Entidade: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - Ibama

Transcrição

1 Tribunal de Contas da União Número do documento: DC /00-2 Identidade do documento: Decisão 372/ Segunda Câmara Ementa: Representação formulada por Unidade Técnica do TCU. IBAMA. Possíveis irregularidades na utilização dos recursos arrecadados a titulo de taxa de reflorestamento, depositados em juízo em virtude de ação civil pública. Aplicação de parte dos recursos em obras de saneamento. Pendência de depósito de receita arrecadada. Conhecimento. Determinação. Grupo/Classe/Colegiado: Grupo II - CLASSE III - 2ª Câmara Processo: / Natureza: Representação Entidade: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - Ibama Interessados: Interessado: Secex/MT. Dados materiais: ATA 38/2000 DOU de 23/10/2000 INDEXAÇÃO Representação; SECEX MT; Imprensa; IBAMA; Utilização Indevida; Taxa; Receita; Arrecadação; Justiça Federal; Decisão Judicial; Aplicação; Recursos Públicos; Obra Pública; Recurso; Agravo; Sumário: Representação. Ibama. Supostas irregularidades na aplicação dos recursos oriundos da taxa de reflorestamento. Inspeção. Sentenças proferidas em ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal determinando o depósito em juízo dos recursos e a sua aplicação em

2 projetos de reflorestamento. Recursos aplicados corretamente, de acordo com proposta apresentada pelo Ministério Público Federal. Conhecimento. Determinação ao Ibama e ao Controle Interno. Relatório: Versam os autos sobre representação formulada pela Secretaria de Controle Externo no Estado de Mato Grosso tendo em vista notícias veiculadas na imprensa acerca da utilização indevida da taxa de reflorestamento arrecadada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - Ibama, no período de janeiro/1990 a dezembro/1995, e depositada em juízo em razão da sentença proferida na ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal, que também determinou à Autarquia que apresentasse projeto da aplicação desses recursos. Segundo o noticiado na imprensa, os recursos depositados em juízo, que estavam sendo aplicados na Bacia do Rio Cuiabá em função de determinação da Justiça acatando pedido do Ministério Público Federal, dado que o Ibama/MT não apresentou qualquer projeto para utilização dos recursos arrecadados, estariam sendo utilizados em finalidade diversa das atividades de reflorestamento, entre elas construção de fórum e compra de automóveis. A fim de esclarecer os fatos, a Secex/MT solicitou à Justiça Federal - Seção Judiciária de Mato Grosso esclarecimentos acerca do montante de recursos já depositados e a depositar pelo Ibama, destinação dada aos mesmos e fundamentação legal, bem como quaisquer outros esclarecimentos considerados indispensáveis ao exame da questão (fl. 1). Em resposta, o Juiz Federal da 2ª Vara da Seção Judiciária de Mato Grosso informou que tanto o depósito como as liberações dos recursos decorrem de atos judiciais, que não estão sujeitos ao controle da Corte de Contas mas sim do Tribunal Regional Federal - 1ª Região e respectiva Corregedoria. Após salientar que a gestão por parte da Justiça Federal e do Ministério Público Federal dos recursos públicos depositados em juízo também está sujeita à apreciação desta Corte de Contas, a Analista propôs a realização de levantamento junto à Justiça Federal, por meio de vista dos autos da ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal, para obtenção dos elementos necessários à apuração da denúncia veiculada na imprensa, nos termos do art. 3º da Portaria nº 68/97 (fls. 12/13). Já o Diretor Interino da 2ª Divisão Técnica propôs, com a anuência do

3 Secretário de Controle Externo, expressada no despacho à fl. 16, a realização de inspeção nos órgãos envolvidos a fim de apurar, de maneira adequada e completa, as irregularidades denunciadas pela imprensa (fls. 14/15). Referidos trabalhos foram desenvolvidos na Superintendência Estadual do Ibama em Mato Grosso e na sede da Justiça Federal de 1ª Instância daquele estado, no período de 27 a 31/1/00, tendo a Analista apurado, em síntese, que: - em razão de sentença proferida na Ação Civil Pública nº , que condenara o Ibama "na obrigação de fazer a reposição florestal, mediante a execução de projetos de reflorestamento nas áreas afetadas pela exploração econômica de espécies pertencentes aos ecossistemas da Amazônia e do Pantanal Matogrossense", por não ter empreendido qualquer projeto de reflorestamento nos seis anos em que arrecadou a taxa de reposição florestal, foi depositado em juízo o valor aproximado de R$ 4,1 milhões, equivalente aos recursos recolhidos no período de 1983 a 1988; - inconformado com a sentença condenatória, o Ibama intentou, intempestivamente, apelação junto ao TRF, que não foi acatada, ocorrendo o trânsito em julgado da sentença ainda em 1ª instância; - em 9/4/90, o Ibama foi citado para cumprir o julgado, tendo apresentado, em resposta, documentos contendo apenas especificações e dados técnicos, razão pela qual lhe foi concedido um prazo de 30 dias para complementação do projeto; - decorrido mais de um ano sem resposta, o Juízo Federal, acatando parecer do MPF, determinou ao Ibama a realização de licitação, sob a coordenação da Procuradoria da República, para a contratação de serviços de reposição florestal, mediante a execução de projetos de reflorestamento nas áreas citadas acima; - o edital de licitação preparado e publicado pelo Ibama foi rejeitado pelo MPF por conter sérias deficiências, entre elas a inadequada caracterização do objeto licitado, inviabilizando a apresentação de propostas; - em 13/12/93, o Juízo Federal, acatando sugestão do MPF, determinou ao Ibama que, num prazo de 60 dias, apresentasse esboço de projeto de reflorestamento da nascente do Rio Cuiabá e de suas margens; - findo o prazo, o Ibama apresentou um esboço indicando dois projetos

4 de reflorestamento, das empresas Mega Seringal da Amazônia e Nopel Agroindustrial Ltda, que também foram rejeitados pelo Juízo Federal; - em 30/11/95, o Ibama requereu ao Juízo a destinação do valor de R$ 710 mil para custeio de projeto da Associação de Reposição Florestal da Baixada Cuiabana - Flora Cuiabana, incluindo R$ 500 mil em investimentos da proponente, reiterado em 18/1/96 e indeferido por intempestivo; - diante da inércia da Autarquia, a execução do projeto de reflorestamento da nascente do Rio Cuiabá e de suas margens foi transferida para a Empresa Matogrossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural - EMPAER, a Fundação Estadual do Meio Ambiente - FEMA, o Município de Cuiabá e o 9º Batalhão de Engenharia e Construção; - além do valor recolhido em juízo, foi apurado a quantia de R$ 13 milhões, arrecadada e não depositada pelo Ibama, sendo determinada a expedição de carta precatória em 15/4/99; - dessa decisão, o Ibama interpôs agravo, que está pendente de julgamento na fase atual. Da análise dos autos do processo de conhecimento e execução contra o Ibama, a Analista constatou que a ação do MPF em requerer, em 1989, a utilização dos recursos que, arrecadados desde 1983, ainda não haviam sido utilizados, decorreu da inércia e inépcia do Ibama em apresentar um projeto de reflorestamento com detalhamento técnico adequado, mesmo após a sentença condenatória. Quanto ao objeto da denúncia veiculada na imprensa no sentido de que os recursos bloqueados pela Justiça estariam sendo utilizados em finalidade diversa, a Analista não identificou quaisquer indícios de má utilização dos recursos ou desvio de verbas pela Justiça Federal, dada a transparência com que os gastos foram realizados e a exata definição do objeto das despesas efetuadas, em projeto amplamente discutido pela sociedade e avaliado por especialistas da área pertencentes ao quadro de docentes da Universidade Federal de Mato Grosso. A Analista apenas observa que parte dos recursos depositados em juízo foi utilizada numa obra de saneamento (Estação de Tratamento de Esgoto do Tijucal), e não de reflorestamento, como prevê a lei. A despeito disso, entende que o projeto de recuperação do Rio Cuiabá como um todo insere-se no objetivo do fomento florestal, que é o consumo energético de matéria prima industrial rural, proteção de mananciais hídricos e conservação de solos.

5 Por fim, ressalta que a denúncia que originou a presente representação serviu para demonstrar a existência de sérias deficiências no Ibama no que tange à proteção das florestas, notadamente a Amazônia, entre elas a precariedade da fiscalização da exploração madeireira, a ineficiência das autuações e multas em coibir o desmatamento, a venda de autorizações de desmatamento não preenchidas por servidores da Autarquia e a ausência de política de ocupação econômica não agressiva ao meio ambiente. Nesse sentido, destaca reportagens publicadas na imprensa em abril e dezembro/1999 tratando das queimadas e dos desmatamentos sem critério e controle na Amazônia e em Mato Grosso (fls. 284/291 do Vol. II) e sobre a intervenção na representação do Ibama nesse Estado para apuração de denúncias de corrupção, peculato e outras irregularidades, incluindo desvio de recursos destinados ao combate à queimada na Chapada dos Guimarães e venda de combustível para uso em serviço (fls. 292/293 do Volume II). Concluindo o relatório, propõe a Analista (fls. 43/52), com o endosso do Diretor da 2ª Divisão Técnica, que: "I - seja determinado ao MPF que abstenha-se de propor em juízo a utilização dos recursos da taxa de reposição florestal em finalidade diversa da prevista em lei, bem como encaminhe a prestação de contas dos recursos da taxa de reposição florestal geridos junto ao Juízo de 1ª Instância em Mato Grosso nos anos de 1997 a 2000 junto às contas do exercício de 2000, para análise por esta Corte de Contas, em cumprimento ao disposto no parágrafo único do art. 70 da CF e considerando o disposto no art. 633 do CPC; II - sejam encaminhados estes autos à SECEX competente, determinando àquela que: a) avalie a oportunidade de propor a realização de auditoria ambiental para verificação da questão do desmatamento indiscriminado, principalmente na Amazônia, com ausência de reposição florestal, o que tem resultado em grave prejuízo ao meio ambiente (itens 17 a 21); b) acompanhe a apuração, pelo IBAMA, das graves irregularidades que ensejaram a intervenção na representação da Autarquia em Mato Grosso (item 18)." Discordando da proposta da Analista de se fazer determinação ao Ministério Público Federal, por ferir o princípio institucional

6 insculpido no art. 127, 1º, da Constituição Federal, da independência funcional do Ministério Público, o Secretário de Controle Externo propõe (fls. 53/54) que: a) seja determinado ao Ministério Público Federal que apresente ao Tribunal de Contas da União a prestação de contas dos recursos referentes à taxa de reposição florestal geridos juntos ao Juízo de 1ª Instância em Mato Grosso, nos anos de 1997 a 2000, em cumprimento ao art. 70 da Constituição Federal; b) seja determinado à 6ª SECEX que avalie a conveniência de uma auditoria ambiental para verificação da questão das queimadas e do desmatamento indiscriminado (item 17 a 21), bem como acompanhe, com o auxílio desta SECEX, se necessário, a apuração pelo IBAMA das graves irregularidades que ensejaram a intervenção na representação da Autarquia em Mato Grosso (item 18). É o Relatório. Voto: A questão que ensejou a autuação da presente representação refere-se às supostas irregularidades veiculadas na imprensa acerca da aplicação indevida dos recursos arrecadados pelo Ibama a título de taxa de reposição florestal. Após realizar inspeção nos órgãos envolvidos, a Analista concluiu pela improcedência das denúncias, observando, apenas, a utilização de parte dos recursos em obras de saneamento na execução do projeto de recuperação do Rio Cuiabá. Considerando que referido projeto objetiva o fomento florestal e tendo em vista que as obras em comento foram executadas com o intuito de se atingir tal objetivo, entendo desnecessária qualquer providência por parte deste Tribunal nesse sentido. Quanto às propostas apresentadas pela Unidade Técnica, entendo despicienda a sugestão de endereçar determinação ao Ministério Público Federal para que apresente a prestação de contas dos recursos referentes à taxa de reposição florestal geridos juntos ao Juízo de 1ª Instância em Mato Grosso, nos anos de 1997 a 2000, pelas razões que exponho a seguir. Em primeiro lugar, tais recursos não estão sob a responsabilidade daquele Parquet e sim do Juízo Federal, a quem compete, entre outros, autorizar as liberações das verbas, de acordo com o valor das

7 concorrências públicas a serem realizadas e a parcela para cada etapa cumprida, dentro de cada contrato firmado, após o parecer do perito nomeado por ele nomeado, que acompanhará obra por obra. Sendo assim, como a gestão dos recursos está a cargo do Juízo Federal, os documentos relativos à aprovação e execução dos projetos de reflorestamento aprovados pela justiça integram os autos da ação civil pública ora em exame. Por meio desses documentos, a exemplo dos inseridos às fls. 21/42 dos autos e às fls. 184/212 e 240/264 do Volume II, dando conta da destinação dos recursos arrecadados pelo Ibama a título de reposição florestal no período de 1983 a 1991, pode-se extrair várias informações, entre elas a data da aplicação dos recursos, os beneficiários, os valores aplicados e a fundamentação legal das despesas. Há, inclusive, cópia dos convênios celebrados para a execução das serviços contratados e dos extratos da conta bancária na qual os recursos foram depositados, demonstrando toda a movimentação efetuada no período de julho/1997, quando os valores começaram a ser aplicados, até julho/1999. A meu ver, tais documentos satisfazem plenamente a prestação de contas reclamada pela Unidade Técnica, razão pela qual a medida sugerida pode ser prescindida. Entendo oportuno, apenas, endereçar uma determinação ao Controle Interno para que mantenha este Tribunal informado, nas futuras prestações de contas do Ibama, acerca do andamento da ação civil pública ora em exame, notadamente no tocante à aplicação do saldo remanescente em agosto/1999, no valor de R$ 1,5 milhão, e dos valores arrecadados no período de janeiro/1992 a dezembro/1995, quando cessou a cobrança da taxa de reposição florestal, no valor aproximado de R$ 13 milhões, objeto de carta precatória, para a qual o Ibama interpôs agravo, ainda pendente de julgamento. Quanto à proposta relacionada à realização de auditoria ambiental, informo que a questão das queimadas está sendo tratada no TC nº /1999-3, de minha relatoria, relativo à auditoria de desempenho realizada junto ao Ibama, no período de 9/8/99 a 29/10/99, objetivando avaliar o Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais - PrevFogo, bem como o Programa de Prevenção e Controle às Queimadas e aos Incêndios Florestais na Amazônia Legal - Proarco, quanto aos aspectos da eficiência, eficácia e efetividade, em

8 cumprimento à Decisão nº 506/99-TCU-Plenário, que aprovou o Plano de Especial de Auditoria de Desempenho do 2º Semestre de 1999, no âmbito do segundo ano do projeto "Desenvolvimento de Técnicas de Auditoria Operacional", objeto do Acordo de Cooperação entre o Tribunal de Contas da União e o Departamento para o Desenvolvimento Internacional do Reino Unido. Já a questão dos desmatamentos foi apreciada recentemente por este Tribunal no TC nº /1998-3, relativo ao Requerimento formulado pelo Ministro Adhemar Paladini Ghisi para que a então Saudi adotasse as providências necessárias ao completo esclarecimento sobre os noticiários que destacaram os recordes históricos de desmatamento apontados pelo denominado Programa de Avaliação de Desflorestamento - Prodes, embasado em relatório produzido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - Inpe. Após realizar inspeção no Ibama, a Unidade Técnica identificou que os recordes históricos de desmatamento apontados no Programa de Avaliação de Desfloramento ocorreram em 1995 e não em 1997 ou 1998, conforme noticiado, e que aquele Instituto já estava adotando diversas providências com vistas a controlar o avanço do desflorestamento. Por meio da Decisão nº 294/2000-TCU-Plenário, proferida no processo supracitado, foi determinado à Secretaria Federal de Controle Interno que fizesse constar nas contas do Ibama relativas ao exercício de 2000 informações sobre as providências adotadas pela Autarquia com vistas a controlar o avanço do desflorestamento e os resultados porventura alcançados. Considerando, então, que as questões das queimadas e dos desmatamentos indiscriminados já foram objeto de fiscalizações recentes por parte deste Tribunal, entendo despicienda a realização da auditoria sugerida pela Unidade Técnica. Por fim, no tocante à proposta de acompanhamento da apuração pelo Ibama das irregularidades que ensejaram a intervenção da representação da Autarquia de Mato Grosso, entendo que o mais adequado seja a fixação de prazo para que a Autarquia informe ao Tribunal os resultados da referida intervenção. Ante todo o exposto, Voto por que o Tribunal adote a deliberação que ora submeto à apreciação desta Câmara. T.C.U., Sala das Sessões, em 10 de outubro de 2000.

9 VALMIR CAMPELO Ministro-Relator Assunto: III - Representação Relator: VALMIR CAMPELO Unidade técnica: SECEX-MT Quórum: Ministros presentes: Adhemar Paladini Ghisi (Presidente), Bento José Bugarin, Valmir Campelo (Relator) e Adylson Motta. Sessão: T.C.U., Sala de Sessões, em 10 de outubro de 2000 Decisão: A Segunda Câmara, diante das razões expostas pelo Relator, DECIDE: 8.1 conhecer da presente representação, com base no art. 69, inciso VI, da Resolução TCU nº 136/2000; 8.2 determinar à Secretaria Federal de Controle Interno que faça constar, nas futuras prestações de contas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - Ibama, informações acerca do andamento da Ação Civil Pública nº , movida pelo Ministério Público Federal junto à 2ª Vara Federal, Seção Judiciária do Estado de Mato Grosso, notadamente no tocante à aplicação dos recursos arrecadados a título de taxa de reposição florestal, depositados em juízo em decorrência de sentença proferida no referido processo; e 8.3 determinar ao Ibama que informe, no prazo de 30 (trinta dias), os resultados da apuração das denúncias veiculadas na imprensa em dezembro/1999 noticiando, entre outras irregularidades, o desvio de recursos destinados ao combate à queimada na Chapada dos Guimarães e a venda de combustível para uso em serviço, que ensejaram a intervenção na representação daquela Autarquia no Estado de Mato Grosso.