UM BREVE OLHAR SOBRE O

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1 Um Breve Olhar Sobre o Design Brasileiro UM BREVE OLHAR SOBRE O DESIGN BRASI LEIR O Nem o mais competente dicionário consegue descrever toda a amplitude e alcance da palavra design. De fato é quase impossível abarcar o sentido e complexidade desta palavra. Descrever a abrangência, o valor cultural e emocional, o valor econômico e social, o inter-relacionamento com outras áreas, propostos pela simples palavra design, é uma tarefa árdua. O alcance desta palavra está no nosso dia-a-dia, nas casas, nas ruas e avenidas, nos transportes, no escritório, no nosso lazer e descanso, na publicidade, na TV, nos jornais e revistas, enfim, em absolutamente tudo que nos cerca. No Brasil, o advento e valorização do design são, relativamente, novos. Sua aceitação e força datam dos anos 80. O seu início tímido, foi no final dos anos 40 e começou a ganhar reconhecimento, de fato, nos anos 60, com a consciência da necessidade de o Brasil criar seu próprio design, assentado em nossas raízes culturais e em nossa história. De fato é importante reconhecer em nosso artesanato, tão peculiar, especial e representativo de nossa cultura, um gérmen do que se poderia chamar de pré-design, dado o alto grau de inventividade e qualidade de reproduções, que levou Aloísio Magalhães a afirmar: 24 REVISTA DA ESPM JULHO/ AGOSTO DE 2005

2 Leal Relicário Brasil, de Inês Saragoza, para a Almap/BBDO. Fotos da matéria : Livro Um Olhar Sobre o Desing Brasileiro Joice Joppert alcance desta palavra está no nosso dia-a-dia, nas casas, nas ruas e avenidas, nos Otransportes, no escritório, no nosso lazer e descanso, na publicidade, na TV, nos jornais e revistas, enfim, em absolutamente tudo que nos cerca. J U L H O / A G O S T O D E 2005 REVISTA DA ESPM 25

3 Um Breve Olhar Sobre o Design Brasileiro Pingente coleção Mistérios da Terra, de Miriam Mamber... DENTRO DOS PADRÕES ORTODOXOS, DIRIA QUE NÃO EXISTE ARTESANATO NO BRASIL: O QUE EXISTE É UMA DISPONIBILIDADE IMENSA PARA O FAZER. Ainda sobre o artesanato e sua riqueza, Aloísio Magalhães complementa:... TALVEZ SEJA PRECISO DIZER QUE NÃO EXISTINDO TRADIÇÕES PROFUNDAS, NEM CRISTALIZAÇÕES NO TRATO DA MATÉRIA-PRIMA QUE CONSTITUIRIAM CARACTE- RÍSTICAS DO ARTESANATO CLÁSSICO O QUE DEVEMOS FAZER NO BRASIL É OBSERVAR ESSA DISPOSIÇÃO, ESSA PRESENÇA DE UM ÍNDICE MUITO ALTO DE INVENÇÃO, NA BUSCA DE PECULIARIDADES A SEREM ESTIMULADAS, CRIANDO-SE, ASSIM, CONDIÇÕES PARA QUE O PROCESSO SE DESENVOLVA COM HARMONIA. Essa estimulação, digamos assim, não poderia acontecer se não houvesse a criação de escolas de design, que, como veremos a seguir, se iniciaram de fato, em harmonia com o Brasil moderno, com a sua marca e a sua capacidade criativa. Mas as escolas de design devem propor, cada vez mais, um ensino inovador que estimule a criatividade e conscientize o estudante quanto à sua responsabilidade frente ao meio ambiente e à sociedade. As primeiras escolas de design no país surgiram nos anos 60, após as visitas de nomes como Max Bill, Tomaso Maldonado, Oil Atcher, Misha Black, Andrés Van Onck, Victorio Gregotti e Umberto Ecco, que fizeram com que se articulassem os primeiros cursos de Desenho Industrial em 1962 na FAU-USP, na seqüência da disciplina de Comunicação Visual e Design, e em 1963, com a criação da ESDI-Escola Superior de Desenho Industrial no Rio de Janeiro, de fato, a primeira escola, especificamente de design no Brasil. Nos anos 70 houve, claramente, uma consolidação do design em nosso país, graças a exposições, envolvimento das esferas governamentais, publicação de livros, e ações que buscavam envolver instituições federais e estaduais, na formulação de programas oficiais que vincularam essas instituições a projetos e pes- quisas em desenho industrial. Mas um trabalho contínuo de valorização, estudo, pesquisa, debate e visita de grandes nomes do design mundial, a partir dos anos 80, foi desenvolvido pelo NDI- FIESP que buscava institucionalizar a consciência do valor do design dentro da própria indústria. O NDI, capitaneado por José Mindlin, Dílson Funaro e Luis D. Villares, do qual eu, Joice Joppert Leal, era diretora executiva, realizou um extenso trabalho de difusão do Desenho Industrial entre os empresários de São Paulo e de outras cidades e estados. Dos anos 90 em diante, e se nota até os dias de hoje, a palavra design se reflete na consciência da socie- Cadeira de balanço de Ana Maria e Oscar Niemeyer, REVISTA DA ESPM JULHO/ AGOSTO DE 2005

4 Joice Joppert Leal é uma atividade Design multidisciplinar complexa que une economia, cultura e arte. dade e reverbera, ganhando poder e respeito. Existe já a compreensão do valor do design e de sua força, gerando a noção de que ele agrega valor aos produtos e é poder econômico na disputa de mercados internacionais. O design vende nas gôndolas dos supermercados, tanto com embalagens quanto com a própria beleza e funcionalidade dos produtos; ele vende também nas páginas de revistas onde o design gráfico se faz presente. Hoje o design é valorizado em todas as suas manifestações. Existe agora a consciência das lideranças empresariais brasileiras de que o design é, também, com- ponente da alma do negócio, é a essência de um produto e de uma comunicação consistentes. J U L H O / O valor técnico e comercial e o valor sentimental e histórico da aplicação do design são reconhecidos na be- A G O S T O D E 2005 REVISTA DA ESPM 27

5 Um Breve Olhar Sobre o Design Brasileiro escolas demonstram um comprometimento profundo, além das constantes reflexões sociais, históricas e tecnológicas, que emanam dessa arrancada do design brasileiro em busca do futuro. Hoje o Brasil já se reflete no seu design e é reconhecido pelo mundo inteiro pela sua qualidade, inventividade e criatividade. leza, na funcionalidade, na estética e prazer pelas coisas simples, que são elementos que o design tem intrínsecos ao seu pensamento e à sua prática. Enfim, o design é uma atividade multidisciplinar complexa que une economia, cultura e arte. Hoje o Brasil já se reflete no seu design e é reconhecido pelo mundo inteiro pela sua qualidade, inventividade e criatividade. Nosso design valoriza nossas raízes culturais, nossa arte e alma, que aparecem desde sempre no nosso diversificado artesanato, mostrando nossa engenhosidade e capacidade de criação, que se transformou em uma fonte de inspiração e num diferencial de mercado. Hoje a consciência do valor do design, da necessidade e importância de investimentos, e de que o design aliado à tecnologia resulta em qualidade que agregam valor a produtos e serviços, está introjetada em todas as esferas do país e no povo. Existe também a compreensão de que o design promove nossa identidade nacional e é fator de reconhecimento mundial. O design brasileiro comparado com outros países tem uma trajetória recente, mas já conseguiu resultados surpreendentes, incorporando a imagem positiva do país aos produtos, trazendo à tona nossa qualidade e identidade cultural. Enfim o Brasil tem hoje um design personalizado à altura dos melhores centros internacionais, e caminha a passos largos para valorizar e ampliar a aplicação do design como mais um atributo da capacidade nacional. Caminhamos para a maturidade, com um design criativo próprio, que cada vez mais conquista o Brasil e o mundo, e nossas mostras, concursos, pesquisas, produtos e O interesse e a aceitação do ensino de design podem ser avaliados quando verificamos que, nos anos 60 tínhamos, somente, seis escolas e hoje já se somam mais de 180. Revestese da maior importância, na área do ensino, que uma entidade da qualidade e reconhecimento da ESPM Escola Superior de Propaganda e Marketing a mais importante escola de comunicação do Brasil, tenha criado o curso de Design aplicado ao Marketing. É um Espreguiçadeira, projeto de Zanini de Zanini e Marcio Lewkowicz 28 REVISTA DA ESPM JULHO/ AGOSTO DE 2005

6 Joice Joppert Leal Uma iniciativa que denota pioneirismo ao fazer um curso de Design focado nas necessidades e tendências das empresas e do mercado como um todo. BIBLIOGRAFIA Bolsa Bandeira de Gilson Martins. Matéria MANOEL MÜLLER Propaganda e Marketing, 23 de maio de Livro Um Olhar Sobre o Design Brasileiro, coedição Objeto Brasil e Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. passo importante este, que vem reafirmar a demanda e a importância do design nas suas mais variadas formas. Uma iniciativa que denota pioneirismo ao fazer um curso de Design focado nas necessidades e tendências das empresas e do mercado como um todo. A consciência do poder e da força do design como elemento atuante na transformação e valorização da marca Brasil e da qualidade de vida está sendo cada vez mais compreendida. Devido a isso, a preocupação com o ensino é primordial para enriquecer a discussão sobre o valor e importância do design, propiciando novas visões sobre o papel do designer na sociedade e suas imensas responsabilidades. ESPM Brincos de Marco Dualibi Catálogo da Exposição Tradição e Ruptura, coedição Fiesp e Fundação Bienal. AUTORA JOICE JOPPERT LEAL Diretora Executiva do Objeto Brasil, tendo realizado várias exposições do Design Brasileiro no Brasil e no exterior. JULHO/ AGOSTO DE 2005 REVISTA DA ESPM 29