APELANTE FÁBIO CÂNDIDO DA SILVA. APELADO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ. RELATOR DES. JOÃO DOMINGOS KÜSTER PUPPI.

Transcrição

1 1 AUTOS DE APELAÇÃO CRIMINAL DE N.º , DE FOZ DO IGUAÇU 1ª VARA CRIMINAL. APELANTE FÁBIO CÂNDIDO DA SILVA. APELADO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ. RELATOR DES. JOÃO DOMINGOS KÜSTER PUPPI. EMENTA APELAÇÃO CRIME DELITO DE TRÁFICO REDUÇÃO DA PENA BASE PARA O MÍNIMO LEGAL IMPOSSIBILIDADE INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 42 DA LEI Nº /06 QUANTIDADE DE DROGAS QUE JUSTIFICA A APLICAÇÃO DA PENA EM VALOR ACIMA DO MÍNIMO LEGAL CONVERSÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE EM RESTRITIVA DE DIREITO IMPOSSIBILIDADE NECESSIDADE DE ALTERAÇÃO DO REGIME INICIAL PARA O CUMPRIMENTO DA PENA REGIME SEMIABERTO RESTITUIÇÃO DO VEÍCULO À ESPOSA DO APELANTE EX OFFICIO PROVIMENTO PARCIAL. Vistos, relatados e discutidos estes Autos de Apelação Criminal de n.º , de Foz do Iguaçu 1ª Vara Criminal, em que figura como Apelante Fábio Cândido da Silva e Apelado Ministério Público Do Estado Do Paraná. O Ministério Público do Estado do Paraná, por meio de seu representante, denunciou o réu Fábio Cândido da Silva, qualificado na peça inicial, como incurso na sanção do art. 33, caput Página 1 de 9

2 2 da Lei nº /2006, pela prática do fato delituoso assim descrito na denúncia: No dia 28 de outubro de 2013, por volta das 18:30, em via pública, localizada na Rua Silvio Sottomaior, Pilar Parque Campestre, no pátio de uma transportadora, no numeral 387, nesta cidade e comarca de Foz do Iguaçu/PR, o Fábio Cândido da Silva, agindo com sua vontade livre e consciente, transportava, no interior do veículo GM/Vectra, placas COG-5819, (três mil) frascos, da droga vulgarmente conhecida como lança perfume, substância de uso proscrito no território nacional, o qual fazia sem autorização e em desacordo com a determinação legal e regulamentar, conforme Auto de Exibição e Apreensão (fls. 14/15) e Auto de Constatação Provisória de Substância Entorpecente (fls. 17/18). O réu foi devidamente notificado (fl. 69) apresentou defesa preliminar (fl. 71/73), foi recebida a denúncia, em 14/01/2014 (fl. 79/80). Em audiência, foi inquirida uma testemunha arrolada pela acusação (fls. 95), e o acusado foi interrogado (fls. 96). Após a apresentação de alegações finais pelas partes (fls. 99/102 e 103/111), o digno magistrado de primeiro grau julgou procedente a denúncia, condenando o réu Fábio Cândido da Silva, como incurso nas sanções do artigo 33 caput da lei nº /2006. A pena definitiva de Fábio Cândido da Silva, restou fixada em 3 (três) anos de reclusão e 300 (trezentos) dias multa, a pena de multa foi aplicada no mínimo legal, qual seja: 1/30 do salário mínimo vigente, foi fixado o regime inicial fechado para o cumprimento da pena privativa de liberdade. Aplicou a detração da pena disposta no artigo 387, 2º do CPP, abatendo da pena definitiva 4 (quatro) meses e 20 Página 2 de 9

3 3 (vinte) dias da pena, restando um total de 2 (dois) anos e 07 (sete) meses e 20(vinte) dias de reclusão e 300 (trezentos) dias multa para o cumprimento da pena. Por fim, determinou o perdimento do veículo, bem como condenou o apelante ao pagamento das custas e despesas processuais. Fábio Cândido da Silva interpôs recurso de apelação requerendo a redução da pena para o mínimo legal, devendo ser reduzida, também, a pena de multa, alegando que a pena privativa de liberdade deve ser convertida em restritiva de direitos, pleiteou, ainda, a restituição do veículo apreendido. Contrarrazões apresentas às fls. 187/194. Parecer da Douta Procuradoria de Justiça ás fls. 214/221, opinando pelo conhecimento parcial do recurso, e pelo seu desprovimento. Quanto a restituição do veículo opinou pela restituição de ofício do mesma à pessoa Roseli da Silva. É o relatório. Estão presentes os pressupostos processuais para o conhecimento do recurso. Trata-se de apelação crime interposta em face da sentença que condenou o réu a 3 (três) anos de reclusão e 300 (trezentos) dias multa pela prática do crime previsto no artigo 33 da Lei /2006 (tráfico de drogas), fixando o regime inicial fechado para o cumprimento de pena. Primeiramente necessário ressaltar que o apelante não tem legitimidade para pleitear a restituição do veículo, uma vez que sua esposa é a legítima proprietária. Dessa forma o recurso não deve ser conhecido nessa parte. Porém, necessária a restituição do veículo ex officio, uma vez que não há comprovação, nos autos, de que a esposa do apelante tivesse ciência de que o mesmo utilizava seu veículo para o transporte de substâncias ilícitas. Para a decretação do perdimento de um veículo faz-se imprescindível a demonstração de que o proprietário Página 3 de 9

4 4 tivesse ciência e de que o veículo fora utilizado no tráfico de entorpecente, o que não ocorreu durante a instrução criminal. No mesmo sentido o parecer da Douta Procuradoria de Justiça: RESTITUIÇÃO DO VEÍCULO: Finalmente, deve ser enfrentada, de ofício, a questão acerca da restituição do veículo apreendido, cujo perdimento foi decretado em sentença. Pois bem. O interrogatório judicial do réu Fábio Cândido da Silva bem como os documentos de fls. 160 e 170. Comprova que o veículo GM Vectra, placa COG-5819, RENAVAM , Chassi 9BGK19BWWB553711, é de propriedade de Roseli da Silva, esposa do apelante. E, conquanto haja provas de que o veículo realmente foi utilizado para o transporte de drogas, não há qualquer elemento nos autos capaz de indicar que sua esposa, Roseli, soubesse acerca da destinação que Fábio estava dando ao seu carro. De fato, embora o réu afirme, em seu interrogatório judicial, que sua esposa sabia que ele iria realizar o transporte de mercadorias na ponte, em nenhum momento é possível inferir se Roseli tinha conhecimento acerca da ilicitude dos produtos transportados aliás, cliente para realizar o transporte, sendo que utilizava o veículo de sua esposa apenas esporadicamente, quando fosse necessário. É dizer, ao menos aparentemente, a esposa do réu é terceira de boafé, que não pode ser prejudicada por decisão judicial em processo do qual não participou como parte, porquanto não pode exercer o contraditório e a ampla defesa. (...) Assim, diante desses elementos, tem-se que Roseli da Silva é terceira de boa-fé, sendo forçoso reconhecer a necessidade de restituição do veículo Página 4 de 9

5 5 GM Vectra, placa COG-5819, RENAVAM , Chassi 9BGK19BWWB553711, em seu favor. Passo a analisar o mérito do recurso. Alega o apelante que sua pena deve ser aplicada no mínimo legal. Não lhe assiste razão. Compulsando os autos, verifica-se que sua pena base foi fixada em 6 anos de reclusão e 600 dias multas, diante a existência de circunstâncias desfavorável, qual seja, a grande quantidade de entorpecentes encontrados. O artigo 42 da Lei de Drogas autoriza a majoração da pena em virtude da quantidade de drogas encontradas com o praticante do delito: Art. 42. O juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância sobre o previsto no art. 59 do Código Penal, a natureza e a quantidade da substância ou do produto, a personalidade e a conduta social do agente. Foi o que ocorreu no caso em tela, o apelante estava transportando (três) frascos da droga conhecida como lança perfume, quantidade que autoriza a fixação da pena base acima do mínimo legal. Quanto a conversão da pena privativa de liberdade em restritiva de direito, melhor sorte não assiste ao apelante. O regime inicial fixado foi o fechado em virtude da quantidade de drogas encontradas com apelante. Com acerto agiu o MM. Magistrado singular. No caso em apreço, consoante preceituam os arts. 33, 2º e 3º, do Código Penal, e 42 da Lei de Tóxicos, mesmo sendo a pena aplicada inferior a 4 (quatro) anos, o que permitiria, em tese, o regime aberto, torna-se mais adequado, na espécie, regime mais rigoroso (fechado), levando em consideração a mecânica delitiva, e a quantidade de droga apreendida em poder do apelante: Página 5 de 9

6 (três) mil frascos. Importante ressaltar que o próprio apelante afirma que fazia carreto na ponte, o que facilitaria a entrada, ou saída de entorpecentes no país. Nesse sentido: HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL. TRÁFICO DE DROGAS. APLICAÇÃO DA CAUSA DE DIMINUIÇÃO DO ART. 33, 4º, DA LEI N , EM PATAMAR MÁXIMO. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. FIXAÇÃO DE REGIME FECHADO. CABIMENTO. NATUREZA E QUANTIDADE DE DROGA APREENDIDA (3,190 KG DE PASTA-BASE DE COCAÍNA). ILEGALIDADE INEXISTENTE. (...) 2. A partir da interpretação das disposições do art. 42 da Lei n , não há nenhum constrangimento ilegal no ponto em que foi aplicada a fração de 1 6 de diminuição de pena, considerando-se as peculiaridades do caso concreto, especialmente a natureza e a quantidade de droga apreendida (3,190 kg de pasta-base de cocaína - fl. 58), o que justifica uma maior reprimenda penal e impede, por sua vez, a aplicação da fração de 2 3, como pretendido. 3. É possível a fixação de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, levando-se em consideração a natureza e a quantidade de entorpecente apreendido. 4. Habeas corpus não conhecido.(hc n ES, relator o Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, DJe ) PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO EM RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO AO ART. 33, 2º, C, DO CP. REGIME INICIAL SEMI-ABERTO. PENA INFERIOR A 4 ANOS. CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME DESFAVORÁVEL. Página 6 de 9

7 7 ACÓRDÃO EM CONFORMIDADE COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. SÚMULA 83 STJ. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.1. Nos termos da jurisprudência pacífica deste Tribunal Superior, ainda que o quantum de pena fixado ao réu seja inferior a 4 anos, a natureza e a diversidade de drogas apreendidas - in casu, 34 "buchas de maconha" e 10 pedras de crack - recomendam o estabelecimento do regime semiaberto para o início do cumprimento da reprimenda. (HC MG, Rel. Min. OG FERNANDES, SEXTA TURMA, DJe ). Incidência do enunciado 83 da Súmula deste STJ. 2. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no AREsp n MG, relatora a Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, DJe ) HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. DESCABIMENTO. TRÁFICO ILÍCITO DE SUBSTÂNCIAS ENTORPECENTES. POSSE OU PORTE DE ENTORPECENTES PARA CONSUMO PRÓPRIO. REINCIDÊNCIA CARACTERIZADA. REINCIDÊNCIA VALORADA COMO CIRCUNSTÂNCIA AGRAVANTE E PARA IMPEDIR A APLICAÇÃO DA CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA DO ART. 33, 4º, DA LEI N BIS IN IDEM. AUSÊNCIA. REGIME INICIAL FECHADO. INVIABILIDADE DE SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE DIREITOS. NATUREZA E VARIEDADE DE DROGAS. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. INEXISTÊNCIA DE ILEGALIDADE. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. (...) - No caso, apesar de a pena ter sido fixada em 5 (cinco) anos e 10 (dez) meses de reclusão, a gravidade concreta do delito, evidenciada pela natureza e diversidade das drogas apreendidas - 26 porções de crack e 1 (um) invólucro plástico de cocaína, (sabe-se que o crack é uma substância que possui um alto efeito devastador, devendo-se Página 7 de 9

8 8 impor um maior rigor na apreciação da conduta do paciente) -, e a reincidência da paciente, justificam a imposição do regime inicial fechado, bem como a não substituição da pena por restritiva de direitos, nos termos do art.444, inciso III, docódigo Penall. Habeas corpus não conhecido. (HC n SP, relatora a Ministra MARILZA MAYNARD (Desembargadora Convocada do TJ SE), DJe ) Assim, impossível a conversão da pena privativa de liberdade em restritiva de direito, porém possível a fixação do regime inicial em semiaberto. Não se faz possível a fixação no regime aberto em virtude da quantidade da droga. Face a tais considerações o voto é pelo conhecimento parcial do recurso, e na parte conhecida pelo provimento parcial, e por determinar, de ofício, a restituição do veículo à proprietária. Do exposto. Acordam os Senhores Desembargadores integrantes da 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar parcial provimento ao recurso, nos termos do julgado. O julgamento foi presidido pelo Senhor Desembargador João Domingos Küster Puppi, com voto, e dele participaram conjuntamente o Senhor Desembargador Rogério Coelho Página 8 de 9

9 9 e o Senhor Juiz Substituto em Segundo Grau Jefferson Alberto Johnsson. Curitiba, 21 de agosto de João Domingos Küster Puppi Desembargador Relator Página 9 de 9