COMPORTAMENTO DE ALGUNS HÍBRIDOS E VARIEDADES DE MAMONA EM SANTA CRUZ DE LA SIERRA, BOLÍVIA
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- Ana Lívia Bergmann
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1 COMPORTAMENTO DE ALGUNS HÍBRIDOS E VARIEDADES DE MAMONA EM SANTA CRUZ DE LA SIERRA, BOLÍVIA Gilvan Barbosa Ferreira 1, Rodolfo Velásquez Mendoza 2, Sérgio Pinto da Silva 2, Patrícia Cronembold 2, Moisés Mourão Jr. 1 1 Embrapa Roraima, gilvan@cpafrr.embrapa.br, mmourao@cpafrr.embrapa.br; 2 Castor en Sud América SRD, s.pinto.s@hotmail.com, pat-cesa@cotas.com.bo. RESUMO - A mamona apresenta grande diversidade genética, permitindo-a crescer na maior parte da área tropical e subtropical do planeta. Entretanto, apenas os genótipos mais produtivos têm interesse comercial. Este trabalho teve por objetivo selecionar híbridos ou variedades de porte anão que se adaptem ao ambiente edafoclimático de Santa Cruz de la Sierra, Bolívia. Com um ensaio fatorial 6 x 4 montado em blocos ao acaso, com duas repetições em parcelas de 12m x 12m, estudou-se os híbridos Biogenes 03, 23 e 33 e as variedades Al guarany, Mirante-10 e Silvestre em quatro populações de plantio. Adicionalmente, testou-se em parcelão o comportamento dos híbridos GCH-4 e Biogene-66. Os resultados mostram que os biogenes são homogêneos e superiores em produtividade aos demais, porém podem acamar com facilidade em condições de maior população. O Biogene-23 se sobressaiu aos demais devido a sua alta produtividade e baixa incidência de mofo cinzento. Os melhores genótipos podem ser ordenados na seqüência: Biogene-23, Biogene-03, Biogene-33, Mirante, Silvestre e Al Guarany. Os híbridos GCH-4 e Biogene-66 aparentemente se assemelham, respectivamente, aos dois melhores genótipos testados. INTRODUÇÃO A mamona (Ricinus communis L.) é uma planta originária da Etiópia, na África (WEISS, 1983), porém amplamente disseminada nas Américas, onde ocorre em estado asselvajado ou silvestre na maioria dos países do continente. Na Bolívia, ela é conhecida como Macororó. Neste país, a empresa Anglo-Boliviana Castor en Sud América S.R.D tem construído uma fábrica de extração óleo de mamona com o objetivo de exportação desse produto e tem empreendido o cultivo próprio ou sob contrato da mamona de porte anã, especialmente os híbridos produzidos no Brasil (Lyra, Savana e Íris da Empresa de Sementes Armani). Alguns esforços de pesquisa têm sido feitos com o intuito de selecionar genótipos superiores, adaptados às condições locais. As espécies silvestres são deiscentes, tem caule de coloração avermelhada, forte ramificação a partir da base e produzem números abundantes de cacho durante o ano. São suscetíveis ao mofo cinzento, porém seu florescimento prolífico durante o ano permite o amadurecimento de bom número de cachos nos períodos menos propícios à doença. O cacho é fechado, com frutos com acúleos e sementes muito pequenas, ricas em óleo. Cresce abundantemente nos arredores das cidades e vilarejos da Bolívia.
2 A Al Guarani é uma variedade de porte anã desenvolvida no estado de São Paulo, Brasil. Tem potencial para produzir até kg, é indeiscente e própria para cultivo em larga escala (SAVY FILHO, 2005). Ela é medianamente tolerante ao mofo cinzento, sendo recomendado seu plantio no espaçamento de 1,0 a 1,5m entre linhas por 1,0m entre plantas, sendo sua população menor em solos mais ricos em nutrientes. A Mirante-10 é uma variedade de porte baixo e frutos indeiscentes. Os indianos foram os primeiros a usar extensivamente o vigor híbrido no cultivo da mamona. É fácil encontrar a GCH-4, as Biogenes 03, 23, 33 e 66 no mercado internacional com sementes em valores competitivos (cerca de US$ 3,00/kg). Esses híbridos são indeiscentes, têm ciclos de 180 dias e potencial de produtividade de até kg/ha, segundo seus obtentores. Testes anteriores têm mostrado que esses híbridos têm potencial de produtividade equivalente ou superiores aos híbridos comercializados no Brasil. Seus obtentores têm recomendado espaçamentos de 0,90 a 1,5m e densidade de plantio de 0,35 a 1,00m. Este experimento tem por objetivo selecionar o melhor híbrido ou variedade para as condições locais de Pailón, para uso em cultivo mecanizado. MATERIAL E MÉTODOS Os ensaios foram montados em janeiro de 2005, na fazenda Archipelagro, ao sul de Pailón, distrito de Santa Cruz, Bolívia. Foi Utilizado um fatorial 6 x 4, em blocos ao acaso, sendo seis variedades (Al Guarani, Biogene 03, Biogene 23, Biogene 33, Mirante-10 e Silvestre) e 4 populações de plantio (6.667, , e plantas/ha); utilizou-se duas repetições. Cada parcela tinha 12m x 12m, sendo colhida todas as linhas internas, com exceção das linhas laterais e de um metro em cada extremidade. Neste trabalho apenas o efeito das variedades e híbridos serão discutidos. Dois híbridos (Biogene-66 e GCH-4) foram cultivados apenas em parcelões e seu desempenho será mostrado na discussão. O solo do local é muito fértil, dispensando qualquer adubação. Caíram 403 mm de chuva sobre o bloco um e 271 mm sobre o outro bloco cultivado, devido a uma diferença de 20 dias na data de plantio. O plantio foi manual, porém feito diretamente no solo sem preparo, após a dessecação das ervas daninhas com glifosato. As ervas que cresceram após o plantio foram controladas manualmente com três capinas em toda área. Foram efetuados controle de pragas (lagartas, principalmente) e doenças (Cercóspora e mofo cinzento). A fim de identificar grupos de variedades com maior homogeneidade, a partir dos indicadores de crescimento e produção foi conduzida a técnica multivariada de análise de agrupamento, tomando como
3 distância a euclidiana padronizada e, como método de amalgamação, o de ligação completa (complete linkage) (Johnson e Wichern, 1998). Os valores médios, bem como os intervalos de confiança de 95%, dos indicadores de crescimento e produção dos agrupamentos foram obtidos e ordenados com o teste de comparação múltipla de Tukey, com nível de significância de 5%. As análises foram conduzidas com auxílio do pacote estatístico STATISTICA 5.5. RESULTADOS E DI O dendrograma obtido, indicou três agrupamentos, a saber: G1 representado pelas variedades Biogene 03, Biogene 23 e Biogene 33; G2 representado pelas variedades Silvestre e Mirante 10 e G3 representado pela variedade Al Guarany (Fig. 1 e Tab. 1). Com relação ao PDF, o agrupamento G1 apresentou o maior valor médio (I.C. (95%) : kg/ha), seguido de G2 (I.C. (95%) : kg/ha) e G3 (I.C. (95%) : kg/ha), com valores equivalentes. A altura total das plantas apresentou valores equivalentes em todos os agrupamentos, situando-se num I.C. (95%) de 1,56-1,65m. Até 1,80m as plantas de mamona são consideradas de porte anã (AZEVEDO et al., 1997). Já a altura do primeiro cacho apresentou diferenças entre os agrupamentos, sendo que o agrupamento G2 apresentou a menor altura (I.C. (95%) :0,82-0,93m), enquanto os outros agrupamentos apresentaram alturas equivalentes (I.C. (95%) :0,94-1,26m). A Silvestre e a Mirante 10 se ramificam muito nas condições de solo em que foram cultivadas, mantendo um porte baixo; já a Al Guarani e os híbridos indianos tenderam a crescer mais em altura, possivelmente devido a boa fertilidade do solo. Também foi observada equivalência entre os agrupamentos, quanto a altura do segundo cacho, situando-se esta em um I.C. (95%) de 1,25-1,34m. Isto mostra que, de fato, essa variável não é um bom critério de comparação de diferentes genótipos. O número de cachos foi inferior no agrupamento G3 (I.C. (95%) : 1,67-2,13 cacho/planta) e equivalente nos outros agrupamentos (I.C. (95%) : 4,13-5,49 cachos/planta). Este mesmo padrão foi observado no caso de NURAPL, sendo que o G3 apresentou (I.C. (95%) : 0,60-1,60 ramo/planta) enquanto que os outros agrupamentos situaram-se num I.C. (95%) de 2,24-3,49 ramos/planta. Esse comportamento é explicado pela característica de crescimento da mamona, que termina cada ramo com um cacho. Entretanto, no caso de acamamento, o G1 apresentou valores muito superiores (I.C. (95%) : 4,18-7,82 plantas) aos outros agrupamentos (I.C. (95%) : 0,00-1,41 plantas), mostrando que as Biogenes são produtivas mas que seus caules são frágeis para sustentar a produção formada, devendo ser plantada em população adequada que não permita que haja estiolamento.
4 Nas mesmas condições em que foram testadas os genótipos analisados acima, cultivou-se em parcelões os híbridos Biogene-66 e GCH-4 (Tab. 2). Observa-se que a produtividade e as demais variáveis avaliadas situam-se próximo das do grupo G1, mostrando serem materiais promissores. Obsevações feitas no campo mostram o seguinte comportamento das variedades: Biogene-23 tem o primeiro cacho muito grande e os frutos se mantém firme na planta quando seco, moderada tolerância ao mofo cinzento. As plantas acamam com os ventos fortes. A Al Guarany tem bom desenvolvimento vegetativo, com talo ereto e grosso, eliminando problemas com acamamento. Ramifica pouco e tem moderada suscetibilidade ao mofo cinzento. A Mirante-10 se adaptou bem ao local, teve desenvolvimento normal e moderado ataque de mofo cinzento. A Biogene-33 é a mais suscetível ao mofo cinzento e a menos produtivas das biogenes. Biogene-03 tem caule verde-claro, ramificações abundantes com muitos cachos; é suscetível ao mofo cinzento e acama muito. A Silvestre tem crescimento desuniforme e irregular, alto grau de deiscência dos frutos; tem alta resistência a enfermidades e ao veranico. Apresenta grande quantidade de cachos pequenos. A GCH 4 tem fruto liso, boa tolerância ao mofo cinzento e é mais precoce do que as demais. Não resiste ao veranico. A Biogene-66 tem grande ramificação e quantidade de cachos, maturação uniforme e suscetibilidade ao mofo cinzento. É uma planta pequena a mediana, ideal para a colheita e possui bom rendimento. CONCLUSÕES Os híbridos mostraram bom potencial produtivo nas condições em que foram testados; A Biogene-23 se destacou por sua produtividade e pelas características de crescimento. Os melhores genótipos podem ser ordenados na seqüência: Biogene-23, Biogene-03, Biogene- 33, Mirante, Silvestre e Al Guarany. Pelas características observadas nos parcelões cultivados com GCH-4 e Biogene-66, esses híbridos tem características que se assemelham aos Biogenes 23 e 03, respectivamente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEVEDO, D.M.P. de; LIMA, E.F.; BATISTA, F.A.S.; LIMA, E.F.V. Recomendações técnicas para o cultivo da mamona (Ricinus communis L.) no Brasil. Campina Grande: Embrapa Algodão, p (Embrapa Algodão. Circular Técnica, 25). JOHNSON, R.A.;WICHERN, D. W. Applied multivariate statistical analysis. 4th edition. Prentice Hall, p. SAVY FILHO, A. Mamona: tecnologia de produção. Campinas: EMOPI, p.
5 WEISS, E.A. Castor. In: WEISS, E.A. Oil seed crops. London: Longman, p Figura 1. Dendrograma de dissimilaridade entre as variedades de mamona, a partir dos valores médios padronizados dos indicadores de crescimento e produção. Pailón, Santa Cruz, Bolívia, safra 2004/2005. Tabela 1. Valores médios dos indicadores de crescimento (ALT, altura da planta, em cm; NCCH, n o. de cachos/planta; ALT1C, altura do 1 o cacho, em cm; ALT2C, altura do 2 o cacho, em cm; PLACAM, n. de plantas acamadas/parcela; e n. de ramos/planta) e produção (PDF, produção de frutos, em kg/ha) das variedades de mamona avaliadas e os agrupamentos compostos por estas, ordenados segundo o teste de Tukey (α=0,05) Indicadores de crescimento e produção PDF ALT NCCH ALT1C ALT2C PLACAM NURAPL Variedades Al. Guarany [G3] 819,99 D 1,65 a 1,88 b 1,16 a 1,38 A 0,13 B 0,94 b Biogene 03 [G1] 1.775,38 A 1,67 a 5,25 a 0,94 ab 1,29 A 6,50 A 2,56 ab Biogene 23 [G1] 1.726,81 ab 1,70 a 4,25 a 1,12 a 1,38 A 7,00 A 2,31 ab Biogene 33 [G1] 1.371,69 bc 1,63 a 4,94 a 1,11 ab 1,35 A 5,50 Ab 2,88 a Mirante 10 [G2] 1.314,53 C 1,55 a 3,94 a 0,84 b 1,22 A 1,50 Ab 2,56 ab Silvestre [G2] 872,47 D 1,63 a 5,13 a 0,94 ab 1,29 A 0,13 B 3,25 a Agrupamentos G ,63 A 1,67 a 4,81 a 1,06 a 1,34 A 6,33 A 2,58 a G ,50 B 1,59 a 4,53 a 0,89 b 1,26 A 0,81 B 2,91 a G3 819,99 B 1,65 a 1,88 b 1,16 a 1,38 A 0,13 B 0,94 b Total 1.313,48 1,64 4,23 1,02 1,32 3,46 2,42 Onde: Valores precedidos de mesma letra, na vertical, não diferem, significativamente, no nível de 5%.
6 Tabela 2. Valores médios dos indicadores de crescimento (ALT, altura da planta, em cm; NCCH, n o. de cachos/planta; ALT1C, altura do 1 o, em cm; ALT2C, altura do 2 o cacho, em cm; PLACAM, n. de plantas acamadas/parcela; e n. de ramos/planta) e produção (PDF, produção de frutos, em kg/ha) das variedades de mamona Biogene-66 e GCH-4, avaliadas por teste de média e desvio padrão. Pailón, Santa Cruz, Bolívia, safra 2005/2005 Parâmetros PDF ALT NCCH PLACAM NURAPL BIO-66 GCH-4 BIO-66 GCH-4 BIO-66 GCH-4 BIO-66 GCH-4 BIO-66 GCH-4 Média ,59 1,61 6,4 5,8 2,4 2,0 4,2 3,8 Desvio padrão ,09 0,11 1,3 1,3 1,4 1,8 1,0 0,8
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