Adelina Castelo. Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Centro de Linguística da Universidade de Lisboa
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- Maria do Carmo Henriques
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1 Processos fonológicos e consciência linguística: estudo-piloto com alunos do 1º ano do Ensino Superior Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Centro de Linguística da Universidade de Lisboa XXV Encontro Nacional da APL FLUL, Out Trabalho elaborado no âmbito da bolsa SFRH/BD/36669/2007 e do projecto PTDC/LIN/68024/2006.
2 Literatura sobre consciência fonológica em LM Conceito e níveis de consciência linguística Diferentes esquemas para descrever os níveis e manifestações de consciência linguística (cf. Titone 1988, Gombert 1990, Karmiloff-Smith 1992, Sim-Sim 2006) Conhecimento ortográfico e consciência fonológica Evidências de que a ortografia pode interferir no desempenho em consciência fonológica (e.g. Treiman & Cassar 1997, Ventura et al. 2001, Veloso 2005)
3 Literatura sobre consciência fonológica em LM Consciência fonológica Dados sobre desempenho de adultos vs. pré-escolares, alunos em alfabetização e adultos não-alfabetizados (cf. Castles & Coltheart 2004) Pressuposto na literatura de que alunos alfabetizados dominam estas competências mas existência de contra-evidências (cf. Scarborough et al. 1998, Castelo 2008) Poucos estudos onde se manipule a influência de propriedades fonológicas na consciência segmental (cf. Alves, Castro e Correia 2009) Dados do PE apenas sobre percepção/consciência da acentuação (e.g. Delgado Martins 1983, Araújo 2004)
4 Objectivo Avaliar a consciência de segmentos não-consonânticos e de 3 processos fonológicos, em alunos do Ensino Superior que são falantes nativos do PE padrão.
5 Considerando os dados da literatura Hipótese 1 O desempenho em consciência segmental por parte dos informantes revela domínio da competência. Hipótese 2 Os níveis de desempenho em consciência segmental e em consciência dos processos fonológicos são influenciados pelo processo fonológico manipulado. Hipótese 3 O conhecimento ortográfico interfere no desempenho das tarefas de consciência fonológica usadas.
6 Informantes 10 estudantes do 1º ano do Ensino Superior (igual número de rapazes e de raparigas) média de 18,8 anos Falantes nativos do Português Europeu padrão Sem conhecimentos de Fonética ou Fonologia Sem problemas cognitivos, linguísticos, auditivos ou articulatórios que pudessem interferir no desempenho da tarefa
7 Tarefas e estímulos Tarefas 1. Desactivação de proc. fonológico originando palavra 2. Desactivação de processo fonológico originando pseudopalavra 3a. Identificação de contraste segmental na 1 ª sílaba e 3b. Recrutamento de conhecimento explícito para dar conta do contraste Processos fonológicos Nasalização (cf. Mateus & Andrade 2000) Nasalização Formato das palavras (6 palavras por condição) CV.CV Linda >> lida CV.CV Pombo >> pobo Elev. e recuo das V átonas CV. CV.CV (cf. Mateus & Andrade 2000) Jogada >> j[o]gada Nasalização CV.CV / CV.CV Lida / linda Elev. e recuo das V átonas CV.CV / CV. CV.CV Jogo / jogada Semivocalização de V1 (cf. Vigário 2003) CV. V.CV / CGV.CV Piada / p[j]ada
8 Procedimentos Aplicação individual da prova através do software E-Prime 2.0 Apresentação das instruções previamente gravadas Apresentação dos estímulos previamente gravados, numa ordem com alternância entre estímulos com diferentes propriedades linguísticas e igual para todos os informantes Gravação das respostas Duração média das tarefas 2,60 min na tarefa 1 (desactivação do processo originando palavra) 5,00 min na tarefa 2 (desactivação do processo originando pseudopalavra) 10,60 min na tarefa 3 (identificação do contraste segmental e recrutamento de conhecimento explícito para dar conta do contraste) (Duração máxima: 26 min)
9 Consciência segmental 3a. Identificação de contraste segmental na 1ª sílaba Número de respostas % respostas correctas correctas Nasalização 44/60 73% Elev. e recuo 40/60 67% das V átonas Semivocalização 14/60 23% de V1 Total 98/180 54% 23%-73% de respostas correctas >> nível intermédio de consciência segmental (nasalização elev.recuo de V átonas) semivocalização >> influência parcial dos processos fonológicos no desempenho 32% de respostas incorrectas consistem no nome das letras >> influência parcial do conhecimento ortográfico
10 Consciência dos processos fonológicos: tarefas 1 e 2 1. Desactivação de processo fonológico originando palavra 2. Desactivação de processo fonológico originando pseudopalavra Número de respostas correctas % respostas correctas Nasalização 59/60 98% Total 59/60 98% Nasalização 56/60 93% Elev. e recuo das 27/60 45% V átonas Total 83/120 69% Nasalização nas tarefas 1 e 2 sem diferenças significativas >> não influência do tipo de sequência (palavra ou pseudopalavra) no desempenho Elevada taxa de sucesso na nasalização (pistas ortográficas) 61% de respostas incorrectas em elevação e recuo das V átonas consistindo na substituição da vogal alta reduzida por uma vogal baixa ( nome da letra) >> interferência parcial do conhecimento ortográfico no desempenho
11 Consciência dos processos fonológicos: tarefa 3b 3b. Recrutamento de conhecimento explícito para dar conta do contraste segmental Média (em %) Nasalização (N=60) 5% Elev. e recuo das V átonas (N=60) 11% Semivocalização de V1 (N=60) 11% Total 9% 5%-11% de respostas correctas >> nível muito baixo de consciência dos processos (vs. segmental) (elev.recuo de V átonas semivocalização) nasalização >> abordagem escolar de alguns conteúdos relacionados com a elevação (acentuação ) e com a semivocalização (ditongos ) >> pior resultado com nasalização eventualmente devido a uma interferência do conhecimento ortográfico
12 Consciência dos processos fonológicos: análise qualitativa das respostas dadas NASALIZAÇÃO Asp. fonol. relevante 6% Asp. fonol. irrelevante 5% Resposta omitida 30% Semântica 3% Identidade da palavra 2% Ortografia 54%
13 Consciência dos processos fonológicos: análise qualitativa das respostas dadas ELEVAÇÃO E RECUO DAS V ÁTONAS Asp. fonol. relevante 11% Resposta omitida 43% Asp. fonol. parcial/ relevante 23% Ortografia 5% Asp. fonol. irrelevante 18%
14 Consciência dos processos fonológicos: análise qualitativa das respostas dadas SEMIVOCALIZAÇÃO DE V1 Resposta omitida 61% Asp. fonol. relevante 20% Asp. fonol. irrelevante 3% Identidade da palavra 11% Ortografia 5%
15 Consciência dos processos fonológicos: análise qualitativa das respostas dadas 3 PROCESSOS 54% (nas.), 5% (elev., semiv.) de referências à ortografia >> influência do conhecimento ortográfico, sobretudo quando constitui uma pista para contrastar as palavras O tipo de respostas incorrectas mais frequentes varia em função do processo: -nasalização: 54% de referências à ortografia; -elevação e recuo das V átonas: 43% de respostas omitidas e 23% de referências a aspectos parcialmente relevantes; -semivocalização: 61% de respostas omitidas e 11% de referências à identidade da palavra. >> influência do processo fonológico no desempenho
16 Hipótese 1 O desempenho em consciência segmental por parte dos informantes revela domínio da competência. Hipótese infirmada (cf. Scarborough et al. 1998, Castelo 2008) Nível de sucesso entre os 23% e os 73% na tarefa 3a >> conclusão do processo de alfabetização não implica que consciência segmental do aluno esteja totalmente instalada Desempenho na consciência segmental muito superior ao exibido no recrutamento de conhecimento explícito para dar conta do contraste segmental (5%-11%) >> evidência para níveis diferentes de consciência fonológica
17 Hipótese 2 Os níveis de desempenho em consciência segmental e em consciência dos processos fonológicos são influenciados pelo processo fonológico manipulado. Hipótese parcialmente confirmada Influência do processo fonológico: -no nível de sucesso na tarefa 3a (semivocalização restantes); -em parte das diferenças entre elevação das V átonas e semivocalização na tarefa 3b. Interferência do conhecimento ortográfico: -diferenças significativas entre nasalização e restante(s) processos nas tarefas 2 e 3b >> pistas ortográficas associadas à nasalização >> maior facilidade em substituir vogal nasal por oral (tarefa 2) >> maior dificuldade em dar conta das propriedades da nasalização (tarefa 3b)
18 Hipótese 3 O conhecimento ortográfico interfere no desempenho das tarefas de consciência fonológica usadas. Hipótese confirmada Indícios: -pistas ortográficas associadas à nasalização >> sucesso quase total nas tarefas 1 e 2; -pistas ortográficas associadas à nasalização >> maior número de referências à ortografia na tarefa 3b; -substituição da vogal reduzida pela vogal baixa >> grande parte do insucesso em desactivar o processo de elevação e recuo das V átonas na tarefa 2; -62% de respostas incorrectas consistindo em nomeação das letras na tarefa 3a. Meio usado para resolver as tarefas de consciência fonológica = representação ortográfica (e não representação fonológica)?
19 Obrigada pela atenção!
20 Referências bibliográficas Alves, Dina, Ana Castro & Susana Correia (2009). Consciência fonológica instrumentos para a intervenção clínica e pedagógica dados sobre habilidades de consciência segmental, intrassilábica e silábica. Comunicação apresentada no XXV Encontro Nacional da APL. Araújo, Isabel (2004). A Percepção do Acento em Português: Descrição, Implicações e Aplicações para o Ensino do Português como Língua Materna. Tese de Mestrado, FLUL. Castelo, Adelina (2008). Níveis de consciência fonológica em estudantes do Ensino Superior: um estudo-piloto. In Ana Lúcia Santos e Sónia Frota (orgs.), Actas do XXIII Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística. Lisboa: APL, pp Castles, Anne & Max Coltheart (2003). Is there a causal link from phono-logical awareness to success in learning to read? Cognition, 91, Delgado Martins, Maria Raquel (1983). Sept études sur la perception. Accent et intonation du portugais. Lisboa: Laboratório de Fonética da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Gombert, Jean-Emile (1990). Le développement métalinguistique. Paris: PUF. Karmiloff-Smith, Annette (1992). The Child as a Linguist. In Beyond Modularity. A developmental perspective on Cognitive Science. Cambridge / London: MIT Press, Mateus, Maria Helena & Ernesto Andrade (2000). The Phonology of Portuguese. Oxford: OUP. Scarborough, Hollis, Linnea Ehri, Richard Olson & Anne Fowler (1998). The fate of phonemic awareness beyond the elementary school years. Scientific Studies of Reading, 2, Sim-Sim, Inês (2006). Ler e Ensinar a Ler. Porto: Asa. Titone, Renzo (1988). A crucial psycholinguistic prerequisite to reading: Children s metalinguitic awareness. Revista Portuguesa de Educação, nº1(1), Treiman, Rebecca & Marie Cassar (1997). Can children and adults focus on sound as opposed to spelling in a phoneme counting task? Developmental Psychology, 33, Veloso, João (2005). Orthographic knowledge, the visual identity effect and phonemic transcription. Preliminary results from a study with Portuguese subjects. Cadernos do CLUP, Nr. 10. Available at Ventura, Paulo, Régine Kolinsky, Carlos Brito-Mendes & José Morais (2001). Mental representations of the syllable internal structure are influenced by orthography. Language and cognitive processes, 16 (4), Vigário, Marina (2003). The Prosodic Word in European Portuguese. Berlim, Nova Iorque: Mouton de Gruyter.
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