Área temática: globalização e internacionalização de empresas
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- Benedicta Canela Cipriano
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1 Área temática: globalização e internacionalização de empresas A influência do contexto competitivo nacional e internacional na inserção das subsidiárias estrangeiras em redes de negócios. SIDNEY COSTA Escola Superior de Propaganda e Marketing - ESPM sidneycosta@gmail.com FELIPE MENDES BORINI ESPM - Escola Superior de Propaganda e Marketing fborini@espm.br RESUMO Este artigo analisa como as condições do contexto competitivo nacional e internacional favorecem a inserção em redes de negócios pelas subsidiárias de corporações multinacionais. Os fatores ambientais condicionantes para o sucesso de um país são bem estudados e sua importância reconhecida pela literatura acadêmica que trata o assunto. Entretanto, ainda há carência de estudos que aprofundem questões relativas aos fatores que auxiliam em maior ou menor grau na inserção em redes de negócios pelas subsidiárias. São fundamentadas e propostas duas hipóteses. H1: Quanto melhores as condições do contexto competitivo nacional no Brasil maior a possibilidade das subsidiárias estrangeiras inserirem-se em redes de negócios. H2: Quanto melhores as condições do contexto competitivo internacional no Brasil maior a possibilidade das subsidiárias estrangeiras inserirem-se em redes de negócios. Uma pesquisa survey com as mil e duzentas maiores multinacionais será usada para responder as hipóteses. Foram obtidas 172 respostas de subsidiárias. O resultado confirma a primeira hipótese, porém rejeita a segunda, revelando que a inserção em redes de negócios pelas subsidiárias estrangeiras está relacionada apenas com as condições favoráveis do contexto competitivo nacional. As implicações do resultado procuram preencher a lacuna de pesquisa referente às redes de negócios nas quais se inserem as subsidiárias. Palavras chave: subsidiárias estrangeiras; determinismo ambiental, redes de negócios 1
2 National and international competitive environment influences on the insertion of foreign subsidiaries in business networks SUMMARY The article examines how the conditions of the competitive environment influence on the insertion of foreign subsidiaries in business networks. Environmental factors are well studied and its importance recognized by the academic literature dealing with the subject. However, there is still lack of studies to further investigate issues relating to the factors that help a greater or lesser degree of subsidiaries insertion in business networks. It was formulated two hypotheses. H1: The better the conditions of national competitive environment in Brazil increased the possibility of insertion of foreign subsidiaries in business networks. H2: The better the conditions of the international competitive environment in Brazil increased the possibility of insertion of foreign subsidiaries in business networks. A survey with the thousand and two hundred largest multinationals will be used to answer the hypotheses. We received 172 responses from subsidiaries. The result confirms the first hypothesis, but rejects the second, revealing that the insertion in business networks by foreign subsidiaries is related only to the favorable conditions of national competitive context. The implications of the result try to fill the gap in research concerning business networks in which the subsidiaries are included. Keywords: foreign subsidiaries; environmental determinism, business networks 2
3 1 INTRODUÇÃO A partir do interesse crescente sobre as multinacionais, recentemente tem havido um maior foco sobre as subsidiárias de multinacionais e os fatores inerentes a sua gestão (PATERSON; BROCK, 2002). Dentre esses fatores se destacam as relações da subsidiária com parceiros de negócios que compõem a rede de negócios, fornecedores e o ambiente competitivo (BIRKINSHAW, 2001; COUDOUNARIS et al., 2009; SENO-ALDAY, 2010). Revisões da literatura (BIRKINSHAW, 2001; COUDOUNARIS et al., 2009; SENO- ALDAY, 2010) tem identificado o crescimento de correntes promissoras e distintas de estudos, dentre as quais estão a abordagem das redes, as parcerias e os estudos das forças ambientais que influenciam nas práticas empresariais. O campo de negócios internacionais carece de estudos que aprofundem questões sobre a adaptação e sobrevivência das empresas em ambientes estrangeiros, de maneira que é esperada para a próxima década um aumento nas pesquisas relativas às redes de negócios. Esse estudo contribui para um melhor entendimento sobre os fatores que favorecem a inserção das subsidiárias em redes de negócios. As multinacionais não dispõem de todo o conhecimento na matriz ou nas suas subsidiárias, estes se encontram dispersos em empresas ao redor do mundo, de maneira que as multinacionais necessitam cada vez mais intensificarem seus esforços para criar, transferir, disseminar e aplicar conhecimento (FORSGREN, 2008). Para tanto, por meio de suas subsidiárias as multinacionais buscam inserirem-se em redes de negócios com empresas de diferentes países com o intuito de prospectar novos conhecimentos e expertises (SANTOS; DOZ; WILLIAMSON, 2004). Trata-se de uma configuração estratégica em que o conhecimento não decorre somente da matriz e nem das próprias subsidiárias (rede interna), mas pode também ser proveniente das empresas que compõem a rede negócios externa estabelecida em mercados estrangeiros. Essa configuração é chamada de estratégia metanacional (DOZ, SANTOS; WILLIAMSON, 2001). Aharoni e Brock (2010) argumentam que a aprendizagem conjunta e além das fronteiras constitui um quadro de evolução global para a multinacional. É importante compreender quais fatores exercem influencia na inserção das subsidiárias estrangeiras nas redes de negócios. E segundo Birkinshaw (2001), os fatores que influenciam a estratégia das subsidiárias podem ser divididos em fatores relacionados à gestão das subsidiárias, a relação entre matriz e filial e ao determinismo ambiental. Supostamente, as subsidiárias teriam maior propensão a inserirem-se em redes de negócios quanto melhores forem às condições do contexto competitivo nacional (PORTER, 1990) e internacional (RUGMAN; D'CRUZ, 1993; MOON; RUGMAN; VERBEKE, 1998). Isso decorre do fato de ser dentre os três fatores, aquele que aparentemente parece ser o mais fortemente relacionado com a inserção das subsidiárias estrangeiras em redes de negócios. Assim, o objetivo principal deste artigo é analisar como as condições do contexto competitivo nacional (PORTER, 1998, 1990) e contexto competitivo internacional (RUGMAN; D'CRUZ, 1993; MOON; RUGMAN; VERBEKE, 1998) favorecem na inserção das subsidiárias estrangeiras em redes de negócios. A hipótese central é a de que todos esses fatores influenciam positivamente. A presente pesquisa contribui para o campo dos estudos em estratégia internacional dada a carência de estudos relacionados com a temática proposta (SENO-ALDAY, 2010; AHARONI; BROCK, 2010). Além disso, a pesquisa aprofunda a discussão do modelo metanacional (DOZ; SANTOS; WILLIAMSON, 2001), evidenciando a importância das redes negócio para o incremento do conhecimento em empresas multinacionais. 3
4 2 REFERÊNCIAL TEÓRICO As multinacionais são influenciadas pelo ambiente, interesses e forças atuantes, as quais influenciam na estratégia que por sua vez pressiona a estrutura organizacional (PRAHALAD; HAMEL, 1990; CHANDLER, 1962). No entanto, Stopford e Wells (1972) argumentam que nem sempre a definição da estratégia preceda a estrutura, ocorre de a estrutura influenciar a estratégia. E em vista da dinâmica dos negócios globais, muitas teorias estratégicas têm sido propostas ao longo dos anos, sendo três as clássicas: a estratégia global, multidoméstica e a transnacional (BARTLETT; GHOSHAL, 1992). A primeira é pautada pela a integração global das atividades, a segunda explora a adaptação local e a terceira combina a adaptação e integração em conjunto com a inovação global dispersa nas áreas funcionais das subsidiárias, os centros de excelência. Enquanto a estratégia global e multidoméstica estabeleceram o paradigma dominante dos estudos da década de oitenta, na década de noventa a estratégia transnacional ganhou fôlego com o artigo de Bartlett (1986). O grande diferencial da estratégia transnacional é a inovação dispersa (NOHRIA e GHOSHAL, 1997). Algumas subsidiárias por executarem atividades de inovação global assumem o mandato mundial para determinadas funções (CANTWELL; MUDAMBI, 2005). O pressuposto lógico é: uma vez que a subsidiária adquire importância estratégica, ela passa a comandar uma função regional ou global, portanto a unidade não somente recebe conhecimento e capacidades da matriz e de outras unidades corporativas, mas, também, passa a ser responsável pelo desenvolvimento de capacidades organizacionais que devem ser implantadas não só no país da subsidiária, mas em outros lugares do mundo que estão sob o mandato da subsidiária. Em outras palavras, a subsidiária passa a ser responsável por desenvolver e transferir o conhecimento para todas outras subsidiárias sobre a qual tem mandato, podendo muitas vezes englobar alguma função da própria matriz. Embora o modelo transnacional seja complexo e abrangente, tentando reunir a força centrífuga da orientação estratégica das empresas multinacionais, este modelo apresenta lacunas dado seu período de elaboração e a evolução dos estudos em estratégia internacional. Uma dessas lacunas é a inserção das empresas em redes de negócios globais como fonte de conhecimento e competências. A estratégia transnacional aborda apenas a rede da multinacional e não dá muita atenção à possibilidade de a empresa adquirir seus recursos fora da rede interna, seja por meio de parceiras, alianças ou atividades de offshoring (SANTOS; DOZ; WILLIAMSON, 2004). Em razão dessa possibilidade, dentre outras, surge o modelo estratégico metanacional. Segundo Doz, Santos e Williamson (2001), o desafio das multinacionais é desenvolver uma aprendizagem global. Na estratégia metanacional, a multinacional tem noção de que a vantagem competitiva não é criada somente na matriz ou em algumas subsidiárias mais importantes, mas também em diferentes subsidiárias, mesmo naquelas que há pouco eram subsidiárias típicas globais ou multidomésticas. Isso contradiz a teoria de subsidiárias com papéis determinados (BARTLETT; GHOSHAL, 1992) e suporta a teoria evolutiva do desenvolvimento de competências em quaisquer tipos de subsidiárias, sem que o reconhecimento ou a autorização sejam conferidas à subsidiária (BIRKINSHAW, HOOD, 1998). Apenas a busca por conhecimentos numa região e seu repasse para outras regiões (transferência de competências através dos centros de excelência) já não são suficientes, nem mesmo um padrão único e global desenvolvido por um centro de excelência. Essa ideia é superada a partir da estratégia metanacional, a qual concentra-se em descobrir pontos de conhecimento ao redor do mundo (DOZ, SANTOS E WILLIAMSON, 2001), sendo que esse 4
5 conhecimento nem sempre está dentro da matriz ou subsidiária, mas sim dentro de empresas do ambiente competitivo. Logo, cabe a multinacional comprar ou inserir-se em redes de negócios formada por empresas que contribuam para a aquisição desse conhecimento. Se por um lado a aquisição garante a internalização imediata do conhecimento existente, ela pode comprometer o desenvolvimento de novas fontes de conhecimento pela mudança do estilo de gestão e da relação com os atores do ambiente e da rede. Por outro lado, embora a parceria envolva questões de integração entre as empresas, ela garante que a empresa continue a fazer usufruto das condições do ambiente e da rede de negócios, sendo que sozinha uma subsidiária ao entrar por greenfield investments demoraria um longo período para desenvolver. Assim, a inserção em redes de negócios pode propiciar à subsidiária o acesso a certos recursos e conhecimentos distantes ao invés da detenção desses recursos ou vultosos investimento em pesquisas e desenvolvimento, tornando-se assim um fator de sucesso, vantagem competitiva e redução de riscos. 2.1 Redes de negócios Redes de negócios são conjuntos de organizações interligadas por meio de vínculos em geral diversos, sendo compostos por nós (empresas) e por laços (relacionamentos) que interligam os nós (LAZZARINI, 2008). E segundo Johanson e Vahlne (1977), a estrutura da rede está mais relacionada com os vínculos entre as empresas do que pelo processo de decisão estratégica, ou seja, os laços entre as empresas dão forma a estrutura da rede. A definição de vínculos suscita a necessidade de compreender a dinâmica das relações e como estas se traduzem contextualmente em relações, interações, fluxos de capital, conhecimento e pessoas. O pressuposto é de que, a partir da ligação/relacionamento, as subsidiárias estrangeiras exerçam poder e influência, mas contudo, que os parceiros locais também possam ganhar com a criação do vínculo (GIROUD; SCOTT-KENNEL, 2009). As redes interorganizacionais (redes com base em relacionamentos entre empresas), envolvem um grupo de empresas relacionadas que trabalham para o bem comum e para a criação de valor para todas as empresas envolvidas sendo ditas eficazes quando obtém sucesso nos resultados almejados (LAZZARINI, 2008; CROPPER et al., 2008). Johanson e Vahlne (1990) mostraram como os relacionamentos se desenvolvem por meio da interação entre as empresas, a construção da confiança mútua e do conhecimento, resultando em forte comprometimento. As redes interorganizacionais abrangem tanto as redes externas quanto as internas. A rede interna resulta do relacionamento da subsidiária com as outras subsidiárias. A rede externa, a qual será o foco desta pesquisa, é fruto do relacionamento da subsidiária com os parceiros de negócios, tais como: fornecedores, instituições de pesquisa, empresas de propaganda, dentre outros. Assim, a rede externa da qual faz parte uma subsidiária pode influenciar na construção de vantagens competitivas de uma subsidiária de duas maneiras. Primeiro, pode ser assumido que a subsidiária, tendo acesso aos recursos da rede, terá um impacto na competitividade em seu mercado. Segundo, sendo possível a transferência dessas capacidades para outras unidades da rede interna da multinacional, o acesso à rede externa acaba por representar uma fonte de competência para toda a multinacional (ANDERSSON; FORSGREN; HOLM, 2002). Andersson, Forsgren e Holm (2002), apontam diferenças entre dois tipos distintos de relacionamento com a rede. Em um extremo essas relações podem ser de longa duração, sendo a relação baseada na confiança mútua. No outro extremo, a relação pode ser encurtada devido a fatores econômicos, havendo a possibilidade de mudança repentina de parceiro. Estando a relação contida no primeiro extremo (longa duração), isto significa que há um elevado enraizamento (embeddedness) entre os parceiros da rede, ou seja, os parceiros 5
6 conhecem-se há muito tempo, tem adaptado o seu comportamento comercial e costumam trocar informações a respeito do mercado. A este relacionamento os autores chamam de enraizamento de negócio. Em outras palavras, a rede de negócios é fruto do relacionamento comercial da subsidiária com os parceiros de negócios, tais como: fornecedores, instituições de pesquisa, empresas de propaganda, dentre outros. (ANDERSSON; FORSGREN; HOLM, 2002). Assim, a rede externa de negócios da qual faz parte uma subsidiária pode influenciar na construção de vantagens competitivas de uma subsidiária de duas maneiras. Primeiro, pode ser assumido que a subsidiária, tendo acesso aos recursos da rede, terá um impacto na competitividade em seu mercado. Segundo, sendo possível a transferência dessas capacidades para outras unidades da rede interna da multinacional, o acesso à rede externa acaba por representar uma fonte de conhecimento e capacidades para toda a multinacional (ANDERSSON; FORSGREN; HOLM, 2002). O pressuposto é de que, a partir da ligação/relacionamento, as subsidiárias estrangeiras exerçam poder e influência, mas contudo, que os parceiros locais também possam ganhar com a criação do vínculo (MEYER, 2004; GIROUD; SCOTT-KENNEL, 2009). Nesse sentido, as inter-relações resultam em vantagem competitiva para a empresa ao diminuírem os custos operacionais. Desta forma, as redes interorganizacionais podem ser utilizadas para a otimização ou mesmo manutenção da vantagem competitiva. 2.2 O Contexto Competitivo Nacional As discussões a respeito da competitividade nacional consideram que além das vantagens comparativas (RICARDO, 1996), o país deve ser capaz de atrair investimentos diretos estrangeiros (IDE) intensivamente e de qualidade, como conseqüência de sua vantagem nacional, ademais, a prosperidade nacional é criada e não herdada, de maneira que os fatores de produção mais importantes são construídos (PORTER, 1998, DUNNING, 1988). Para fomentar esta atração de recursos, é importante que o país seja base de uma indústria intensiva em conhecimentos e competitividade global, que exista nele um ambiente que atenda ao conjunto de requisitos que, isolados e sistematicamente, permitem a construção da vantagem nacional sustentada. Nesse sentido, há quatro atributos de um país, que moldam o ambiente no qual as empresas locais competem e que promove ou impede a criação da vantagem competitiva, são eles: condições dos fatores de produção; condições da demanda; setores correlatos e de apoio; e estratégia, estrutura e rivalidade das empresas. Eis as quatro arestas que Porter (1990) chama de diamante da vantagem nacional e devem ser consideradas como as condições ambientais essenciais para países que querem ser competitivos e inovadores. Estando presentes, em sintonia e funcionando como um sistema, as quatro arestas do diamante nacional propiciam um ambiente competitivo adequado para a criação de valor e inovações. Isto atrai as subsidiárias estrangeiras que vem em busca das vantagens que o diamante oferece, e assim, internalizam competências e inovações que o ambiente estrangeiro lhe proporciona (PORTER, 1998; FROST, 2001; FROST; BIRKINSHAW; ENSIGN, 2002; DOZ; SANTOS; WILLIANSONS, 2001). A partir do entendimento dos fatores contidos no diamante nacional (PORTER, 1998) é possível inferir que em sendo o diamante da vantagem nacional satisfatório, interessante e atraente, então as empresas pertencentes a este cenário são bem estruturadas e estão em patamar de elevada competitividade. Logo, é de se esperar que as subsidiárias possam agregar 6
7 valor ao realizarem alianças com empresas desse ambiente competitivo. Assim, propõe-se a primeira hipótese: H1: Quanto melhores as condições do contexto competitivo nacional (diamante nacional) no Brasil maior a possibilidade das subsidiárias estrangeiras inserirem-se em redes de negócios. 2.3 O Contexto Competitivo Internacional A economia global tem exigido que muitos dos fatores que compõem a vantagem competitiva sejam encontrados não somente dentro das fronteiras nacionais como também fora delas. Torna-se então interessante o estudo não somente do diamante da competitividade em contexto nacional como também em contexto internacional. Embora o modelo do diamante de Porter (1998) seja amplamente reconhecido por explicar a competitividade nacional, não é suficiente para abarcar todas as situações, como demonstram alguns estudos (RUGMAN; D'CRUZ, 1993; MOON; RUGMAN; VERBEKE, 1998). Estes autores salientam que o modelo original do diamante de Porter (1998) é incompleto por não incorporar de forma adequada as atividades das multinacionais. Moon, Rugman e Verbeke (1998), ao compararem os diamantes nacionais e internacionais da Coréia do Sul e Singapura, constataram que a Coréia do Sul possui um diamante nacional mais robusto que o de Singapura, que em contrapartida possui um diamante internacional melhor que o dos sul coreanos. Com base na economia de ambos os países, os autores concluíram que tanto os determinantes nacionais quanto os internacionais são importantes para a competitividade. Estes estudos avançaram a teoria e ficaram denominados como diamante duplo. Em conformidade com esses estudos, uma multinacional deve basear-se não somente nas condições do contexto competitivo nacional, mas também no contexto internacional. O modelo do diamante duplo (MOON; RUGMAN; VERBEKE, 1998, RUGMAN; D'CRUZ, 1993), propõe extensões ao modelo original do diamante (PORTER, 1990) argumentando que a nova abordagem do diamante duplo permite a comparação dos diamantes nacional e internacional, revelando as diferenças e possibilitando uma melhor visão estratégica. Rugman e D Cruz (1993) argumentam ainda que o modelo do diamante nacional é principalmente destinado a explicar as fontes de vantagem competitiva nacional possuída pelas economias de países avançados, mas é limitado em explicar os níveis e mudanças dinâmicas das economias nos países emergentes como México e Brasil. Entender e usufruir do duplo diamante é o primeiro passo em direção ao sucesso em escala global da empresa. Há um encorajamento para se olhar além das fronteiras do país utilizando-se das ideias do modelo do diamante. As multinacionais podem ser influenciadas pela competitividade tanto pelo diamante em seu país natal como também em outros países. A verificação de que os fatores nacionais que permitem a vantagem competitiva também podem ser encontrados fora país, possibilita as empresas procurarem por diamantes além de suas fronteiras. Desta forma, torna-se interessante medir não somente a influência do determinismo ambiental nacional, como também do internacional. Assim, propõe-se a segunda hipótese: H2: Quanto melhores as condições do contexto competitivo internacional (diamante internacional) no Brasil maior a possibilidade das subsidiárias estrangeiras inserirem-se em redes de negócios. 7
8 3 METODOLOGIA A pesquisa foi realizada por meio da aplicação de um survey. O instrumento de coleta de dados utilizado foi o questionário fechado (NEWMAN, 2006; COLLIS; HUSSEY, 2006; CRESWELL, 2009). O universo da pesquisa foi escolhido com base no porte das empresas em termos de faturamento, utilizando para isso o universo das mil e duzentas maiores empresas multinacionais de capital estrangeiro que atuam no Brasil, obtido com base no faturamento das empresas cedido pela Analise Editorial que pública o anuário Análise Comércio Exterior. Os dados do estudo em questão foram coletados por meio de questionários via com acompanhamento telefônico para o principal executivo da subsidiária (presidente, CEO, vice-presidente). Embora tenham sido enviados mil e duzentos questionários para as subsidiarias, após o contato telefônico verificou-se que o mailing continha alguns endereços repetidos e contatos equivocados. Dado este fato, o número de subsidiárias de nosso universo de pesquisa foi reduzido para hum mil e doze empresas. Desses, retornaram cento e oitenta e um questionários, sendo que nove foram excluídos por preenchimento incompleto ou errado. Desse modo a amostra da pesquisa é de cento e setenta e duas empresas, um percentual de 17% de respostas. Esse porcentual era o esperado e equivalente, por exemplo, a pesquisa de Oliveira Jr, Boehe e Borini (2009), que pesquisou as subsidiárias estrangeiras no Brasil com base, também, nas maiores em termos de faturamento. Das empresas respondentes 50% entraram no Brasil antes da década de noventa, 30% na década de noventa e 20% na atual década. A origem das multinacionais é predominantemente européia (58%), seguido pelas multinacionais oriundas da América do Norte (29%). O modo de entrada preferido foi o greenfield investiments (58%) perante as aquisições e fusões. Dessas empresas, 43% têm mais de quinhentos funcionários e 57% menos de quinhentos funcionários. As empresas atuam predominantemente no setor industrial (77%), seguido pelo setor de serviços (21%) e somente 3% no setor de agronegócios. 3.1 Construtos Todas as variáveis estão medidas numa escala de Likert (NEWMAN, 2006) de cinco pontos, tendo-se num extremo o valor 1 indicando discordo totalmente, ruim ou baixa e noutro o valor 5 indicando concordo totalmente, excelente ou muito alta, em conformidade com cada questão. O construto dependente redes foi baseado em (ANDERSSON; FORSGREN; HOLM, 2002) é formado pelas seguintes variáveis: a) Nosso relacionamento com nossos principais fornecedores é caracterizado por ser uma relação de longa duração; b) Nosso relacionamento com nossos principais fornecedores é caracterizado por um alto nível de confiança mutua; c) Nossos principais fornecedores nunca tentam alterar os fatos apenas com a finalidade de conseguir concessões; d) Nossos principais fornecedores nunca se comprometem a fazer coisas sem que venham a cumprir o prometido; e) Nossos principais fornecedores normalmente compartilham conosco importantes informações sobre o mercado e vice e versa; f) Nós confiamos nos nossos fornecedores no sentido de que eles irão entregar conforme o prometido e dentro do prazo determinado; g) Nós confiamos nos nossos fornecedores no sentido de que eles irão entregar dentro do padrão de qualidade prometido. O Alpha de Cronbach é de 0,810. Os construtos independentes são: contexto competitivo nacional diamante nacional e contexto competitivo internacional duplo diamante. 8
9 O contexto competitivo nacional (Porter, 1990) é formado pelas seguintes variáveis: a) Tamanho da demanda de mercado no Brasil; b) A exigência dos consumidores brasileiros incentivam a criação de novos produtos; c) Intensidade da competição no Brasil; d) Velocidade na inovação de competidores brasileiros; d) Fornecedores e parceiros brasileiros. O Alpha de Cronbach é de 0,667. O construto do contexto competitivo internacional (RUGMAN; D'CRUZ, 1993; MOON; RUGMAN; VERBEKE, 1998) é formado pelas seguintes variáveis: a) Tamanho da demanda de outros países; b) A exigência dos consumidores de outros países incentivam a criação de novos produtos; c) Intensidade da competição mundial; d) Velocidade na inovação de competidores mundiais; e) Fornecedores e parceiros mundiais. O Alpha de Cronbach é de 0,760. Todos os construtos apresentam normalidade (KMO) ao nível de significância 0,05. Quanto à confiabilidade, os resultados dos cálculos do coeficiente alfa de Cronbach revelaram, para todos os fatores obtidos, que existe uma fidedignidade dos dados dentro dos limites aceitáveis. A validade convergente dos construtos pesquisados foi atestada, na medida em que se constatou a existência de correlações positivas entre os fatores que compuseram cada um dos construtos analisados Variáveis de Controle Uma das variáveis de controle é o tempo de existência da subsidiária (dummy 0 para empresas que entraram antes do ano 2000 e 1 para as empresas que entraram depois de 2000). A variável modo de entrada é outra dummy de controle (0 para aquisição e 1 para greenfied). A terceira variável de controle é o tamanho da empresa (dummy 0 para empresas com menos de 500 funcionários e 1 para empresas com 500 ou mais funcionários). 4. RESULTADOS A Tabela 1 apresenta os dados da correlação e as médias e desvios padrão dos construtos. As subsidiárias fazem uma avaliação positiva, porém moderada (entre três e quatro numa escala de cinco pontos) do contexto nacional, internacional e da relação com redes. As subsidiárias, também, avaliam positivamente as alianças estabelecidas com as empresas parceiras, porém essa avaliação positiva ainda é moderada, tal como para os demais constructos. As correlações entre as variáveis independentes são significantes, porém fracas. Satisfaz inicialmente um dos pressupostos da regressão que é a inexistência de correlação forte entre as variáveis independentes. Inicialmente os resultados mostram que a rede de negócios está correlacionada com todas as independentes. O diagnóstico da ausência de multicolinearidade é comprovado através do teste de tolerância VIF (Tabela 2) inferior a cinco, garantindo a ausência de multicolinearidade entre as variáveis (MAROCO, 2010). 9
10 Tabela 1: Correlação TABELA 1 Média Desvio I II III I - Contexto Nacional 3,86 0,576 1 II - Contexto Internacional 3,39 0,737 0,234** 1 III - Redes 3,8 0,459 0,229** 0,169* 1 **P < 0,01 e *P < 0,05 Fonte: autores Com a finalidade de testar as hipóteses e avaliar o poder explicativo das variáveis independentes na constituição da variável dependente, foi realizada uma regressão linear múltipla para o constructo dependente "redes". A Tabela 2 apresenta os resultados gerados pelo modelo de regressão linear múltipla. O modelo 1 apresenta a relação de dependência com as variáveis de controle. O modelo 2, 3 e 4 além das variáveis de controle acresce respectivamente os construtos do contexto competitivo nacional e do contexto competitivo internacional. Finalmente, o modelo 4 apresenta a modelagem com todas as variáveis em conjunto. O resultado mostra que o poder de predição é de apenas 6,5% sendo que, ao comparar os modelos 1, 2 e 3, verifica-se que o construto referente ao contexto nacional é que exerce peso maior no poder de predição em comparação ao contexto internacional. As variáveis de controle tempo de existência e tamanho da empresa não se apresentam como significativas. Por sua vez, a maneira de entrada da empresa no mercado brasileiro (greenfield) exerce uma influência significativa na inserção da empresa em redes de negócios. Tabela 2: Modelo de Regressão Redes Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3 Modelo 4 VIF Constante 3,685 3,048 3,39 2,91 Contexto nacional 0,168** 0,149* 1,069 Contexto Internacional 0,093 0,066 1,084 Tempo de Existência 0,007 0,015.-0,004 0,006 1,099 Funcionários (>500) 0,024 0,015 0,014 0,008 1,003 Greenfield 0,181* 0,159* 0,166* 0,151* 1,043 F 2,185 3,687* 2,616* 3,343** R² ajustado 0,02 0,059 0,037 0,064 **P < 0,01 e *P < 0,05 Fonte: autores Portanto, os resultados confirmam a hipótese H1, porém não confirmam H2. Logo é possível estabelecer as seguintes afirmações. As condições do contexto nacional no Brasil exercem influência significativa de maneira a propiciar a inserção das subsidiárias estrangeiras em redes de negócios. O mesmo não pode ser dito quanto ao contexto internacional, assim, as condições do contexto internacional não influenciam de maneira decisiva a inserção das subsidiárias estrangeiras em redes de negócios. 10
11 Ademais, ao ingressarem via greenfield em um ambiente desconhecido a empresa busca inserir-se em uma rede de negócios de maneira a internalizar de forma mais rápida as competências e inovações que o ambiente estrangeiro lhe proporciona. Finalmente, os resultados mostram que o tamanho da empresa e a idade não influenciam as subsidiárias a inserirem-se em redes de negócios. Portanto, os resultados mostrados rejeitam a hipótese central, de que todos os fatores do ambiente influenciam as subsidiárias estrangeiras a inserirem-se em redes de negócios no país hospedeiro. Somente os fatores do contexto nacional exercem tal influência. O trabalho estatístico e empírico mostra que os fatores preconizados por Porter (1998) para a prosperidade nacional, desempenham papel preponderante e influenciador nas estratégias traçadas pelas subsidiárias. Em particular, o ambiente competitivo no qual estão imersas as empresas, ao atender ao conjunto de requisitos que formam o diamante, incentiva as subsidiárias a inserirem-se nas redes de negócios existentes no país. 6. CONCLUSÃO O artigo mostrou que somente as condições do contexto competitivo nacional influenciam positivamente na inserção das subsidiárias estrangeiras em redes de negócios, rejeitando a hipótese de que as condições do contexto competitivo internacional também teriam influência na inserção das subsidiárias em redes de negócios. Ademais, a pesquisa contribui para o campo de estudos sobre as redes de negócios ao mostrar a orientação estratégica das subsidiárias, tendo por base, o ambiente competitivo saudável que propicia o surgimento de empresas em elevado patamar de competitividade, tecnologia e conhecimentos que formam a rede de negócios, a qual por sua vez, influencia as subsidiárias a nela se inserir. Portanto, a principal contribuição deste artigo é a comprovação da influência da vantagem competitiva das nações (PORTER, 1998) sobre a inserção das subsidiárias em redes de negócios. A inserção da subsidiária na rede de negócios atende aos anseios e discussões mais recentes referentes a busca, disseminação e internalização do conhecimento compreendidas na estratégia metanacional, a qual concentra-se em descobrir pontos de conhecimento ao redor do mundo (DOZ, SANTOS E WILLIAMSON, 2001), sendo que esse conhecimento nem sempre está dentro da matriz ou subsidiária, mas sim dentro de empresas do ambiente competitivo. Esse resultado, não só mostra a importância do ambiente competitivo nacional como também ratifica a abordagem de redes de negócios, a qual considera as empresas que compõem a rede de negócios como uma fonte salutar de conhecimentos, criação de valor e uma alternativa a costumeira rede interna (matriz subsidiárias subsidiárias), estendendo as possibilidades de constante inovação cobrada pelo mercado. As limitações do presente artigo se referem principalmente em relação a escolha das variáveis para a composição do modelo de gestão. As variáveis que formam os construtos independentes contexto nacional, internacional e redes são constituídas de percepções das próprias subsidiárias a respeito do ambiente. Outra maneira que pode evitar o viés social embutido na percepção é montar os construtos de diamante nacional, internacional e redes por meio de dados secundários. Em verdade, essa tentativa foi empreendida inicialmente, porém não executada devido a escassez dessas informações para cada setor analisado e para a localidade das cento e setenta e duas empresas. Uma estratégia é procurar subsidiárias especificas de certas localidades e setor que tenham os dados secundários disponíveis e analisar as hipóteses aqui levantadas para verificar se existe a confirmação das mesmas. 11
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