Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 3567

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1 Ocorrência de plantas daninhas em alface americana cultivada no verão em diferentes manejos de coberturas Andréia C S Hirata 1 ; Edson K Hirata 2 ; Eloá C Gimarães 3 ; Rafaela M Barrionuevo 3 ; Luis FV Purquerio 4 1 APTA Regional Alta Sorocabana. Caixa Postal 298, Presidente Prudente SP, andreiacs@apta.sp.gov.br, 2 Mestrando Unoeste Universidade do Oeste Paulista, Presidente Prudente SP, 3 Unoeste, bolsista iniciação científica FAPESP, 4 APTA-IAC, Centro de Horticultura, C. Postal 28, Campinas - SP RESUMO No cultivo de hortaliças as práticas culturais são convencionais, facilitando a ocorrência de elevadas populações de plantas daninhas. Manejos como a utilização de plantas de cobertura do solo devem promover o controle destas plantas com mais sustentabilidade. Foi instalado um experimento em parcelas subdivididas, sendo avaliados dois manejos de plantio (1- direto no solo ou 2- canteiro) e cinco coberturas do solo (1- milheto dessecado aos 28 dias após a emergência DAE; 2- milheto dessecado aos 42 DAE; 3- milheto dessecado aos 56 DAE; 4 - milheto dessecado aos 70 DAE; 5- sem milheto, com vegetação espontânea dessecada aos 70 DAE. Foram avaliadas a densidade e massa seca das plantas daninhas na colheita da alface, assim como a palha obtida pelos manejos. O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso, com quatro repetições. Os resultados deste trabalho mostraram que a palha do milheto exerceu elevado controle das plantas daninhas, todavia, a utilização de palha de plantas daninhas promoveu incremento da infestação. As maiores quantidades de palha foram obtidas pelos tratamentos com milheto dessecado aos 70 e 56 DAE. PALAVRAS-CHAVE: Lactuca sativa, palha, manejo do solo. ABSTRACT Weeds occurrence on summer lettuce grown under different cover managements The cultural practices in horticulture are conventional, facilitating the occurrence of high weed populations. Managements as the use of ground cover plants should promote the control of these plants with more sustainability. The experiment was performed in a split plot, being evaluated two management of planting (in beds or directly on the ground) and five soil covers (1 pearl millet desiccated at 28 days after emergence DAE; 2 pearl millet desiccated at 42 DAE; 3 - pearl millet desiccated at 56 DAE; 4 - pearl millet desiccated at 70 DAE; 5 - spontaneous vegetation desiccated at 70 DAE. It was evaluated the density and weed dry matter at harvest of lettuce, as well as straw achieved by managements. The experimental design was randomized blocks with four replications. The results showed that the straw of pearl millet presented high weed control, however, the use of straw promoted increased of weed infestation. The highest amounts of straw were obtained by treatments with pearl millet desiccated at 70 and 56 DAE. Keywords: Lactuca sativa, straw, soil management. A busca por sustentabilidade dos recursos naturais nos sistemas de produção em olericultura tem norteado pesquisas relacionadas ao plantio direto de hortaliças em palha de coberturas vegetais. A convivência com as plantas daninhas pode comprometer a produção da alface, tanto quantitativa como qualitativamente (Shrefler et al., 1996; Silva et al., 1999). Além disso, para o seu controle, são necessários dispêndios significativos de mão de obra o que aumenta o custo de produção. Uma opção de manejo de plantas daninhas são as plantas de cobertura do solo. Essas culturas são geralmente muito competitivas com as plantas daninhas. O objetivo principal dessas coberturas é a Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 3567

2 melhoria das propriedades físicas e químicas do solo; entretanto, muitas dessas plantas possuem grande poder inibitório sobre determinadas plantas daninhas, mesmo após o corte e formação de uma cobertura morta sobre o solo. Trabalhos mostram que o controle de plantas daninhas pela cobertura vegetal pode ocorrer tanto pelo efeito físico como pelos efeitos alelopáticos e biológicos (Theisen et al., 2000; Favero et al., 2001; Pitelli & Pitelli, 2004). A cobertura morta reduz as chances de sobrevivência das plântulas das espécies com pequena quantidade de reservas nos diásporos. Muitas vezes, as reservas não são suficientes para garantir a sobrevivência da plântula no espaço percorrido através da cobertura morta até que tenha acesso à luz e inicie o processo fotossintético. Quanto aos efeitos biológicos, a deposição de resíduos orgânicos sobre o solo, e o conseqüente aumento do teor de matéria orgânica do solo, associado a uma menor vulnerabilidade dos microrganismos neste sistema, cria condições para instalação de uma densa e diversificada microbiocenose na camada superficial do solo. Na composição específica desta microbiocenose há uma grande quantidade de organismos que podem utilizar sementes e plântulas de plantas daninhas como fontes de energia. De maneira geral, os microrganismos exercem importantes funções na deterioração e perda de viabilidade dos diversos tipos de propágulos no solo (Pitelli & Durigan, 2001). O objetivo deste trabalho foi avaliar a ocorrência de plantas daninhas na cultura da alface americana cultivada no verão em palha de milheto dessecado em diferentes épocas com e sem canteiro. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi instalado no município de Álvares Machado-SP, em área tradicionalmente cultivada com hortaliças, a campo aberto. Os tratamentos foram dispostos em esquema de parcelas subdivididas, sendo o fator da parcela principal, os manejos de plantio (com ou sem canteiro) e o das subparcelas, as coberturas do solo (1- milheto dessecado aos 28 dias após a emergência DAE; 2- milheto dessecado aos 42 DAE; 3- milheto dessecado aos 56 DAE; 4 - milheto dessecado aos 70 DAE; 5- com vegetação espontânea dessecada aos 70 DAE. O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso, com quatro repetições. A cultivar de alface americana utilizada foi a Lucy Brown. A adubação de plantio foi com Yorin a 150 g m -2 de canteiro e 220 g m -2 da formulação 04:14:08. Foi utilizada fertirrigação por gotejamento, com 35 g m -2 de canteiro de uréia e de cloreto de potássio. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 3568

3 O milheto foi semeado a lanço, na densidade de 25 kg ha -1, sendo as sementes incorporadas com rastelo superficialmente nos canteiros. O milheto foi dessecado com glyphosate (1.440 g i.a. ha -1 ), aos 14 dias antes do transplante da alface. Foi aplicado paraquat (600 g i.a ha -1 ) um dia antes do transplante da alface, visando o controle das plantas daninhas emergidas neste período de 14 dias (entre a dessecação e o transplante). Nas parcelas onde o milheto foi semeado tardiamente, as unidades experimentais foram mantidas sem plantas daninhas. No tratamento com vegetação espontânea, estas cresceram por 70 DAE, sendo dessecadas. A dimensão das parcelas foi de 2,1m de comprimento por 1,2 m de largura. O espaçamento das plantas de alface foi de 30 x 30 cm. A unidade experimental totalizou 28 plantas, sendo que a área útil para a avaliação das plantas daninhas foi a área das duas linhas centrais de alface. Após a colheita da alface (28 dias após o transplantio) foi determinada a quantidade de palha e plantas daninhas nos canteiros por meio de um quadro de amostragem de 0,25m 2. As plantas daninhas foram identificadas, contadas e determinada a massa seca. Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para a densidade de plantas daninhas na colheita da alface foi observada interação entre manejos de palha e do solo (com ou sem canteiro) (Tabela 1). A utilização de palha de plantas daninhas promoveu elevada infestação. Isso ocorreu devido a alta produção de sementes pelas plantas daninhas por ocasião da dessecação. Não houve diferença entre os manejos com ou sem canteiro para a palha produzida nos tratamentos com milheto, todavia para a palha de plantas daninhas, houve maior densidade no tratamento sem canteiro. Em relação à massa seca de plantas daninhas e palha produzida pelos diferentes manejos, avaliadas na colheita da alface (Tabela 2), não houve interação entre os manejos do milheto e do solo (com ou sem canteiro). Houve elevada produção de palha no tratamento com milheto dessecado aos 70 dias após a emergência DAE (20,6 t ha -1 ), a qual diferiu significativamente da palha obtida nos demais tratamentos. A palha do milheto dessecado aos 56 DAE também foi elevada (12,3 t ha -1 ), todavia foi reduzida nos tratamentos dessecados aos 42 e 28 DAE, os quais não diferiram entre si e com o tratamento com palha da comunidade infestante. Quanto à massa seca de plantas daninhas foi observado maior acúmulo nos tratamentos com menor quantidade de palha. A palha do milheto proveniente da dessecação realizada aos 70, 56 e 42 DAE não diferiram entre si e exerceram Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 3569

4 elevado controle das plantas daninhas. O tratamento com palha de plantas daninhas promoveu maior acúmulo de massa seca das plantas infestantes diferindo de todos os demais tratamentos. Na Tabela 3 é apresentada a comunidade infestante da área experimental. Foram identificadas as espécies Amaranthus sp., Cenchrus echinatus, Chamaesyce hirta, Commelina benghalensis, Cyperus sp., Desmodium tortuosum, Digitaria horizontalis, Euphorbia heterophylla, Physalis angulata e Portulaca oleracea. No manejo sem canteiro ocorreu menor número de espécies em relação ao manejo com canteiro. No tratamento com plantas daninhas predominou a espécie D. horizontalis. Nos tratamentos com elevada quantidade de palha foi verificada a emergência de poucas plantas, todavia, todas da espécie C. benghalensis. Nos tratamentos com menor quantidade de palha, a espécie P. oleracea predominou. Os resultados deste trabalho mostraram que a palha de milheto exerce excelente controle das plantas daninhas na cultura da alface, todavia, a palha de plantas daninhas pode promover incremento da infestação na área. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem o apoio financeiro da FAPESP REFERÊNCIAS FAVERO C; JUCKSCH I; COSTA LM; CASALI VWD Plantas espontâneas e leguminosas introduzidas: adubação verde e interações entre populações. Revista Ceres 48: PITELLI RA; DURIGAN JC Ecologia das plantas daninhas no sistema plantio direto. In: ROSSELLO, R. D. Siembra directa en el cono sur. Montevideo: PROCISUR, p PITELLI RA; PITELLI RLCM Biología e ecofisiologia das plantas daninhas. In: Vargas, L.; Romam, E.S (Eds.) Manual de manejo e controle de plantas daninhas. Bento Gonçalves, RS: EMBRAPA Uva e Vinho, p SHREFLER JW; STALL WM; DUSKY JA Spiny amaranth (Amaranthus spinosus L.), a serious competitor to crisphead lettuce (Lactuca sativa L.). HortScience 31: SILVA AC; SANTOS HS; SCAPIM CA; CONSTANTIN J Efeitos de períodos de controle e convivência de plantas daninhas na cultura da alface. Acta Scientiarum 21: THEISEN G; VIDAL RA; FLECK NG Redução da infestação de Brachiaria plantaginea em soja pela cobertura do solo com palha de aveia preta. Pesquisa Agropecuária Brasileira 35: Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 3570

5 Tabela 1. Densidade de plantas daninhas na colheita de alface americana cultivada em diferentes manejos de palha de milheto. Coberturas do solo Com canteiro Manejo do solo Sem canteiro Densidade de plantas daninhas (plantas m -2 ) Palha de milheto dessecado 70 DAE 2,8 Ba 5,5 Ba Palha de milheto dessecado 56 DAE 0,0 Ba 2,8 Ba Palha de milheto dessecado 42 DAE 25,0 ABa 30,5 Ba Palha de milheto dessecado 28 DAE 36,1 ABa 47,2 Ba Palha de Plantas daninhas dessecadas aos 70 DAE 116,6 Ab 247,2 Aa Médias seguidas de letras iguais maiúsculas na coluna e minúsculas na linha não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade Tabela 2. Massa seca de plantas daninhas e palha de milheto na colheita de alface americana cultivada em diferentes manejos de palha de milheto. Coberturas do solo Palha Massa seca de plantas daninhas (t ha -1 ) (g m -2 ) Palha de milheto dessecado 70 DAE 20,6 A 4,86 C Palha de milheto dessecado 56 DAE 12,3 B 0,41 C Palha de milheto dessecado 42 DAE 5,8 C 71,26 CB Palha de milheto dessecado 28 DAE 2,25 C 206,35 B Palha de Plantas daninhas dessecadas aos 70 DAE 2,06 C 353,57 A Médias seguidas de letras iguais na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 3571

6 Tabela 3. Espécies de plantas infestantes na colheita de alface americana cultivada em diferentes manejos de palha de milheto (T1 dessecado aos 70 dias após a emergência DAE; T2 dessecado aos 56 DAE; T3 dessecado aos 42 DAE; T4 = dessecado aos 28 DAE). Plantas infestantes PD T1 T2 T3 T4 Com canteiro plantas m -2 Amaranthus sp ,3 Cenchrus echinatus 41, Chamaesyce hirta ,8 - Commelina benghalensis - 2, ,5 Cyperus sp ,5 - Desmodium tortuosum 8, Digitaria horizontalis 61, ,8 2,8 Euphorbia heterophylla 2, Physalis angulata ,5 Portulaca oleracea 2, ,9 13,9 PD T1 T2 T3 T4 Sem canteiro plantas m -2 Cenchrus echinatus 19, ,7 11,1 Chamaesyce hirta ,8 Commelina benghalensis - 5,5 2,8 - - Digitaria horizontalis 211, ,8 8,3 Euphorbia heterophylla 16, Portulaca oleracea ,1 25,0 Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 3572