DESVELANDO O CONHECIMENTO DAS GESTANTES PRIMIGESTAS SOBRE O PROCESSO GESTACIONAL
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- Sarah Valverde Mascarenhas
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1 DESVELANDO O CONHECIMENTO DAS GESTANTES PRIMIGESTAS SOBRE O PROCESSO GESTACIONAL RESUMO Jéssica Pricila Zanon 1 Marlei Fátima Cezarotto Fiewski 2 Os cuidados profissionais têm reduzido a morbimortalidade materna e neonatal, ao mesmo tempo, observou-se expropriação do poder da mulher de compreender a gravidez. O objetivo deste estudo foi desvelar o conhecimento das gestantes primigestas sobre o processo gestacional. O estudo foi descritivo, por meio da pesquisa de campo, entrevista semi-estruturada e análise qualitativa. A população foi composta por sete gestantes primigestas. Sobre conhecimento da gestação e os cuidados para esta fase, observou-se que as mulheres desconhecem as transformações fisiológicas normais da gravidez, vivenciando-as com ansiedade e medo. As mudanças de maior relevância são aquelas que provocam desconfortos físicos e de comportamento, com sentimentos aguçados, como os de irritação e maior sensibilidade. A abordagem sobre os cuidados durante a gestação evidenciou que existe grande dependência da gestante pelo profissional de saúde. Devido ao pouco conhecimento sobre gravidez e a falta de vínculo entre a equipe de saúde e as gestantes, estas se submetem a variados exames, aos quais desconhecem o motivo, demonstrando serem incapazes de questionar condutas omissas do profissional. Ficou evidente a representação social da gravidez como doença, e que enquanto os profissionais de saúde a tratarem como tal e as mulheres não questionarem será mais difícil adequar o atendimento. Palavras Chaves: Conhecimento, gestação, cuidados. INTRODUÇÃO Por longo período, o parto e a gestação foram encarados como eventos naturais, e ajudar no ato de partejar foi atividade exclusiva das mulheres. A partir do século XVIII, a parturição tornou-se prática de interesse médico e intitulada como obstetrícia. Porém, a nova ciência deparou-se com grande resistência, uma vez que as mulheres preferiam a companhia das parteiras por razões humanitárias e devido ao tabu de expor a intimidade (BRENES, 1991). 1 Enfermeira, pela Universidade Estadual de Londrina. Atuando na Unidade de Saúde Maria Luíza Soares Palotina/PR. R. Orlando Silva, 187 Bairro União. Palotina/PR Fone: (44) jessi_pz@yahoo.com.br 2 Professora Mestre do curso de Enfermagem da Universidade Estadual do Oeste do Paraná Unioeste. 1
2 Diante da resistência feminina à figura do obstetra, a classe médica criou discursos esboçando nova configuração para mulher, fazendo dela ser frágil, a quem somente os médicos poderiam orientar. Segundo Vieira (2002) o desenvolvimento da prática obstétrica como disciplina médica permitiu o deslocamento do conhecimento sobre o corpo feminino das mãos das mulheres para as dos médicos. Com o desenvolvimento da tecnologia na obstetrícia, somada a melhora das condições de vida das pessoas houve redução da morbimortalidade materno infantil (FAÚNDEZ; CECATTI, 1991). Ao mesmo tempo, este processo contribuiu para a desvalorização da mulher, impelindo o direito de ser sujeito principal da gestação, parto, puerpério e nos cuidados do recém-nascido (ZAMPIERI; SANTOS, 2001). OBJETIVOS Objetivo geral Desvelar o conhecimento da gestante sobre o processo gestacional e os cuidados essenciais desta fase Objetivos específicos Analisar o conhecimento das gestantes sobre o processo gestacional. Verificar se a gestante reconhece as mudanças fisiológicas e emocionais ocorridas em seu corpo durante a gestação. Observar se a mulher conhece os cuidados necessários durante a gestação, para promover sua saúde e da criança. METODOLOGIA Trata-se de um estudo de caráter descritivo, na linha qualitativa, que busca saber do conhecimento das gestantes primigestas sobre o processo gestacional e os cuidados 2
3 importantes para esta fase. O estudo foi realizado na Unidade de Saúde 24 horas de Marechal Cândido Rondon. Foram critérios estabelecidos para participação deste estudo: ser primigesta (primeira gestação), ter mais de 18 anos e estar realizando consulta de pré-natal na Unidade de Saúde 24 Horas. As entrevistas foram realizadas até que houvesse convergência de dados entre as falas, ou seja, foi composta de amostragem por saturação, definida por Fontanella et al. (2008, p. 17), como a suspensão de inclusão de novos participantes quando os dados obtidos passam a apresentar, certa redundância ou repetição. O roteiro que orientou a entrevista possui três tópicos, sendo o primeiro, registro de dados pessoais, o segundo composto por dados obstétricos, e o terceiro, apresentando a pergunta da pesquisa e as questões norteadoras. Para a realização da coleta de dados, a gestante foi informada sobre os objetivos do trabalho e de que entrevista seria gravada, sendo assegurada de que suas informações pessoais serão mantidas em sigilo. Solicitou-se a assinatura do termo de consentimento esclarecido. Os trechos das entrevistas foram agrupados por categorias em consonância com o instrumento de entrevista utilizado na pesquisa de campo. Após este momento, foram descorridas as falas de maior freqüência e relevância entre as entrevistas, comentadas e fundamentadas pelo autor. Os aspectos éticos e legais foram devidamente respeitados, seguindo os preceitos divulgados pela resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde CNS (BRASIL, 1996). Este estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa CEP, as Universidade Estadual do Oeste do Paraná, sendo aprovado pelo parecer N 474/2008 CEP. RESULTADOS Após repetidas leituras para a compreensão do conhecimento que as mulheres possuem sobre o processo gestacional, os cuidados essenciais para esta fase e os fatores que influenciam a construção, ou não, deste conhecimento, os resultados foram 3
4 analisados por meio de categorias elaboradas em consonância com o roteiro de coleta de dados, com base nas falas de maior freqüência e relevância apresentadas durante as entrevistas, apresentadas abaixo. 1. O que é gravidez Esta categoria foi criada por meio da análise as falas das mulheres quando questionadas sobre o que sabem a respeito da gravidez. Por meio destas falas é possível observar a relação entre o pouco conhecimento que possuem e o medo. Segundo Mestre (2000), o novo, o desconhecido, é imprevisível, e isso apavora e provoca medo nas pessoas. Algumas vezes o conhecimento foi relacionado com a experiência de vida, ou seja, por não terem vivenciado a gestação anteriormente, as mulheres acreditam que não tiveram a oportunidade de conhecer a gravidez. Foi possível perceber que é bastante comum, quando presente, o conhecimento sobre gravidez ser proveniente de antepassados, dogmas e cultura. 2. As mudanças percebidas na gestação Constantemente é relevante o contexto histórico e o momento que estas mulheres vivenciam suas gestações para compreender as respostas dadas às questões. As mulheres deixam transparecer a preocupação com as mudanças ocorridas no corpo, que vêm acompanhadas de sentimentos como medo e descontentamento. As alterações físicas, por si só, podem trazer descontentamento com a imagem, e quando elas são resultado de uma gravidez não planejada e não desejada previamente, as adaptação, ou aceitação, são mais lentas e o impacto das mudanças pode ser mais significativo para a mulher. Outro aspecto muito referenciado nas falas sobre as mudanças ocorridas durante o processo gestacional foi a alteração de comportamento que as gestantes perceberam ter apresentado durante a gravidez. 4
5 3. Os cuidados gestacionais Foi perceptível nas falas das gestantes que o conhecimento tornou-se posse dos profissionais e que as mulheres durante a gravidez, em sua maioria, realizam os cuidados aos quais são orientadas e deixam de buscar, por iniciativa própria, ações que possam promover a saúde. O pouco conhecimento que apresentam, está relacionado, em sua maioria, a cuidados antigos e culturais, transmitidos entre gerações e permanentes na sociedade. 4. Pré-natal Foi comum entre as falas encontrar a associação do pré-natal a riscos, doenças, e à investigação das condições da criança. O conhecimento sobre o pré-natal é bastante restrito à sua função de diagnosticar e tratar riscos e doenças e mais relacionado à saúde da criança, do que de ambos, mãe e filho. 5. Conhecimento dos cuidados propostos pelo pré-natal Entre tantos cuidados que a mulher pode ter durante a gravidez pelo seu bem estar e da criança, existem alguns que são priorizados pelo pré-natal com objetivo de evitar a morbidade e até a mortalidade entre as mães e os filhos. Sobre as vacinas a serem realizadas no pré-natal, são poucas as informações e mais uma vez se evidencia a obediência aos cuidados propostos pelo profissional de saúde. Em relação ao exame citopatológico do colo do útero, ainda prevalece a vergonha e o medo de machucar o bebê, o que demonstra que há pouca educação em saúde. Sobre os cuidados com as mamas durante a gravidez para o processo de aleitamento as falas também retratam a realidade da falta de trabalho educativo com as 5
6 gestantes. Quando questionadas sobre os cuidados com as mamas durante a gestação, a maioria das falas se refere ao cuidado no pós-parto, durante a amamentação, e não demonstraram conhecimento de cuidados que possam ser realizados durante a gravidez. RESULTADOS Com o advento da obstetrícia, a gravidez passa a ser associada à doença e fragilidade, sendo, portanto, imprescindível o acompanhamento do profissional de saúde durante este período. Indiscutivelmente, os cuidados profissionais e o uso da tecnologia têm reduzido a morbimortalidade materna e neonatal, porém, ao mesmo tempo, observou-se expropriação do poder da mulher de compreender a gravidez e realizar o autocuidado. Em relação aos cuidados durante a gravidez, é perceptível que o pouco conhecimento que as gestantes possuem está relacionado à cultura e informações transmitidas entre gerações. Seguir as orientações dos profissionais é importante e os mesmos devem oferecer atendimento que garanta a segurança da gestação. No entanto, faz-se necessário o conhecimento da mulher, para que possa questionar e compreender as condutas, assim como cobrar alguma atitude omissa do profissional. Observou-se que por vezes as mulheres deixam de realizar alguns cuidados importantes como exame preventivo do colo uterino, vacinas e preparo durante a gestação para a amamentação, porque não foram orientadas sobre os procedimentos, ou temiam realizá-los durante a gravidez por falta de conhecimento de sua necessidade. Apesar da implantação de novas políticas de saúde atualmente, continua prevalecendo o modelo assistencial biomédico centrado principalmente na patologia, que tornou as mulheres grávidas dependentes da tecnologia e do profissional de saúde. 6
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRENES, A. C; História da parturição no Brasil, século XIX. Cadernos de saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 7, n. 2, p , abr/jun, FAÚNDES, A.; CECATTI, J. G.; Morte materna: uma tragédia evitável. Campinas: Editora UNICAMP, FONTANELLA, B. J. B.; RICAS, J. ; TURATO, E. R. Amostragem por saturação em pesquisas qualitativas em saúde: contribuições teóricas. Cadernos de Saúde Pública (FIOCRUZ), v. 24, p , MESTRE, M. Medo e memória: emoção e sociabilidade do final do século XX ( ). Revista Interação em Psicologia. Curitiba, v. 4, p , jan-dez/2000. VIEIRA, E. M. A medicalização do corpo feminino. Rio de Janeiro: Fiocruz, ZAMPIERI, M. de F. M.; SANTOS, O. M. B. A melodia da humanização: reflexões sobre o cuidado no processo do nascimento. Florianópolis: Cidade Futura,
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