Alta do dólar eleva preços, atrasa aquisições de insumos e reduz poder de compra
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- Eliana Castilho Sousa
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1 Ano 8 Edição 15 - Setembro de 2015 Alta do dólar eleva preços, atrasa aquisições de insumos e reduz poder de compra A forte valorização do dólar frente ao Real no decorrer deste ano apenas no período de maio a julho deste ano a alta chega a 40,6% em relação ao mesmo período de 2014 elevou os preços internos dos fertilizantes e defensivos agrícolas, piorando substancialmente o poder de compra dos sojicultores brasileiros. Para agravar o cenário, os valores da oleaginosa, considerando-se a média das regiões acompanhadas pelo Projeto Campo Futuro (CNA em parceria com o Cepea/ESALQ/USP) acumulam leve queda na mesma comparação. Esse quadro pressionou o poder de compra dos produtores de soja para a safra 2015/2016 frente ao observado na temporada 2014/2015. Além disso, a elevação da taxa de juros Selic, de 11% a.a. para 14,25% a.a., a restrição de crédito e o atraso na liberação dos recursos de précusteio também são fatores que dificultam a compra dos insumos pelos produtores, que acabaram postergando as aquisições. Assim, até julho, em média, 70% dos fertilizantes para a safra 2015/2016 haviam sido vendidos no Cerrado (MT, GO, BA, MA, MG e MS), 10 pontos percentuais a menos que no mesmo período do ano passado. No Sul (PR e RS), o cenário também é de atraso, de 12 pontos percentuais abaixo do verificado na mesma época da safra anterior, ou seja, para a safra 2015/2016, 58% dos fertilizantes já haviam sido vendidos até julho/15. No caso dos fosfatados, para o produtor do Cerrado (MT, GO, BA, MA, MG e MS) adquirir uma tonelada de monoamônio fosfato (MAP), entre maio e julho deste ano, foram necessárias 33,63 sacas de soja, enquanto no mesmo período do ano passado foram 26,62 sacas de soja na mesma troca, aumento de 7,17 sacas. No Sul do Brasil, o quadro é mais grave. Entre maio e julho de 2015, na compra de uma tonelada de MAP, os produtores precisaram de 33,38 sacas de soja. Na mesma época em 2014, foram necessárias 9,72 sacas de soja a menos, ou seja, 23,66 sacas da oleaginosa. Regionalmente, no Cerrado, Campo Novo do Parecis (MT) foi a que registrou o pior dos quadros para o produtor. De maio e julho de 2015, sojicultores precisaram de 38,58 sacas do grão na compra de uma tonelada de MAP. Quanto ao Sul, a região de Ponta Grossa (PR) se destaca, já que produtores desembolsaram 35,82 sacas na média do período para a compra do mesmo insumo. Para os adubos potássicos, no caso do cloreto de potássio (KCL), a intensidade da perda do poder de compra foi menor na mesma comparação. Na média de maio a julho de 2015, no Cerrado brasileiro, 26 sacas de soja foram necessárias na aquisição de uma tonelada de KCL. No mesmo período de 2014, com apenas 20,34 sacas de soja o produtor conseguiria adquirir uma tonelada do produto. Vale lembrar que o KCL é um dos produtos mais utilizados na adubação das áreas do Cerrado. Em relação ao Sul, na média de maio a julho deste ano, 24,21 sacas de soja compraram uma tonelada de KCL, enquanto no mesmo período do ano passado foram necessárias 18,05 sacas de soja. Para os adubos nitrogenados, mesmo com a pouca utilização nas lavouras de soja, o poder de compra do produtor também está menor na safra 2015/2016. No Sul, onde é mais tradicional o cultivo de milho na primeira safra, caso o produtor tenha optado por comprar uma tonelada de ureia entre maio e julho de 2015 trocando por sacas de soja, ele precisou desembolsar 23,59 sacas para a troca, quase 5 sacas a mais que no mesmo período de 2014, quando a relação de troca era de 18,64 sacas. No Cerrado, o poder de compra de produtores frente ao fertilizante nitrogenado também caiu; foram necessárias 25,45 sacas de soja neste ano, 5 sacas a mais que no mesmo período do ano passado. Figura 1. Média da relação de troca de soja pelos fertilizantes (MAP, KCL e Ureia) em maio, junho e julho de 2014 e 2015 (R$/saca de soja) no Cerrado Brasileiro (MT, GO, BA, MA, MG e MS) e no Sul do Brasil (PR e RS). Fonte: Cepea/CNA (2015).
2 Ano 8 Edição 15 - Setembro de Chuva prejudica o andamento da colheita de milho e o plantio de trigo no Sul. No Cerrado, clima é favorável As principais regiões produtoras de milho segunda safra no Brasil sofreram influências distintas do fenômeno climático El Niño. No Sul, o excesso de chuvas prejudicou a finalização da colheita do milho, além de atrapalhar o desenvolvimento de outras lavouras de inverno, como o trigo. Já no Centro- Oeste brasileiro, as precipitações se estenderam até maio, garantindo bom potencial produtivo ao cereal do Cerrado. A colheita de milho safrinha andou em ritmo lento em meados de junho e julho em todo o estado do Paraná. Porém, com a paralização das chuvas, as atividades voltaram ao normal e a colheita avançou em 80% das áreas, com rendimento médio de 110 sacas/ha. As últimas áreas colhidas tiveram problemas pontuais em relação à qualidade dos grãos, devido ao excesso de umidade. Na região Norte, mais de 50% das áreas foram colhidas até a segunda quinzena de agosto, e a expectativa de produtividade gira em torno de 100 sacas/ha. Quanto aos tratos culturais, de acordo com agentes de mercado, foram feitas quatro aplicações de inseticidas, duas específicas para percevejo, além de uma de fungicida, em média. Na região de Dourados (MS), por sua proximidade com o Sul do País, o cenário foi semelhante ao do Paraná. O excesso de umidade atrasou o andamento da colheita do cereal e há relatos de problemas pontuais com relação à qualidade dos grãos, porém a produtividade deve ficar acima das 100 sacas/ha. De acordo com agentes consultados, o volume de água no início de julho ultrapassou 80 mm, ficando acima do esperado para o período. Ainda segundo os produtores consultados, foram feitas cinco aplicações de inseticida e duas de fungicida nas lavouras sulmato-grossenses. No Cerrado, a colheita deverá ser finalizada nos próximos dias com um recorde de produtividade devido às condições climáticas ideais para o desenvolvimento das lavouras de milho. As chuvas se estenderam até junho, favorecendo assim a qualidade e produtividade do cereal. Na região do Médio-Norte do Mato Grosso, a colheita está praticamente finalizada com o rendimento em torno de 107 sacas/ha. Na região Sudeste do mesmo estado, a colheita atinge 95% das áreas e a produtividade média é de 108 sacas/ ha. Em ambas as praças, em média, os produtores realizaram três aplicações de inseticida e uma de fungicida. Já para o trigo, o excesso de umidade atrasou a finalização do plantio no Paraná e Rio Grande do Sul, assim como prejudicou a aplicação de fertilizantes e defensivos no momento ideal. Além disso, a baixa remuneração do trigo e os elevados custos de produção fizeram com que produtores reduzissem a área cultivada do cereal. No Paraná, segundo o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura e Abastecimento (Seab), a queda de área de trigo foi de 5% na comparação com a safra passada. Em Ponta Grossa (PR), o plantio e as aplicações de fertilizantes e defensivos também foram afetados. Nessa região, produtores relataram alta incidência de brusone e giberela. Além disso, na tentativa de baratear os custos, muitos triticultores adiaram a compra de alguns insumos, o que também afetou a sanidade das lavouras. Entretanto, produtores esperam daqui para frente uma melhora no panorama geral, já que o clima tende a se estabilizar. Na região de Passo Fundo (RS), a área de trigo foi praticamente toda plantada até o final de julho, apesar do leve atraso ocasionado pelas chuvas. Os triticultores estavam preocupados com a maior incidência de doenças fúngicas, já que as aplicações de defensivos também foram adiadas em função do clima instável. A produtividade esperada é de 55 a 60 sacas de 60 kg/ha, dentro do esperado inicialmente. Colheita do algodão passa da metade no Brasil e produtividade preocupa A colheita do algodão nas principais regiões produtoras segue normalmente e as produtividades se mantêm dentro das expectativas iniciais mesmo com as intempéries ocorridas durante o desenvolvimento das lavouras. Segundo agentes consultados, as primeiras áreas colhidas apresentaram produtividade abaixo das médias históricas regionais, porém, à medida que a safra avançou, o rendimento tem melhorado, podendo superar 300 arrobas/hectare. A região Sudeste de Mato Grosso teve as lavouras de algodão safra afetadas pelas chuvas tardias e pelo ataque de pulgão (Aphis gossypii). Porém, até a primeira quinzena de agosto, aproximadamente 70% do algodão da região já havia sido colhido, com rendimento de pluma próximo dos 40% e produtividade média de 270@ de algodão em caroço por hectare. Para parte dos agentes, as chuvas fora de época comprometeram pontualmente a qualidade da pluma das áreas de algodão safra, em contrapartida, favoreceu o desenvolvimento do algodão safrinha que deve obter produtividades acima das expectativas iniciais. Na região do Médio-Norte (MT), 55% da área plantada já havia sido colhida até o fim de julho. Segundo agentes consultados, a produtividade média está similar à temporada passada (260@/ ha). Também é esperada para a região rendimento da pluma de 40%. Para as duas praças de Mato Grosso, os cotonicultores apontam que a destruição de soqueira já está bem adiantada e deve ser finalizada dentro do prazo para o vazio sanitário. Em Luís Eduardo Magalhães (BA), a produtividade inicial foi apontada pelos agentes consultados em cerca de 180@/ hectare, considerada insatisfatória. Esse cenário é resultado do frio inesperado
3 Ano 8 Edição 15 - Setembro de aliado a ventos fortes que contribuíram para a estagnação da abertura das maçãs. As chuvas que se estenderam até meados de maio contribuíram para este cenário. Dessa forma, produtores da região esperam quebra de até 20% em relação às expectativas iniciais. Além disso, houve expressiva incidência de bicudo (Anthonomus grandis), o que aumentou consideravelmente os custos de produção e prejudicou a rentabilidade desta safra. As lavouras mais tardias indicam produtividade melhores, sendo que em alguns casos a produtividade é superior a Até a primeira quinzena de agosto, a colheita atingiu 60% da área e a produtividade média foi de Na temporada 2014/2015, o custo médio operacional estimado pelo Campo Futuro para as propriedades de Luís Eduardo Magalhães deve chegar a R$ 6.579,14/ha. Com base na produtividade de 220@/ha e no rendimento de pluma de 41%, a produção estimada seria de kg de pluma. Considerando-se o valor médio de venda em julho, de R$2,2090/ lb, a receita seria de R$5.936,06/ha, o que geraria uma margem negativa de 9,8%. Com base no cenário de altos custos de produção, somado à baixa produtividade, produtores indicam que pode ocorrer uma redução nas expectativas de área plantada de algodão para a próxima safra em Luís Eduardo Magalhães. Baixa rentabilidade do milho pode reduzir novamente a área com o cereal Para a temporada 2015/2016, com a tomada de decisão de plantio bem encaminhada, agentes de mercado e produtores já sinalizam para uma redução ainda maior da área plantada com milho verão, se comparada aos anos anteriores. O cereal cultivado no verão tem reduzido sua representatividade em relação à soja devido aos altos custos de produção, assim como os baixos preços ofertados pelo cereal. No Paraná, maior estado produtor do cereal na primeira temporada, a safra 2015/2016 de milho verão deve ser ainda menor que a anterior, que já foi 18% inferior à safra 2013/2014, segundo dados do Deral/Seab. Agricultores de duas importantes regiões produtoras do Paraná, Guarapuava e Castro, já sinalizam para uma redução significativa da área de milho verão para a safra 2015/2016. Segundo os produtores consultados, habitualmente se plantava ao menos 30% da área com o milho verão, como parte integrante da rotação de culturas. Porém, para a próxima temporada a área cultivada deve cair para 20%, com a restante destinada à soja. Sendo assim, pode-se destacar que apenas os produtores que investem em alta tecnologia, buscando obter produtividades acima da média, devem manter o sistema de rotação de cultura tradicional. Em relação à rentabilidade, comparando-se os custos operacionais estimados para os primeiros meses de 2015, quando grande parte dos produtores se programa para a compra dos insumos e para o cultivo da safra seguinte, tanto em Guarapuava quanto em Castro, a rentabilidade seria negativa para o milho e positiva para a soja (Tabela 1). Em Guarapuava, a Receita Liquida Total (RLT) média, que leva em conta a receita bruta e os custos totais (despesas, depreciações e juros de capital investido) da soja ficou positiva em R$ 720,00/ha, enquanto para o milho verão, a RLT foi negativa em R$658,00/ha. Em Castro, o quadro é semelhante, porém com margens mais apertadas. Para o produtor saldar o custo total do milho, faltariam em média R$ 1.347,00/ha, enquanto que na soja a receita sobre o custo total é positiva em R$ 118,00/ha. Esses dados foram coletados no Paraná em julho/2015, para a safra 2015/2016, para o Projeto Campo Futuro, feito pelo Cepea em parceria com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). Em outras regiões brasileiras tradicionais produtoras de milho verão, como o Triângulo Mineiro, o cenário também indica queda de área de milho verão em relação à soja para a safra 2015/2016. Quando avaliados os custos totais de produção e comparados com a receita bruta das atividades, a margem do milho primeira safra também é negativa na média do primeiro semestre de 2015 (- R$ 103,60/ha), enquanto para a soja a margem foi positiva em R$ 513,20/ha. Guarapuava Castro Uberaba Soja Milho 1ª Safra Soja Milho 1ª Safra Soja Milho 1ª Safra RB R$ 3.517,74 R$ 3.977,71 R$ 3.673,37 R$ 3.688,38 R$ 3.218,22 R$ 3.310,52 CT R$ 2.797,15 R$ 4.636,11 R$ 3.555,34 R$ 5.036,22 R$ 2.704,97 R$ 3.414,14 RLT R$ 720,59 R$ 658,41 R$ 118,03 -R$ 1.347,83 R$ 513,25 -R$ 103,62 Fonte: Cepea (2015). Tabela 1. Receita Bruta, Custo Total e Receita Liquida Total média por hectare (janeiro/15 até julho/15) da soja e do milho verão em Guarapuava (PR), Castro (PR) e Uberaba (MG).
4 Ano 8 Edição 15 - Setembro de Figura 2. Receita Bruta Total por hectare da soja e do milho verão em Guarapuava (PR) de janeiro/15 até julho/15. Fonte: Cepea (2015). Figura 3. Receita Bruta Total por hectare da soja e do milho verão em Castro (PR) de janeiro/15 até julho/15. Fonte: Cepea (2015).
5 Ano 8 Edição 15 - Setembro de Figura 4. Receita Bruta Total por hectare da soja e do milho verão em Uberaba (MG) de janeiro/15 até julho/15. Fonte: Cepea (2015). Boletim Ativos de Cereais, Fibras e Oleaginosas é um boletim trimestral elaborado pela Superintendência Técnica da CNA e Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada - Cepea/Esalq - da Universidade de São Paulo. Reprodução permitida desde que citada a fonte. CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL SGAN - Quadra Módulo K - Brasília/DF (61) cna.comunicacao@cna.org.br
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