MONITORAMENTO GEOTÉCNICO DO ATERRO SANITÁRIO DE BELO HORIZONTE, BRASIL.
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- Cláudio Varejão Bastos
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1 MONITORAMENTO GEOTÉCNICO DO ATERRO SANITÁRIO DE BELO HORIZONTE, BRASIL. Gustavo Ferreira Simões (*) Engenheiro Civil UFMG (1990); Mestre em Engenharia Civil PUC-Rio (1994) Doutor em Engenharia Civil PUC-Rio (2000); Professor Adjunto do Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia da UFMG. Cícero Antonio Antunes Catapreta Secretaria Municipal de Limpeza Urbana Heuder Pascele Batista Secretaria Municipal de Limpeza Urbana de Belo Horizonte Henrique Lembi Martins Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia da UFMG Endereço para correspondência Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia - Escola de Engenharia da UFMG Av. Contorno, 842 / 608 Centro CEP: Belo Horizonte MG Brasil tel.: / fax: gfsimoes@etg.ufmg.br RESUMO O monitoramento geotécnico de aterros sanitários destaca-se devido a sua importância dentro do contexto da disposição final de resíduos, pois permite o controle operacional e a avaliação permanente da estabilidade dos aterros, assim como contribui para o entendimento do comportamento geotécnico dos resíduos. Neste trabalho, são apresentados e discutidos os principais resultados que vem sendo obtidos no programa de monitoramento geotécnico do aterro sanitário de Belo Horizonte, Brasil. O programa envolve o acompanhamento de deslocamentos verticais e horizontais, superficiais e em profundidade, níveis e pressões nos líquidos e biogás no maciço do aterro, controle da compactação dos resíduos, controle tecnológico dos materiais das obras de terra e realização de ensaios de laboratório e de campo nos resíduos. São também comentados alguns aspectos conceituais do monitoramento de aterros sanitários, destacando a importância de sua realização, como forma de contribuir para o entendimento do comportamento geotécnico dos resíduos sólidos urbanos, o que possibilitará o desenvolvimento de projetos mais seguros, econômicos e ambientalmente corretos. PALAVRAS CHAVE: Geotecnologia ambiental, monitoramento geotécnico, resíduos sólidos urbanos, aterros sanitários, instrumentação. INTRODUÇÃO O tratamento e disposição final segura de resíduos sólidos urbanos representa hoje um dos principais problemas a ser equacionado pelas administrações municipais brasileiras, já que, normalmente, as mesmas possuem uma insuficiência de recursos financeiro-orçamentários. Esses fatos fazem com que a busca de soluções administrativas para os problemas locais dependam de mecanismos de financiamento público fora da esfera municipal. Percebe-se em paralelo a insuficiência de meios técnicos, administrativos e gerenciais para o enfrentamento da solução sob a ótica de autonomia municipal, que, não obstante, pode estar em vias de equacionamento no médiolongo prazo.
2 Observa-se desta forma que no Brasil, como em grande maioria dos países, a alternativa amplamente adotada para disposição e tratamento dos resíduos sólidos urbanos gerados diariamente pela população ainda é o Aterro Sanitário, os quais ainda representam a solução técnica e economicamente mais viável para a disposição de resíduos sólidos urbanos (Benvenuto & Cunha, 1991). Assim, a necessidade de estabelecer critérios de segurança e riscos ambientais relacionados à operação dos aterros sanitários é vista hoje como uma das principais lacunas dentro do contexto da disposição final de resíduos sólidos urbanos. O monitoramento ambiental de um aterro sanitário visa coletar dados que permitem avaliar a sua influência sobre o meio ambiente. Dentro deste contexto, destaca-se o monitoramento geotécnico dos aterros de disposição de resíduos sólidos urbanos, que permite o seu controle operacional e contribui para o entendimento do comportamento geotécnico dos resíduos. Neste sentido, este trabalho apresenta e discute alguns resultados do programa de monitoramento geotécnico que vem sendo realizado no aterro sanitário de Belo Horizonte, Brasil. O programa envolve o acompanhamento de deslocamentos verticais e horizontais, superficiais e em profundidade, níveis e pressões nos líquidos e biogás no maciço do aterro, controle da compactação dos resíduos, controle tecnológico dos materiais das obras de terra e realização de ensaios de laboratório e de campo nos resíduos. O trabalho está inserido em um programa de monitoramento ambiental mais amplo, onde outros aspectos tais como, qualidade do ar e das águas subterrâneas e saúde das populações vizinhas, também vêm sendo estudados. São discutidos também alguns aspectos conceituais do monitoramento de aterros sanitários, destacando a importância de sua realização, como forma de contribuir para o entendimento do comportamento geotécnico de um material tal complexo como os resíduos sólidos urbanos, o que possibilitará o desenvolvimento de projetos mais seguros, econômicos e ambientalmente corretos. OBJETIVOS DO PROGRAMA DE MONITORAMENTO O programa de Monitoramento Geotécnico do Aterro Sanitário de Belo Horizonte iniciou-se em 1995 e faz parte do Plano de Controle Ambiental da Central de Tratamento de Resíduos Sólidos (CTRS) da BR 040. O principal objetivo deste Monitoramento Geotécnico é desenvolver atividades que permitam acompanhar e avaliar o comportamento e a estabilidade dos maciços de resíduos do Aterro Sanitário. ÁREA MONITORADA A CTRS de Belo Horizonte ocupa uma área de 132 hectares e recebe cerca de ton/dia de resíduos sólidos urbanos, provenientes de uma população aproximada de 2,3 milhões de habitantes. O Aterro Sanitário teve suas atividades iniciadas em 1975 e, durante 14 anos, funcionou como aterro convencional, passando a energético em 1989 e Celular em 1995, quando a área de aterragem foi dividida em células para a utilização da técnica de recirculação de chorume para acelerar a decomposição da fração orgânica dos RSU. No entanto, o emprego desta técnica foi interrompido em 2001 e o aterro voltou a funcionar como um aterro convencional. A Figura 1 apresenta um layout geral da CTRS da BR-040.
3 CÓRREGO DOS COQUEIROS AC AC-02 AC-03 AC-04 AC-05 Célula Emergencial N= E= Figura 1 Layout geral da Central de Tratamento de Resíduos Sólidos Urbanos da BR 040 METODOLOGIA Como mencionado anteriormente, o monitoramento geotécnico do aterro sanitário de Belo Horizonte iniciou-se em 1995, por meio do acompanhamento das análises dos materiais utilizados nas bases e Diques do aterro sanitário. Em 1998 foi implantado um Programa de Monitoramento Geotécnico mais amplo, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais, através do Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia. Este programa, descrito em Simões e outros (2002 e 2003a), tem como principal objetivo desenvolver atividades que permitam acompanhar e avaliar o comportamento geotécnico e a estabilidade dos maciços de resíduos da CTRS, contribuindo, desta forma, para o melhor entendimento do complexo comportamento dos RSU. Ressalta-se que esse programa de monitoramento vem sendo implementado durante a operação do aterro, o que dificulta tanto a instalação e manutenção dos instrumentos e a realização das leituras, quanto a interpretação dos registros (Simões e outros, 2004). O Programa de Monitoramento Geotécnico da CTRS inclui: Medidas de poro-pressões nos diques e no interior das células, utilizando piezômetros e medidores de nível de líquidos; Medidas de recalques superficiais e em profundidade, utilizando marcos superficiais e medidores em profundidade; Medidas de permeabilidade, com a realização de ensaios de campo e de laboratório nos resíduos e materiais de construção; Medidas de movimentações superficiais, utilizando marcos superficias; Medidas de movimentações internas, utilizando inclinômetros; Controle tecnológico dos materiais geotécnicos utilizados; Realização de Provas de carga, para avaliação da resistência dos RSU; Controle da densidade dos resíduos aterrados, por meio do acompanhamento diário das pesagens dos resíduos e do registro topográfico do avanço da frente de serviços; Inspeções de campo; Registro de dados pluviométricos e de vazão de líquidos lixiviados. PRINCIPAIS RESULTADOS ALCANÇADOS E DISCUSSÃO
4 Recalques superficiais Os recalques superficiais são mensurados por meio de leituras realizadas em medidores específicos, os quais são constituídos de base quadrada de 0,50m, confeccionada em concreto, e haste metálica de tubos de ferro galvanizado (altura de 1,50 m) providos de rosca na parte superior para possibilitar o encaixe de novas hastes, se necessário. A distribuição das referidas placas ocorreu de modo que se observassem os recalques nas diversas células do aterro. Inicialmente foram instalados 18 medidores na Célula Emergencial, onde os resíduos apresentam espessuras variando entre 10 e 50 m, e idade entre 6 e 8 anos. Posteriormente foram instaladas mais 18 placas, foi posicionado no topo das Células AC 03 (10) e AC 04 (8) onde os resíduos apresentam espessuras de aproximadamente 45 m e idade entre 2 e 4 anos. Atualmente encontram-se instalados 66 medidores permanentes, distribuídos nas células do aterro, principalmente nas bermas dos taludes que já se encontram nas cotas finais de projeto. As Figuras 2 e 3 mostram a evolução dos recalques e das deformações específicas nos medidores da Célula AC 05 ao longo do tempo. O trecho inicial das curvas não é apresentado e se refere ao intervalo entre a construção das células e o início do monitoramento. Uma descrição detalhada da metodologia utilizada na interpretação dos registros é apresentada em Simões e outros (2004). As leituras dos recalques indicaram valores que variaram de 100 cm a 480 cm e a deformações específicas, de 5,8% a 17,5%. Com relação aos recalques, observam-se quatro padrões de comportamento, também indicados na Figura 2, que correspondem, com algumas exceções, a conjuntos de medidores com mesma cota de projeto. O padrão observado para os recalques não pode ser verificado com as deformações específicas. Apenas algumas tendências podem ser inferidas, como a ocorrência de deformações máximas nos medidores que possuem maiores alturas de resíduos sob os mesmos e deformações mínimas para os medidores localizados sobre camadas de resíduos menos espessas. Recalque (m) Tempo (dias) ,0 1,7,13,20,21 1,0 2,0 2,8,14,19 3,0 4,0 5,0 6,0 6,11,12,17 3,4,5,9,10,15,16, Figura 2 Evolução dos recalques Os demais medidores permanentes encontram-se instalados nas Células AC 03, AC 04 e Célula Emergencial. Na Célula Emergencial não vêm sendo observados recalques verticais significativos, o que se deve, provavelmente, à idade dos resíduos, entre 6 e 8. A magnitude desses recalques variou de 10 cm a 70 cm e as deformações específicas foram inferiores a 2 %, considerando um período de monitoramento de 2 anos.
5 Nas demais Células os resultados indicaram recalques variando de 5 cm a 130 cm (AC 03) e 8 cm a 140 cm (AC04) e as deformações específicas de 0,3 % a 3,2 % (AC 03) e 0,7 % a 3,7 % (AC04), considerando um período de monitoramento de 1 ano. Os mesmos padrões gerais observados na Célula AC 05 foram identificados nessas Células, com os medidores localizados sobre maiores espessuras de resíduos apresentando, em geral, as máximas deformações específicas. Deformação Específica (%) 20% 18% 9,10 16% 16 11,15,17 14% 12% 5,6,12,22 10% 8% 6% 4% 2% 0% 3,4 13, , Tempo (anos) Figura 3 Evolução das deformações específicas Mesmo com as variações observadas das deformações especificas na Figura 3, os dados permitem a definição de faixas para as mesmas, o que pode passar ser incorporado no desenvolvimento de projetos e contribuir para a análise de dados obtidos em outros aterros, desde que operados em condições semelhantes. Eliminando os medidores 20 e 21, que se encontram em regiões menos confinadas do maciço, observa-se que as deformações específicas variaram, no período considerado, entre 12 e 18%. Recalques em profundidade Com o objetivo de avaliar a evolução dos recalques em diversas profundidades no interior da massa de resíduos, foi instalado, na Célula Emergencial, um conjunto de medidores magnéticos de recalques em profundidade. Os medidores foram posicionados em 12 diferentes profundidades em um tubo vertical. A análise dos registros dos primeiros 270 dias de monitoramento, associada à precisão do sensor utilizado nas medições (da ordem de 5 centímetros) mostra que os medidores de recalques em profundidade não vêm sofrendo movimentações, conforme Figura 4, o que pode ser reflexo da idade dos resíduos aterrados na Célula Emergencial, 4 a 7 anos. Ressalta-se que essa observação também pode ser confirmada na análise dos recalques superficiais observados na Célula Emergencial. A Figura 5 ilustra o sistema de medição de recalques em profundidade, constituído de anéis magnéticos que são posicionados externamente a um tubo inclinométrico na profundidade desejada. As leituras são realizadas com um sensor que detecta a presença dos anéis magnéticos ao longo do tubo
6 Profundidade (m) Tempo (dias) ,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 L1 L2 L3 L4 L5 L6 L7 L8 L9 L10 L11 L12 30,00 Figura 4 Evolução dos recalques em profundidade Figura 5 Sistema de medição de recalques em profundidade Nível de Líquidos no Interior dos Maciços do Aterro Sanitário A regularidade na medição e sistematização dos dados de monitoramento do nível de manta liquida no interior das células do aterro sanitário da BR 040 foi estabelecida a partir da necessidade de obter um maior controle da estabilidade do maciço de resíduos, assim como das migrações que vinham ocorrendo nos taludes das células de aterragem e de outros problemas detectados e atribuídos ao elevado nível de líquidos no interior do maciço de resíduos (Simões e outros, 2003b). O monitoramento do nível de líquidos também teve como objetivo acompanhar os níveis de pressões nos líquidos e gases e identificar a possível formação de bolsões de líquidos no interior das células de resíduos do Aterro Sanitário. Esta verificação é realizada em poços piezométricos (Medidores de Nível de Líquidos) instalados em diversos pontos das células e de drenagem de gases definidos em projeto e em furos exploratórios executados nas células. Correlação entre a precipitação, o nível de chorume e as vazões de líquidos lixiviados ainda não são conclusivas, o que reflete a complexidade da avaliação do balanço hídrico em Aterros Sanitário onde são dispostos resíduos sólidos urbanos. A análise dos dados, associada à observação do comportamento da rede de drenagem superficial em períodos chuvosos, sugere que as camadas de cobertura executadas têm-se mostrado eficientes, reduzindo a infiltração de águas pluviais. Do ponto de vista operacional, tal fato é extremamente importante, já que reduz a geração de líquidos lixiviados. Destaca-se a existência de camadas de cobertura intermediárias formadas por materiais de permeabilidades variáveis (entulho, argila etc), o que associada à excessiva compactação causada pelo intenso tráfego sobre as células, favorece a formação de lentes impermeáveis no interior da massa de resíduos, dificultando a percolação de líquidos entre camadas e, conseqüentemente, contribuindo para o aparecimento de níveis de líquidos descontínuos ou suspensos. Parte do monitoramento de líquidos é realizado utilizando os Poços de Drenagem de Líquidos e Gases, que são constituídos por tubos de concreto perfurados em toda a sua extensão. Esses poços funcionam como Medidores de
7 Nível de Líquidos e, considerando a existência de camadas impermeáveis no interior do maciço, não são capazes de detectar níveis suspensos. Esse fato vem sendo confirmado pelos registros de dois Piezômetros, descritos em Simões e outros (2003b), instalados na Célula Emergencial em duas profundidades de uma mesma berma da referida célula, que vem apresentando diferenças da ordem de 4 m nas leituras. Controle Tecnológico dos Materiais de Construção O controle tecnológico dos materiais utilizados nos diques iniciais e nas camadas de impermeabilização da base das células foi realizado por meio de ensaios de permeabilidade em laboratório, com utilização de amostras indeformadas. Os valores obtidos situaram-se na faixa de 10-7 cm/s. Todas as etapas referentes à compactação dos diques e camadas de impermeabilização da base das células foram controladas em campo com a utilização do frasco de Areia, estando o grau de compactação e os desvios de umidade dentro do especificado em projeto. Foram também executados ensaios triaxiais para avaliação dos parâmetros de resistência e deformabilidade dos materiais dos diques e da fundação das células. Esses parâmetros, associados aos níveis de líquidos registrados no interior das células, vêm sendo utilizados nas análises de estabilidade dos taludes do aterro. Medidas de Permeabilidade As medidas de permeabilidade nas camadas de cobertura foram realizadas com o Permeâmetro de Guelph e apresentaram valores variando entre 10-3 e 10-5 cm/s. Esta variação deve-se principalmente à heterogeneidade dos materiais utilizados e à compactação provocada pelo constante tráfego de veículos sobre essas camadas. A permeabilidade dos resíduos foi avaliada por meio de ensaios de perda d água em furos de sondagem. Destaca-se a dificuldade de se realizar ensaios de campo no interior da massa de resíduos. Os valores obtidos, utilizando correlações empíricas, situaram-se na faixa de 10-4 cm/s. Densidade dos Resíduos O estabelecimento da densidade dos resíduos sólidos urbanos após a compactação, também chamada de índice ou grau de compactação, é um pouco complexo em função das muitas variáveis que influenciam o processo, principalmente no que diz respeito às características dos resíduos e o tipo de equipamento utilizado, assim como os aspectos operacionais propriamente ditos. Logo, observa-se que, tanto sob o ponto de vista operacional quanto da estabilidade do aterro, a importância de se acompanhar e avaliar a densidade dos RSU dispostos em um aterro sanitário. Nesse sentido, a partir de abril de 2000, passou-se a exercer uma sistemática de acompanhamento da densidade dos RSU dispostos no aterro sanitário de Belo Horizonte. A metodologia utilizada, descrita em detalhes por Catapreta e outros (2003), consiste na avaliação dos volumes de resíduos aterrados semanalmente por meio do controle topográfico do avanço da frente de serviço e das pesagens dos veículos, no sistema de balanças da CTRS. A metodologia utilizada incluiu a avaliação de três hipóteses, considerando: (A) todos os resíduos recebidos, exceto os resíduos de construção civil (RCC); (B) todos os resíduos recebidos e (C) todos os resíduos recebidos e uma camada de cobertura de 0,50 metros com RCC). As densidades obtidas têm como referência o peso total dos resíduos, obtidos. Desta forma, a influência do teor de umidade dos mesmos não foi considerada. Atualmente todo o procedimento utilizado nesse estudo vem sendo complementado por determinações regulares do teor de umidade de sólidos voláteis dos resíduos. Acredita-se, no entanto, que o extenso período de levantamento de dados, cobrindo três ciclos hidrológicos completos, associado à forma de acondicionamento e de coleta dos resíduos, em caminhões compactadores, o que de certa forma minimiza as variações de umidade durante o transporte, mostram que a metodologia é adequada e os resultados válidos. Os resultados de três anos de monitoramento são apresentados na Tabela 1 e Figura 6.
8 Tabela 1 - Distribuição de freqüência do índice de compactação dos resíduos aterrados (SMLU, 2003) Com camada de Faixa Sem RCC % Com RCC % cobertura 0,50 m de % (tf/m3) RCC 0,7< 68,00 47,89 4,00 2,82 23,00 16,20 0,70 a 0,80 42,00 29,58 6,00 4,23 41,00 28,87 0,81 a 0,90 16,00 11,27 16,00 11,27 37,00 26,06 0,91 a 1,00 7,00 4,93 22,00 15,49 21,00 14,79 1,01 a 1,10 7,00 4,93 11,00 7,75 11,00 7,75 >1,10 2,00 1,41 83,00 58,45 9,00 6,34 Total 142,00 100,00 142,00 100,00 142,00 100, ,7< 0,70 a 0,80 0,81 a 0,90 0,91 a 1,00 1,01 a 1,10 >1,10 Sem RCC Com RCC Com camada de cobertura 0,50 m de RCC Figura 6 - Distribuição de freqüência do índice de compactação dos resíduos aterrados (SMLU, 2003) Entre os resultados observados, pode-se dizer que o índice de compactação encontra-se dentro do esperado, demonstrando que os resíduos vêm sendo aterrados de forma adequada. No entanto, essa situação não descaracteriza a necessidade de serem realizadas melhorias em alguns aspectos operacionais. Ainda como parte do monitoramento operacional, vem sendo realizado, em paralelo ao controle de densidade, o monitoramento de todos os procedimentos de compactação, incluindo a inclinação das rampas de aterragem de resíduos e o numero de passadas dos equipamentos empregados na compactação. Durante o período monitorado, a inclinação das rampas de aterragem apresentou um valor médio da ordem de 4H:1V. Os bons resultados alcançados também podem ser atribuídos à manutenção da equipe de operadores dos equipamentos, a qual, pode-se afirmar, já absorveu a técnica de compactação adotada, e ainda ao acompanhamento sistemático que vem sendo realizado pela equipe da CTRS (Catapreta e outros, 2003). Obras de Terra Foram instalados inclinômetros e piezômetros no Dique de Contenção das Células do Aterro Sanitário. Os registros dos inclinômetros têm indicado pequenas movimentações horizontais, possivelmente causadas pela acomodação do maciço de resíduos, em função do aterramento contínuo nas células. Como esperado não tem sido registrado poropressões no interior do maciço de terra do Dique de Contenção.
9 ESTUDOS E ACOMPANHAMENTOS COMPLEMENTARES Como mencionado anteriormente, o acompanhamento geotécnico faz parte de um extenso Programa de Monitoramento Ambiental da CTRS da BR-040. Esse programa vem sendo realizado de forma contínua desde 1998 e envolve outros aspectos tais como: qualidade de águas subterrâneas e superficiais, qualidade do ar, poluição sonora, qualidade dos líquidos lixiviados. Outros específicos também vêm sendo executados, principalmente na área de saúde pública (Heller e Catapreta, 2003), onde foram avaliadas as condições de saúde da população do entorno do aterro, notadamente em relação à incidência de doenças respiratórias, de pele e parasitoses. Está prevista a realização de um estudo de percepção ambiental nessa mesma população. De forma a possibilitar a obtenção de parâmetros de resistência dos RSU, fornecendo elementos para a avaliação da estabilidade dos taludes do aterro, foi realizada uma tentativa de ruptura controlada em um talude preparado. As Figuras 7 e 8 apresenta um detalhe do talude preparado e do carregamento. Após a preparação do talude, foi dado início ao carregamento. Foram posicionadas caçambas que foram preenchidas com entulho reciclado. Considerando as dificuldades operacionais do teste e o número de caçambas disponíveis, só foi possível utilizar seis caçambas. Todo o material utilizado no preenchimento das caçambas foi previamente pesado possibilitando a obtenção do valor do carregamento. Mesmo após o carregamento ter sido realizado, o talude ainda se mostrou estável, tendo sofrido apenas deformações verticais e horizontais de pequena magnitude sob a área carregada. Mesmo sem possibilitar a obtenção dos parâmetros de resistência dos RSU, pode-se inferir valores mínimos desses parâmetros. Figura 7 Detalhe do talude preparado Figura 8 Carregamento do talude Um estudo detalhado do balanço hídrico, especificamente na Célula AC 05, vem sendo realizado. Trata-se da célula que dispõe do maior número de informações operacionais, incluindo histórico de enchimento, níveis internos e vazões de líquidos lixiviados, além de dados climatológicos. As simulações serão realizadas utilizando o modelo MODUELO (Lobo e outros, 2002), que é capaz de simular toda a seqüência de enchimento de um aterro. CONSIDERAÇÕES FINAIS Foram apresentados os principais resultados que vem sendo obtidos no Programa de Monitoramento Geotécnico realizado no Aterro Sanitário de Belo Horizonte, Brasil. Estes resultados têm contribuído para o aprimoramento técnico e um melhor conhecimento das variáveis geotécnicas que influenciam o comportamento dos aterros de disposição de RSU, especificamente o de Belo horizonte.
10 Os resultados que vêm sendo obtidos e as limitações impostas pela metodologia adotada indicam, em linhas gerais, a necessidade de se intensificar a utilização do conhecimento já consolidado na área de instrumentação geotécnica nos aterros sanitários, adequando-o às particularidades do comportamento e da operação dos aterros. A superação das dificuldades inerentes ao trabalho com um material de comportamento tão complexo como o RSU, associada a uma maior utilização de todo o conhecimento da área de instrumentação geotécnica e ensaios de campo e laboratório, vêm possibilitando o aperfeiçoamento e o desenvolvimento de metodologias, equipamentos e instrumentos adequados aos resíduos e um significativo avanço no entendimento do comportamento dos aterros de disposição de RSU. Observa-se que todo esse volume de conhecimento já vem sendo incorporado ao desenvolvimento de novos projetos, mesmo que de forma incipiente. Por fim, destaca-se a importância do monitoramento contínuo de todo o maciço de resíduos, o qual pode indicar a necessidade de conduzir um plano de monitoramento mais detalhado para a área, ou até mesmo a eventuais intervenções. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Benvenuto, C., Cunha, M. A. (1991) Escorregamento em massa de lixo no aterro sanitário Bandeirantes em São Paulo, SP. In: Anais do 2º Simpósio sobre barragens de rejeitos e disposição de resíduos, REGEO 91. Rio de Janeiro, 2: Catapreta, C.A.A., Simões, G. F., Martins, H. L., Batista, H. P. (2003) Avaliação da Compactação de Resíduos Sólidos Dispostos no Aterro Sanitário da BR 040 em Belo Horizonte - MG. [CD ROOM]. In: 5º Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental, 2003, Porto Alegre/RS. Anais do 5º Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (Anais Eletrônico). Porto Alegre/RS. 3. Heller, L., Catapreta, C.A.A. (2003) Solid waste disposal in urban areas and health the case of Belo Horizonte, Brazil. Waste Management & Research 21(6); pp Lobo, A., Herrero, J., Montero, O., Fantelli, M., Tejero, I. (2002) Modeling for environmental assessment of municipal solid waste landfill (Part I: hydrology). Waste Management & Research 20(2); pp Simões, G. F., Catapreta, C.A.A., Batista, H. P., Galvão, T.C.B. (2003) Concepção de um programa de monitoramento geotécnico para a central de tratamento de resíduos sólidos urbanos da BR 040 em Belo Horizonte MG. [CD ROOM]. Em: 6º Simpósio Ítalo Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. Vitória: ABES. 6. Simões, G. F., Catapreta, C.A.A., Batista, H. P., Galvão, T.C.B. (2003a) Monitoramento Geotécnico de Aterros Sanitários - A Experiência da Central de Tratamento de Resíduos Sólidos da BR 040 em Belo Horizonte - MG. [CD ROOM]. In: 5º Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental, 2003, Porto Alegre/RS. Anais do 5º Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (Anais Eletrônico). Porto Alegre/RS. 7. Simões, G. F., Catapreta, C.A.A., Batista, H. P., Martins, H. L. (2003b) Monitoramento do Nível de Manta Líquida no Interior do Aterro Sanitário da BR 040 em Belo Horizonte - MG. [CD ROOM]. In: 5º Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental, 2003, Porto Alegre/RS. Anais do 5º Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (Anais Eletrônico). Porto Alegre/RS: Simões, G. F., Catapreta, C.A.A., Martins, H. L., Batista, H. P. (2004) Recalques em resíduos sólidos dispostos no aterro sanitário de Belo Horizonte. [CD ROOM]. Em: 11º Simpósio Luso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. Natal: ABES. 9. SMLU Secretaria Municipal de Limpeza Urbana de Belo Horizonte (2003) Relatório de Monitoramento de Parâmetros Geotécnicos e Operacionais do Aterro Sanitário da CTRS da BR-040.
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