LEITURA E TECNOLOGIA: A BUSCA DE UMA INTERAÇÃO SEM FRONTEIRAS
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- Vanessa Batista Machado
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1 LEITURA E TECNOLOGIA: A BUSCA DE UMA INTERAÇÃO SEM FRONTEIRAS THEISEN, Jossemar de Matos Doutoranda em Letras- Linguística sob orientação do professor Dr. Vilson Leffa Professora temporária no Curso de Letras da Universidade Federal de Pelotas jossemarm@yahoo.com.br Artigo elaborado como quesito de avaliação para a disciplina de Seminário de Tese I, ministrada pelos professores Adail Sobral, Hilário Bohn e Vilson Leffa Universidade Católica de Pelotas RESUMO Esse artigo tem por objetivo trazer algumas reflexões sobre a leitura baseada nos suportes tecnológicos, principalmente na forma hipertextual, a qual é pouco considerada como legitima para o cânone escolar, mas já faz parte de muitas práticas de leitura significativas. O hipertexto estimula uma nova forma de leitura, baseada na não linearidade e na interatividade. As ideias discutidas neste artigo são reflexões teóricas que abordam esse assunto, o qual converge ao estado que a leitura, aliada às tecnologias, pode ser considerada como uma prática prazerosa e sem limites de fronteiras. Palavras-chave: leitura, tecnologia, hipertexto, cibercultura INTRODUÇÃO Atualmente a leitura pode ser realizada em diferentes suportes, distintos do papel impresso. Os recursos tecnológicos cada vez mais presentes no cotidiano permitem ter acesso quase que instantâneo a diferentes áreas do conhecimento e à aquisição de informações. O contexto que passa a leitura na contemporaneidade representa parte significativa das novas formas de aprendizagem, de ensino e de comunicação. Dentro desse cenário pode-se destacar a quase que imperiosidade de se ler em diferentes suportes para atuar em uma sociedade permeada pela tecnologia. Pensar em inovações tecnológicas educacionais significa também repensar os ambientes de aprendizagem e a capacitação dos profissionais da educação. Segundo Lévy (1993) a escola é uma instituição que há cinco mil anos baseia no falar/ditar do mestre, na escrita manuscrita do aluno e, há quatro séculos, em uso moderado da impressão, conforme propõe o autor, os suportes tecnológicos, o computador e, sobretudo a internet,proporcionam mudanças no cotidiano escolar e, consequentemente, nas práticas pedagógicas utilizadas pelos professores. A leitura e a escrita dentro do universo digital e multimodal integra várias linguagens, e traz também novidade sem sua interface. Os textos estão se tornando
2 altamente multimodais, denominados por Kress e Van Leeuwen (2001) como o momento New Writing ( nova escrita na tradução para o português). Há, nos textos digitais, elementos gráficos de navegação que são diferentes daqueles usados e possibilitados no impresso. Dessa forma, o sentido construído na leitura desses textos vai emergir não só do processamento dos elementos verbais, mas também do processamento de todas as linguagens envolvidas nesse ato comunicativo. O mundo do ciberespaço aponta para novos atores na produção e no tratamento dos conhecimentos, além de diferentes formas de apropriação dos saberes. Com a internet, por exemplo, indivíduos e grupos podem navegar no oceano da informação e de conhecimentos disponíveis na rede, e, mais rapidamente que em qualquer outro tempo passado, compartilhar e difundir suas experiências. Entende-se que a conjugação ou a interação entre computadores, o espaço virtual e o hipertexto dão origem a um novo suporte de leitura. Neste suporte, constituído na tela do computador (e outros formatos tecnológicos como tablets e mesmo celulares) encontra-se a escrita basicamente de duas formas. No formato texto, o qual sugere uma leitura linear, e no formato de hipertexto, onde o conteúdo é apresentado de forma não sequencial, não linear, e que permite ao leitor uma diversidade de caminhos na realização da leitura de um único texto, ou tema inicial. Esse artigo tem por objetivo refletir sobre a leitura online hipertextual, e está dividido em três partes. Na primeira, faz uma abordagem sobre a Leitura e Cibercultura como um processo interativo que pode mostrar o caminho para adquirir conhecimentos. Na segunda parte destaca-se a Leitura e navegação: uma viagem sem limites aborda a leitura dentro do hipertexto, na terceira parte traz a leitura e Multimodalidade, uma união que pode gerar uma leitura mais atrativa e por fim constitui-se um fechamento sobre as ideias discutidas no decorrer do texto. 1 Leitura e Cibercultura: a infinita tecelagem do conhecimento No cenário atual da contemporaneidade em que existem grandes desafios à educação e à formação de leitores, a cibercultura, tem-se tornado um dos principais canais de comunicação entre pessoas e grupos sociais. Há, de fato, um novo espaço para a socialização, a organização de informações e de conhecimentos. Segundo Lemos (2002) o desenvolvimento da cibercultura se dá com o surgimento da micro-informática nos anos 70, com a convergência tecnológica e o estabelecimento do personal computer (PC). Nos anos a popularização da internet e a transformação do PC em um computador coletivo (CC) conectado ao ciberespaço, o século XXI traz o desenvolvimento da computação móvel e das novas tecnologias nômades (laptops, celulares, tablets). Lemos (2002, p.93) destaca como a sociedade está estruturada dentro da cibercultura:
3 A cibercultura vai se caracterizar pela formação de uma sociedade estruturada através de uma conectividade telemática generalizada, ampliando o potencial comunicativo, proporcionando a troca de informações sob as mais diversas formas, fomentando agregações sociais. O ciberespaço cria um mundo operante, interligado por ícones, portais, sítios e homepages, permitindo colocar o poder de emissão nas mãos de uma cultura jovem, tribal, gregária, que vai produzir informação, agregar ruídos e colagens, jogar excesso ao sistema. Quanto mais pessoas tiverem acesso à internet e ao ciberespaço, mais se desenvolverão novas formas de "sociabilidade", maior será o grau de apropriação das informações por diferentes atores, que poderão modificá-las segundo seus próprios valores (culturais, estéticos), difundindo-as, por sua vez, de uma nova maneira. Lévy (1999) destaca sobre o fato de o ciberespaço mundializar o consumo de produtos e de informação. Afirma que quanto mais universal, menos "totalizante" ou totalitário é o conhecimento. A cibercultura, segundo o teórico, pode ser considerada herdeira da filosofia Iluminista do século XVIII, uma vez que incentiva o debate e a argumentação, retomando e aprofundando os antigos ideais de "emancipação e exaltação do ser humano". Assim, a cibercultura permite que o emissor e o receptor partilhem o mesmo contexto, a mesma mensagem com várias outras pessoas, e o ciberespaço passa a ser um universo sem totalidade, uma multiplicidade de pequenas proposições lutando por sua legitimidade (LÉVY, 1999). Os estudantes estão cada vez mais sintetizados no mundo cibernético, a chamada geração digital, estes exigem uma nova forma de aprendizagem que seja diferente de apenas receber o conhecimento pronto, sem que proporcione interação e desafio. A interatividade no virtual permite ao discente maiores possibilidades de construção do conhecimento com esclarecimento de dúvidas, proposição de sugestões, exposição de interesses e concretização de propostas investigativas. O aluno deixa de ser apenas um receptor e se posiciona como sujeito ativo e construtor de sua própria aprendizagem. (SILVA, 2003). Os alunos chegam às salas de aula esperando uma forma de ensino mais interativa e participativa, com conceitos passados com dinamismo, similar ao que acontece na Internet. Já os professores insistem no senso comum pedagógico criticado por Paulo Freire: os docentes veem o aluno como um repositório vazio onde podem ser depositados conteúdos, equações, datas e fatos, sem qualquer interação na construção de conhecimentos por parte do sujeito (metáfora da conta bancária). Atualmente, o leitor considerado competente por Chartier (2000) pode não ser mais aquele que realiza leituras em apenas um suporte, impresso, mas aquele que transita em diferentes meios seja impresso ou online. A escola, apesar disso, ainda tenta estabelecer
4 uma prática de leitura totalitária, impondo leituras aos alunos, sem avaliar o contexto em que esses estão inseridos. Roger Chartier (2000, p. 103) destaca uma realidade dos alunos bem diferente da que é vista na percepção da escola: Aqueles que são considerados não leitores leem, mas leem coisa diferente daquilo que o cânone escolar define como uma leitura legítima. O problema não é tanto o de considerar como não-leitura estas leituras selvagens que se ligam a objetos escritos de fraca legitimidade cultural, mas é o de tentar apoiar-se sobre estas práticas incontroladas e disseminadas para conduzir esses leitores, pela escola, mas também sem dúvida por múltiplas outras vias, e encontrar outras leituras. É preciso utilizar aquilo que a norma escolar rejeita como um suporte para dar acesso à leitura na sua plenitude, isto é, ao encontro de textos densos e mais capazes de transformar a visão do mundo, as maneiras de sentir e de pensar. Na concepção de Chartier à escola faz necessário dar a possibilidade ao aluno de criar, de criticar e, ao mesmo tempo, de saber que a escrita já era uma tecnologia que se incorporou à civilização durante seu processo de conhecer o mundo. A era da informática pode estar aproximando a oralidade da escrita, nas culturas que não conheciam a escrita, a transmissão do conhecimento dava-se através das narrativas orais: o narrador relatava as experiências passadas aos ouvintes, que participavam do mesmo contexto comunicacional; as mensagens linguísticas sempre eram recebidas no momento e no local de sua emissão; emissores e receptores partilhavam uma situação idêntica e, na maioria das vezes, um universo semelhante de significado; atores da comunicação mergulhavam no mesmo contexto, no mesmo fluxo vivo de interação. Diante das colocações realizadas sobre cibercultura e leitura, cabe destacar que a leitura em diferentes suportes multimídia e hipermídia vem ao desencontro de uma leitura linear e fragmentada rompendo com estruturas tradicionais proporcionando à interatividade, o diálogo, a leitura em redes hipertextuais, pluralidade de navegações, relações de imagens, sons e movimentos nos textos, tornando uma leitura muito mais atrativa. Para Ramal (2002, p. 14) Os suportes digitais, as redes, os hipertextos são, a partir de agora, as tecnologias intelectuais que a humanidade passará a utilizar para aprender, gerar informação, ler, interpretar a realidade e transformá-la. 2 Leitura e navegação: uma viagem sem limites A liberdade provocada pela tecnologia inaugura novas formas de aquisição de conhecimento e de administração das informações, por vários caminhos distintos e não sequenciais. De acordo com Xavier (2005), o mundo digital fez surgir uma tecnologia de linguagem cujo espaço de apreensão de sentido não é apenas formado por palavras, mas
5 também por outros elementos semióticos todos lançados sob uma mesma superfície perceptual, formando um todo significativo. Ao leitor do hipertexto é permitido escolher e decidir que partes do conteúdo disponibilizado (texto, imagens, vídeos.) quer acessar para construir o sentido que busca durante sua leitura. O autor estabelece os links entre seu hipertexto e tantos outros, mas cabe ao leitor decidir ler seguindo ou não o caminho traçado pelo escritor. Segundo Leffa & Vetromille- Castro (2008) o hipertexto estabelece uma nova relação entre autor e leitor, uma vez que é o leitor que vai escolher como que deseja que as informações sejam apresentadas, o design da tela, podendo até escolher o tamanho da letra, a cor da tela, dentro outros aspectos. Navegando entre o mar de informações disponibilizadas no hipertexto através dos diferentes links, o internauta decide acessá-los ou não. Por essa razão, a leitura digital passou a ser chamada de também de navegação. Em As tecnologias da inteligência o futuro do pensamento na era da informática, Lévy (1998) destaca seis princípios do hipertexto. O primeiro é o caráter de metamorfose: a rede hipertextual está em constante construção e renegociação; pode permanecer estável durante certo tempo, mas esta estabilidade é em si mesmo fruto de um trabalho. Sua extensão, sua composição e seu desenho estão permanentemente em jogo para os atores envolvidos, sejam humanos, palavras, imagens, traços de imagens ou de contexto, objetos técnicos, componentes desses objetos, etc. O segundo princípio é o de heterogeneidade: os nós e as conexões de uma rede hipertextual são heterogêneos. Na memória serão encontradas imagens, sons, palavras, diversas sensações, modelos etc., e as conexões serão lógicas, afetivas etc. Na comunicação, as mensagens serão multimídias, analógicas e digitais. A multiplicidade é a base do terceiro princípio do hipertexto, destacado por Lévy: o hipertexto organiza-se num modo "fractal", ou seja, qualquer nó ou conexão, quando analisado, pode revelar-se como sendo composto por toda uma rede. O quarto princípio do hipertexto, da exterioridade, reflete que a rede não possui unidade orgânica, nem motor interno; seu crescimento e a diminuição, sua composição e recomposição permanentes dependem de um exterior indeterminado: adição de novos elementos, conexões com outras redes, excitação de elementos terminais (captadores) etc. O aspecto de topologia é o quinto princípio do hipertexto, no qual tudo funciona por proximidade, por vizinhança. O curso dos acontecimentos é uma questão de topologia, de caminhos; não há espaço universal homogêneo onde haja forças de ligação e separação. A rede não está no espaço, ela é o espaço. De acordo com o último princípio do hipertexto (o da mobilidade dos centros), a rede de computadores possui diversos centros, como pontas luminosas perpetuamente
6 móveis, saltando de um nó a outro, trazendo ao redor de si uma ramificação infinita de pequenas raízes. Na perspectiva da leitura online, o papel da escola e do educador continua sendo muito importante. Quando o professor propuser uma pesquisa sobre determinado assunto na internet, a qual proporciona uma prática de leitura online hipertextual, cabe ao mestre fazer o papel de mediação. De ensinar o aluno a buscar a informação e selecioná-la, assim como ensinar o aluno a transformar as informações em conhecimento, pois nem tudo aquilo que se encontra disponível nos meios eletrônicos é de todo seguro ou preciso. Tal discussão é antiga e, segundo Chartier (1998), advém de tempos passados, desde a época em que o impresso foi inventado. No computador, o espaço de escrita e da interação é a tela, ou a "janela". Ao contrário do que ocorre quando o espaço da escrita são as páginas do códice, quem escreve ou quem lê a escrita eletrônica tem acesso, em cada momento, ao exposto na tela, com possibilidade de interferir no texto quando quiser ou tiver necessidade. Explorando a utilização do hipertexto, o usuário não só navega como pode interagir com o texto lido de forma imediata, havendo a possibilidade de exposição e discussão de suas ideias entre várias pessoas de diferentes lugares on-line. A internet, percebida como suporte para informações hipertextuais com possibilidades infinitas de interseção, demanda uma linguagem própria para sua compreensão, com abordagens de leitura não lineares e, consequentemente, apresenta uma textualidade específica para sua apreensão. Inserida no ambiente escolar, a internet pode ser um suporte que ajuda na aquisição e construção de conhecimentos. Os novos suportes de leitura, a convergência de diferente mídia e a possibilidade de uma ampla interação fez que o texto tradicional, adaptado aos novos suportes tecnológicos, fosse chamado hipertexto. O hipertexto pode ser uma série de textos conectados entre si e que possibilitam diversos caminhos de leitura; e uma convergência de várias linguagens num único suporte, com a possibilidade de intervenção instantânea do navegador através de dispositivos que favorecem a interatividade. No livro Educação na cibercultura, Ramal (2002, p. 84) considera que o tempo da contemporaneidade é fundamental para que se redescubra o valor do espaço escolar e as múltiplas vias que a leitura nos proporciona: Estamos chegando à forma da leitura e de escrita mais próxima do nosso próprio esquema mental: assim como pensamos em hipertexto, sem limites para imaginação a cada novo sentido dado a uma palavra, também navegamos nas múltiplas vias que o novo texto nos abre, não mais em páginas, mas em dimensões superpostas que se interpenetram e que podemos compor e recompor a cada leitura.
7 Em relação às práticas de leitura, geralmente não há interação, diálogo ou mediação entre os alunos e o professor. A essa forma limitada de aproximação com a leitura, na qual muitas vezes apenas uma voz é ouvida, dá-se o nome de monologismo. Existe uma forte relação entre o monologismo e o sistema da escola tradicional (Ramal, 2002).Leituras monológicas seriam aquelas em que um único sentido se sobressai, impedindo os demais de virem à tona. Nesse contexto, destaca-se a ideia de Bakhtin sobre polifonia, a qual se constitui num jogo dramático de vozes, ignorar a polifonia é anular o diálogo e a reconstrução possível de sentidos. Em muitas práticas de leitura são desenvolvidas de maneira monológica, ignorando a multiplicidade de vozes e olhares. As práticas de leitura nos novos suportes são diferentes daquelas conduzidas na forma tradicional. A internet e o ciberespaço são recursos tecnológicos que proporcionam ao leitor uma abertura infinita de janelas para o conhecimento, uma pluralidade de navegações que pode ser compreendida numa perspectiva inter, multi e transdisciplinar, conduzindo o ato de ler a resultados imprevisíveis e excitantes. A leitura nos suportes hipermídia disponibiliza acesso às informações com formatação visual e auditiva, com animações e com grande possibilidade de interação entre seus elementos. 3. Leitura e Multimodalidade As modalidades de práticas de leitura e de escrita impulsionadas pela tecnologia proporcionam dentro da perspectiva da cibercultura uma visão multimodal. O advento destes meios tecnológicos no âmbito da educação permitiu a evolução dos recursos de multimídia e posteriormente dos conceitos de hipertexto e hipermídia. Na multimodalidade, a maioria dos textos envolve um complexo jogo entre textos escritos, cores, imagens, elementos gráficos e sonoros, o enquadramento, a perspectiva da imagem, espaços entre imagem e texto verbal. A multimodalidade e os recursos de multimídia tornam-se indispensável na cibercultura, pois a interação do aprendiz através do computador deve ser o mais estimulante possível, logo o uso de imagens, e material audiovisual como animações, por exemplo, são extremamente importantes. Com a internet, é possível participar do ciberespaço, produzir homepages com hipertextos e recursos de multimídia. As novas tecnologias oportunizam situações que permitem o desenvolvimento das potencialidades individuais na condução do processo didático-pedagógico e a quebra da linearidade da escrita, conjugando-se a palavra com a imagem, som e movimento.
8 A leitura dentro desses novos suportes exige do aluno e do professor mudanças em relação aos modelos tradicionais, um novo perfil, num processo de interatividade, de um diálogo entre o texto e o leitor. A nova realidade escolar que associa palavra e imagem, máquina e ser humano, real e virtual, comunicação presencial e em rede, exige um novo perfil dos educadores: a) que sejam profissionais atualizados, contextualizados no debate sobre o pós-modernismo e suas implicações para a educação; b) que sejam usuários críticos da tecnologia, capazes de associar o computador às propostas ativas de aprendizagem; c) cidadãos atentos aos desafios político-sociais que estão envolvidos no contexto pedagógico de hoje. Em primeiro lugar, o hipertexto permite a navegação. Sua conexão com os demais hipertextos permite, da parte do leitor, um agenciamento intertextual que lhe garante a liberdade de saltar pelo browser, ao clique do mouse, de página para página na infinita rede do www. Em segundo lugar, o hipertexto permite a convergência de várias mídias. Sua natureza multimidial, ou multimodal,permite, assim,que se associem palavras (em movimento ou não), som,imagens, vídeo, gráficos, diversas linguagens num único suporte, como refere Capparelli (2002) com a possibilidade de intervenção instantânea do navegador através de dispositivos que favorecem a interatividade. CONSIDERAÇÕES FINAIS A leitura em diferentes suportes multimídia e hipermídia contrapõe ao tipo de leitura linear e fragmentada e rompe com estruturas tradicionais, proporcionando interatividade, diálogo, leitura em redes hipertextuais, pluralidade de navegações, relações de imagens, sons e movimentos nos textos, tornando uma leitura muito mais atrativa, principalmente para as crianças. Ramal (2002) Os suportes digitais, as redes, os hipertextos são, a partir de agora, as tecnologias intelectuais que a humanidade passará a utilizar para aprender, gerar informação, ler, interpretar a realidade e transformá-la. Dentro dessa perspectiva a tecnologia faz parte da vida do homem e modifica seu modo de viver. A educação, responsável pela formação das pessoas e transmissão de muitos conhecimentos, encontra-se em um período de transição e adaptação ao novo estilo da sociedade tecnológica, uma vez que os processos de ensino e aprendizagem serão significativos, à medida que estiverem de acordo com o atual contexto. A leitura também se encontra dentro dessa mudança do suporte impresso para os diferentes suportes tecnológicos. Leitores considerados competentes podem não ser mais os que a praticam em silêncio, de modo considerado tradicional, mas sim aqueles que interagem e opinam sobre o que estão realizando ou lendo em tempo real/virtual.
9 A implantação da informática nas escolas possibilita trabalhar a leitura com suportes de multimídia e hipermídia, permite imaginar a leitura de várias formas, múltiplas expressões e linguagens diferentes que podem tornar o ambiente escolar mais estimulante, interativo e inovador. Um dos desafios além do próprio uso das novas tecnologias na escola,é a aplicação do hipertexto como uma opção perante uma visão totalitária estabelecida em paradigmas ultrapassados, em modelos impostos em nome dos silenciamento, da disciplina e da linearidade. A realização da leitura virtual exige um leitor ativo e produtor, pois o sistema hipertextual possibilita ao usuário realizar, por pressuposição e/ou simulação, possibilidades diversas de percurso. Queiroz (2001) defende que com o uso das novas tecnologias, e sua relação com os leitores, é preciso conceber um conceito amplo de leitura, que inclua não só a leitura da escrita alfabética, mas também um conceito que inclua a leitura do mundo, a percepção da imagem, do som e do movimento, enfim, o conjunto multimodal dentro de um texto hipertextual. Em síntese, um dos desafios além do próprio uso em si das novas tecnologias nas instituições de ensino, é a aplicação de práticas de leituras hipertextuais e multimodais proporcionadas e requeridas pelo cotidiano contemporâneo. REFERÊNCIAS CHARTIER, Roger. A aventura do livro. Do leitor ao navegador. São Paulo: Unesp, FREIRE, Paulo. Educação e Mudança Rio de Janeiro. Paz e Terra, Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática educativa. 17. ed. Coleção Hoje, Porto Alegre, v. 41, n. 144, p , KRESS, Gunther; VAN LEEUWEN, Theo. Multimodal Discourse: the modes and media of contemporary communication. London: Arnold; New York: Oxford University Press, LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Ática, LANDOW, George P. Hypertext 3.0: critical theory and new media in a global era.baltimore: Johns Hopkins University, LEAL, Leiva de Figueiredo. Biblioteca escolar como eixo estruturador do currículo escolar. In: RÖSING, Tânia Mariza Kuchenbecker; BECKER, Paulo Ricardo. Leitura e animação cultural: repensando a escola e a biblioteca. Passo Fundo: UPF, LEÃO, Lucia. Labirinto da hipermídia: arquitetura e navegação no ciberespaço. São Paulo: Iluminuras, LEFFA, Vilson José & VETROMILLE-CASTRO, Rafael. Texto, hipertexto e interatividade. Revista de Estudos da Linguagem, v. 16, p , Disponível em: < Acesso em: 15 de abril de LEFFA, Vilson. José. Perspectivas no estudo da leitura; Texto, leitor e interação social. In: LEFFA,Vilson. José; PEREIRA, Aracy, (Orgs). O ensino de leitura e produção textual; Alternativas de renovação. Pelotas: Educat, 1999, p LEMOS, André. Cibercultura, tecnologia e vida social na cultura. Porto Alegre: Sulina, LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática.rio de Janeiro: Editora 34, 1998.
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