). Inconformada, apelou a ré em termos amplos (fl. 153). Em seu arrazoado de fls. 154/157, argüiu preliminar de nulidade da sentença sob o argumento de que a juíza teria se baseado em fatos inexistentes para condená-la. Além do mais, alegou continuidade delitiva e exacerbação da pena imposta, pelo que pleiteou a reunião dos processos, bem como redução e substituição da pena aplicada, nos termos do art. 44 do CP. Nas contra-razões de fls. 161/164, o parquet, sustentando, em síntese, não haver o que reformar na sentença, pugnou pela manutenção do decisum. Nesta instância, o Exmo. Dr. Berlindo Estrela de Oliveira, Promotor de Justiça convocado, opinou pelo improvimento do apelo (fls. 172/174). É o relatório. VOTO Assiste razão, em parte, à apelante. A

3 ; n:;..-21 o ESTADO DA I'AflAÍBA3 PODER JUDICIÁRIO 1 RII3UNA I, DE,JUS VIÇA Inici 3Imente, faz-se necessário esclarecer que a preliminar de nulidade ventilada pela defesa Se confunde com o mérito e com este sétá analisada. Nana a peça acusatória inicial que a recorrente, em janeiro de 2000, teria emprestado a Antônio Jerônimo da Costa a importância de R$ 2.000,00 (dois mil reais), cobrando juros de 10% (dez por cento) ao mês, que foram pagos por mais de um ano até que, não podendo mais honrar o compromisso, passou a ser alvo de ameaças por parte da acusada. Ocorre que ao sentenciar, a julgadora ao analisar as circunstâncias judiciais, acrescentou que "A culpabilidade da acusada encontrase presente nos autos, demon.3trando que essa agiu de forma livre e espontânea conhecendo a ilicitude do fato, demonstrando um dolo intenso, considerando-se que já fora denunciada e condenada de outra feita, persistindo, no entanto, no. crime, tratando-se de agente reincidente, cuja conduta social e personalidade não militam em seu favor, poroue rompe a ordem jurídica e social diutumamente,, fazendo da vida um iter crimittis" Poróm, como bem frisou a defesa, a juíza baseou-se em fatos inexistentes ao senienciar, uma vez que, de acordo com a folha de antecedentes criminais acostada às fls. 140/141, pelo presente crime de usura (proc. n ), a insurgente responde a outros seis de igual natureza, quais sejam, os de n 's , , , , e No entanto, o que chama mais a atenção é que, em se tratando de feitos autuados no ano de 2002, a referida certidão atestou que em pelo menos 04 daqueles processos já havia sentença condenatória, sendo 03 prolatadas no ano de 1993 e uma no ano de 1996! ( , , e este correspondente aos presentes autos. Todavia, após a publicação da sentença - vergastada (fl. 147), é que o cartório certifica que os processos n , , , , e não loram julgados.' Não esclareceu a situação do processo n , onde também se verifica que foi autuado em 2002 e sentenciado em Conseqüentemente, não poderia a julgadora te levado em consideração nas moduladoras do art. 59 do CP uma reincidência inexistente ou pelo menos não comprovada. Quanto ao pedido de reunião formulado pela defesa, este não prospera, haja vista que", como bem frisou a autoridade judiciária, tratase de uma agente habitual, posto que a acusada vivia de emprestar dinheiro a juros a diversas pessoas. Não se pode confundir, in casu, continuidade delitiva, como quer a apelante, com habitualidade criminosa, já que cada ação por ela praticada (usura) constituiu a reiteração de um ilícito penal, não havendo avt,#"--/4-'7

4 .. ESTADO DA PARAÍBA "..NAlkt ; PODER JUDICIÁRIO f/ -,15ṙ;.:-' ' I' NA I, DE JUS'I'IÇ:A..., 1 unidade de desígnios. Por esta razão, pouco importa o breve espaço de tempo. entre uma agiotagem e outra, como alega a defesa. Aliás, é o entendimento esposado pelo escoliasta Juliek Fabbrini Mirabete, in Código Penal Interpretado, 3a ed. São Paulo: Atlas, p. 497, vejamos:. "A continuidade delitiva, entretanto, deixa de existir s; essas circunstâncias reais não indicam a continuação, mas a reiteração do crime pelo criminoso habitual. continuidade não pode ser confundida co habitualidade, denunciada pela prática reiterada d- ilícitos por agente que faz dela seu meio de vida.: Também não se confunde o crime continuado com deli(o habitual, em que há apenas uma conduta, composta de vário atos, inócuos penalmente, ma que, reunidos, constituem uma infração penal". E também a jurisprudência: "(...;Processual Penal Continuidade delitiva Unidade de desígnios. 1. A mera reiteração d-, con lutas delituosas não caracteriza, por si só, a con,inuidade delitiva. É necessário um liame entre o vári4)s fatos criminosos, para que os crimes subreqüentes sejam havidos como continuação do primeiro. 2. Hábeas corpus conhecido; pedido indeferido" (STJ-RT 766/575). "Pai-a a caracterização do crime continuado não basta a simples repetição dos fatos delituosos num breve esp3ço de tempo, pois a atual teoria penal, corroborada pela jurisprudência dominante nos Tribunais Superiores, preconiza a exigência de unic'ade de desígnios, em que os atos criminosos estejam entrelaçados, ou melhor, necessário se torna levar em conta, tanto os elementos objetivos como os subj etivos do agente. Continuidade delitiva não reconhecida" (RSTJ 56/360). O apelo sequer discute a autoria e a materialidade do crime em tela, estas evidenciadas pelas declarações da vítima (fl. 77), onde a mesma declarou que tomou' cerca de R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais) emprestados à apelante, mediante pagamento de juros de 10% (dez por cento) ao mês, permanecendo assim por - mais de um ano, até que, ao fazer um acordo com a acusada, pagou a importância de R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais), mas ficou devendo R$ 500,00 (quinhentos reais) e novamente continuou pagando R$ 50,00 (cinqüenta reais) durante quatro meses a título de juros.

5 _ 5 I.1-Amew: r ESTADO DA PARAÍBA NnIi4it.,.,,"5. PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JusTiçA Ademais, tais declarações corroboram com os depoimentos das testemunhas de acusação (fls. 78/79) e de defesa (118/120), sendo que estas últimas inclunive se retrataram do falso testemunho prestado às fls. 65/97, asseverando que a increpada emprestada dinheiro a juros. Portanto, não há dúvidas de que a apelante tornou concreta a hipótese delineado no art. 4 0, alínea "a", da Lei n 1.521/51, eis que emprestou dinheiro a juros em taxa superior a estabelecida no Dec. n /33. Por outro lado, relativamente à pena imposta, merece reparo a sentença de 1 grau. É que, como expus acima, a magistrada foi levada ' a erro pela escrivania, co 'siderando, nas circunstâncias judiciais, ser a recorrente reincidente, à vinta de uma certidão errônea de antecedentes criminais, razão pela qual fixou a pena no máximo previsto na norma incriminadora (02 anos de detnção). Pel) exposto, dou provimento parcial ao apelo para, consideradas as circunstâncias judiciais analisadas na instância a quo, reduzir a pena-base para 01 (um) ano de detenção, a ser cumprida em regime aberto, bem como a de multa para 80 (oitenta) dias-multa, tornando-as definitivas à mingua de agravantes, atenuontes e causas de aumento ou diminuição. A substituição da pena corporal, mostra-se viável, eis que, apesar de responder a vários processos, ainda ostenta a recorrente a condição de primária. Nense sentido: "PENAL. HABEAS CORPUS. SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE DIREITOS. LEI N 9.714/98. I - A decisão que indefere a substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos deve ser fundamentada. II - Estabelecida a pena-base no mínimo legal, não pode ser o benefício negado somente pelo fato de responder a outros processos em andamento. Ordem concedida" (STJ HC 11279/RS, 5a Turma, Rel. Min. Felix Fischer, DJ , p. 345). AsE.im, à luz do disposto no 1 do art. 45 do Código Penal, substituo a pena privativa de liberdade imposta por uma restritiva de direitos, consistente no pagamento de prestação pecuniária no valor de 03 (três) salários mínimos, importância esta destinada a vítima Antônio Jerônimo da Costa. Ficam mantidas as demais cominações impostas na sentença de primeiro grau, inclusive o pagamento da multa. +?,

6 '! 6 ESTADO DA PARASBA PODER JUDICIÁRIO TFUBUNAL DE Jus nça ministerial. Egrégia Câmara Criminal. É como voto, em desarmonia com o parecer E dentro desse entendimento é como decide a Presidiu o julgamento, com voto, o Excelentíssimo Senhor Desembargador Nilc Luís Ramalho Vieira, e dele participaram os Excelentíssimos Senhores Desembargadores José Martinho Lisboa, Relator, e Nestor Alves de Melo Filho. Esteve presente o Excelentíssimo Senhor Doutor Berlino Estrela de Oliveira, Promotor de Justiça convocado. Sai] das Sessões da Egrégia Câmara Criminal, Desembargador Manoel Taigy de Queiroz Mello Filho, em João Pessoa, aos 28 dias do mês de outubro do an,) de A Desembargador JOSÉ MARTINHO LISBOA RELATOR 2 t

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