TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DÉCIMA OITAVA CÂMARA CÍVEL
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- Irene Conceição Bardini
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1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DÉCIMA OITAVA CÂMARA CÍVEL Apelação Cível nº Vara Única da Comarca de Piraí Apelante: Município de Piraí Apelada: Luíza dos Santos Silva Relatora: Des. HELENA CANDIDA LISBOA GAEDE APELAÇÃO CÍVEL. RITO ORDINÁRIO. AÇÃO OBJETIVANDO A TRANSFERÊNCIA DA RESPONSABILIDADE RELATIVA AO IPTU INCIDENTE SOBRE O IMÓVEL CUJA POSSE EXCLUSIVA É EXERCIDA PELA AUTORA. O IMÓVEL EM QUESTÃO NÃO É CADASTRADO NO REGISTRO GERAL DE IMÓVEIS, TENDO A PREFEITURA DE PIRAÍ EFETUADO O SEU CADASTRAMENTO POR INTERMÉDIO DE LANÇAMENTO IMOBILIÁRIO POR DECLARAÇÃO, INCLUINDO O NOME DA GENITORA DA AUTORA/APELADA, COMO RESPONSÁVEL TRIBUTÁRIA PELO IPTU. A AUTORA ADQUIRIU DE SUA GENITORA O IMÓVEL EM QUE AMBAS RESIDIAM, MEDIANTE CONTRATO DE INSTRUMENTO PARTICULAR DE COMPRA E VENDA, DATADO DE 10 DE MARÇO DE 2009, FICANDO, INCLUSIVE, EXPRESSAMENTE OBRIGADA PELO PAGAMENTO DOS ENCARGOS SOBRE REFERIDO IMÓVEL A PARTIR DAQUELA DATA, CONFORME CLÁUSULA 4ª. POR SE TRATAR DE TERRENO OBJETO DE POSSE, SEM QUALQUER REGISTRO NO RGI, SE REVELA DESNECESSÁRIA A ABERTURA DE UM PROCEDIMENTO DE INVENTÁRIO, TENDO EM VISTA QUE, POR OCASIÃO DO ÓBITO, A POSSE JÁ HAVIA SIDO TRANSFERIDA PARA A AUTORA ATRAVÉS DE DOCUMENTO PARTICULAR DE COMPRA E VENDA. REVELA-SE DESCABIDA, NO PRESENTE CASO, A EXIGÊNCIA FEITA PELO MUNICÍPIO, DE ABERTURA DE INVENTÁRIO COMO CONDIÇÃO PARA A TRANSFERÊNCIA DA TITULARIDADE DO RESPONSÁVEL ATUAL PELO PAGAMENTO DO IPTU, EIS QUE A TRANSMISSÃO DO BEM AOS HERDEIROS TEM COMO PRESSUPOSTO A EXISTÊNCIA DO DIREITO AO TEMPO DO FALECIMENTO DA "DE CUJUS, E A TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DE POSSE DO IMÓVEL À AUTORA SE DEU ANTES DO FALECIMENTO DE SUA GENITORA. NÃO SE VISLUMBRA A EXISTÊNCIA DE RISCO AO MUNICÍPIO, EIS QUE O IPTU É OBRIGAÇÃO PROPTER REM, RECAINDO SOBRE O IMÓVEL, E NÃO SOBRE A PESSOA, PERMANECENDO A AUTORA RESPONSÁVEL POR EVENTUAIS DÉBITOS EXISTENTES. REDUÇÃO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS DEVIDOS AO CEJUR/DPGE. PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO, NA FORMA DO ART. 557, 1º-A, DO CPC. D E C I S Ã O Trata-se de ação ajuizada em 26/09/2002 por Luíza dos Santos Silva em face do Município de Piraí, pelo rito ordinário, objetivando ser incluída como sujeito passivo tributário junto aos cadastros do Apelante, para o efeito de pagamento do imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana (IPTU) incidente sobre o imóvel localizado à Rua Guarani, nº 700, Bairro Asilo, Município de Piraí - RJ, cuja posse exclusiva é exercida pela Autora, alegando que referido imóvel se encontra em nome de sua genitora, Angelina dos Santos Silva, a qual faleceu em 10/3/2009, sem deixar bens e herdeiros necessários, ressaltando que o Município Réu se recusa a efetuar, na seara administrativa, a transferência da responsabilidade relativa aos tributos
2 incidentes sobre o imóvel para a Autora, exigindo, para tanto, o prévio ajuizamento de ação de inventário. O Juízo da Vara Única da Comarca de Piraí, às fls. 19/21, julgou procedente o pedido, para condenar o Réu a incluir a Autora como sujeito passivo tributário do IPTU do imóvel descrito na inicial, excluindo da sujeição passiva tributária a Sra. Angelina dos Santos da Silva, sem prejuízo da Entidade Municipal cobrar eventuais débitos pretéritos ao Espólio ou Herdeiros da Sra. Angelina e também a outros possuidores e/ou proprietários do bem, inclusive solidariamente com o atual possuidor (CTN, art. 130), consoante seja apurado pela Administração Tributária, condenando o Município ao pagamento de taxa judiciária, ressalvando-se a existência de reciprocidade tributária, devendo ser observado o parágrafo único do art. 115 do Código Tributário do Estado do Rio de Janeiro, condenando-o, ainda, ao pagamento de honorários advocatícios em favor do CEJUR/DPGE, fixados em R$ 500,00. O Município Réu apela às fls. 22/27, informando que a transferência de titularidade do IPTU do imóvel somente pode ser feita com segurança após a apresentação da documentação pertinente, com base na informação real de quem efetivamente seja o responsável tributário, na forma da legislação, evitando riscos ao Município que envolvam a sua responsabilidade civil, requerendo, subsidiariamente, a redução dos honorários advocatícios sucumbenciais, para melhor atender os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, e ao disposto no art.20, 3º e 4, do CPC. Contrarrazões às fls. 30/35, prestigiando o julgado. É o relatório. Trata-se de Ação objetivando a transferência da responsabilidade relativa aos tributos incidentes sobre o imóvel cuja posse exclusiva é exercida pela Autora, mas que se encontra registrado nos cadastros do Município Apelante, para efeitos de cobrança de IPTU, em nome de sua falecida genitora, sustentando que o Município se negou a transferir a titularidade do IPTU incidente sobre o imóvel, exigindo, para tanto, o prévio ajuizamento de ação de inventário. Cinge-se a controvérsia recursal (a) quanto à obrigatoriedade do ajuizamento de Ação de Inventário para que o Município possa realizar a transferência da titularidade do sujeito passivo do IPTU, cujo lançamento, em razão de o imóvel não possuir RGI, se deu por mera declaração da possuidora, falecida genitora da Autora, ora Apelada; (b) quanto a ser excessivo o valor dos honorários advocatícios sucumbenciais, fixados em R$ 500,00, em favor do CEJUR/DPGE.
3 A Apelada residia, juntamente com a sua genitora (Angelina dos Santos Silva), no imóvel situado à Rua Miguel Franco dos Santos, nº 700, Bairro Asilo, Piraí/RJ, sendo que, com o falecimento desta, a Apelada permaneceu ocupando o local como legítima possuidora, exercendo em nome próprio os poderes inerentes ao domínio, e quitando os tributos incidentes sobre o bem, conforme comprovante de pagamento de fls. 08, referente ao IPTU do exercício de Entretanto, o Município Apelante se recusa a cadastrar a Apelada como possuidora do bem, a partir do óbito da genitora, para fins tributários, exigindo, para tanto, a regularização registral do bem, com o prévio ajuizamento de ação de inventário. Constata-se que o imóvel em questão sequer é cadastrado no Registro Geral de Imóveis, tendo a Prefeitura de Pirai efetuado o seu cadastramento por intermédio de lançamento imobiliário por declaração, incluindo o nome de Angelina dos Santos, genitora da Autora/Apelada, como responsável tributária pelo IPTU, conforme se verifica pela análise do documento de fls. 08. No entanto, o documento de fls. 09 comprova que a Autora adquiriu de sua genitora o imóvel em que ambas residiam, mediante um contrato de instrumento particular de compra e venda, datado de 10 de março de 2009, ficando, inclusive, expressamente obrigada pelo pagamento dos encargos sobre referido imóvel a partir daquela data, conforme cláusula 4ª (fls. 09): Clausula 4ª - que o comprador á emitido na posse do imóvel vendido, no ato da assinatura do mesmo instrumento, podendo fazer o que bem convier passando desta data em diante, por sua conta todos os impostos estaduais, federais, municipais e encargos incidentes ou que vierem a incidir sobre o citado imóvel, inclusive taxas. No presente caso, por se tratar de terreno objeto de posse, sem qualquer registro no RGI, se revela desnecessária a abertura de um procedimento de inventário, tendo em vista que, por ocasião do óbito, a posse já havia sido transferida para a Autora através de documento particular de compra e venda, devendo-se ressaltar que o nome da Autora já se encontra incluído nos cadastros da CEDAE para efeitos de cobrança de consumo de água fornecida ao imóvel em questão, conforme comprovante de pagamento de fls. 06. Outrossim, por ser a Apelada a legítima e exclusiva possuidora do imóvel desde a data do óbito de sua genitora, a mesma também figura como responsável tributária pelo recolhimento do imposto predial sobre ele incidente, tendo em vista que o sujeito passivo da relação tributária, contribuinte do imposto, é o proprietário do imóvel, o titular do seu domínio útil ou o seu possuidor a qualquer título, a teor do disposto no art. 34 do Código Tributário Nacional:
4 Art O imposto, de competência dos Municípios, sobre a propriedade predial e territorial urbana, tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel por natureza ou por acessão física, como definido na lei civil, localizado na zona urbana do Município. Art. 34. Contribuinte do imposto é o proprietário do imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título. Assim, revela-se descabida, no presente caso, a exigência feita pelo Município, de abertura de inventário como condição para a transferência da titularidade do responsável atual pelo pagamento do imposto, eis que a transmissão do bem aos herdeiros tem como pressuposto a existência do direito ao tempo do falecimento da "de cujus, e a transferência do direito de posse do imóvel se deu antes do falecimento da antiga possuidora, conforme o instrumento particular de compra e venda de fls. 09. Não se vislumbra, portanto, risco ao Município na simples troca do sujeito passivo do IPTU sobre imóvel sem registro formal no RGI, objeto de posse já transferida para a Autora anteriormente ao falecimento de sua genitora, eis que o IPTU é obrigação propter rem, recaindo sobre o imóvel, e não sobre a pessoa, permanecendo a Autora responsável por eventuais débitos existentes. Nesse sentido a jurisprudência: APELACAO - DES. RONALDO ROCHA PASSOS - Julgamento: 03/05/ TERCEIRA CAMARA CIVEL EMENTAAPELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. IPTU. PROPRIEDADE OU POSSE A QUALQUER TÍTULO. FATO GERADOR. RESPONSABILIDADE. VENDA DO IMÓVEL. ILEGITIMIDADE PASSIVA. REGÊNCIA DO ART. 34 E 123 DO CTN. SENTENÇA QUE JULGOU PROCEDENTES OS EMBARGOS DO DEVEDOR, ACOLHENDO A ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM ARGÜIDA. RECURSO EM QUE ALEGA SOLIDARIEDADE DA RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA. É pacífica a jurisprudência no sentido de que ocorre legitimidade passiva concorrente entre o alienante e o adquirente quando não transmitido domínio, consoante o disposto no art. 34, do CTN, não implicando, portanto, em afastamento daquele que detém o domínio do polo passivo da execução a existência de negócio de compra e venda do imóvel sobre o qual recai a exação tributária, não se encontrando o título translativo registrado no registro imobiliário competente, sendo irrelevante constar no respectivo contrato cláusulas de irrevogabilidade, irretratabilidade e imissão de posse. Logo, permanece a qualidade de dominus do contribuinte [daquele cujo domínio ainda se verifica no RGI], que lhe assegura legitimidade para figurar como executado, nos termos dos arts. 34 e 123 do CTN. Precedentes desta eg. Corte e do cl. STJ. Responde a apelada, entretanto, pelo referido imposto até a data do registro do título de compra e venda no RGI, o que se deu em 06/08/2001. Reforma da r. sentença. Improcedência dos embargos do devedor. Invertido os ônus de sucumbência, observado o disposto no art. 12, da Lei nº 1.060/50. RECURSO QUE SE DÁ PROVIMENTO, NA FORMA DO 1º-A, DO ART. 557, DO CPC ( ) - APELACAO - DES. LINDOLPHO MORAIS MARINHO - Julgamento: 10/07/ DECIMA SEXTA CAMARA CIVEL TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. EMBARGOS. ILEGITIMIDADE PASSIVA DO PROMITENTE VENDEDOR. AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO. FERIMENTO DE PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS. O art. 32, do Código Tributário Nacional determina que o fato
5 gerador do IPTU é a propriedade, o domínio útil ou a posse do bem imóvel. A partir do momento em que há a promessa de compra e venda a promitente vendedora perde a titularidade do bem imóvel e com isso a posse e o domínio. Ademais, não pode a ausência de registro, como bem salientou o juízo a quo, causar prejuízo a apelada, tendo em vista que é obrigação do promitente comprador a inscrição no registro de imóveis, e também porque a quitação do imóvel relativa à promessa de compra e venda impede que o bem retorne ao patrimônio da apelada. Tal faz presunção iure et de iure, que quem foi notificado, se é que houve notificação, foi a pessoa no nome de quem foi expedida a certidão da dívida ativa, que não foi a apelada. Saliento que embora a dívida seja propter rem e o imóvel esteja registrado em nome do embargante, o mesmo não foi notificado do lançamento, o que, sem dúvida, fere o princípio do devido processo legal do inciso LIV, do mesmo art. 5º, da Constituição Federal. Portanto, ainda que passível de substituição processual, a notificação é imprescindível, sob pena inutilidade do processo, por quebra de princípios constitucionais. Recurso manifestamente improcedente. Os honorários advocatícios sucumbenciais devidos pelo Município do Rio de Janeiro ao Centro de Estudos Jurídicos da Defensoria Pública, fixados pelo Juízo a quo em R$ 500,00, devem ser reduzidos para R$ 100,00, valor que melhor atende ao disposto no art. 20, 3 o do CPC, considerando-se a ausência de complexidade da matéria versada, bem como a notória dificuldade orçamentária dos entes municipais em geral. Por esses motivos, dá-se parcial provimento ao recurso, na forma do art. 557, 1º-A, do CPC, para reduzir o valor da condenação do Município ao pagamento de honorários advocatícios ao CEJUR/DPGE para R$ 100,00 (cem reais). Rio de Janeiro, 22 de agosto de Des. HELENA CANDIDA LISBOA GAEDE Relatora 01
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