Qualidade sanitária e fisiológica da hortaliça não-convencional Luffa acutangula

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1 Qualidade sanitária e fisiológica da hortaliça não-convencional Luffa acutangula Kênia Máximo Silva 1 ; Daiana Maria Queiroz Azevedo 1 ; Felipe Coelho Gonçalves 1 ; Cândido Alves da Costa 1 ; Fernando da Silva Rocha 1. 1 UFMG/ ICA- Avenida Universitária, 1.000,Universitário Montes Claros- MG, kenya_maxymo@yahoo.com.br, daianamaria3@yahoo.com.br, tiruy@ig.com.br, candialves@hotmail.com, rochafsplant@yahoo.com.br RESUMO Hortaliças não-convencionais são oléricolas restritas a determinadas regiões com boas características nutricionais e adaptações ambientais. No Norte de Minas Gerais a Luffa acutangula é considerada hortaliça não-convencional e grande valor sócio-econômicocultural, sendo seus frutos consumidos quando verdes e pequenos. Neste trabalho, objetivou-se avaliar a qualidade sanitária e fisiológica de Luffa acutangula. Para isso, realizou-se o teste de sanidade de sementes pelo método de incubação em papel filtro ou blotter test, teste de germinação e determinação do Índice de velocidade de emergência (IVE) das plântulas. Os fungos de maior incidência foram Aspergillus spp. (45,45%), Penicillium spp. (37,71%), Fusarium spp. (5,72%) e Colletotrichum spp. (6,39%).Pelo teste de germinação, observou-se emergência de 79,5% de plântulas normais e o IVE foi de 69,06%. A Luffa acutangula apresentou bom índice de germinação e os fungos do gênero Fusarium e Colletotrichum podem ser considerados como potenciais fontes de inóculo para a cultura. PALAVRAS-CHAVE: Luffa acutangula, bucha comestível, cucurbitácea, sementes. ABSTRACT Health and physiological quality of non-conventional vegetable Luffa acutangula Vegetables non-conventional vegetable crops are restricted to certain regions with good nutritional characteristics and environmental adaptations. In north of Minas Gerais, the Luffa acutangula vegetable is considered non-conventional with high socio-economiccultural value, and the fruits is consumed when green and small. In this study aimed to evaluate the health and physiological quality of Luffa acutangula. For this, was carried out the seed health testing by the method of incubation on filter paper or "blotter test", the germination test and determined the speed of emergence index (SEI) of the seedlings. The higher incidence of fungi were Aspergillus spp. (45.45%), Penicillium spp. (37.71%), Fusarium spp. (5.72%) and Colletotrichum spp. (6.39%). For germination test, we observed the emergence of 79.5% of normal seedlings and the SEI was of 69.06%. Luffa acutangula showed good germination rate and Fusarium and Colletotrichum can be considered as potential sources of inoculum for this culture. Keywords: Luffa acutangula, bushing edible cucurbit, seeds. O termo hortaliças não-convencionais compreende as espécies olerícolas nativas e introduzidas que têm pouca ou nenhuma circulação em grandes mercados agrícolas (Cardoso, 1997). Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 8085

2 As hortaliças não-convencionais são aquelas restritas a determinadas localidades ou regiões e que influenciam na alimentação e na cultura de populações tradicionais. O valor nutricional destas varia de acordo com a espécie, contendo valores significantes de sais minerais, vitaminas, fibras, carboidratos e proteínas, além do reconhecido efeito funcional (Mapa, 2010). As hortaliças não convencionais apresentam boas características de adaptação ambiental e são, muitas vezes, desconhecidas pelas populações urbanas, sendo de grande importância para agricultores familiares e famílias de baixa renda, por serem ricas nutricionalmente. Corriqueiramente, hortaliças não-convencionais ou nativas são denominadas "daninhas", porém, são espécies com grande importância ecológica, genética, econômica e cultural (Kinupp, 2009). O cultivo dessas hortaliças no Brasil é feito predominantemente por agricultores familiares em ambientes menos favorecidos, onde espécies não convencionais tem vantagens comparativas sobre as culturas commodities (Padulosi et al., 2002). Essas populações, caracterizadas tradicionais, exercem papel fundamental na conservação da agrobiodiversidade e variedades locais (Gliessmann, 2005; Ferreira et al., 2009; Mapa, 2010). As buchas vegetais são pertencentes a família Cucurbitaceae, cujas espécies são originárias da Ásia, Europa e América. Foram trazidas ao Brasil pelos portugueses sendo cultivadas desde o norte do país a São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso, e possuem utilização doméstica, como fitoterápicos e na alimentação (Carvalho, 2007; Ferreira et al., 2009). O gênero Luffa é compreendido por 7 espécies sendo que as mais conhecidas são Luffa cylindrica, Luffa operculata e Luffa acutangula (Ferreira et al., 2010). A Luffa acutangula é a espécie que produz frutos comestíveis. De acordo com Carvalho (2007), estes são consumidos quando pequenos e verdes, além de possuírem características medicinais, como normalização do ciclo menstrual e eliminação de distúrbios hepáticos. A bucha comestível (Luffa acutangula) é classificada como uma planta dicotiledônea, monóica, com flores unissexuais e crescimento prostrado. Apresenta folhas simples com lóbulos rasos, caule com haste angular, piloso nas extremidades e flores amarelas. Seu Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 8086

3 fruto possui coloração esverdeada, com formato elíptico e presenças de quinas (Costa, 2010). O plantio dessas espécies devem ser realizado, preferencialmente, antes do período chuvoso, quando para fins comerciais (Ávila, 2002; Carvalho, 2007). Trabalhos realizados no norte de Minas Gerais demonstram que o plantio de Luffa acutangula, teve produção satisfatória quando realizado no final do período chuvoso (Costa, 2010). O florescimento das espécies de Luffa sp. acontece entre 50 e 90 dias após o plantio e a colheita 75 a 180 dias após a semeadura (Carvalho,2007; Costa,2010). O fruto de bucha comestível por ser consumido ainda verde é colhido 75 dias após a semeadura no norte de Minas Gerais (Costa, 2010). No norte de Minas Gerais, a produção de bucha é realizada principalmente, por agricultores familiares, que utilizam essa espécie na alimentação, no tratamento de doenças, na higiene pessoal e na comercialização, seja do produto in natura ou artesanal. Apesar de cultivada e comercializada em todas as regiões brasileiras seja em grande ou pequena escala, pouco se conhece sobre o comportamento agronômico dessa espécie, não existindo ações de pesquisa e informações tecnológicas adequadas para a cultura (Ferreira et al., 2009). Assim, o objetivo do presente trabalho foi avaliar a qualidade sanitária e fisiológica de Luffa Acutangula ou bucha comestível, hortaliça não convencional, consumida por famílias no Norte de Minas Gerais. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no Laboratório de Fitopatologia do Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais em abril de Para avaliação da qualidade sanitária de sementes de bucha comestível foi realizado o teste de sanidade pelo método de incubação em papel filtro ou blotter test. Assim, sementes de Luffa acutangula foram colocadas em caixas plásticas (gerbox) contendo três folhas de papel filtro umedecidas com solução de Agar - água incubadas à temperatura de 25 C por 7 dias, sob fotoperíodo de 12 horas de regime de luz e 12 horas de escuro (Goulart, 1993; Casaroli et al., 2006). Neste teste, utilizou-se 200 sementes, sendo 25 sementes por caixa gerbox, com 8 repetições. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 8087

4 A seguir, realizou-se a identificação e a contagem dos fungos presentes nas sementes com microscópio estereoscópico. Os dados referentes aos fungos presentes nas sementes de L. acutangula foram expressos em incidência. Para avaliação da germinação foram utilizadas 200 sementes, as quais foram divididas em quatro repetições de 50 sementes. Em seguida, as sementes foram colocadas em papel germitest umedecido com água destilada na proporção 2,5 vezes o seu peso e mantidas em câmara de germinação com fotoperíodo de 12 horas de regime de luz e 12 horas de regime de escuro. As contagens foram realizadas diariamente prolongando-se até o 10 dia, de acordo com o manual de regras de análises de sementes (Brasil, 2009). Foram consideradas plântulas normais aquelas com características condizentes com as prescritas no mesmo. Para determinação do índice de velocidade de emergência (IVG), registrou-se diariamente o número de plântulas emersas a partir do 3 até o 14 dia, calculado pela fórmula onde IVG = G 1 /N 1 + G 2 /N G n /N n onde: G 1, G 2, G n = número de plântulas germinadas na primeira, segunda, até a última contagem e N 1, N 2, N n = número dias decorridos até a primeira, segunda, até a última contagem. RESULTADOS E DISCUSSÃO Nas sementes de Luffa actangula observou-se a incidência dos fungos pertencentes aos gêneros Aspergillus spp., Penicillium spp., Fusarium spp., Colletotrichum spp., Geotrichum spp., Alternaria spp., e Cladosporium spp. Como observado no Gráfico 1. Os fungos de maior incidência foram Aspergillus spp. (45,45%), Penicillium spp. (37,71%), Fusarium spp. (5,72%) e Colletotrichum spp. (6,39%). Os fungos pertencentes ao gênero Aspergillus spp. são toxigênicos, causadores de deterioração em grãos e sementes, são saprófitos cosmopolitas de disseminação fácil por seus esporos leves e secos. Eles podem crescer em umidade baixa e facilitando o desenvolvimento de outros gêneros que necessitam de condições de maior umidade (Círio, 2003). Fusarium spp. são importantes fitopatógenos, causadores de murchas, podridões, morte de plântulas, aborto de flores, podridões de armazenamento e outras doenças. De ocorrência cosmopolita, freqüentemente estão associados com sementes. Algumas espécies são produtoras de importantes micotoxinas. Alternaria spp. caracteriza-se por Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 8088

5 afetar plântulas, folhas, caules, hastes, flores e frutos de várias hortaliças e Colletotrichum spp. são fungos fitopatôgenicos que afetam toda a parte aérea da planta, causando desfolha e inutilizando os frutos para o consumo. A infecção pelo fungo é favorecida por longos períodos de alta umidade e temperaturas entre 19 e 24 C (Rêgo e Carrijo, 2000). Pelo teste de germinação observou-se que houve emergência de 79,5% de plântulas normais e o IVE foi de 69,06%. Assim, podemos concluir pelos resultados obtidos que a L. acutangula possui um bom índice de germinação e que os fungos dos gêneros Fusarium e Colletotrichum podem ser potencialmente fitopatogênicos a cultura da bucha comestível. AGRADECIMENTO À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas gerais - FAPEMIG pelo apoio à participação no 52º Congresso Brasileiro de Olericultura. REFERÊNCIAS ÁVILA GAC Cultura da bucha vegetal. EMATER-MG. 7p. BRASIL, Ministériio da Agricultura e Reforma Agrária2009. Regras para Análise de sementes. Brasília: SNDP/DNDV/CLAV,. 395p CARDOSO, MO Hortaliças não-convencionais da Amazônia. Manaus: CPAA,. 150p CARVALHO, JDV Cultivo de bucha vegetal. Dossiê técnico. Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Universidade de Brasília CDT/UnB. 19p. CASAROLI, D; GARCIA, DC; MUNIZ, MFB; MENEZES, NL Qualidade sanitária e fisiológica de sementes de abóbora variedade Menina Brasileira. Fitopatologia Brasileira: 31, p CIRIO, G M; LIMA, M L R Z C Métodos de detecção do gênero Aspergillus em sementes de milho (Zea Mays L.) em 270 dias de armazenamento. Visão Acadêmica:4p COSTA, NFP Caracterização morfológica da bucha comestível. Montes Claros, UFMG (Monografia). Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 8089

6 FERREIRA, ICPV; MOTA, VA.; ARAÚJO, AV; COSTA, CA.; FERREIRA, MAJF Avaliação participativa de acessos de bucha vegetal. In: Congresso Latino Americano de Agroecologia. Revista Brasileira de Agroecologia 4. p FERREIRA ICPV; ARAUJO AV; CAVALCANTI TFM; COSTA CA; FERREIRA MAJF Caracterização morfológica de frutos de 17 acessos de bucha vegetal cultivados no Norte de Minas Gerais. Horticultura Brasileira: 28 :p GLIESSMAN,SR Agroecologia: processos ecológicos em agricultura sustentável. Porto Alegre:UFRGS, 653p. GOULART, ACP Tratamento de sementes de milho (Zea mays L.) com fungicidas. Revista Brasileira de Sementes: 15, no 2, p ,. KINUPP, VF Plantas Alimentícias Não-Convencionais (PANCs): uma Riqueza Negligenciada. In: 61ª Reunião Anual da SBPC, 61. Anais... - Manaus, AM. MAPA Hortaliças não-convencionais tradicionais. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo. Brasília: MAPA/ACS. PADULOSI, S; HODGKIN,T; WILLIAMS, JT; HAG, N Underutilized crops: trends, challenges and opportunities in the 21 st century. Managing Plant genetic diversity. Rome. p RÊGO, AM; CARRIJO, IV Doenças das cucurbitáceas. In: Controle de doenças de plantas hortaliças. Viçosa. p Gráfico 1. Incidência geral de fungos (%) em sementes de Luffa acutangula provenientes do norte de Minas Gerais [Overall incidence of fungi (%) in seeds of Luffa acutangula from the north of Minas Gerais]. Montes Claros, UFMG, Incidência de Fungos em sementes de Luffa acutangula 50 Incidência (%) Fusarium Aspergillus Penicillium Coletotrichum Geotrichum Alternaria Cladosporium Patógenos Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 8090