Commodity Insight Balanço de Oferta e Demanda de Macronutrientes 2013
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INTRODUÇÃO Segundo dados divulgados pelo Sindicato da indústria de Adubos e Corretivos Agrícolas, no Estado de São Paulo (Siacesp) e pela Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA), o Brasil já importou, até agosto de 2013, aproximadamente 12,7 milhões de toneladas de fertilizantes básicos (ureia, sulfato de amônio, n i- trato de amônio, superfosfato simples, superfosfato triplo, mono amônio fosfato, diamônio fosfato e cloreto de potássio), um incremento de 10% em relação às importações verificadas no ano anterior. Além disso, o país produziu ao redor de 6,1 milhões de toneladas de fertilizantes básicos, montante que, apesar de apresentar retração de 0,1% em relação ao acumulado de agosto/12, representa complemento importante à demanda nacional por adubos. Às vésperas do plantio da safra 2013/14 de grãos no país, julga-se adequado realizar uma exposição das condições de oferta e demanda de fertilizantes básicos e nutrientes, com o objetivo de avaliar a adequação da ação dos agentes que abastecem a agricultura brasileira importadores e produtores e fornecer algumas perspectivas quanto ao mercado doméstico para o início de 2014. A seguir-se desta introdução, serão feitas breves exposições das condições de estoques iniciais, importações, produção nacional e entregas. Por representarem uma porção marginal no balanço t o- tal, exportações foram desconsideradas neste estudo. Expostos os dados de oferta e consumo, a quinta seção tratará de estimar o consumo total de nutrientes no ano de 2013, e o estudo será concluído com a apresentação do balanço elaborado. 3
ESTOQUES O ano de 2013 começou com estoque total de 4,1 milhões de toneladas de produtos fertilizantes, sendo 997 mil de fertilizantes nitrogenados, 2 milhões de fosfatados e 1,1 milhão de cloreto de potássio. Uma leve retração no estoque inicial em relação a 2012 se deve à expansão das áreas plantadas de soja e milho de inverno na safra 2012/13, o que contrabalanceou a redução da safra de milho verão. A Tabela 1 expõe os dados em detalhes. Tabela 1 - Estoques iniciais de fertilizantes e nutrientes (Mil toneladas) Fonte: Siacesp/ANDA Figura 1 - Importações acumuladas de nutrientes (Mil toneladas) IMPORTAÇÕES Os agentes brasileiros da indústria de fertilizantes adiantaram as importações este ano. À exceção do potássio, cujas importações ficaram abaixo dos valores verificados em 2011 (em termos de nutriente) devido aos amplos estoques acumulados no país, 2013 apresentou, sobretudo para fosfatados, boa margem contra anos anteriores. A Figura 1 demonstra a evolução das importações acumuladas por nutriente nos últimos três anos até agosto, além da média histórica dos últimos cinco anos (2008 a 2012). Fonte: Siacesp/ANDA A estratégia fundamentou-se sobre a percepção de um cenário internacional de preços fracos para insumos do complexo NPK, estimulando aquisições, s o- 4
bretudo a partir de fevereiro. Ao contrário do que permite supor, a alta do dólar só se configurou como impeditivo ao avanço das importações quando a cotação explodiu, de maio para junho, sendo neutralizada pela trajetória descendente dos preços de importação no mercado internacional nos primeiros cinco meses do ano, período em que a variação do câmbio ocorreu paulatinamente. A Figura 2 1 ilustra esta dinâmica. No caso do nitrogênio, cuja derrocada dos preços foi ainda mais acentuada do que a variação positiva do dólar, houve duro golpe aos volumes mensais importados entre maio e junho, mas a recuperação em julho é nítida. No caso dos fosfatados, as importações não só não se reduziram no mesmo intervalo, como carregou alguma alta para o mês de junho, retraindo apenas em julho, quando a moeda internacional tornou-se ainda mais cara. Figura 2 - Importação de nutrientes e custos de produção Fontes: Siacesp/ANDA e ICIS No mês de agosto, dados preliminares indicam manutenção do avanço acumulado em todos os produtos, sendo o sulfato de amônio a única exceção. Observando a Tabela 1, chamam a atenção os incrementos de 11% às impo r- tações de nitrogenado, 29% às importações de fosfatados e de 13% às impo r- tações de cloreto de potássio. Em termo de nutrientes, agosto representa incremento de 260 mil toneladas de nitrogênio, 240 mil toneladas de pent ó- 1 Par a o cálculo do custo médio por tonelada de nutriente foram considerados os seguintes insumos (todas as séries de preços foram fornecidas pela ICIS): (i) Nitr ogênio custo médio do nutriente ponderado pelas quantidades importadas dos seguintes insumos em cada mês entre ja neiro e agosto: a. Ur eia: média entre o preço FOB da variedade perolada em Yuzhny e o pr eço FOB da variedade granular no Egito. À média dos dois preços foi acrescido o fr ete entre Mar Báltico e Brasil. Considera-se ureia com 45% de nitrogênio; b. Nitr ato de Amônio: preço FOB no Mar Báltico acrescido de fr ete entre a região e o Brasil. Considera -se NAM com 34% de nitrogênio; c. Sulfato de Amônio: pr eço CIF no por to de Paranaguá. Considera-se SAM com 21% de nitrogênio; (ii) Pentóx ido de Fósforo custo médio do nutriente ponderado pelas quantidades importadas dos seguintes insumos em cada mês entre janeiro e agosto: a. MAP: pr eço CIF no por to de Paranaguá. Considera-se MAP com 52% de P2O5; b. TSP: pr eço FOB em Marrocos acrescido de fr ete entre o Norte da Áfr ica e o Br asil. Considera-se TSP com 46% de P2O5. (iii) Óx ido de Potássio custo médio do nutriente calculado com base no preço CIF no por to de Paranaguá para clor eto de potássio com 60% de K2O. 5
xido de fósforo e 515 mil toneladas de óxido de potássio, colocando o acumulado de 2013 à frente de todos os anos anteriores em termos de nu trientes, considerando apenas os insumos dispostos na Tabela 2. Tabela 2 - Importação de insumos fertilizantes (Mil toneladas) Fonte: Siacesp/ANDA Produção Nacional Não fosse pelo avanço na indústria de fosfatados - única a verificar incremento ao total produzido em relação ao ano passado - a produção nacional mergulharia abaixo da média histórica dos últimos cinco anos em 2013. A Figura 3 expõe a evolução da produção acumulada de nutrientes em mil toneladas, enquanto a Tabela 2 expõe a produção mensal de cada produto. Gráfico 1 - Custo de insumos e produção nacional Fontes: Siacesp/ANDA e ICIS O Gráfico 1 ilustra a relação entre produção de fosfatados e custos de insumos 2 para a indústria. O gráfico sugere que há algum incremento à produção relacionado à redução dos custos de insumos em 2013, 2 Índice elabor ado pela INTL FCStone, composto em 39,7% por preços de Rocha Fosfática, 31,5% por preços de Ácido Fosfórico, 25,9% por pr eços de Enxofre e 2,9% por preços de Amônia. Todos os preços foram fornecidos pela ICIS. 6
que se faz perceber nitidamente apesar da recente alta do Dólar. Entendese que, não fosse a pressão baixista que emana do mercado internacional de fosfatados 3, a produção doméstica teria ganhado ainda mais força no acumulado de julho/13 contra julho/12. Entregas A safra brasileira de grãos é o fio condutor das entregas de fertilizantes no país. O Gráfico 2 ilustra a dinâmica, apresentando ganho nítido de volume a partir de abril, mantendo o ritmo de crescimento das entregas até outubro época do plantio - e decaindo em novembro. Gráfico 2 - Entregas mensais de fertilizantes (Milhões de toneladas) Fontes: Siacesp/ANDA Em agosto/13 as entregas atingiram seu maior valor histórico: 3,6 milhões de toneladas. O Gráfico 3 descreve a trajetória da participação dos estados das regiões Sul, Centro-Oeste, Norte e Nordeste nas entregas totais de fertilizantes. Verifica-se, já a partir de maio, que as entregas a estas quatro regiões Gráfic o 3 - Partic ipaç ão das regiões Sul, Centro-Oeste, Norte e Nordeste nas entregas totais de fertilizantes Fontes: Siacesp/ANDA estiveram acima da participação média nos últimos cinco anos. A dinâmica se evidencia de forma mais clara ao analisarmos as entregas em termos de nutrientes. Dos gráficos dispostos na Figura 3, nota-se tendência de acúmulo das entregas de K2O e P2O5 principais nutrientes a compor os complexos NPK utilizados na agricultura brasileira - a partir de abril, intensificando-se à medida que nos aproximamos de outubro. Nitrogênio, apesar de menos representativo em volume, sugere um acú- 3 O Br asil é um mercado essencialmente tomador de preços no caso de fertilizantes. Deterioração dos preços no mercado internacional significa, também, deterioração dos preços no mercado doméstico e, consequentemente, da r elação receita/custo das indústrias nacionais. 7
mulo de entregas no início do primeiro e quarto trimestres, relacionado, no primeiro pico, à safrinha e à cana-de-açúcar e, no segundo, à primeira safra de milho. Figura 3 - Entrega de fertilizantes por nutriente (Mil toneladas) Fontes: Siacesp/ANDA Entende-se que o comportamento das entregas sobretudo o recorde de agosto - decorre em boa parte do adiantamento das importações. Considerando, entretanto, que as entregas de nitrogênio em 2013 comportaram-se de forma semelhante às entregas médias do nutriente nos últimos cinco anos e que, na verdade, o que tem dado corpo às entregas totais de fertilizantes a partir de abril são os fosfatados e o cloreto de potássio (ao que se depreende da Figura 3), há de se suspeitar que a soja seja o principal destino do incremento à participação do Sul, Centro-Oeste, Norte e Nordeste sobre as entregas totais, posto que a sojicultura domina aproximadamente 50,7% da atividade agrícola nestas quatro regiões. Expectativa de consumo para a safra 2013/2014 Antes de estimar o consumo efetivo para a safra 2013/14, algumas considerações precisam ser feitas a respeito da expansão ou redução da área plantada de cada cultura. Primeiramente, para a soja, trabalha-se com expectativa de expansão das lavouras entre 3,5% e 4,6% (valores estimados pela INTL FCStone 4 ). Entendese que o incremento à área plantada será observado, sobretudo, em deco r- rência dos preços de milho deteriorando nos mercados domésticos brasileiros em proporção maior do que a perda de suporte verificada no mercado internacional de soja. Além disso, o fortalecimento recente do Dólar contra o Re- 4 http://www.intlfcstone.com.br/update/366/estimativa-de-safra-de-soja-brasil-201314-setembro.html 8
al configura-se como fator chave na decisão de investimento do agricultor, que deve optar por um cultivar cuja absorção se dá majoritariamente no mercado externo (soja) em detrimento de um cuja absorção é predominantemente doméstica (milho). Apesar de a INTL FCStone não ter estimado uma área plantada de milho, entende-se que uma redução abrupta é certa. Desta forma, dois cenários hipotéticos distintos foram elaborados. O cenário com menor consumo por parte do milho pressupõe redução na área plantada em primeira safra da ordem de 20%, enquanto um cenário mais positivo trabalha com redução de 10%. Além disso, ainda para o milho, há de se estimar quanto do fertilizante total absorvido pela cultura em 2012 destinou-se, especificamente, às safras de verão e inverno. Tomando por base que a região Sul do país é a única com duas safras de milho bem consolidadas, optou-se por utilizar as proporções relativas à produtividade média dos últimos cinco anos como base para est i- mar a absorção de fertilizantes. Desta forma, considerando que a produtividade média do milho verão na região Sul foi de 5,55 toneladas/ha, enquanto a produtividade média do milho safrinha foi de 4,33 toneladas/ha, consid e- rar-se-á, para efeitos de análise, que 56,2% do fertilizante absorvido pelo milho na safra 2012/13 destinou-se à primeira variedade, enquanto 43,8% destinou-se à segunda. Para as áreas de cana-de-açúcar e café serão utilizados os valores divulgados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Segundo informações sobre aplicações de fertilizantes fornecidas por especialistas do setor 5, depreende que, juntas, essas cinco culturas representaram 73% do consumo de nitrogênio, 85% do consumo de P2O5 e 83% do consumo de K2O no Brasil em 2012. A expansão da área das demais culturas será dada pela taxa média anual de crescimento da lavoura total do Brasil (temporária e permanente) entre os anos de 2000 e 2011, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatíst i- ca: 2,52%. A Tabela 3 exibe as estimativas levantadas quanto em relação às necessidades nutricionais por hectare de cada uma das cinco culturas destacadas e de outras culturas não especificadas, enquanto a Tabela 4 fornece uma estimativa sobre as necessidades nutricionais totais da agricultura brasileira ao longo do ano de 2013. Pressupondo que a safrinha 2013/14 só será plantada no próximo ano, a Tabela 4 não inclui as demandas da cultura em nenhum dos dois cenários. 5 Cana-açúcar : 10,3% de SAM, 20,3% de NAM, 21,6% de ur eia, 4,6% de SSP, 9,5% de MAP, 0,4% de DAP, 31,3% de KCl, 2% de inertes/micronutrientes; Soja: 0,05% de SAM, 41,74% de SSP, 17,87% de TSP, 9,1% de MAP, 26,89% de KCl, 4,35% de inertes/micronutrientes; Milho: 13,6% de SAM, 2,1% de NAM, 25,8% de ur eia, 10,1% de SSP, 7,2% de 03-17-00, 1,7% de TSP, 12,9% de MAP, 5% de DAP, 18,8% de KCl, 2,8% de iner tes/micronutrientes; Algodão: 9,9% de SAM, 0,1% de NAM, 26% de ur eia, 17,1% de SSP, 4,1% de 03-17-00, 0,5% de TSP, 17,5% de MAP, 2,1% de DAP, 20,3% de KCl, 2,4% de iner tes/micronutrientes; Café: 18,3% de SAM, 14,5% de NAM, 24,7% de ur eia, 4% de SSP, 7,8% de MAP, 2% de DAP, 25,4% de KCl, 3,3% de iner tes/micronutrientes. 9
Tabela 3 - Consumo esperado de nutrientes (2013) Fontes: Siacesp/ANDA, Conab, IBGE Tabela 4 - Consumo de fertilizantes e nutrientes por cultura Fontes: Siacesp/ANDA, Conab, IBGE Balanço de Oferta e Demanda - 2013 Nota-se, na Tabela 5 que, até o fechamento de agosto, havia déficit nos balanços de oferta e demanda de nitrogênio e óxido de potássio no Brasil. Lembra-se, entretanto, que o balanço foi montado com a proposta de avaliar as condições para todo o ano de 2013 e, sendo assim, considera demandas de prazo mais longo, abarcadas pelos meses de novembro e dezembro e, portanto, já fora do calendário de plantio da safra de grãos 2013/14. Além disso, entende-se que os montantes necessários para complementar o consumo anual de nutrientes podem ser facilmente adquiridos entre os meses de setembro e dezembro via importações, sobretudo considerando o recente recuo do Dólar em relação ao Real e a deterioração dos preços inte r- nacionais de insumos fertilizantes. Para ilustrar esta hipótese, aponta-se para o desempenho do último trimestre de 2012, quando foram importados 926 10
mil toneladas de nitrogênio, 396 mil toneladas de pentóxido de fósforo e 872 mil toneladas de óxido de potássio. Tabela 5 - Balanço de oferta e demanda por macronutrientes -2013 (Mil toneladas) Fontes: Siacesp/ANDA No caso do pentóxido de fósforo, vale citar a relevância da indústria nacional de fosfatados, que age como complemento importantíssimo às demandas por insumos dessa natureza no país. Conclui-se, deste estudo, que os agentes fornecedores da cadeia de fertilizantes agiram de forma acurada ao adiantarem as importações em 2013, mitigando os riscos associados tanto à oscilação de preços ao longo do ano, como à condição precária da estrutura logística brasileira. Desta forma, não apenas a safra principal 2013/14 de grãos terá um abastecimento adequado, com poucas distorções nos preços domésticos em relação ao cenário intern a- cional, como há tempo hábil para importar os nutrientes necessários ao plantio da segunda safra, no primeiro trimestre de 2014. Gostou deste Insight? Entre em contato com a nossa equipe de Projetos Especiais e obtenha mais informações sobre o assunto. Renato Dias Projetos Especiais +55 19 2102-1347 renato.dias@intlfcstone.com ci@intlfcstone.com 11
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