EDUCAÇÃO E SAÚDE: POSSIBILIDADES CRIADORAS
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- Sonia do Amaral Marreiro
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1 EDUCAÇÃO E SAÚDE: POSSIBILIDADES CRIADORAS Prof.ª Dr.ª Emília Carvalho Leitão Biato - Instituto de Saúde Coletiva - UFMT Layane Machado Buosi - Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Educação - UFMT Resumo: O presente trabalho tem como objetivo investigar as possibilidades criadoras da educação superior nas Ciências da Saúde. Para tal, partimos da crítica ao dualismo empregado na denotação etimológica do termo saúde, proposta pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche e do repensar das generalizações que nos é provocado pelo filósofo e médico francês Georges Canguilhem. Propomos a realização de um debate com os docentes dos cursos da Saúde, e tomaremos como método de análise a Timpanização, proposto por Biato em sua tese de Doutorado (2015), por se aproximar das referências teóricas adotadas para essa pesquisa. Entendemos que através desses encontros será provocada uma reflexão não só das práticas desses docentes, mas também de suas possibilidades de criação. Palavras-chave: Acontecimento. Aula. Filosofia da diferença. Timpanização. Problema de pesquisa Quando tratamos de processos educativos em saúde, sejam em ações de promoção da saúde, sejam em processos formativos de profissionais da área, nos aproximamos da noção de que nós estamos diante de potências criadoras de sentidos do ofício de ensinar, da arte de aprender, e vice-versa. (CORAZZA, 2012, p. 15). Compreendemos a aula como espaço destinado ao movimento docente e discente que, a cada aula, se encontram nas frestas oportunas ao agenciamento de diferentes modos de ensinar e aprender. Apoiamo-nos, para pensar a formação especifica na área da Saúde, em obras do filósofo alemão Friedrich Nietzsche e do filósofo e médico francês Georges Canguilhem, que foi fecundo no movimento da filosofia francesa do século XX que, mais do que relativizar condutas e pontos de vista do campo da saúde, propôs inventar, rever, transvalorar seus principais postulados (MONTEIRO, et al. 2012, p. 299). Com Nietzsche, exercitamos a crítica ao dualismo que parece entranhado na denotação etimológica do termo saúde, como qualidade de seres que têm força e higidez, ao que compreendemos a doença como parte da saúde, como constituintes da mesma vida (Biato, 2015). Já com Canguilhem (2009), a diferença para provoca o repensar das generalizações, por entender que elas dizem pouco do que caracteriza cada um e, em sua visão, as marcas da singularidade constituem-se no que há de mais relevante a ser observado. Nesse sentido, vamos observar dificuldades e potencialidades ligadas ao processo formativo em Saúde, com 12523
2 2 foco na aula. Tencionamos aprofundar este estudo, discutindo a educação e saúde nas contribuições de Canguilhem. Objetivo Geral Este estudo se propõe a observar e repensar a educação superior nas Ciências da Saúde, em instituições de ensino superior no Estado de Mato Grosso, abrindo possibilidades de estranhamento, da percepção do inusitado, da marca da diferença e da criação em espaços de fazer docente. Objetivos específicos Refletir sobre experiências pedagógicas de novas aprendizagens em educação e saúde, tanto no grupo de pesquisa quanto aos docentes que participam como sujeitos desta; Experimentar a noção de aula como acontecimento por meio de realização de encontros com docentes da área da saúde; Identificar elementos da escrita dos professores participantes, que apontem limites e possibilidades do movimento criador na prática docente em saúde. Procedimentos metodológicos Como parte da pesquisa, contaremos com a participação de Instituições de Ensino Superior de Cuiabá e Várzea Grande. Temos, como proposta, a realização de encontros com docentes dos cursos da área de Saúde da UFMT Medicina, Nutrição, Enfermagem, Psicologia e Saúde Coletiva e do UNIVAG Biomedicina, Nutrição, Enfermagem, Farmácia, Psicologia, Odontologia, Fonoaudiologia e Fisioterapia, sendo um encontro com cada grupo de docentes, por curso e por instituição. Sendo assim, tomaremos em torno de 40 minutos da reunião, para abrirmos um debate sobre o ensino superior em saúde e provocar à reflexão acerca das práticas docentes e de suas possibilidades de criação. No contexto desse debate, proporemos que cada docente preencha um formulário de questões abertas, que permitem expressões singulares e vivenciais acerca do tema proposto. O participante poderá ou não assinar seu formulário. Deixaremos claro que aqueles que assinarem, permitem a citação de seus nomes nas análises dos dados que deverão ser apresentadas apenas em meios científicos. Consideramos a importância da assinatura na produção autoral (Derrida, 2009), bem como a impossibilidade de se chegar ao que realmente se "quer dizer" nos escritos. Portanto, gostaríamos de trabalhar com textos assumidos espontaneamente pelos participantes
3 3 Para a análise dos roteiros preenchidos produção de docentes dos cursos da saúde lançaremos mão de um método proposto por Biato, em sua tese de doutorado (2015) Método de Timpanização, que se aproxima das referências teóricas adotadas para a pesquisa: o pensamento de Friedrich Nietzsche e as filosofias da diferença. Timpanizar parece ser ação de colocar-se às margens, movimentar o pensamento e descrevê-lo em bases novas, que na leitura dos textos produzidos, inclui três gestos indissociados: tatear escombros, pelo qual manipulamos o texto em suas possíveis características do dualismo e do pensamento baseado na metafísica ocidental; disseminar sentidos, pelo qual oferecemos, aos signos, novas possibilidades de dizer; e criar cadeias suplementares, pelo qual produzimos um texto, uma escrileitura produção em coautoria com o texto lido. É assim que procuramos entrar nos textos, no movimento de leitura e escritura. Não perscrutamos o pensamento, nem mesmo o querer-dizer ou representar. Somos, como pesquisadores, de algum modo, afetados pelo texto do outro e impregnados de vivências singulares, e aguçamos os ouvidos aos rastros do autor, ao que nos pomos a produzir um texto com o texto lido. Resultados Iniciais Entendemos que o melhor modo de reconhecer e caminhar pelo terreno das impressões, vivências e sensações dos docentes acerca de sua prática formativa de profissionais da saúde, é a aproximação com suas produções escritas escrileituras (Corazza; Aquino, 2011). Estabelecemos, portanto, uma aproximação em relação à aula que, por um lado, está previamente cheia de clichês, de normativos, de prescrições curriculares e de diretrizes. Por outro lado, pode ser estabelecida como gesto de criação: faxinada, arejada, viva, inventada, conforme propõe Corazza (2013). É com esses pressupostos que tomamos a aula como um fazer que carrega a potência da constituição de hecceidades individuações que ocorrem como devires, sem a formação de um sujeito (DELEUZE, 1995). A aula criada no lugar da aula dada parece poder agenciar crescimentos tanto do docente quanto do discente, mudanças e aumento de conexões e encontros, como espaço de criação. Considerações finais É preciso deixar claro que os pesquisadores não pretendem buscar neutralidade no processo de tomada dos dados construídos na pesquisa. Os próprios pesquisadores produzirão 12525
4 4 textos com a leitura que farão dos textos dos professores participantes da pesquisa, pois são, neste sentido, escrileitores (operam, simultaneamente, a leitura e a escritura). As noções de corpo, vida, educação, saúde, normal, patológico, são abordadas como singularidades nos espaços formativos no ensino superior nas ciências da saúde. Neste sentido, esperamos ter, como produto, uma produção escrita refletida, acerca da docência no campo da Saúde, especialmente no que tange as possibilidades de expansão do fazer docente em sala de aula, em termos de criação e produção do novo. Referências Bibliográficas BIATO, Emília Carvalho Leitão. Oficinas de Escrileituras: Possibilidades de transcriação em práticas de saúde, educação e filosofia. Tese (doutorado) - Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, Cuiabá, CANGUILHEM, Georges. O normal e o patológico. 6 ed. Universitária, Rio de Janeiro: Forense CORAZZA, Sandra Mara; AQUINO, Júlio Groppa. educação. Belo Horizonte: Autêntica, Dicionário das ideias feitas em CORAZZA, Sandra. Mara. Didaticário de criação: Aula Cheia. (Caderno de notas 3). 1 ed. Porto Alegre: UFRGS, CORAZZA, Sandra Mara. O que se transcria em educação? Porto Alegre: UFRGS, COSTA, Luciano Bedin. O destino não pode esperar ou o que dizer de uma vida. In: FONSECA, Tânia Mara Galli; COSTA, Luciano Bedin (orgs.). Vidas do fora. Habitantes do silêncio. Porto Alegre: Editora UFRGS, 2010, p DELEUZE, Gilles. GUATARRI, Félix. Mil platôs - capitalismo e esquizofrenia, vol.1. Trad. Aurélio Guerra Neto e Célio Pinto Costa. Rio de Janeiro: Editora 34, HARTMANN, Sara; FONSECA, Tania Mara Galli. Escrever uma vida: biografia e acontecimento.aletheia, Canoas, n. 33, dez Disponível em: < Acesso em 16 nov DERRIDA, Jacques. Posições. Trad. Tomaz Tadeu da Silva. Belo Horizonte: Autêntica, DERRIDA, Jacques. Otobiografías. La enseñanza de Nietzsche y la política delnombrepropio. Buenos Aires: Amorrortu, MARTON, Scarlett. Das forças cósmicas aos valores humanos. São Paulo: Brasiliense, MONTEIRO, Silas. Borges; BIATO, Emília Carvalho Leitão; SILVA, Aristides. Possibilidades Investigativas em Educação e Saúde. In SILVA, Maria das Graças Martins da PERREIRA, Wilma Rocha (org). Educação e Saúde: confluências de conhecimentos e vivências. Cuiabá, MT: EDUFMT,
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