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1 n") "'4 ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO GABINETE DO DES. NILO LUIS FtAMALHO VIEIRA 'a ACÓRDÃO APELAÇÃO CRIMINAL n o /002 RELATOR: Des. Nilo Luis Ramalho Vieira APELANTE: Casas Bandeira Tecidos Ltda ADVOGADO: Alberto João dos Santos Loureiro Lopes APELADO: Francisco Alves do Ó Júnior ADVOGADO: Leopoldo Viana Batista Júnior - APELAÇÃO CRIMINAL - ESTELIONATO - OUTORGA DE PROCURAÇÃO POR PESSOA JURÍDICA - FALECIMENTO DE SÓCIO - VALIDADE DOS ATOS ATÉ A DEVIDA REVOGAÇÃO DO INSTRUMENTO PROCURATÓRIO - AUSÊNCIA DE DOLO - OBTENÇÃO DE VANTAGEM ILÍCITA - MEROS INDÍCIOS - MANUTENÇÃO DA ABSOLVIÇÃO - APELO DESPROVIDO Para se configurar o crime de estelionato há a obrigação do agente ter conseguido vantagem econômica de forma ilícita, através da manutenção ou induzimento da vítima em erro, mediante fraude. - Inexiste ardil nos atos praticados durante procuração válida, outorgada por empresa. - Não se comprova obtenção de vantagem ilícita quanco presentes meros indícios neste sentido. - Desprovimento do apelo.

2 , Apelação Criminal,, retro identificado. VISTOS, relatados e discutidos estes autos de ACORDA a Colenda Câmara Criminal do. 1 Egrégio Tribunal de Justiça da Paraíba, à unanimidade, negar provimento ao recurso, nos termos do relatório e voto que integram o presente julgado. Relatório Denunciou o Ministério Público, por seu representante, FRANCISCO ALVES DO Ó JÚNIOR, dando-o como incurso nas sanções do art. 171, caput, c/c ;art. 71, caput, ambos do Código Penal, alegando em síntese que o denunciado se beneficiou, obtendo para si vantagem ilícita, em prejuízo de terceiro, por ter proferido saques na conta corrente da empresa apelante, da qual já não seria mais procurador, por força da morte do outorgante do instrumento procuratório (fls ). legal. Recebida a Denúncia, o processo seguiu seu trâmite Sentenciado o feito, a magistrada a quo julgou improcedente a denúncia, absolvendo o acusado, ora apelado, nos termos do art. 386, Vi i.f.2 airga de Processo Penal (fls ). Inconformada, a empresa ofendida, admitida como ' assistente do Ministério Público em sede recursal (acórdão às fls ), ofertou recurso apelatório, com razões às fls , requerendo a reforma do decisum, para a condenação do apelado Francisco Alves do Ó 3únior, por entender haver provas que ensejariam a ocorrência d prática criminosa.

3 Contra-razões do apelado às fls , para se manter a absolvição, alegando, em síntese, a ausência do dolo específico, por ter sido a outorga conferida pela pessoa jurídica, não extinta pelo falecimento do seu sócio gerente. Opinou o Ministério público a quo pela denegação do recurso, por não encpn5rar Àle.r.nentos adequados à conformação do delito apontado (fls ). A c. Procuradoria de Justiça ofertou parecer pela manutenção da sentença absolutória em sua integralidade (fls ). É o relatório. VOTO De acordo com a inteligência do art. 171, caput, do Código Penal, para se configurar o crime de estelionato há a obrigação do agente, além de ter conseguido vantagem econômica de forma ilícita, fazer com que a vítima seja induzida ou mantida em erro, mediante fraude, consistente em "artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento". O cerne dá questão, portanto, envolve, além da verificação sobre a obtenção de vantagem ilícita por parte do apelado, a existência ou não de fraude no exercício das atividades inerentes ao mandato outorgado a ele pela empresa recorrente. ' No entanto,. ao - ana!isar minuciosamente os autos restam abrangidos de regularidade os atos praticados pelo apelado, descaracterizando a existência de, iiicitude, ao menos no âmbito criminal. Senão, vejamos:..,

4 Ergue-se dos autos que a empresa recorrente, Casas Bandeira Tecidos Ltda, em , representada à época pelo sócio Maurício Bandeira de Souza, outorgou procuração pública ao apelado, conferindo-lhe, ent re outros direitos, amplos e ilimitados poderes de representação perante diversas instituições bancárias, com validade de 05 (cinco) anos (fls. 20). Ressalte-se que a outorga referida foi realizada pela pessoa jurídica Casas Bandeira Tecidos Ltda, representada pelo sócio Maurício Bandeira de Souza, e não pela pessoa física deste último. Somos pelo mesmo entendimento do juízo a quo e do Ministério Público, no sentido de que, a priori, analisando-se o caso sob o ponto de vista do direito criminal, não se aplica ao caso em tela os preceitos do inciso II 'do art. 682 do Código Civil, no que diz respeito à cessação do mandato pela morte de uma das partes, pois a empresa não foi dissolvida com o falecimento de um dos sócios, conforme, inclusive, consta fià cláusula VII do Contrato Social da empresa (fls. 18). Necessitaria, assim, uma alteração contratual, somente providenciada em e protocolada em na Junta Comercial. Como os pagamentos foram efetuados pelo apelado dentro do período de validade do mandato, afasta-se, a prima fade, o ilícito criminal, por ausência de dolo em manter alguém em erro mediante falsa representação ou ardil.. Portanto, não existe prova robusta nos autos que comprove utilização de ardil ou outro meio fraudulento pelo apelado, mas meras alegações da esposa do falecido sócio da empresa ofendida, que possuía conhecimento do instrumento procuratório outorgado. Tanto é assim, que, ao se investir na qualidade de sóciaadministradora da'empresa, em (conf. protocolo da Junta mu don.

5 Comercial no documentd de fls ), cessou os poderes do mandato. :. Ademais, não. r se comprova de forma patente, das provas colhidas, que os pagamentos efetuados pelo apelante foram em proveito próprio, descaracteriàndo, ainda, a obtenção de vantagem ilícita por parte do apelado. O único argumento forte de que se valeu a recorrente para responsabilizar o apelado foi a alegada vantagem econômica indevida em relação ao cheque posto em circulação, no valor de R$ 3.300,00 (três mil e trezentos reais). Em relação a este fato, observa-se no testemunho: de um neto da recorrente, Arthur Bandeira Formiga, no sentido que o réu utilizou parte deste dinheiro para pagamento. de dívidas da recorrida e outra parte para pagamento de mensalidade da faculdade desta testemunha (neto da recorrente), com a aut6i-ização da própria recorrente, Sra. Maria de Lourdes Alencar Bandeira f,fls:1:33):' No caso vertente não se enquadra a conduta do acusado no crime de estelionato ou em qualquer outro tipo penal, eis que a suposta vantagem econômica, eventualmente aferida pelo apelado, não demonstrada de forma cristalina, ressalte-se, teria sido obtida através de procjaçáo válida há época da emissão dos 010 cheques contestados pela 'empresa apelante e, ainda, por não restar provas robustas de que Couve vantagem ilícita pelo acusado, conforme exposto. Julio Fabbrini Mirabete, sobre o assunto, revela que: "O meio fraudulento deve ser idôneo a enganar a vítima, devendo-se verificar, no caso concreto, não o homem médio, mas condições pessoais do ofendido para aferir-se a idoneidade do meio empregado

6 pelo agente". (in "Código Oenal Interpretado", Editora Atlas: 2005, p. 1555). Portanto, não restam provas contundentes no sentido de que houve realmente vantagem econômica do acusado, ora apelado, mas meros indícios nesse sentido. O dolo em manter alguém em erro mediante falsa representação igualmente ficou descaracterizado. Sobre o pagamento dos cheques pela instituição bancária, após a '''revogaçáo f' : do mandato pela Sra. Maria de Lourdes Alencar Bandeira na quaiidade inventariante do espólio e não de sócia-administradora, aplica-se a tal ato a teoria da aparência, prevista em nosso sistema jurídico, para prestigiar as relações sociais que se baseiam na confiança e na boa-fé. Ora, o pagamento dos indevida. cheques da empresa Casas Bandeira, por parte do banco, após o falecimento do outorgante, da Procuração ao apelado, respaldado por seu departamento jurídico, ratificou a inexistência do dolo. Assim, o decisum recorrido não se encontra equivocado, não podendo se falar em condenação do apelado por ausência do dolo, ou seja, l emprego pelo mesmo de ardil ou qualquer outro meio fraudulento corn o intuito de induzir ou manter a vítima,r em erro e, mais uma vez, por não se comprovar a vantagem Diante disso, deve ser respeitada a absolvição do acusado, ora apelado, na sentença a quo. Por todo o exposto, JULGO DESPROVIDO o recurso, em harmonia com o parecer ministerial, de forma a se manter a r. decisão atacada em todos os seus termos. É como voto.

7 . Decisão: "Negou-se provimento ao apelo, em harmonia com o parecer. Unânime.". Participaram ;clo Julgamento: Relator: Des, Nilo Luis Ramalho Vieira 1 0 Vogal: De., Antônio Carlos Coelho da Franca 20 Vogal: Dia. Renata da Câmara Pires Belmont, Juíza convocada para substituir c) Exmo. Des. Leôncio Teixeira Câmara Presente ao julgamento a Exma. Dra. Kátia Rejane Medeiros Lira Lucena, Procuradora de Justiça. Sala das sessões M. Taigy Filho da Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, João Pessoa, 22 de agosto de 2006 (data dojulgamento). João Pessoa, 23 de agosto de n11111Memem. D s. Nilo Luis Ramalho Vieira Relator, ;

8 , TR'BUNAL DE JUSTIÇA oordenadoria JudWária Registrado em24 1.1eL le 410