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Transcrição:

Gaudencio Barbosa R3 CCP HUWC UFC 25-11-2011

Lesões nodulares no pescoço podem se originar de diversas estruturas (nervos ou glandulas). Lesões diagnosticadas erroneamente como nodulo tiroideano são paradoxalmente frequentes em centros especializados Este artigo mostra 3 casos de nodulos no pescoço diagnosticados como nodulos tiroideanos

Caso 1: P.S, feminino, 26a, diagnóstico em 2003 de nódulo de 41mm logo abaixo do lobo D da tireoide US: nódulo heterogêneo, hiperecoico,parcialmente cístico, PAAF: inconclusiva, cintilografia sem hiperatividade, Por 1 ano teve TSH supresso com L-tiroxina sem regressão do tumor

Fig. 1 US shows a heterogeneous oval lesion of the right thyroid lobe (Caso 1)

Em janeiro de 2006 a paciente foi admitida neste serviço e ao exame demonstrando massa cervical amolecida, fixa a deglutição.rnm revela lesão extratiroideana de 47mm entre o lobo D da tireoide e o feixe vascular do pescoço O diagnóstico diferencial foi metástase linfonodal e paraganglioma

Fig. 2 Axial T2 (a) and coronal STIR (b) images show an oval lesion posterior and medial (c) to the carotid artery and internal jugular vein close to the right thyroid lobe

Em abril de 2006 paciente foi submetida a cervicotomia. Um nodulo de 45mm, firme, com escassos pontos vermelhos foi ressecada. HP: ganglioneuroma No pós-operatório a paciente apresentou Sindrome de Claude-Bernard-Horner. Acompanhamento com oftalmologista relatou discreta redução da ptose e miose

Fig. 3 The mass at the beginning of its removal. Red loop is on the carotid artery. Yellow loop is on the vagus nerve

Fig. 4 Immunostain for S-100 protein highlights the ganglion cells, surrounded by fascicles of schwann-like spindle cells (Ganglioneuroma features)

Experiência relatada por Leonardis: ganglioneuromas cervicais são raros no pescoço; diagnosticados no mediastino posterior e retroperitoneo A CT e RNM não são capazes de demonstrar pequenas lesões A ressecção mandatória: possibilidade de tumor neurogenico e metástase linfonodal Sindrome de Horner: devido a localização anatomica do tumor

A.P, feminino, 26 anos, foi admitida no serviço em 2006 com diagnostico previo de cancer de tireoide e metastase linfonodal cervical. US mostrou nodulo em lado direito de 38mm proximo ao feixe vascular cervical suspeito de metástase linfonodal

TC e RNM relataram lobo tiroideano esquerdo aumentado, deslocando a traqueia para direita e próximo, uma lesão necrótica de 4cm interpretada como doença metastática Cintilografia com Tc-99m mostrou linfonodo com hipoatividade. PAAF do linfonodo mostrou tecido fibrótico e ausência de células tumorais

Durante a exploração cirúrgica um bócio multinodular foi diagnosticado. Um nódulo esbranquiçado de 4cm, não aderido a estruturas próximas foi ressecado. Exame de congelação mostrou neoplasia mesenquimal. Parafina mostrou Schwannoma. Esta paciente tambem apresentou Sindrome de Claude- Bernard-Horner com enoftalmia e pstose

Fig. 5 Immunostain for S-100: diffuse, strong S-100 protein immunoreactivity characterises schwannoma

TC e RNM pré-operatórias interpretaram errôneamente o schwannoma como nódulo tiroideano com mestástase linfonodal, enquanto a PAAF diagnosticou neoplasia mesenquimal

Em 1997 Mikosh relatou o primeiro caso de schwannoma cervical simulando nódulo tiroideano no qual a PAAF mostrou lesão de origem neurogênica Aron em 2005 descreveu três casos similares, incorretamente tratados com tiroidectomia Apesar de a lesão se mostrar não aderida aos planos, lesão do tronco simpático pode ser prevedida considerando-se esta um schwannoma

R.R, feminino, 46 anos, submetida a tiroidectomia em outro serviço com metástase linfonodal a esquerda. Após o procedimento o cirurgião relatou ausência de linfonodo metastático, mas durante o segmento o endocrinologista confirmou a persistência de linfonodo. A paciente foi então encaminhada para este serviço para realização de esvaziamento cervical

TC e RNM pré-operatória confirmaram a presença de nódulo de 5cm a esquerda posterior a veia inominada PAAF revelou apenas processo inflamatório com exclusão de celulas tiroideanas e corpos de psamoma. Procedimento cirúrgico demonstrou lesão de aproximadamente 5cm, firme, esbranquiçada e aderida a planos musculares profundos

Fig. 6 CT scan show a mass in the superior mediastinum, posterior to the anonymous trunk

Fig. 7 Pictures are taken from the head of the patient. The left mass (m) appears lateral and posterior to the left internal jugular vein (jv)

A paciente foi diagnosticada histologicamente como linfonodo aumentado com pequeno centro hialino germinativo e células foliculares dentríticas. A zona periférica do linfonodo mostrou células dispostas em camadas concentricas ao redor de centros germinativos. Imunoistoquímica demonstrou resultado final de Doença de Castleman variante hialina

Em seguimento recente, após US de vários segmentos corporais a paciente não apresentou recorrência A doença de Castleman nunca tinha sido relatada como doença tiroideana errôneamente diagnosticada Descrita pela primeira vez em 1954 como doença inflamatória do sistema linfático de origem desconhecida

RNM geralmente pode ajudar no diagnóstico, mostrando fibrose linfonodal com hipointensidade em T2 Níveis séricos de interleucina 6, PCR e gamaglobulina geralmente confirmam o diagnóstico O diagnóstico final é dado pelo histopatologico e por isso justifica-se a excisão cirurgica, apesar do comportamento benigno da doença

Apesar de a Doença de Castleman ser uma entidade rara, é considerada diagnóstico diferencial com doenças congênitas, inflamatórias ou neoplásicas Devido a dificuldade diagnóstica, Denenberg entitulou a doença como linfoma impostor.

A prevalência de nódulo cervical simulando doença tiroideana na Universidade de Pisa é de 0,15%. Neste grupo, tumores neurogênicos são os mais frequentes Ressecção dessas lesões podem ser um desafio para cirurgiões que têm um diagnóstico incorreto e realizam uma abordagem inadequada, elevando assim a morbidade

De acordo com a experiência deste serviço, o correto diagnóstico pode ser alcançado através da imagem, anamnese e experiencia do cirurgião, com ajuda da PAAF, para realizar a melhor abordagem cirúrgica