Aprender a escrever pequenos contos: dicas importantes para futuros escritores
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- Danilo Furtado Arantes
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1 Aprender a escrever pequenos contos: dicas importantes para futuros escritores Escrever não é uma tarefa fácil e, contrariamente ao que se possa pensar, não resulta exclusivamente de acessos de inspiração apenas acessíveis a alguns iluminados. Com efeito, a escrita é muito menos produto da inspiração do que da transpiração, ou, dito de outra forma, cada texto implica do seu autor um trabalho árduo e dedicado, quer na fase da planificação, quer na fase da revisão. A este propósito, permito-me transcrever algumas regras essenciais, elaboradas por Daniel Cassany, numa obra sugestivamente intitulada La cocina de la escritura: 1 DECÁLOGO DA REDACÇÃO 1. Não tenhas pressa. 2. Utiliza o papel como suporte. 3. Rascunha, rasura. 4. Pensa na tua audiência/público. 5. Deixa a gramática para o fim. 6. Planifica conscientemente a tarefa de escrever. 7. Atenta nos parágrafos. 8. Relê o texto, frase por frase, procurando economia e clareza. 9. Ajuda o leitor a ler, cuidando a mancha gráfica. 10. Deixa repousar o teu texto na mesa e, se possível, dá-o a ler a outra pessoa. Como começar, então, a escrever um pequeno conto? Antes de mais, convém ter presente que: O conto é uma narração, geralmente curta, na qual intervêm personagens que realizam acções num determinado tempo e num determinado espaço. A história é contada por um narrador que pode ou não participar na mesma. No que respeita à estrutura, geralmente, uma personagem (ou várias) depara(m)-se com um problema (ou conflito) que deve(m) superar. A superação desta dificuldade acontece no final do conto e corresponde ao desenlace.
2 Tendo em atenção aquilo que se afirma no texto destacado acima, parece-me importante que se determine, em primeiro lugar, a quem se destina o nosso conto, já que a história que vamos contar deve adequar-se ao público a quem se destina. Eis, pois, a nossa primeira escolha: - A quem se destina o nosso conto? A um público adulto, ou, pelo contrário, a um público infantil? Da resposta a esta questão dependem, por exemplo, a linguagem que iremos utilizar, as personagens que iremos escolher e o próprio enredo do conto, como facilmente se perceberá. Uma vez escolhido o nosso público leitor, podemos avançar para outras escolhas. Julgo que o quadro que se segue pode ajudar-nos a registar algumas decisões. Vamos pressupor, então, que o conto que vamos escrever se destina a um público infantil. 2 Cenário (espaço e tempo nos quais se passa a acção) Personagens Problema (a(s) dificuldade(s) com as quais a(s) personagem(ens) se depara(m)) Desenlace (a(s) solução(ões) encontradas para a resolução do(s) problema(s)
3 Uma vez preenchido o quadro, podemos começar a pensar numa forma eficaz de estruturar a história. As questões que se seguem servirão para ir guiando o trabalho desta fase: 1. Que informações forneceremos inicialmente? (caracterização da personagem principal e, eventualmente, das personagens secundárias? Tempo em que ocorre a acção? Espaço onde vivem as personagens? Todas as informações relativas a estes aspectos?) 2. Quantos parágrafos consagraremos a estes aspectos iniciais? 3. Com que situações problemáticas se irão deparar as nossas personagens? 4. Há alguma lógica no encadeamento dessas situações? Que conectores deveremos, então, utilizar para que essa lógica seja transmitida aos leitores? 5. Quantos parágrafos destinaremos ao relato dos problemas que se colocam às personagens? 6. Que estratégias são usadas pela(s) personagem(ens) para a resolução do(s) seu(s) problema(s)? É convocada a ajuda de outras personagens? Como decorrem os acontecimentos? 7. Quantos parágrafos destinaremos a esta parte da narrativa? 3 Nesta altura, poderemos começar a pensar no título da nossa história. Também neste aspecto as nossas opções podem variar. Assim, o título pode remeter para uma das categorias da narrativa (a acção, o espaço ou o tempo, a personagem principal, por exemplo), mas também pode obrigar o nosso leitor a formular hipóteses diversas de significação. Chegados a este ponto, podemos começar a textualizar a partir da planificação que fomos construindo. Escrever a história vai agora ser bem mais fácil, dado todo o trabalho de preparação que desenvolvemos até aqui.
4 E depois da história escrita? Esta é uma fase igualmente importante do processo de escrita. Depois de escrito o nosso texto, procederemos à sua leitura. Há sempre pequenas lacunas que poderemos corrigir de imediato. Contudo, convém que o deixemos em pousio durante algum tempo. Deste modo, criaremos alguma distância relativamente à nossa criação e, qundo voltarmos a ele, fá-lo-emos de uma forma bem mais crítica e apurada. Daniel Cassany e Antonio García Del Toro dão-nos alguns conselhos preciosos, a este propósito, numa obra intitulada Recetas para escribir. Deixo-vos com eles: 4 1. Lê como os teus leitores: imagina-te no papel de leitor por alguns momentos. Procura ler o texto como se o não tivesses escrito. Compreendes o que lês? Estás de acordo com o que está escrito? Anota todas as tuas impressões. Quando terminares, analisa essas impressões segundo a tua perspectiva de autor. O que podes fazer no sentido de evitar o que o leitor possa ter pensado de negativo sobre o texto? 2. Pede ajuda a um colega: pede-lhe que leia e comente o que escreveste. Prepara as perguntas que pretendes fazer-lhe. Escuta atentamente o que ele tiver para te dizer, não o interrompendo. Aproveita todas as ideias que possam melhorar o teu texto, embora devas procurar ser selectivo e crítico face às opiniões dos outros. Não te sintas obrigado a alterar tudo sem razões plausíveis para que o faças. 3. Oraliza o que escreveste: lê o teu texto em voz alta, como se estivesses a lê-lo aos teus leitores. Escuta como te soa. Parece-te bem? Agrada-te o que ouves? Corrige o que te parece que podes melhorar. 4. Compara os planos: compara a versão final do teu texto com os planos iniciais. Esqueceste algum pormenor? O teu texto responde aos teus objectivos? Mantém a estrutura prevista inicialmente? 5. Prova fluorescente: lê o texto e marca com um marcador de cor as ideias principais do texto. Certifica-te de que o que foi marcado ocupa as posições importantes no texto. 6. Computador: verifica o texto no computador. Utiliza as sugestões de correcção ortográfica e tipográfica, sinónimos, reformulação de orações, etc.. As máquinas detectam imperfeições ou esquecimentos que, às vezes, nos passam despercebidas. No entanto, se te surgirem dúvidas entre as opções de correcção e a tua versão, tenta resolver o problema com a ajuda de um dicionário ou uma
5 gramática. Pede ajuda ao professor, no caso de não conseguires resolver o problema pelos teus próprios meios. 7. Melhorar o produto: mesmo que o teu texto cumpra com os propósitos previstos, podes sempre melhorá-lo. Pergunta-te: como posso melhorar a escrita? Como posso ser mais claro(a), mais atractivo(a) e mais informativo(a)? Adaptado de Cassany, D. y García Del Toro, A. (1999). Recetas para escribir. 5
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