A NATAÇÃO E OS OUVIDOS
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- João Guilherme Schmidt Guterres
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1 A NATAÇÃO E OS OUVIDOS Colaboração Dr. Clemente Isnard Ribeiro de Almeida A natação é sem dúvida o esporte mais completo e menos sujeito a acidentes, entretanto o nariz e os ouvidos estão predispostos a alguns problemas. Sinusite e otite são de ocorrência bastante alta entre nadadores e sua profilaxia, ou seja a forma de evitar que esses problemas ocorram é difícil entre os adultos e praticamente impossível nas crianças pequenas. Trata-se de evitar a entrada da água no nariz e nos ouvidos durante a natação. Compreender é a única forma de evitar ou solucionar um problema. Para isso é necessário ter conhecimentos básicos da anatomia da região e dos problemas que costumam nela incidir. Noções de Anatomia Como podemos ver na figura 1, o ouvido é dividido em três partes: Figura 1. Esquema da anatomia do ouvido. 1. Membrana do tímpano 2. Conduto auditivo externo. 3. Ouvido médio. 4. Trompa de Eustáquio 5. Adenóides 6. Turbina nasal. Ouvido externo: É o conduto que vemos externamente e vai do pavilhão da orelha até a membrana do tímpano. Ouvido médio: É a cavidade entre a membrana do tímpano e o labirinto e tem ma abertura interna para atrás do nariz, chamada trompa Ouvido interno: Também conhecido como labirinto, é isolado do ouvido médio, cheio de líquido e nele estão os órgãos de sensibilidade da audição e equilíbrio. Na natação os problemas podem aparecer no ouvido externo e médio onde eventualmente a água da piscina pode penetrar.
2 No ouvido externo há três detalhes anatômicos importantes em relação a natação: a forma do conduto, a impermeabilização e o tipo de pele. Em relação a forma de conduto, a angulação e o calibre são as características mais importantes. O conduto auditivo externo possui duas angulações em forma de V uma com a concavidade voltada para frente e outra com a concavidade voltada para baixo. Essas angulações, da abertura externa até o ápice do V, dificultam a entrada e facilitam a saída de água no conduto, porém quando a água ultrapassa o ponto mais alto, entra com mais facilidade e sai com mais dificuldade. O que se observa na prática é que as pessoas que possuem maior angulação de conduto estão mais sujeitas a problemas provocados pela água. Quanto ao calibre há uma variedade enorme de condutos auditivos externos desde muito amplos até muito estreitos. É claro que nos mais amplos a água entra e sai com maior facilidade, e é neles que encontramos a maioria dos problemas mas também são os mais facilmente tratáveis. O conduto auditivo externo sendo fechado internamente pela membrana do tímpano não possui ventilação retendo a umidade. É conhecido que a pele molhada por muito tempo enruga e em seguida deteriora facilitando o crescimento de fungos e bactérias, como é o caso das "frieiras" que aparecem nos pés que ficam molhados por muito tempo. No ouvido o mesmo acontece quando não existe um impermeabilizante para proteger a pele. Um ouvido sadio possui glândulas que produzem a cera para evitar que a água ou simplesmente a umidade agrida a pele local. O tipo da pele é muito importante em relação aos problemas do ouvido externo. Os indivíduos com pele mais clara e principalmente os que apresentam problemas alérgicos estão muito mais sujeitos a problemas desencadeados pela natação. No ouvido médio, quando não há perfuração da membrana do tímpano os problemas derivados da natação provém do nariz ou da ligação entre a via respiratória e o ouvido chamada trompa de Eustáquio. A trompa da criança é mais larga, mais curta e mais horizontal que a do adulto. Essas características facilitam a entrada no ouvido de fluxo de água que penetra pelo nariz bem como de secreções infectadas provenientes das fossas nasais e suas imediações. De uma forma geral podemos dizer que as otites de ouvido médio são consequência de problemas de estruturas próximas a trompa como amígdalas, adenóides e fossas nasais. Otite Externa Como vimos nas noções de anatomia existem diversos detalhes anatômicos que determinam se uma pessoa é mais ou menos resistente aos agressores do ouvido externo. Talvez o detalhe anatômico mais importante seja a presença de glândulas produtoras de impermeabilizante, a cera, que por sua existência mostra a preocupação da natureza em evitar a umidade em contato com a pele do ouvido. Essa observação nos indica que um filme de cera no conduto é desejável, só devendo ser retirado quando está provocando obstrução, portanto deve ser evitada a introdução de qualquer material para "limpar" os ouvidos. Também podemos concluir que quando a cera não está cumprindo sua função devemos colaborar com a natureza evitando a entrada de água ou secando o ouvido após a natação. Existem muitas formas de evitar a entrada de água no ouvido. A forma mais eficiente é o uso de protetor auricular contra a entrada de água que de um modo geral podem ser divididos em intra-auricular e intra-canal. Os intra-auriculares são os mais externos que procuram fechar principalmente a entrada do ouvido sem penetrar muito no conduto. Entre esses temos as massas de silicone, de vidraceiro e os "moldes", protetores sob medida, que podem ser "duros" quando feitos de acrílico e moles quando de silicone. Analisando de uma forma crítica as massas, a de vidraceiro é muito barata e comprada aos tijolos em
3 lojas de ferragem tendo como desvantagem em relação ao silicone, além do aspecto menos elegante, a possibilidade de irritar a pele de alguns indivíduos sensíveis. Quanto aos moldes, os de acrílico são sem dúvida mais resistentes ao tempo e mais eficientes quanto a vedação, tendo como desvantagem a possibilidade de machucar o conduto com qualquer pancada sobre o ouvido o que constitui uma limitação para seu uso em crianças. Os protetores intra-auriculares são os mais comuns existindo na praça de inúmeras formas e materiais. Todos eles, alguns mais e outros menos, irritam a pele do conduto e empurram para dentro a cera e a descamação da pele provocando obstrução. Quando após a natação os ouvidos ficam coçando, tendo sido usado protetor ou não, é sinal de que a umidade e seus acompanhantes estão irritando a pele. Nesta circunstância os ouvidos devem ser secados após a natação. Até o momento não existe nenhum produto industrializado em nosso meio embora em outros países eles inundem as prateleiras das "drugstore". Mas não é nada difícil fazer em casa ou mandar preparar em farmácia produtos semelhantes. Basicamente trata-se de álcool comum ao qual se adiciona um acidificante ou um desinfetante. Assim se para um vidro de 30ml de álcool comum adicionarmos 20 gotas de vinagre ou de líquido de Burow, temos a solução que deve ser usada de forma abundante, cerca de 8 gotas em cada ouvido, sempre que molhar, secando a seguir com toalha evitando introduzir qualquer instrumento no conduto auditivo. É importante lembrar que há fatores agravantes ou desencadeantes da otite externa que devem ser conhecidos para que esse problema possa ser evitado ou para auxiliar o tratamento quando já existente. Entre eles estão: tempo de exposição a água, traumatismo, contaminação química ou bacteriológica da água e problema individual da pele. Como foi descrito acima, a natureza procura defender o ouvido contra a umidade entretanto mesmo ouvidos absolutamente normais quando expostos a água muitas horas por dia a pele acaba deteriorando, seguindo-se a descamação e a coceira. Muitas vezes há o desenvolvimento de colônia de fungo ou infecção bacteriana quando o nadador traumatiza os ouvidos no ato de introduzir objetos diversos para coçar. Quanto a contaminação, foi observado que praias e rios containados, bem como piscinas insuficientemente tratadas provocam com facilidade infecção do ouvido externo. A explicação é simples, como vimos acima, a pele do ouvido exposta a água pode deteriorar criando um ponto sem defesa no organismo por onde podem penetrar agentes agressores. Esse fato leva a preocupação de tratar melhor as piscinas, o que leva às vezes a um exagero na quantidade de produtos químicos que são dissolvidos na água tornando-a quimicamente prejudicial para a pele do ouvido mesmo quando a exposição é pequena. A agressão a essa pele tão delicada continua muitas vezes quando o indivíduo sai da piscina e durante o banho, quando está lavando a cabeça, acaba permitindo que misturados com a água entrem no ouvido, sabonete, shampoo e outros cosméticos que também podem ser prejudiciais. Convém aqui lembrar que a pele dos alérgicos, bem como a dos portadores de doenças dermatológicas, é especialmente sensível aos produtos químicos em geral, devendo nesses casos serem tomados cuidados especiais. Otite média Como vimos nas noções de anatomia, a membrana do tímpano e a trompa de Eustáquio isolam o ouvido médio do meio exterior. Esse isolamento é necessário porque as defesas dessa parte do ouvido contra agentes infecciosos é bastante precária. Quando a água passando pela pele do ouvido externo ou pelas fossas nasais consegue penetrar no ouvido médio irá desencadear quase que fatalmente uma infecção. Como evitar esse tipo de infecção? Em primeiro lugar vamos lembrar que qualquer perfuração na membrana do tímpano pode ser desen-
4 cadeada é um impedimento para a natação, a não ser que seja feita uma proteção muito boa do conduto auditivo externo, pelos métodos que vimos acima quando foi estudada a otite externa. A perfuração da membrana do tímpano por infecção, quando "o ouvido vaza", por traumatismo ou quando o édico coloca um tubo de ventilação para tratar otite persistente. Depois temos o problema do material infectado proveniente do nariz. Nesse particular temos dois mecanismos importantes, a entrada de água externa sob pressão pelo nariz normal e o progresso natural de infecção do nariz ou nasofaringe pela trompa. É claro que a combinação dos dois também é possível, e aliás, muito comum. A entrada de água sob pressão pelas trompas de Eustáquio é muito mais comum nas crianças pelos detalhes anatômicos que vimos no início desse capítulo, e ocorre principalmente em determinadas manobras como pular de pé na água, virar "cambalhota", "plantar bananeira" dentro da água, pegar objetos no fundo da piscina e em todas as circunstâncias em que um fluxo de água forte é introduzido no nariz. O mesmo acontece quando a pressão da água aumenta em relação ao ouvido médio, a medida que a profundidade que o nadador atinge é maior. É claro que as evoluções sob a áuga quando praticados em profundidade maior oferecem mais risco. Como vimos, todo ar que chega a um ouvido normal provém do nariz ou do nasofaringe (atrás do nariz) portanto sempre que há uma infecção nessas regiões, os ouvidos estão mais sujeitos a serem comprometidos. Por esse motivo os nadadores, especialmente crianças, com infecção de amígdalas e adenóides, de faringe, de nariz ou de seios da face (sinusite) devem interromper momentaneamente os treinos para evitar a otite média. Há indivíduos que são especialmente sensíveis a contaminação química ou bacteriológica da água em relação ao nariz. Problemas anatômicos como desvio do septo, hipertrofia de turbinas ou de adenóides, ver figura 1, facilitam a obstrução nasal e como consequência predispõem a infecção das vias respiratórias altas. O mesmo acontece aos portadores de rinite alérgica nos quais o edema da mucosa e das turbinas do nariz provoca obstrução. Nesses casos um dispositivo chamado "clip" nasal que pode ser visto na figura 2, deve ser usado durante a natação para evitar a entrada de água no nariz. O uso do clip nem sempre é bem aceito tanto entre as crianças como também entre adultos, mas quando a infecção nasal ou a otite média é recidivante devemos insistir em seu uso porque a ooutra alternativa é descontinuar o treino de natação.
5 R e s u m o (como evitar otites) Otite externa: 1. Evitar água contaminada por bactérias ou fungos. 2. Evitar água contaminada quimicamente. 3. Quem tem problema de pele deve evitar água nos ouvidos. 4. Não introduzir nem algodão nos ouvidos para secar ou coçar. 5. Secar os ouvidos com toalha após o banho. 6. Se ficar muito tempo na água usar solução de álcool para secar ouvidos. 7. Caso já tenha tido coceira ou dor na parte externa dos ouvidos deve ser usado protetor para evitar a entrada de água sempre que nadar. 8. Sempre que a coceira aumentar, aparecer dor ou obstrução do ouvido, não só a natação deve ser interrompida como deve ser evitada a entrada de qualquer água nos ouvidos e procurado um médico especialista. Otite média: 1. Malabarismos aquáticos como "plantar bananeira", "virar cambalhota", "procurar objetos no fundo da piscina" só devem ser feitos com o uso de "clip" nasal especialmente quando há antecedentes de otite ou sinusite. 2. A profundidade é um agravante dos malabarismos em relação ao desencadeamento de otite e sinusite. 3. Nenhum tipo de água deve penetrar nos ouvidos quando há perfuração de tímpano seja ela espontânea ou provocada pela cirurgia de colocação de tubo de ventilação. Nesses casos a natação só pode ser praticada com o uso cuidadoso de protetor de ouvido externo. 4. A natação deve ser evitada quando houver infecção nasal, de amígdalas ou adenóides. 5. Quando há obstrução nasal crônica ou aguda a natação só deve ser praticada quando o nadador usa "clip" nasal.
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