Poluição sonora. BIP ValterCampanato_ABr MarcelloCasalJr_ABr

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1 6 o e 7 o anos agosto/2010 Poluição sonora BIP ValterCampanato_ABr MarcelloCasalJr_ABr BIP Vivemos em uma sociedade agitada, repleta de ruídos que eclodem naturalmente ou são provocados de modo irresponsável; há os falatórios desnecessários, emitidos em alta voz, músicas em tons que excedem aquilo que chamaríamos de agradável, e não só pela sua qualidade, mas pelo volume em que são dissipados. Mas estar, a todo momento, durante dias e noites, exposto ao ronco proveniente dos motores das motos, dos caminhões e dos carros que nos viadutos circulam, constitui-se, provavelmente, num grande tormento. A industrialização e a urbanização reduziram a presença das sonoridades (e dos silêncios) naturais no ambiente acústico em que vivemos, produzindo e reproduzindo outros sons que mudaram os hábitos e a precepção da vida no cotidiano das pessoas. Os ruídos de máquinas e aparelhos, e a comunicação de mensagens por emissões fonográficas (rádios, alto-falantes, etc.) passaram a produzir as sonoridades do novo ambiente acústico, em que as vibrações percebidas são cada vez mais intensas, as fontes de suas emissões cada vez mais numerosas, e o tempo dos silêncios cada vez mais reduzido. O nível de tolerância determinado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) não 1

2 pode ultrapassar os 137 decibéis. Segundo a OMS, intensidades sonoras acima de 55 decibéis são consideradas nocivas à saúde e podem causar problemas de deficiência auditiva. A Copa do Mundo de 2010 realizada na África do Sul vai ficar na memória das pessoas não só pela união dos povos, mas também pelo som estridente das vuvuzelas, a vedete do mundial. Elas começaram a aparecer com mais frequência na Copa das Confederações em Sua origem é antiga e eram usadas para convocar reuniões entre as tribos sul-africanas. Na Copa de 2010, a vuvuzela tornou-se o 12 o jogador. Foi alvo de muitas discussões. Os que querem bani-las dos estádios alegam que o som é chato e estridente. Estudos comprovam que em estádios com pessoas o barulho pode chegar a 140 decibéis. Já seus defensores alegam que as vuvuzelas fazem parte da cultura local e do futebol sul-africano. Recentemente até o presidente da FIFA Joseph Blatter se pronunciou a respeito do polêmico instrumento: Você gostaria de ver uma tradição da torcida de seu país banida? Sempre disse que a África tem um som diferente, um ritmo especial... Esse processo crescente de barulhos produzidos por máquinas e aparelhos, que causam a poluição sonora no ambiente acústico em que vivemos, tende a se agravar ainda mais no sistema capitalista, porque nossos ouvidos são alvo de disputas agressivas geradas pela competição entre os vendedores de todos os tipos de mercadorias, que nos atingem por meio de gritos, alto-falantes, e propagandas insistentes, onde quer que estejamos... 1 a) É correto afirmar que a vuvuzela é considerada instrumento folclórico dos sul-africanos? Justifique. b) Segundo o presidente da FIFA Joseph Blatter, a África tem um som diferente e um ritmo especial. Os africanos que vieram ao Brasil trabalhar como escravos na lavoura nos enriqueceram com seus costumes e manifestações culturais. Assinale a seguir o gênero musical introduzido no Brasil pelos africanos: ( ) capoeira ( ) samba ( ) folia de reis ( ) berimbau 2

3 2 De acordo com cada nível de ruído (db), existe um tempo máximo de exposição diária permitido, e, caso esse valor seja ultrapassado, pode haver danos à audição. Um estudo publicado no South African Medical Journal alerta que as vuvuzelas podem causar danos graves na audição, concluem os investigadores De Wet Swanepoel (Universidade de Pretória) e James Hall (Universidade da Flórida). O estudo incluiu testes auditivos a 11 pessoas antes e depois de um jogo de futebol com espectadores, bem como medições do ruído no estádio. A unidade de medida de intensidade sonora é o bel (B), mas, normalmente, utiliza-se seu submúltiplo, o decibel (db). 1 db = 0,1 B. Durante duas horas, os adeptos estiveram sujeitos em média a 100 decibéis e picos de 144 decibéis, para quem estava a soprar ou muito perto da vuvuzela. A partir dos dados do estudo do South African Medical Journal, analise as duas tabelas a seguir e responda: MEDIDAS DAS INTENSIDADES SONORAS EM DIFERENTES SITUAÇÕES Qualidade do som Decibéis db Tipo de ruído Fraco 0-20 farfalhar das folhas Fraco conversação sussurando Moderado conversação normal Intenso ruído médio de fábrica ou trânsito Muito intenso apito de guarda e ruído de caminhão Doloroso aos ouvidos ruído de discoteca e de avião decolando Fonte: Instituto de Educação de Surdos ( Nível de ruído (db) Tempo máximo de exposição diária permitida 8 horas 4 horas 2 horas 1 hora 30 minutos 15 minutos Fonte: FMUSP a) Identifique o tipo de qualidade de som ocasionado pelas vuvuzelas na situação investigada pelos pesquisadores. Dê outro exemplo de ruído que apresente intensidade semelhante. b) Levando em consideração que uma partida de futebol tenha 2 tempos de 45 minutos, pode-se concluir que as pessoas investigadas no estudo podem sofrer danos auditivos? Justifique. 3

4 Nas últimas quatro décadas ocorreu o fortalecimento político dos movimentos ambientalistas em todo o mundo. A luta contra as diferentes formas de poluição faz parte dessa conscientização política que quer mudar o tipo de relação com o meio natural, e mudar os modelos ambientais da vida social que foram criados pela sociedade capitalista urbano-industrial em sua evolução histórica. Devemos entender, portanto, o combate à poluição como o ato político da vontade coletiva que quer construir novos modelos ambientais para vivermos a experiência psíquica e corporal de nossos sentidos (visão, audição, olfato, paladar, tato). Esse grande aumento da frequência e da duração dos estímulos sonoros sobre nossa audição, que altera os ritmos corporais, que causa desconforto e fadiga psíquica, é o tipo de ambiente acústico que constitui a poluição sonora. 3 a) Comente de que forma o texto interpreta a luta ambientalista contra a poluição, e quais são seus objetivos. b) Explique a origem e a evolução da poluição sonora em nossas sociedades. 4

5 O escritor Moacyr Scliar estudou em um colégio em que ensinavam os alunos a cantar a música Sob as pontes de Paris, cuja letra aborda a felicidade daqueles que, de modo sorrateiro, buscam abrigo sob as pontes de Paris. Assim, naquele lugar, e por meio desta atitude, as pessoas se tornam felizes por encontrarem ali um espaço para o seu descanso. Mas em suas reflexões de adulto, o escritor, referindo-se aos versos da composição, começa a pensar na humanidade de um modo mais realista e humano; então se lembra das pessoas que habitam espaços semelhantes, em Porto Alegre, cidade em que nasceu. Ali, como na capital francesa, muita gente procura abrigo sob as pontes ou nos viadutos. Mas, com certeza, nas atitudes identificadas, as causas não são tão poéticas assim. Pesquisas revelam os motivos pelos quais muitas pessoas passam a viver nas ruas; esclarecem que morar na rua é opção, e resulta, sobretudo, de uma vida infeliz. Quase a metade dessas pessoas tem problemas familiares; 70% vivem sós, uma situação para a qual colaboram o uso de drogas e a presença do alcoolismo. Ou seja: não é só uma questão social, é mais complicado que isso. Mas, qual é a condição primeira para se pensar no viaduto como forma de sobrevida? Sabe-se que é a indiferença. Para essas pessoas, aquilo que incomoda a classe média, para eles, não conta em absoluto, como, o trânsito, os barulhos incessantes e a falta de privacidade, por exemplo. Tudo o que os moradores de rua fazem é público, tudo. Eles estão ali, comendo, ou bebendo, ou dormindo, ou fazendo as necessidades, absolutamente indiferentes ao olhar dos outros. Portanto, se existem muitos que não conseguem conciliar o sono com barulho, não é o caso deles, ainda que sobre suas cabeças, no viaduto, ruja o tráfego urbano, intenso, em um país em que o carro se tornou um indicador maior de progresso e de afluências. Isso não impede que durmam (é claro que as bebidas com alto teor de álcool exercem o papel de fortes soníferos). Ou seja, a vida se torna mais leve e possível para aqueles que aprenderam a fazer do dia a dia apenas uma questão de sobrevivência. Para eles, os ruídos e barulhos fortes poderão ser acordes que funcionam como pano de fundo para uma existência desbotada e tão desprovida de ritmos e de musicalidade. 4 a) Explique a afirmação: Para algumas pessoas, os ruídos e barulhos fortes poderão ser acordes que atuam como pano de fundo para uma existência desbotada e tão desprovida de ritmos e de musicalidade. b) Em O escritor estudou em um colégio..., dê a função sintática dos termos destacados. 5

6 1. a) Sim, toda manifestação popular incorporada à cultura local e adotada pela maioria da população é considerada folclore. b) samba 2. a) A qualidade do som é do tipo doloroso aos ouvidos e são exemplos de intensidade semelhante o ruído de discoteca e o ruído de avião decolando. b) Sim, pois o tempo máximo de exposição diário deveria ser de 15 minutos. Professor(a), é importante destacar que, sempre que possível, deve-se evitar exceder o tempo de exposição relacionado a cada tipo de ruído. Caso isso não seja possível, uma estratégia adequada é o uso de protetores auriculares. 3. a) A resposta deve explorar o tema da luta contra o tipo de relação com a natureza e as formas de ambientes da vida social criados pela evolução do sistema capitalista. E deve avaliar a luta ambientalista contra a poluição, como ato político gerado pela vontade coletiva de criar novos modelos de ambientes para a vida social e para a experiência psíquica e corporal dos sentidos. b) A resposta deve procurar salientar a grande transformação ocorrida nos hábitos auditivos das pessoas devida ao surgimento da industrialização e à formação das sociedades urbanas; identificar as sonoridades das máquinas e dos aparelhos como as sonoridades predominantes no ambiente acústico das sociedades modernas; perceber o aumento da produção de sons e barulhos, a frequência e a longa duração dos mesmos, e a redução dos silêncios como a situação formadora da poluição sonora. 4. a) Para uma vida vazia, desprovida de objetivos e de trocas, tudo à volta, até o barulho, se constitui em preenchimento para uma existência tão inútil e sem significados. b) escritor: núcleo do sujeito; / em um colégio: adjunto adverbial de lugar. 6