TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

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1 RELATÓRIO O DESEMBARGADOR FEDERAL CID MARCONI: Embargos de Declaração desafiados por Ana Paula Dias Gomes Barbosa e Roberto Abraham Abrahamian Asfora em face do Acórdão de fls. 642/657, cuja ementa tem o seguinte teor: "PENAL. FALSIDADE IDEOLÓGICA. DECLARAÇÃO FALSA EM DOCUMENTO PARTICULAR. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. INEXISTÊNCIA DE DENÚNCIA GENÉRICA. OBRIGAÇÃO DAS PARTES DE FORNECER AO JUÍZO A COMPLETA QUALIFICAÇÃO DAS TESTEMUNHAS ARROLADAS. AUTORIA E MATERIALIDADE DELITIVAS COMPROVADAS. MINORAÇÃO DAS PENAS PARA POUCO ABAIXO DO FIXADO NA SENTENÇA. APELAÇÕES CRIMINAIS PROVIDAS EM PARTE. 1.Apelações Criminais manejadas em face da sentença que, pela prática do delito tipificado no art. 299, c/c o art. 71, ambos do Código Penal, condenou os réus às penas de 03 (três) anos e 06 (seis) meses de reclusão (substituída por duas penas restritivas de direito) e multa, de 160 (cento e sessenta) salários mínimos vigentes na época da consumação do crime, para cada réu. 2. Segundo consta dos autos, os denunciados, na qualidade de sócios-gerentes da empresa Federal Distribuidora de Petróleo Ltda, de forma consciente e voluntária, forjaram, por meio da 14ª alteração contratual, a mudança de endereço de filial da mencionada empresa do Município de Duque de Caxias/RJ para o de Nova Friburgo/RJ, com o intuito de alterar a verdade sobre o juiz natural competente para conhecer da ação judicial posteriormente proposta com o objetivo de não pagamento da CIDE, instruída com documentação falsa. Autoria e materialidade delitivas comprovadas. 3. A falsificação ideológica praticada pelos recorrentes não ocorrera perante uma autarquia estadual (Junta Comercial de Pernambuco JUCEPE); o que se deu, efetivamente, foi o registro de um documento ideologicamente falso (alteração inverídica de endereço da empresa de propriedade dos réus), PMM 1/8

2 com o único objetivo de revesti-lo de legalidade e legitimidade para, posteriormente, servir de subsídio a uma ação judicial perante a Justiça Federal, para se eximir do pagamento da CIDE- Combustíveis (uma vez que a Juíza Federal então em atuação na Vara de Nova Friburgo possuía entendimento pessoal e aparentemente isolado da inconstitucionalidade de tal exação). 4. Há notícia nos autos de que o réu Roberto Abraham Abrahamian Asfora foi eleito para o cargo de Prefeito do Município de Brejo da Madre de Deus-PE, nas eleições suplementares de 07/07/2013 (Certidão de fl. 631); contudo, considerando que a posse ocorreu após a prolação da sentença (05/11/2012), não há a alteração da competência deste Tribunal para julgar as Apelações Criminais dela interpostas. 5. Não há inépcia da denúncia, que veiculou a descrição básica da conduta dos Pacientes, em feitio a permitir o exercício da respectiva defesa, quanto aos fatos nela narrados. 6. De outra banda, mister salientar que é obrigação das partes fornecer ao Juízo a completa qualificação das testemunhas arroladas, não sendo o julgador obrigado a envidar esforços a fim de encontrar testemunha cujo endereço não foi trazido ao processo. 7. Necessidade de ajuste na dosimetria da pena, para a minoração das penas privativas de liberdade e de multa. 8. Sentença que fixou as penas de ambos os condenados acima do mínimo legal, por considerar negativas 4 (quatro) das 8 (oito) circunstâncias judiciais, quais sejam: culpabilidade, conduta social, personalidade e consequências do delito. Contudo, apenas 2 (duas) devem prevalecer como desfavoráveis aos réus, quais sejam, a culpabilidade e as consequências do delito. 9. Os registros nas folhas de antecedentes criminais não podem ser considerados como maus antecedentes, má conduta social ou personalidade voltada ao crime, se não há registro de condenação com trânsito em julgado, nos termos da Súmula nº 444, do Superior Tribunal de Justiça. 10. De igual maneira, a conclusão da magistrada sentenciante sobre a personalidade de cada um dos recorrentes deve ser revista, pois demonstrou, unicamente, a sua visão pessoal e subjetiva ( aos olhos desta magistrada... ), o que não pode ser PMM 2/8

3 isoladamente considerado para se justificar a desfavorabilidade da referida circunstância judicial, que demanda a existência de dados concretos e objetivos para tanto. 11. A culpabilidade deve prevalecer, tendo em vista que as condutas imputadas aos condenados demonstram uma razoável intensidade do dolo, sobretudo ao se analisar toda a sofisticada cadeia de fatos perpetrados: partindo-se da inserção de dados falsos em alteração contratual registrada em junta comercial, seguida do aluguel de imóvel (sem utilização deste), em endereço diverso do verdadeiro, e de ajuizamento de ação judicial perante a Justiça Federal (mediante uso de reportada falsidade ideológica), e tudo isso com o objetivo de eximir-se do pagamento de tributo. 12. As consequências do crime são desfavoráveis aos réus, uma vez que, além de alcançarem o objetivo buscado, qual seja, a isenção do pagamento da CIDE-Combustíveis, conseguiram que a causa fosse julgada por um magistrado desafeto à causa (em afronta direta ao princípio do juiz natural). 13. Desse modo, com o afastamento de 2 (duas) das 4 (quatro) circunstâncias judiciais inicialmente consideradas, as penasbase de cada um dos condenados devem permanecer acima do mínimo legal, só que pouco abaixo do decretado pelo juízo de 1º Grau (3 anos e 6 meses de reclusão), de modo que deve a pena privativa de liberdade definitiva ser fixada em 03 (três) anos de reclusão e a multa reduzida para 100 dias-multa, com a manutenção da sentença nos demais termos. Apelações criminais providas em parte. Sustentam os Embargantes que o aresto teria incorrido em ambiguidades, ao afirmar que os réus obtiveram a isenção da CIDE - Combustíveis, quando os elementos constantes dos autos demonstram que os recorrentes não chegaram a alcançar a pleiteada isenção. Defendem, ainda, que o Acórdão também teria sido ambíguo ao considerar, na dosimetria da pena, o alcance da isenção da CIDE - Combustíveis como circunstância judicial desfavorável. Por fim, alegam outra ambiguidade na dosimetria da pena, porquanto, não obstante a consumação de um único crime, o Acórdão teria mantido a causa de aumento de 1/6 (um sexto), decorrente da continuidade delitiva (art. 71 do CP). PMM 3/8

4 Pediram o provimento dos Aclaratórios, com efeitos infringentes, para que sejam sanados os vícios apontados, com a reforma do julgado, no que concerne à dosimetria, para que seja reduzida a pena ao mínimo de 1 ano de reclusão. Contrarrazões apresentadas pelo Ministério Público Federal às fls. 681/685, pugnando pelo improvimento dos Embargos, com a manutenção do Acórdão. É o relatório. Dispensada a revisão. PMM 4/8

5 VOTO O DESEMBARGADOR FEDERAL CID MARCONI: Ao meu sentir, os presentes Embargos não merecem prosperar. Não houve a alegada ambiguidade do aresto, no tocante à afirmação de que os réus obtiveram a isenção da CIDE - Combustíveis, bem como quando considerou, na dosimetria da pena, o alcance do intento criminoso como circunstância judicial desfavorável. Ora, ficou devidamente comprovado nos autos que os réus, ora embargantes, chegaram a obter, em sede de antecipação de tutela, a suspensão da exigibilidade do crédito tributário relativamente à CIDE - Combustíveis (fls. 226/229 do Inquérito Policial em anexo), decisão judicial esta que só não chegou a ser efetivamente cumprida por culpa dos próprios réus, vez que o Oficial de Justiça não conseguiu intimá-los no endereço indicado na petição inicial, por causa da farsa por eles armada - certidão de fls. 231 verso, tendo a inicial sido posteriormente indeferida (com a revogação da tutela antecipada) para a ação fosse intentada na localidade onde encontra-se estabelecida a sede da empresa, não abrangida pela jurisdição da Vara Federal de Nova Friburgo/RJ. Desse modo, não poderiam os réus, quando da dosimetria da pena, se beneficiarem da revogação da antecipação da tutela, na qual obtiveram a suspensão da exigibilidade do tributo, quando eles próprios deram causa a essa revogação, porque se assim fosse, estaria se admitindo que pudessem se beneficiar da própria torpeza. Em relação a outra ambiguidade alegada na dosimetria da pena, porquanto, não obstante a consumação de um único crime, o Acórdão teria mantido a causa de aumento de 1/6 (um sexto), decorrente da continuidade delitiva (art. 71 do CP), igualmente não prospera. Ficou bem claro na sentença, entendimento mantido pelo Acórdão, que o delito de falsidade ideológica fora praticado duas vezes pelos réus, quando inseriram em alteração contratual da empresa (uma vez) e em petição inicial apresentada perante a Justiça Federal de Nova Friburgo/RJ PMM 5/8

6 (outra vez) declaração falsa, fazendo constar endereço diverso do domicílio fiscal da empresa, com o intuito de alterar a verdade sobre o juiz competente para conhecer ação judicial proposta com o intuito de suprimir o pagamento de tributo. Correta, portanto, a manutenção da causa de aumento de pena de 1/6 (um sexto), diante do pequeno número de infrações, decorrente da continuidade delitiva. É possível, através de uma simples leitura do Acórdão, observar que examinou detidamente toda a matéria devolvida em sede recursal, não incorrendo em qualquer ambiguidade, obscuridade, contradição ou omissão a justificar os presentes aclaratórios. Percebe-se, de plano, que a pretensão dos réus/embargantes é a de rediscutir a questão que foi devidamente analisada, o que não é permitido na via estreita dos Embargos de Declaração. Desse modo, não há qualquer ambiguidade a ser reparada no aresto, e o fato de a tese defendida pelos ora Embargantes não ter sido analisada ao seu gosto não configura vício, eis que a decisão encontra-se devidamente clara e fundamentada. Sob o influxo de tais considerações, nego provimento aos Embargos de Declaração. É como voto. PMM 6/8

7 APTE : ANA PAULA DIAS GOMES BARBOSA APTE : ROBERTO ABRAHAM ABRAHAMIAN ASFORA ADV/PROC : HÉLCIO FERREIRA DE OLIVEIRA FRANÇA e outro APDO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL EMBTE : ANA PAULA DIAS GOMES BARBOSA RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL CID MARCONI EMENTA PROCESSUAL PENAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. APELAÇÃO CRIMINAL. FALSIDADE IDEOLÓGICA. DECLARAÇÃO FALSA EM DOCUMENTO PARTICULAR. AMBIGUIDADES. INOCORRÊNCIA. EMBARGOS IMPROVIDOS. 1. Embargos de Declaração opostos pelos réus, alegando-se que o aresto teria incorrido em ambiguidades: a) ao afirmar que os réus obtiveram a isenção da CIDE - Combustíveis, quando os elementos constantes dos autos demonstrariam o contrário, ou seja, que os recorrentes não chegaram a alcançar a pleiteada isenção; b) ao considerar, na dosimetria da pena, o alcance da isenção do tributo como circunstância judicial desfavorável; c) ao manter a causa de aumento de 1/6 (um sexto), decorrente da continuidade delitiva (art. 71 do CP), não obstante a consumação de um único crime de falsidade ideológica. 2. Consignou-se no julgado que os réus, na qualidade de sóciosgerentes da empresa Federal Distribuidora de Petróleo Ltda, de forma consciente e voluntária, forjaram, por meio da 14ª alteração contratual, a mudança de endereço de filial da mencionada empresa do Município de Duque de Caxias/RJ para o de Nova Friburgo/RJ, com o intuito de alterar a verdade sobre o juiz natural competente para conhecer da ação judicial posteriormente proposta com o objetivo de não pagamento da CIDE, instruída com documentação falsa (a Juíza Federal então em atuação na Vara de Nova Friburgo possuía entendimento pessoal e aparentemente isolado da inconstitucionalidade de tal exação). 3. Ficou claro no Acórdão que os réus/embargantes chegaram a obter, em sede de antecipação de tutela, a suspensão da exigibilidade almejada relativamente à CIDE - Combustíveis, alcançando, inicialmente, o objetivo ilícito premeditado, decisão judicial esta que só não chegou a ser efetivamente cumprida por culpa dos próprios réus, vez que o Oficial de Justiça não conseguiu intimá-los no endereço PMM 7/8

8 indicado na petição inicial, por causa da farsa por eles armada, tendo a inicial sido posteriormente indeferida (com a revogação da tutela) para que a ação fosse intentada na localidade onde encontra-se estabelecida a sede da empresa, não abrangida pela jurisdição da Vara Federal de Nova Friburgo/RJ. 4. Desse modo, não poderiam os réus/embargantes, quando da dosimetria da pena, se beneficiarem da revogação da antecipação da tutela, na qual obtiveram a suspensão da exigibilidade do tributo, quando eles próprios deram causa a essa revogação, porque se assim fosse, estaria se admitindo que pudessem se beneficiar da própria torpeza. Inexistência de ambiguidades. 5. Correta a manutenção da continuidade delitiva reconhecida na sentença, vez que o delito de falsidade ideológica fora praticado duas vezes pelos réus, quando inseriram em alteração contratual da empresa e em petição inicial apresentada perante a Justiça Federal de Nova Friburgo/RJ declaração falsa, fazendo constar endereço diverso do domicílio fiscal da empresa, com o intuito de alterar a verdade sobre o juiz competente para conhecer ação judicial proposta com o intuito de suprimir o pagamento de tributo. 6. O reexame da matéria não é permitido nas vias estreitas dos embargos de declaração. Embargos de Declaração improvidos. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, em que são partes as acima identificadas. Decide a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, negar provimento aos Embargos de Declaração, nos termos do relatório, voto do Desembargador Relator e notas taquigráficas constantes nos autos, que passam a integrar o presente julgado. Recife (PE), 30 de julho de Desembargador Federal CID MARCONI Relator PMM 8/8

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