Tribunal de Justiça de Minas Gerais

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1 Número do /001 Númeração Relator: Relator do Acordão: Data do Julgamento: Data da Publicação: Des.(a) Raimundo Messias Júnior Des.(a) Raimundo Messias Júnior 05/08/ /08/2014 EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - EMBARGOS DO DEVEDOR - EXECUÇÃO FISCAL - ICMS - SAÍDA DE VEÍCULOS NOVOS E USADOS - INTERMEDIAÇÃO - AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO - IMPOSTO DEVIDO - MULTA DE REVALIDAÇÃO E MULTA ISOLADA - LEGALIDADE. Para ilidir a presunção de liquidez e certeza da Certidão de Dívida Ativa, cabia à embargante apresentar provas contrárias aos fatos apurados pela Fazenda Pública Estadual, de que as operações realizadas pela concessionária localizada no território mineiro constituíam-se de compra e venda e não mera intermediação. Tendo a embargante vendido os veículos novos e usados sem a emissão do devido documento fiscal e retenção do ICMS os impostos e as multas são devidos. As multas de revalidação e isolada possuem fundamentos diversos, sendo uma devida por falta de recolhimento do imposto na data do vencimento, e a outra, por descumprimento de obrigações acessórias. A finalidade de tais penalidades é coagir os contribuintes a cumprirem suas obrigações tributárias, de modo que não possuem caráter confiscatório. Sentença reformada no reexame necessário conhecido de ofício, prejudicados os recursos voluntários. APELAÇÃO CÍVEL Nº /001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - 1º APELANTE: ROMA AUTOMOVEIS SERV LTDA - 2º APELANTE: ESTADO DE MINAS GERAIS - APELADO(A)(S): ESTADO DE MINAS GERAIS, ROMA AUTOMOVEIS SERV LTDA A C Ó R D Ã O Vistos etc., acorda, em Turma, a 2ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em, à unanimidade, REFORMAR A SENTENÇA NO 1

2 REEXAME NECESSÁRIO CONHECIDO DE OFÍCIO, PREJUDICADO OS RECURSOS VOLUNTÁRIOS. DES. RAIMUNDO MESSIAS JÚNIOR RELATOR O SR. DES. RAIMUNDO MESSIAS JÚNIOR (RELATOR) V O T O Trata-se de apelações e reexame necessário da sentença proferida pelo MM. Juiz da 1º Vara de Feitos Tributários do Estado, que nos autos dos Embargos à Execução opostos por Roma Automóveis e Serviços Ltda contra o Estado de Minas Gerais, julgou parcialmente procedentes os pedidos iniciais, para anular a exigência fiscal em razão da "venda de veículos novos desacobertada de documentação fiscal". Em suas razões (fls. 384/400), sustenta a embargante a inexigibilidade do crédito tributário para a saída de veículos novos deve se aplicar à aos veículos usados. Afirma que houve o efetivo pagamento do imposto no Estado do Rio de Janeiro, posto que o fato gerador deu-se na saída do estabelecimento da empresa. Aduz que o valor da multa é confiscatório. A título de remate, sustenta a impossibilidade de cumulação de multas. Por sua vez, apela o Estado de Minas Gerais (fls.403/410) argumentando que a embargante não agiu como mera prestadora de serviços, uma vez que, a despeito das notas fiscais terem sido emitidas por concessionárias estabelecidas em outro Estado, as 2

3 vendas aos consumidores finais foram praticas no território mineiro. Sustenta que, em nada diferem as operações de intermediação com a revenda sujeita ao ICMS, configurando-se o fato gerador quando se torna perfeito e acabado o contrato de compra e venda entre a concessionária e o consumidor final. Contrarrazões às fls. 411/422 e às fls. 437/446. Embora o MM. Juiz não tenha submetido a decisão ao duplo grau de jurisdição, conheço de ofício do reexame necessário, haja vista a regra do art. 475, II, do CPC. Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço também das apelações. A controvérsia a ser dirimida consiste em definir se as operações, objeto da autuação, caracterizaram compra e venda de veículos, sujeitas ao recolhimento do imposto estadual (ICMS). Extrai-se dos autos que a Fazenda Pública, em ação fiscal, apurou que houve venda de veículos por parte embargante para consumidores finais, sendo que as operações estariam acobertadas por notas fiscais emitidas por concessionárias situadas em outras unidades da federação, o que teria ocasionado o não recolhimento de ICMS/ST devido ao Estado de Minas Gerais. A embargante alegou que teria apenas intermediado as operações de compra e venda. 3

4 Da análise do caderno probatório, tem-se que a presunção de certeza e liquidez dos créditos inscritas nas Certidões de Divida Ativa não foi desconstituída. Conforme se infere do auto de infração de fls. 100/103, os documentos fiscais da embargante foram confrontados com informações de seus clientes. Ao ensejo, foram constatadas as seguintes irregularidades: 1- promoveu saídas de veículos novos no valor total de R$ ,92, sem emissão dos documentos fiscais próprios e sem o pagamento do ICMS/ST devido ao Estado de Minas Gerais, nos exercícios de 2002, 2003, 2004 e 2005, no valor original de R$ ,51, conforme demonstrativos nos anexos I e II. As operações foram incorretamente acobertadas com nota fiscal de concessionárias de outra unidade da federação para registro no Detran/MG e consequentemente o ICMS/ST foi destinado a essa unidade da federação. 2- Recebeu veículos usados como parte do pagamento nas vendas de veículos novos, deixou de emitir os documentos fiscais correspondentes as entradas de abril de 2002, fevereiro, julho e outubro de 2003 e abril e setembro de 2004 e promoveu as saídas destes veículos usados nos meses de maio de 2002, março, outubro e novembro de 2003 e abril e setembro de 2004, no valor de R$63.300,00 desacobertas de documento fiscal e sem o pagamento do ICMS devido no valor original fr R$11.394,00 conforme o demonstrativo no anexo III. 4

5 Os documentos de fls. 114/140 comprovam as informações constantes na autuação fiscal no sentido de que os veículos foram adquiridos no estabelecimento da embargante, no território mineiro. A embargante, com a devida venia, não produziu prova capaz de ilidir as CDA's de fls. 03/07, uma vez que não comprovou a alegada intermediação. Ressalte-se que, para a intermediação não há emissão do respectivo documento fiscal da prestação de serviço. Depois, caso o veículo novo tivesse saído diretamente da concessionária estabelecida em outros Estados da Federação para consumidor final mineiro, seria definitivo o recolhimento do ICMS pelo regime de substituição tributária. Contudo, não ocorrendo operação de compra e venda direta entre as concessionárias de outros Estados e os consumidores finais mineiros, justificada está, portanto, a exigência do ICMS e das multas correspondentes pelo Estado de Minas Gerais. Assim, ainda que a apelante tenha recolhido o ICMS ao Estado do Rio de Janeiro, no caso dos autos, diante da demonstração do não recolhimento do tributo na forma devida, ou seja, ao Estado de Minas Gerais, afasta-se a alegada bitributação. 5

6 Registre-se, ademais que, em relação à autuação referente à saída de veículos usados, o embargante sequer expôs em sua inicial as razões para impugnação da cobrança. Assim, as provas produzidas pela embargante não foram suficientes para elidir a presunção legal contida nos Auto de Infração em discussão, devendo prevalecer o crédito tributário apurado, consoante o disposto no art. 204 do CTN c/c o art. 3º da Lei de Execução Fiscal (Lei nº 6.830/80). Portanto, a autuação fiscal afigura-se correta, sendo legítima a exigência do crédito tributário em comento, constituído de ICMS relativo às operações, além da multa de Revalidação e da Multa Isolada, previstas nos arts. 55, II, e 56, II, da Lei Estadual nº 6.763/75, respectivamente. Necessário observar que a cumulação das multas de revalidação e isolada não assinala abusividade. Os fundamentos para a aplicação das penalidades são diferentes e ambas têm previsão legal na Lei Estadual nº 6.763/75. A multa de revalidação é aplicada em caso de não pagamento do tributo no seu devido vencimento, com caráter sancionatório em virtude do descumprimento da obrigação principal tributária, conforme art. 56, II, da referida lei. 6

7 Por seu turno, a multa isolada, em conformidade com o art. 55, II, da mesma lei, é aplicada como sanção à venda a descoberto em desacordo com a legislação tributária. É sabido que finalidade da multa é desestimular a sonegação fiscal, revestindo-se, portanto, de nítido interesse público. Sobre o tema, a Jurisprudência deste e. Tribunal de Justiça de Minas Gerais: EMENTA: EXECUÇÃO FISCAL - EMBARGOS - ICMS - AUSÊNCIA DE RECOLHIMENTO - CONCESSIONÁRIA DE VEÍCULOS - VENDA DE VEÍCULOS NOVOS ORIUNDOS DE CONCESSIONÁRIAS DE OUTROS ESTADOS DA FEDERAÇÃO - CONSUMIDOR RESIDENTE EM MINAS GERAIS - AUSÊNCIA DE PROVAS A INFIRMAR A AUTUAÇÃO FISCAL - PRESUNÇÃO DE CERTEZA E LIQUIDEZ DA DÍVIDA TRIBUTÁRIA REPRESENTADA PELAS CDA EXECUTADAS - ICMS DEVIDO - MULTA - NATUREZA CONFISCATÓRIA - INEXISTÊNCIA - APLICAÇÃO DA TAXA SELIC - LEGALIDADE - SENTENÇA MANTIDA. - Prevalece a presunção de liquidez e certeza da CDA, se a embargante deixa de apresentar prova contrária ao apurado pela Fazenda Pública Estadual de que as operações negociais autuadas constituíram compra e venda de veículo novo, e não mera intermediação na aquisição destes de concessionárias de outros Estados para consumidor final em Minas Gerais.- Hipótese se incidência do ICMS verificada.- A multa de revalidação não se confunde com tributo, não havendo que se falar, portanto, na aplicação da vedação constitucional do não confisco. Ademais, tem a multa expressa previsão legal, sendo penalidade cuja 7

8 finalidade é desestimular a sonegação fiscal, revestindo-se, portanto, de nítido interesse público.- Segundo a orientação unânime da 1ª Seção do STJ, não há qualquer vício em adoção da Taxa Selic na correção dos créditos tributários.- Sentença mantida.(ap. CÍVEL Nº /001 - Relatora Desª SANDRA FONSECA, j. 01/11/2011). PROCESSO CIVIL E TRIBUTÁRIO - EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL - ICMS - MERCADORIA - SAÍDA DESACOBERTADA - VEÍCULO NOVO - SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA - COBRANÇA DEVIDA - FATO GERADOR - LOCAL DA SAÍDA DA MERCADORIA (ESTABELECIMENTO COMERCIAL) - RECURSO NÃO PROVIDO. I - Efetuada a compra e venda em território mineiro e adquirido o veículo diretamente, não cabe falar em mercadoria vendida a consumidor final por filial sediada em outro Estado da federação, no caso Rio de Janeiro. Pela prova dos autos o contrato de compra e venda fora celebrado com a embargante situada em Minas Gerais e entregue diretamente ao consumidor pelo seu estabelecimento. Só a nota fiscal é que era da filial sediada no Rio de Janeiro. Esta operação não caracteriza venda a consumidor final. II - multa de revalidação sem caráter confiscatório. III - Havendo previsão na legislação estadual (Lei 6.763/75, do Estado de Minas Gerais, com redação atribuída pelo art. 29 da Lei /2003) é legal a incidência de juros de mora equivalentes à Taxa Selic. (Apelação Cível /001, Relator(a): Des.(a) Brandão Teixeira, j. em 25/05/2010) EMENTA: AÇÃO ANULATÓRIA DE DÉBITO FISCAL - ICMS - VENDA DE VEÍCULOS NOVOS - FALTA DE COMPROVAÇÃO DE ATIVIDADE DE INTERMEDIAÇÃO - FALTA DE PROVA DE RECOLHIMENTO DO IMPOSTO POR SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA -RESPONSABILIDADE DO ESTABELECIMENTO DISTRIBUIDOR - ART. 29, 1º DO RICMS/ Nas hipóteses em que fique atribuída ao alienante ou ao remetente a condição de contribuinte substituto, a responsabilidade pela substituição tributária caberá ao estabelecimento atacadista, distribuidor ou depósito que receber a mercadoria para distribuição 8

9 no Estado sem a retenção ou com a retenção a menor do imposto. Falta de prova de intermediação dos veículos ou de recolhimento antecipado do ICMS/ST. (AP. CÍVEL Nº /001 - Relator: DES. EDGARD PENNA AMORIM - 10/01/2013). EMENTA: EXECUÇÃO FISCAL - ICMS - AUSÊNCIA DE RECOLHIMENTO - REVENDEDORA DE VEÍCULOS - VENDA DE VEÍCULOS NOVOS ADQUIRIDOS DE CONCESSIONÁRIAS DE OUTROS ESTADOS - CONSUMIDOR RESIDENTE EM MINAS GERAIS - ICMS E MULTAS DEVIDOS. Prevalece íntegra a presunção de liquidez e certeza da Certidão de Dívida Ativa, decorrente de compra e venda de veículo novo, e não mera intermediação na aquisição deles de concessionárias de outros Estados para consumidor final em Minas Gerais.(APELAÇÃO CÍVEL Nº /001 - Relatora: DES.ª SELMA MARQUES - 11/06/2013). Em face ao exposto, REFORMO A SENTENÇA NO REEXAME NECESSÁRIO CONHECIDO DE OFÍCIO, PARA JULGAR IMPROCEDENTES OS PEDIDOS INICIAIS, PREJUDICADOS OS RECURSOS VOLUNTÁRIOS. Custas recursais pela embargante. DES. CAETANO LEVI LOPES (REVISOR) - De acordo com o(a) Relator(a). DESA. HILDA MARIA PÔRTO DE PAULA TEIXEIRA DA COSTA - De acordo com o(a) Relator(a). SÚMULA: "REFORMARAM A SENTENÇA, NO REEXAME NECESSÁRIO CONHECIDO DE OFÍCIO, PREJUDICADOS OS RECURSOS 9

10 VOLUNTÁRIOS." 10