INTERLOCUÇÕES ENTRE A ALFABETIZAÇÃO ECOLÓGICA E A EDUCAÇÃO INFANTIL
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- João Marreiro
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1 INTERLOCUÇÕES ENTRE A ALFABETIZAÇÃO ECOLÓGICA E A EDUCAÇÃO INFANTIL Renata Gomes da Cunha 1 Augusto Fachín Terán 2 Lívia Amanda Andrade de Aguiar 3 RESUMO - A Educação infantil é considerada a primeira etapa da educação básica, nela é preciso que a criança vivencie experiências de maneira que complementem a educação que recebe da família. O objetivo desta pesquisa é estabelecer pontos de interlocução entre Alfabetização Ecológica e Educação Infantil como elementos a serem apresentados e mediados nos primeiros contatos com a escola. Para atingir este objetivo iniciamos pesquisa bibliográfica sobre Alfabetização Ecológica, Educação Infantil e Educação em ciências, e suas contribuições na prática pedagógica desta modalidade de ensino. Partindo do entendimento do papel e a função de cada ser dentro da relação homem/meio ambiente, apresentamos a Alfabetização Ecológica como elemento a mediar este processo. Para o caso da Educação infantil vemos a alfabetização ecológica como um caminho para a sensibilização e conhecimento da natureza, trabalhando de forma interdisciplinar e garantindo oportunidades de contato com a natureza em diversos espaços educativos.palavras- Palavras-Chave: Alfabetização Ecológica; Educação Infantil; Educação em ciências. Introdução A ciência sempre assumiu papel de grande importância em nossas vidas, com avanços na área da medicina, tecnologia de informações entre outras (TARGINO, 2015). Com a escola não seria diferente, pois seria o momento de se pensar em uma escola e um ensino voltado as reais necessidades da comunidade, atrelando o saber teórico com o saber prático e cientifico. 1 Mestranda do Programa de Pós Graduação em Educação e Ensino de Ciências/UEA. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação em Ciências em Espaços Não Formais (GEPENCEF) da UEA. cunhare30@gmail.com 2 Professor Doutor do Programa de Pós-Graduação em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia. Universidade do Estado do Amazonas. Líder do GEPENCEF. Manaus, Amazonas, Brasil. fachinteran@yahoo.com.br 3 Mestranda do Programa Pós-graduação em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia. Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Membro do GEPENCEF. Bolsista da CAPES. lyvia_amanda@hotmail.com
2 A educação infantil é considerada a primeira etapa da educação básica, nela é preciso que a criança pequena vivencie experiências pedagógicas a partir da educação formal, nos CMEIs (Centros Municipais de Educação Infantil), de maneira que complementem a educação informal que recebem da família, principalmente em espaços privilegiados para o ensino de ciências, denominados Espaços Não Formais de aprendizagem. A escola nos dias de hoje tem apresentado uma educação formal que deu início no século passado, lamentavelmente, ainda é possível constatar que o ensino das crianças pequenas encontra-se arraigado ao uso exaustivo do giz de cera e dos desenhos sem representatividade nenhuma, livros didáticos e quadro branco, com textos fragmentados e desarticulados da aprendizagem que a criança realmente precisa (GAMBARINI; BASTOS, 2006) O tema surgiu a partir de um olhar diferenciado do que é ciência e de como fazê-la na educação infantil, pois a partir de anos de prática observou-se que os métodos utilizados permaneciam os mesmos durante anos e anos, apenas as crianças mudavam. A prática não surtia o efeito esperado, vendo sempre apatia e desmotivação nas aulas. Em Manaus existe uma quantidade significativa de lugares que podem ser usados para o desenvolvimento global das crianças por meio de experiências que contribuam para uma alfabetização ecológica. Estes locais já foram descritos por Rocha & Fachín-Terán (2010) e Maciel & Fachín-Terán (2014). As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEIs) (BRASIL, 2010) trazem a temática da alfabetização ecológica na descrição da 10ª experiência, onde se fala da promoção, interação, cuidado, preservação e o conhecimento da biodiversidade e sustentabilidade da vida na terra, assim como o não desperdício dos recursos naturais, que aliada a inclusão da Fauna Amazônica com seus elementos encantadores como: o som dos grilos, sapos, pássaros e mamíferos, proporcionará no mínimo a formação de conceitos básicos necessários a sua inserção num mundo sustentável. Nesta pesquisa tentamos estabelecer pontos de interlocução entre Alfabetização Ecológica e Educação Infantil como elementos a serem apresentados e mediados nos primeiros contatos com a escola. Alfabetização ecológica A questão ambiental tornou-se algo evidente e preocupante a partir da segunda metade do século XX, fazendo parte e construindo um grande apêndice nas agendas dos principais
3 países em crescimento industrial e consequentemente econômico (SANTOS; LEAL, 2010). Com este olhar Ramos et al (2014) salientam que este crescimento ao longo de anos desenvolveu uma sociedade extremamente consumista e degradadora sendo apontada pelos ecologistas como a grande culpada pela crise ambiental que vivemos. Muito se tem verificado da interferência do homem na natureza, com incontáveis práticas que a olhos nus nos privam e encaminham a vida sobre a Terra para um fosso sem fim. Em função desta grave crise ambiental, Daniel Orr e Fritjot Capra, iniciaram um movimento educacional composto por teóricos e especialistas em meio ambiente e educação, tendo como proposta desenvolver uma prática educativa em favor da sustentabilidade, a fim de conscientizar a geração jovem sobre como ter um relacionamento equilibrado com a natureza (SANTOS; LEAL, 2010, p. 21). Para compreendermos melhor o que é alfabetização ecológica utilizaremos o conceito de Capra (2006b, p. 231) sobre este assunto e que diz, significa entender os princípios de organização das comunidades ecológicas (ecossistemas). Entender como tudo funciona, isto é, entender as relações e como estas se interligam em prol de algo maior. Sendo mais preciso, é o estudo das relações que interligam todos os moradores desta grande casa que é o planeta Terra. Monteiro et al (2012) explica que a Alfabetização Ecológica vem como uma proposta que visa as necessidades humanas sem prejudicar as gerações futuras, tendo como ponto de partida a compreensão de princípios básicos que viabilizem uma vida sustentável na Terra. Porém não se deve transpor o ato processual do ensino e da aprendizagem da educação, uma vez que a ela cabe o papel de desenvolver a criticidade e analises do processo como um todo. Com este olhar, Capra (2006, p. 232) explana que deveríamos tomar como exemplos a vida nos ecossistemas, uma vez que estes vêem se organizando e reorganizando por mais de três bilhões de anos evolutivamente e de forma complexa e sutil. Com o ser humano deveria ser igual, evoluindo de forma sustentável e inteligível à maneira de lidar com todos os seres, respeitando e conhecendo o lugar de cada um e sua função, independente da interdependência que cada relação requer, denominando assim a teia da vida. Remetendo-nos a mais duas conceituações que ao seu entendimento passam a caminhar paralelamente, porem de forma dependente que é a ecologia rasa, que é centrada no antropocentrismo e a ecologia profunda, que busca uma visão mais relacional, onde
4 inclui a percepção de onde cada coisa ou ser se encaixa ou afeta o meio ambiente, colocando e alocando todos e tudo num único nível existencial. O autor defende que este seja o caminho para a sobrevivência da humanidade, pois será a partir dele que as futuras gerações poderão se constituir de forma sustentável. Segundo Maciel et al (2012), A Alfabetização Ecológica também pressupõe a compreensão de qual o lugar ocupado pelo ser humano na historia evolutiva da vida, alem da compreensão de que a saúde e o bem-estar, e no limite, a própria sobrevivência humana, dependem da convivência com e não contra a natureza. O fato de estar ligada intimamente com o meio ambiente esta ligada intrinsecamente com a evolução humana, desde o seu nascimento ate no simples ato de alimentar-se, seja pela caça seja pelo cultivo. Assim nos tornamos tão terra quanto à própria terra que nos compõe. Maturana (2001) nos coloca como parte dos sistemas vivos, onde temos uma estrutura determinada porem não admitimos instruções prontas, procurando deixar tais mudanças acontecerem de forma natural e relacional, aproveitando toda dinâmica que ocorre nos processos, percebemos ai a questão da interferência humana, a quebra do fluxo natural. Assim vemos na Alfabetização Ecológica um caminho mediador para uma educação equilibradora, onde homem e meio ambiente se entremeiam de forma natural, respeitando a sistemática de todo o processo da vida. Interlocução da alfabetização ecológica e o ensino de ciências na educação infantil O Ensino de Ciências media a Educação em Ciências como parte do currículo formal da Educação Básica (SANTOS; FACHÍN-TERAN, 2013, p. 96), que de acordo com as DCNEIs, publicadas e implantadas a partir de 2009, integram o currículo da Educação Infantil como conjunto de práticas que buscam articular as experiências e saberes da criança com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, cientifico e tecnológico (BRASIL, 2010, p.1), sendo esta vista de forma global e uniforme. Rosa (2001, p. 154) diz que, a criança, para construir conhecimentos, precisa agir, perguntar, ler o mundo, olhar imagens, criar relações, testar hipóteses, refletir sobre o que faz, de modo a reestruturar o pensamento. Com esse olhar, o professor, como mediador
5 principal, deverá buscar em várias fontes, experiências que contemplem a educação em ciências. E a partir desta concepção elencou-se dentre as 12 experiências pontuadas nas DCNEIs (BRASIL, 2010, p.4), das quais, as que contemplam o ensino de ciências são 4: I promovam o conhecimento de si e do mundo por meio da ampliação de experiências sensoriais, expressivas, corporais que possibilitem movimentação ampla, expressão da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da criança; II favorecem a imersão das crianças nas diferentes linguagens; VIII incentivem a curiosidade, a exploração, o encantamento, o questionamento, a indagação e o conhecimento das crianças em relação ao mundo físico e social, ao tempo e à natureza; X promovam a interação, o cuidado, a preservação e o conhecimento da biodiversidade e sustentabilidade da vida na terra, assim como o não desperdício dos recursos naturais. Estas experiências nos remetem a reafirmação de que a educação infantil assume e tem caráter sociopolítico e pedagógico apresentando no decorrer de sua fala pontos de ligação entre o educar e o cuidar, fazendo relação à 10ª experiência que explicita o cuidado, o conhecimento da biodiversidade e sustentabilidade da vida entre os preceitos da Alfabetização cientifica e ecológica (ROSA, 2001, p.25). Assim temos na criança desde muito cedo a construção de uma consciência ambiental responsável, onde o entendimento maior se dará através da desconstrução do que se tinha como senso comum, como relata Nunes (2005, p. 37), descobrir que aquilo que se chamava meio ambiente, natureza é um ecossistema, que é uma unidade viva, de extrema complexidade, constituída por inter-relações entre diversas espécies de vegetais e animais. Este contexto nos mostra que o mundo da criança cresceu e a sua compreensão do mundo também, pois, este é constituído de fenômenos naturais e sociais, e que pela interação e experiências vivenciadas aprendem. Estas chegam à escola com uma gama de conhecimentos que desde o seu nascimento vem sendo absorvidos e alicerçados no ambiente familiar. O conhecimento prévio não deve ser descartado e sim aproveitado de maneira que a criança utilize estes conhecimentos como algo a alicerçar uma próxima aprendizagem, como na aprendizagem significativa de Ausubel que usa estes conhecimentos como um degrau para uma aprendizagem sistemática dentro de uma padronagem cientifica.
6 Aproveitando-os em sua mais profunda essência como algo valido e não o encara como um obstáculo. A Alfabetização Ecológica quando iniciada nos primeiros anos de vida escolar, nos indicará a possibilidade de melhoria na forma como se aprende, conhece e compreende as várias facetas e desafios ao longo de nossa existência, passando do conhecimento informal para o conhecimento formal sistematizado. É o tomar consciência, é a reflexão sobre a ação, que na Educação Infantil auxilia no que buscamos quando tomamos como ponto de partida a Alfabetização Ecológica. Jacaúna (2012) diz que este é o primeiro contato que a criança tem com os conceitos relacionados ao meio ambiente, que de acordo com Capra (2006a, p, 14) é o período propicio ao despertar do amor e respeito pela natureza. Os temas sobre preservação e conservação dos recursos naturais há muito tempo vem sendo discutidas, assim como vem aumentando a lista de animais em extinção. Frente a esta situação é necessário refletimos sobre nossas crianças e a educação que recebem em sala de aula, entre quatro paredes e sem nenhum contato com a natureza. Segundo De Lima Ribeiro et al (2012, p. 6), As crianças nesse ambiente são privadas de conhecimento relacionados ao modo como acontecem as interações naturais. Elas têm uma ideia limitada da importância de animais que não estão no seu cotidiano, passam a ver a natureza como parte dissociada do ambiente social o qual elas estão integradas. Nesta perspectiva, vemos a alfabetização ecológica como um caminho para esta sensibilização e conhecimento da natureza, se identificando como parte integrante do meio e assim garantindo oportunidades de contato com o meio ambiente em diversos espaços e de forma interdisciplinar. Para Rocha (2008) existe a necessidade de se estreitar o contato com a natureza e assim trabalhar de forma mais significativa o mundo natural com as crianças. Considerações Finais Estudos com a educação infantil no Amazonas vêm se desenvolvendo cada vez mais e de forma bastante significativa. Estabelecendo novas perspectivas e olhares sobre a criança. Começam a vê-la não apenas como sujeitos críticos, mas como sujeitos ativos em uma sociedade, capazes de influenciar o crescimento ou o retardo de qualquer processo. Esta
7 quebra de paradigma em torno do ser criança fez com que a escola começasse a buscar novas conceituações que tanto atraísse como revelasse um novo caminho a ser seguido. O conhecimento elaborado ou por assim dizer construído pela criança é resultado de um apanhado geral de suas vivencias e experiências no decorrer de sua vida, este apreender de conceitos e conhecimentos se dá de forma sensível e instintiva, alocando e ajustando elementos que em meio a um ambiente propicio, seja físico, social ou cultural no qual está inserida, possa desenvolvê-los de forma eficaz e satisfatória, principalmente em relação aos saberes que necessitará para o resto de sua vida. Percebemos ai que este conhecimento não pode ser, dentro de todo o processo, apresentado de forma fragmentada ou dissociado dos elementos científicos que facilitarão seu conhecimento do mundo. Estes devem sim, buscar a compreensão de como esses ocorrem de forma a clarificar entendimentos que facilitarão sua vivencia. Referências BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil /Secretaria de Educação Básica. Brasília: MEC, SEB, CAPRA, F. Alfabetização ecológica: a educação das crianças para um mundo sustentável. Traduzido por Carmem Fisher. São Paulo: Cultrix, 2006a. Tradução de Ecological Literacy: Educating our children for a sustainable word. CAPRA, F. A Teia da vida: uma nova compreensão cientifica dos sistemas vivos. Traduzido por Newton Roberval Eichemberg. São Paulo: Cultrix, 2006b. DE LIMA RIBEIRO, C. D. et al. Educação Ambiental: Desvendando a concepção das crianças em relação aos anfíbios anuros. Revista Medicação. v.1, agosto dezembro de Disponível em: < Acesso em: 22 mar GAMBARINI, C.; BASTOS, F. A utilização do texto escrito por professores e alunos nas aulas de Ciências. In: NARDI, R., ALMEIDA, M. J. P. M. (Eds.). Analogias, leituras, modelos no Ensino de Ciência: a sala de aula em estudo. São Paulo: escrituras, 2006 p JACAÚNA, C. L. S. O tema água como incentivador na Alfabetização Ecológica dos alunos do 5º ano do Ensino Fundamental. Dissertação do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ensino de Ciências na Amazônia. Manaus, MACIEL, H. M.; FACHÍN-TERÁN, A. O Potencial Pedagógico dos Espaços Não Formais da Cidade de Manaus. Curitiba, PR: CRV, p. MATURANA, H. Ciência e a vida cotidiana. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2001.
8 NUNES, E. R. M. Alfabetização ecológica: um caminho para a sustentabilidade. Porto Alegre: Ed. Do Autor, RAMOS, C. E. O.; SILVA, E. F. G.; FACHÍN-TERÁN, A. O tema da Biodiversidade e a Educação em Ciências. Em: Ensino de ciências em espaços amazônicos. p , Curitiba, PR: CRV, ROCHA, S. C. B. A Escola e os espaços não-formais: possibilidades para o ensino de Ciências nos anos iniciais do Ensino fundamental. Dissertação de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências na Amazônia. Manaus: UEA, ROCHA, S. C. B; FACHÍN-TERÁN, A. O uso de espaços não-formais como estratégia para o Ensino de Ciências. Manaus: UEA Edições, p. ROSA, R. T. D. Ensino de Ciências e Educação infantil. In. CRAIDY, Carmen Maria; KAERCHER, Gládis Elise P. da Silva, Educação Infantil: Pra que te quero? Artmed: Porto Alegre, SANTOS, H. R. R.; LEAL, J. C. Educação para a Sustentabilidade: a proposta da Alfabetização Ecológica. Revista das Faculdades Adventistas da Bahia, v.3, n.1, SANTOS, S. C; S;; FACHIN-TERÁN, A. Motivadores em Educação em Ciências: um olhar para a Amazônia. In: BARBOSA, Ierecê et. al (org). Avanços e Desafios na Amazônia. Manaus: UEA- Escola Normal Superior /PPGEECA, TARGINO, M. G. Comunicação Cientifica: uma revisão de seus elementos básicos. Disponível em: < Acessado em: 23 abril 2015.
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