A MÁ QUALIDADE DO SISTEMA BRASILEIRO DE ENSINO: SEU EFEITO CATASTRÓFICO PARA A NAÇÃO
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- Ana Carolina Miranda Graça
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1 1 A MÁ QUALIDADE DO SISTEMA BRASILEIRO DE ENSINO: SEU EFEITO CATASTRÓFICO PARA A NAÇÃO Clóvis Pereira da Silva UFPR Nosso objetivo neste artigo é alertar, mais uma vez, a parte culta e esclarecida da sociedade brasileira para o gravíssimo problema existente no país e, que tem sido preterido pelas administrações federais desde os anos de 1950, que é a má qualidade do Sistema Brasileiro de Ensino - SBE. Esse problema tem sido ignorado e menosprezado pelos gestores responsáveis pelos negócios da educação escolar de nosso país. O que consideramos também muito grave é a falta de cobrança, para a solução desse problema, aos gestores acima referidos por parte da camada esclarecida de nossa sociedade. A luz vermelha está piscando há muitos anos no painel da administração federal chamado falta de soluções inteligentes para os problemas do Sistema Brasileiro de Ensino. A desfaçatez dos gestores públicos aos problemas do SBE será por falta de pessoas inteligentes e competentes, ou será porque eles não estão preocupados com a soberania da nação? Fica nossa indagação. Por motivos éticos que dizem respeito ao nosso trabalho e vivência na vida universitária brasileira, abordaremos aqui apenas o Sistema Nacional de Graduação- SNG, com cursos presenciais, que é uma parte do Sistema Brasileiro de Ensino. Não faremos referências ao ensino básico (fundamental e médio), mesmo sabendo da importância da boa qualidade desse ensino para o país. Desejamos que em futuro próximo alguém qualificado apresente à parte esclarecida da sociedade brasileira um libelo sobre o ensino básico, focalizando inclusive os Relatórios elaborados pela Comissão Organizadora dos últimos exames do PISA, uma iniciativa da OCDE. Também não faremos referência ao Sistema Nacional de Pós-Graduação SNPG. Este merece um estudo à parte. Em nosso livro intitulado a Questão da Universidade e Outros Ensaios. Curitiba: Unificado Artes Gráficas e Editora, 2008, no Capítulo 2 intitulado O Sistema Nacional de Graduação. Diagnóstico, fizemos uma abordagem sobre o SNG. No
2 2 Capítulo 3 intitulado A Universidade Necessária ao Brasil, escrevemos sobre aspectos que afligem a Universidade brasileira. O livro contém alerta sobre a má gestão dos negócios da educação escolar no país. Na oportunidade mostramos à parte esclarecida da sociedade brasileira os danos que têm causado ao país a escolha errada feita por várias administrações federais pela massificação do ensino superior pago e de má qualidade. São gestores dos negócios da educação escolar brasileira que colocaram, de modo deliberado ou por ignorância, a nação em rumo de colisão com um enorme iceberg que representa a ignorância científica e tecnológica. O bizarro é que tais responsáveis não são chamados, pela sociedade brasileira, às barras dos tribunais para responder por seus crimes contra a pátria. Lembramos ao leitor que a Universidade nunca foi, nem nunca será uma instituição para todos como apregoam os fátuos aproveitadores da ignorância de grande parte da população brasileira. A Universidade é uma instituição para os talentosos, ricos ou pobres. A instituição Universidade é responsável, desde sua origem no século XII na forma de studium generale, pela formação das elites intelectuais de uma nação. Aqueles que deverão estar aptos para dirigir os negócios da nação. Para exercer profissões importantes ao país como: mestre de obras, soldador, carpinteiro, eletricista, metalúrgico, pedreiro, gari, cabeleireiro, decorador de ambientes, alfaiate etc., é suficiente o (a) jovem cursar uma boa escola técnica de ensino médio. Os danos ao país acima referidos têm causado diversos males para a nação e, em especial para o sistema universitário brasileiro, dentre os quais citamos: falta de bons engenheiros (lembramos que, por diversas vezes, Associações de classe dos engenheiros têm alertado a administração federal para esse grave problema), falta de médicos, falta de bons cientistas, problemas na soberania nacional, a banalização do diploma universitário, a venda de diplomas de má qualidade, cursos de graduação presenciais aligeirados e de má qualidade, e a excrescência chamada cursos de graduação à distância. Acrescentemos a isso a insensatez e irresponsabilidade dos diversos gestores dos negócios da educação escolar superior brasileira quando da criação de vários campi em
3 3 diversas Universidades Federais, por meio do Programa REUNI que foi instituído pelo Decreto nº 6.096, de 24 de abril de Campi localizados em locais exóticos nos quais faltam: verbas, corpo docente qualificado, corpo administrativo qualificado, infraestrutura física, laboratórios, carteiras, laboratórios de informática, telecomunicações, bibliotecas decentes etc. Vários desses campi estão inconclusos. Em verdade são elefantes brancos. A sociedade brasileira não é informada a esse respeito, exceto a parte da sociedade que vivencia os problemas, haja vista o campus da UFPR localizado no litoral do Paraná e, os campi da UFFS localizados nas cidades de Laranjeiras do Sul e Realeza, ambas no Paraná. A respeito da ação deletéria do Programa REUNI para o SNG sugerimos a leitura dos artigos seguintes: Luis Vieira, Muito Mais do Que Eleição, in OBSUNI de 23/02/2011; Clóvis Pereira da Silva, REUNI: Catástrofe Previsível, in OBSUNI de março de 2011; Ari Ott, A Universidade Federal de Rondônia, a Greve e as Ruínas do Futuro, in OBSUNI de 27/09/2011; Wilson Correia, REUNI: O Dia Seguinte, in Recanto das Letras de 02/10/2011. Com a leitura desses textos o leitor terá um quadro informativo a respeito da insensatez praticada pelos gestores dos negócios do ensino superior brasileiro. Na linha de propostas de ações e metas para serem discutidas sobre esse assunto o OBSUNI apresentou em julho de 2010 à parte esclarecida da sociedade brasileira e, ao Congresso Nacional, um documento, com 51 páginas, intitulado: a Indispensável Reforma do Sistema Brasileiro de Ensino e, que contém um anteprojeto de Lei de Reforma do Sistema Brasileira de Ensino de Ensino. Esse documento se encontra em estado de letargia profunda em alguma gaveta do Senado Federal. Ele foi entregue em 25/08/2010 ao Senador Álvaro Dias. Na esteira da oferta de cursos presenciais de graduação aligeirados com três anos de duração e outros não aligeirados com duração de quatro, cinco e seis anos, por parte das instituições privadas e de algumas instituições públicas presenciamos a maioria desses cursos sendo de má qualidade em função de diversas variáveis, sendo uma delas ser a composição dos corpos docentes dessas instituições de professores sem a
4 4 qualificação necessária requerida, doutorado e pós-doutorado, exceto para alguns bons cursos de graduação em Medicina e em Direito ofertados por poucas Universidades privadas e públicas. Aliás, a constatação da má qualidade da maioria dos cursos de graduação em Direito ofertados por instituições privadas pode ser visível nos exames anuais da OAB. Com respeito aos cursos aligeirados com três anos de duração denunciamos, mais uma vez, a insensatez e irresponsabilidade dos membros do Conselho Nacional de Educação CNE que aprovaram a Resolução CNE/CP nº 2, de 19 de fevereiro de 2002 com a inclusão dos cursos de licenciatura no rol dos cursos aligeirados. As licenciaturas são os cursos formadores de professores para o ensino fundamental e médio. Além das instituições privadas, diversas instituições públicas passaram a ofertar, a partir de 2002, cursos de licenciatura com três anos de duração. Por meio de um raciocínio rápido o leitor poderá deduzir qual será em futuro próximo o nível de qualidade do ensino básico em nosso país que já é péssimo, ensino que conta e contará com professores mal remunerados e, a partir de 2002 com profissionais graduados em cursos de curta duração e com má formação técnica. Outra variável que pesa na avaliação de uma Universidade de boa qualidade, portanto na boa qualidade de seus cursos de graduação e na boa qualidade de suas pesquisas científicas e, também na boa qualidade de seus programas de pós-graduação, é o ambiente de pesquisa científica consolidada existente na instituição. Isto é, seus grupos de pesquisas. Sabemos que os proprietários das mantenedoras das instituições privadas não têm interesse que suas instituições, muitas das quais são empresas familiares, outras são sociedades com sócios brasileiros e estrangeiros, outras em pequeno número são confessionais, mantenham um dispendioso sistema de pesquisa científica e tecnológica (as confessionais que fazem pesquisa científica e tecnológica, fazem com verba pública) e também, não tenham um corpo docente qualificado, doutores e pós-doutores, trabalhando em regime de 40 horas semanais. A existência dessa possibilidade acarretaria grandes despesas financeiras, além é óbvio, de necessidade de espaço físico. Isto é, gabinetes com mesas, cadeiras, telefonia, computadores etc., para a permanência dos docentes na instituição.
5 5 Sabemos também que instituições privadas, assim como diversas instituições públicas não possuem Programas Anuais de Professores Visitantes, nem excelentes bibliotecas, nem bons laboratórios que são outros itens importantes no contexto de qualificação de uma boa Universidade pública ou privada. Ainda é conhecido que tais instituições, privadas e públicas, não graduam profissionais de nível excelente, exceto poucas exceções e em poucos cursos ofertados; nem desenvolvem pesquisas de ponta em ciência e tecnologia, como também não repassam a seus alunos boa cultura geral, boa formação geral, nem conhecimentos e capacidade para que eles entendam e analisem o que ocorre no país e no mundo globalizado. Sabemos que a educação escolar universitária de excelente qualidade pode ser um bilhete de entrada para o emprego melhor e de melhor remuneração e, uma preparação para o mundo do trabalho globalizado e altamente competitivo. A maioria das instituições de ensino superior privadas, bem como muitas instituições públicas (vide relatos contidos nos artigos acima citados) estão graduando jovens que jamais terão condições de resolver os graves problemas da nação como: segurança pública, sistema brasileiro de ensino, saneamento básico, urbanização das cidades, transporte coletivo, controle de tráfego nas grandes cidades, saúde pública, reforma fiscal, economia e finanças, dentre outros. Nesse contexto assusta-nos como patriotas, que desejamos e trabalhamos para a prosperidade de nossa nação e para o bem de seus filhos, o fato de saber que as instituições privadas de ensino superior têm cerca de 77% do total dos alunos matriculados nos cursos de graduação ofertados no país. Esse fato nos assusta não porque sejam instituições privadas, mas pela constatação de que elas, em sua maioria, ofertam cursos de graduação de má qualidade com disciplinas em suas grades curriculares que possuem programas que jamais se aproximam da fronteira do conhecimento atual das ciências. São instituições nas quais não há ambiente de pesquisa científica no qual possa ser imerso o aluno talentoso da graduação. São instituições que não possuem Programas Anuais de Professores Visitantes; não possuem Programas de Iniciação Científica para
6 6 alunos de graduação; não possuem plano para capacitação de seus docentes. Muitas das instituições de ensino superior privadas não possuem plano de cargos e salários para seus docentes, mesmo sendo uma exigência legal. Tudo isso e mais alguma coisa é tolerado pelo sistema de avaliação de cursos de graduação do MEC. Portanto há algo podre no reino da Dinamarca. Em outras palavras, o SNG está massificando a mediocridade. É isso que nos assusta. Está graduando néscios. Permanecendo o quadro atual, em poucas décadas o país terá uma população de fátuos, alguns dos quais, infelizmente, assumirão postos de comando na administração pública brasileira, da educação à política partidária, passando pelos negócios da economia. Só nos resta pedir a Deus que essa previsão não se realize. Temos que fazer nossa parte como pessoas de bem. Nós, membros da parte culta e esclarecida da sociedade brasileira devemos exigir que os gestores dos negócios da educação escolar brasileira cumpram seus deveres para com a pátria. Sabemos que o bem mais precioso de uma nação é o seu capital humano. Investimentos em educação escolar superior de excelente qualidade, assim como em ciência, tecnologia e inovação em harmonia com um bom projeto para o desenvolvimento da nação representam a melhor estratégia da administração de um país para consolidar sua soberania no contexto mundial e destacar-se economicamente no mundo globalizado. Nunca é demais lembrar ao leitor que não há nação desenvolvida que possua Universidades defasadas das estruturas mais atuais da geração e transmissão do saber. Para o bem da nação e de seus filhos os responsáveis pelo MEC devem impedir que as instituições privadas de ensino superior continuem com o engodo da venda de diplomas de graduação de má qualidade. Esse processo que está em curso provoca, além de outros males, o empobrecimento do fazer ciência de qualidade e do livre pensar nas Universidades. Nossa advertência também é verdadeira para algumas instituições públicas que não vendem diplomas, mas ofertam cursos de graduação de má qualidade. Nesse rumo escolhido (sugerimos a leitura do Axioma da Escolha existente na Teoria Ingênua dos Conjuntos) pelos irresponsáveis gestores dos negócios da educação escolar superior, nosso país jamais chegará a algum porto seguro. Ele permanecerá à deriva no mundo
7 7 globalizado e altamente competitivo. Se assim continuar, então nunca seremos uma grande e soberana nação.
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