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Transcrição

1 I ~Ow - ff +.", (4 ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gab. Des. Genésio Gomes Pereira Filho ACORDÃO APELAÇÃO CÍVEL N /001 Comarca de Campina Grande RELATOR: Des. Genésio Gomes Pereira Filho APELANTE: Vera Lucia Araújo Ramos ADVOGADOS: Geogilvan de Sousa Martins Geórgia Karênia Rodrigues Martins Marsicano de Melo Wagner Marsicano de Melo Rodrigues Martins APELADO: Condomínio do Edifício Empresarial Ramos ADVOGADOS: Adriano Antônio de Araújo Evangelista CIVIL E PROCESSUAL CIVIL Apelação Cível Ação de Obrigação de Fazer Alteração de fachada de condomínio Ausência e consulta e autorização dos demais condôminos - Improcedência do pedido do apelante/autor Manutenção da sentença Não-provimento do Recurso Apelatório. - In casu, houve uma alteração da fachada do condomínio por parte da inquilina da promovida sem a devida consulta dos demais condôminos. Tal alteração quebrou o padrão arquitetônico do prédio, caracterizando, assim, uma modificação substancial, infringindo o art. 3 9 da Convenção do Condomínio. VISTOS, relatados e discutidos os autos acima mencionados. ACORDAM os integrantes da Egrégia Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, à unanimidade, em negar provimento ao recurso apelatório, nos termos do voto do Relator e da certidão de julgamento de f RELATÓRIO

2 Trata-se de Ação de Obrigação de Fazer ajuizada pelo Condomínio do Edifício Empresarial Ramos em face de Vera Lucia Araújo Ramos, aduzindo, em síntese, que a promovente é proprietária da loja n 9.. 9, localizada no térreo do edifício Ramos, que se encontra locada a um comércio de confecções. Ocorre que, o inquilino da sala, em desconformidade com as normas legais e condominiais, abriu uma porta onde há uma fachada fechada de vidro no intuito de ter um acesso direto á via pública, alterando, desta forma, a fachada do prédio. Alega ainda que o síndico, nos usos de suas atribuições legais, notificou a promovida da abertura da porta através de correspondência registrada informando à mesma que tal conduta infringe as normas legais e condominiais, e requereu providências para que a porta fosse fechada e restaurada a fachada ao estado original. Como resposta da promovida obteve a negativa do fechamento da porta, sob a alegação de que o procedimento do inquilino não pode ser considerado como alteração de fachada. Dessa forma, o autor requer a condenação da promovida na obrigação de fazer, no sentido de fechar a referida porta com a restauração da fachada aos moldes originais, sob pena de multa diária para o caso de descumprimento e/ou para o caso de atraso no cumprimento. Juntos documentos às fls. 05/49. Devidamente citada, a promovida apresentou contestação às fls. 55/61, argüindo, preliminarmente, a inépcia da inicial sob a alegação de que o autor se equivocou em sua narrativa, pois mencionou que foi o inquilino quem alterou a fachada do prédio, porém, pediu a citação e a condenação da parte ré (proprietária do imóvel). No mérito, alegou que o imóvel denominado Empresarial Ramos não sofreu nenhuma reforma ou acréscimo, conforme faz prova a certidão Procuradoria Municipal de Campina Grande (fl. 61). No mais, requer a improcedência da presente ação. A promovida apresentou impugnação às fls. 64/67, alegando a intempestividade da contestação por ter sido protocolizada fora do prazo legal. termo fl. 68. fls. 81/86. Audiência preliminar sem sucesso conforme Realizada audiência de instrução e julgamento às Razões Finais, por memorial, apresentadas pelo promovente, ás fls. 87/92, bem como pela promovida, ás fls. 94/104. Conclusos os autos, o Magistrado "a quo" proferiu sentença às fls.114/115, nos seguintes termos finais: "Isto posto, com fundamento no art , III, do Código Civil, julgo procedente o pedido para determinar que a promovida feche a porta aberta na vitrine da loja n. 09, de sua propriedade, no prazo de 30 dias, restaurando a fachada original do prédio em questão, sob pena de aplicação de multa diária de R (duzentos reais). Condeno. ainda, a demandada ao pagamento das

3 despesas processuais e honorários advocatícios que fixo em 20% (vinte por cento) do valor da causa, nos termos do art. 20, 3 do Código de Processo Civil." A ré interpôs recurso apelatório às fls.117/ /152. Contra-razões apresentadas pelo autor às fls. Instada a se pronunciar, a douta Procuradoria Justiça opinou pelo não pronunciamento deste órgão, uma vez que a lide não desponta o interesse público (fls. 159/161). É o relatório. VOTO Cuida-se de Apelação Cível interposta por Vera Lucia Araújo Ramos, objetivando a reforma da sentença que julgou procedente o pedido do autor, no sentido de restaurar a fachada do Condomínio/autor ao moldes originais. Não havendo preliminares a serem apreciadas e preenchidas as condições de admissibilidade recursal, passo ao exame do conteúdo meritório do apelo interposto. A sentença deve ser mantida in totum. No caso sub judice, vê-se claramente pelas fotografias acostadas aos autos às fls. 05/07, que a loja de propriedade da ré teve sua vitrine alterada para a inclusão de uma porta de entrada que alterou a fachada do prédio, o que caracteriza a violação das regras legais e condominiais por parte da promovida. Compulsando aos autos, vale salientar que o apelado é parte legítima para figurar o pólo passivo da presente lide, pois ocupa a posição de proprietário do imóvel em questão, que após ser alterada pelo seu inquilino, modificou a fachada do prédio, não podendo se falar em ilegitimidade passiva "ad causam". Ademais, a legislação de condomínio proíbe qualquer alteração que modifique a fachada do prédio, salvo se for obtida autorização de todos os condôminos. Nesse sentido, importante citar alguns dispositivos do Código Civil, da Lei n /64 e da Convenção Condominial que dispõe, respectivamente: "Art São deveres do condômino: III - Não alterar a forma e a cor da fachada, as partes e esquadrias externas; (...) Art É defeso a qualquer condômino: Ii 411

4 I - Alterar a forma externa da fachada; Art. 8 - Constituem deveres dos condôminos. (..) b) Não mudar a forma externa da fachada ou a distribuição interna das salas e lojas." Vale ressaltar, ainda, que a vitrine da loja em questão, que compõe a fachada do prédio, é considerada como área comum, nos termos do 1 2, do art. 1 2 da Convenção Condominial. Dessa forma, para qualquer alteração nessa área, dispõe o art. 2 2 da Convenção, in verbis: Art. 2 - As partes comuns do edifício não poderão ser modificadas ou alteradas, senão quando a modificação ou alteração for apreciada pro deliberação de, no mínimo, 3/5 dos votos dos Condôminos. 111 Importante destacar parte do depoimento de umas das testemunhas da apelada, qual seja: "que manteve contato prévio com o síndico do condomínio, informando-lhe da sua intenção de abrir o referido acesso, ocasião que foi informada que não poderia fazê-lo em virtude de tal medida acarretar mudança na fachada do prédio; que a depoente mesmo assim procedeu a abertura da porta..." Como se pode observar, segundo a testemunha da própria apelada, o inquilino foi informado de que a obra que pretendia realizar em seu estabelecimento feria as regras condominiais, mas mesmo sabendo de tal violação procedeu com a abertura da porta para facilitar o acesso à sua loja. 110 Deste modo, resta injustificada a mudança da fachada sem a consulta e conseqüente anuência dos demais condôminos, uma vez que qualquer modificação que seja estranha ao projeto original do edifício constitui alteração de fachada, e só pode ser realizada com aprovação da unanimidade dos condôminos. Além disso, o interesse individual de um condômino não pode se sobrepor às regras estabelecidas na Convenção, as quais priorizam, obviamente, o interesse coletivo. Sobre o assunto, se posicionam os Egrégios Tribunais de Justiça de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, respectivamente: EMENTA: CONDOMÍNIO - COISA COMUM - DEMOLIÇÃO DE ESCADA - DELIBERAÇÃO TOMADA AO ARREPIO DA LEI 4.591/64 - INADMISSIBILIDADE. A modificação em área comum do condomínio vincula-se, ex vi do art. 10, 2 0 da Lei 4.591/64, à concordância de todos os condôminos, sob pena de cair por terra a garantia prevista em lei, vulnerando o preceito constitucional assegurador da intangibilidade do direito de propriedade. EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DEMOLITÓRIA. EDIFICAÇÃO EM ÁREA COMUM DE EDIFÍCIO EDILÍCIO. AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO DOS DEMAIS

5 , apontam para edificação significativa em área comum do edifício, com alteração da fachada e projeto original, sem a devida autorização dos demais condôminos, pelo que se impõe a demolição da obra, conforme determinação sentenciai. Art do CCB. Art.10 da Lei n 4.591/64. APELAÇÃO DESPROVIDA. (Apelação Cível N o , Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Glênio José Wasserstein Hekman, Julgado em 07/05/2008) Constata-se, ainda, que a abertura da referida porta com o escopo de facilitar o acesso pela parte exterior do prédio, quebrou a harmonia arquitetõnica do imóvel, uma vez que causou uma diferenciação entre as outras fachadas, não podendo, assim, se falar em alterações insignificantes, como alega a apelante. Logo, considera-se tal modificação como substancial, infringindo, dessa forma, o art. 3 Q da Convenção Condominial, in verbis: "Art Os condôminos não poderão fazer modificações substanciais nas partes de propriedade singular, sem submeter o respectivo projeto, em 3 (três) vias, à apreciação do Síndico..." (grifo nosso) de Justiça do Rio Grande do Sul: Vejamos o entendimento esposado pelo Tribunal EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. NUNCIAÇÃO DE OBRA NOVA. CONDOMÍNIO. ALTERAÇÃO DE FACHADA. IMPOSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DO ARTIGO 10, I, DA LEI N o 4.591/64 E DO REGIMENTO INTERNO. Alteração de fisionomia externa de prédio. É defeso aos condôminos proceder na alteração da fachada, estabelecida pelo modelo padrão do condomínio, sem prévia autorização dos demais. Comprometimento da harmonia e estética do conjunto, capaz de levar na desvalorização geral do condomínio. Obra realizada nos fundos da residência da agravante que compromete o padrão original. Vedação prevista na lei especial e Regimento Interno do Condomínio, desimportanto, no caso concreto, obras irregulares edificadas por outros condôminos, que caso efetivadas, não teriam o condão de autorizar a demandada ao mesmo procedimento. Mantida a decisão agravada. Precedentes jurisprudenciais. NEGADO SEGUIMENTO AO RECURSO, em decisão monocrática. (Agravo de Instrumento No , Décima Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Nelson José Gonzaga, Julgado em 28/04/2008). Por todo o Exposto, NEGO PROVIMENTO à Apelação Cível, mantendo a sentença prolatada em todos os seus termos. É o voto. Presidiu a Sessão o Exmo. Sr. Des. Saulo Henriques de Sá e Benevides. Participaram do julgamento, além do Relator, o Eminente Des. Genésio Gomes Pereira Filho, o Exmo. Des. Márcio Murilo da Cunha Ramos eoeo Presidente de Câmara acima mencionado. Á 411

6 5 Presente o "parque Estadual na pessoa do Dr. Alcides Orlando de Moura Jansen, Procurador de Justiça. Sala de Sessões do Tribunal Pleno do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, em João Pessoa, aos 04 de novembro de Ob, Des. Ge a- o o # es ereira elator

7 N, KIBUNAL DE JuSli. /-. Coordenado fr2i.,judiciária, n Registrado e /L1(-