caso; c) seja consolidada a propriedade do autor junto ao bem objeto do contrato; d) seja declarada a quitação do contrato em questão, bem como seja



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Transcrição:

Estado do Rio de Janeiro Poder Judiciário Fls. Processo: 0047641-29.2012.8.19.0205 Processo Eletrônico Classe/Assunto: Procedimento Ordinário - Revisão Contratual / Obrigações / D. Civil Em 09/07/2014 alegando que firmou contrato de arrendamento mercantil com a ré, por ter adquirido um automóvel, no valor de R$ 40.500,00, financiado em 60 parcelas de R$ 1.154,21, mais um valor de R$ 2.500,00. Aduz que em razão das tarifas ilegais cobradas como a taxa de cadastro, despesas de serviços de terceiros, registro de contrato entre outros, foi gerado um credito ilegal no valor de R$ 69.252,60, em favor da ré. Diz que o valor financiado sem as tarifas ilegais e a pratica de anatocismo o valor do financiamento seria R$ 56.745,99, caso tivesse aplicado o juros na forma simples. Relata que após a assistência de um profissional de contabilidade, verificou-se a disparidade entre o valor financiado, e o valor cobrado ao final. Afirma que já adimpliu com 44 parcelas, fazendo jus à posse do veículo até o deslinde da causa, bem como possui direito a quitação, existindo ainda saldo credor, em virtude do pagamento a maior das prestações. Requer a concessão da gratuidade de justiça e a inversão do ônus da prova. Pede a antecipação de tutela para determinar que a ré se abstenha de incluir o seu nome nos cadastros restritivos de crédito, bem como seja manutenido na posse do automóvel, condicionado ao depósito do valor R$ 1.145,21 referente as prestações do veículo. Pede ainda que: a) sejam declaradas nulas todas as clausulas abusivas do contrato devido à cumulação de juros acima de 2% sobre a parcela, juros de mora, cobrança de capitalização de juros, comissão de permanência, tarifa de cadastro, custo de registro, tributos por parcela, custo com serviços de terceiros; b) seja aplicado como índice a atualização dos valores a média entre INPC e o IGP-DI em detrimento de qualquer outro, se for o

caso; c) seja consolidada a propriedade do autor junto ao bem objeto do contrato; d) seja declarada a quitação do contrato em questão, bem como seja a ré condenada ao pagamento em dobro dos valores indevidos, em decorrência da cobrança ilegal de juros capitalizados; e) seja a ré condenada a indenizar o autor pelos danos morais sofridos. Gratuidade de justiça deferida a fls. 33. A parte autora juntou petição as fls.46/56, retificando o valor da causa. Conforme a decisão a fls. 58, foi recebida a emenda as fls. 46/56, sendo instada a parte autora a complementar o pleito incidental de exibição de documentos, sendo feito as fls. 63/77. 375Estado do Rio de Janeiro Poder Judiciário Contestação apresentada as fls. 90/132. Alega que todos os termos e condições do contrato celebrado eram de inteiro conhecimento do requerente, no ato da assinatura do contrato, bem como a incidência de encargos em eventual atraso nos pagamentos. Diz que o autor está inadimplente com o banco réu desde a 20º parcela, com vencimento em 16/04/2012. Argui que todas as tarifas existentes no contrato estão em consonância com a legislação civil e a regulamentação bancária vigentes na época da operação do contrato. Aduz a inocorrência de capitalização de juros. Impugna o pedido de baixa da alienação, tendo em vista que o contrato encontra-se em aberto, não podendo ser declarado quitado. Nega a ocorrência de danos morais e materiais. Requer que sejam julgados improcedentes os pedidos autorais. Réplica as fls. 158/167. De acordo com a certidão cartorária a fls. 168, foram instadas as partes para especificarem as provas que pretendem produzir, sendo manifestado somente pelo autor a fls. 175. Decisão saneadora a fls. 180, deferindo somente prova pericial contábil. As fls. 201/202, o perito solicitou as partes para apresentarem a documentação inerente ao contrato objeto da demanda, sendo feito pelo réu a fls. 212/214, fls. 216 e pelo autor a fls. 218. Consoante o despacho a fls. 228, foram homologados os honorários periciais, sendo instadas as partes a apresentarem os documentos exigidos pelo perito. Segundo a decisão de fls. 252, a parte ré foi reputada litigante de má-fé, uma vez que não apresentou os documentos solicitados pelo perito. Laudo pericial as fls. 330/346.

De acordo com a certidão cartorária as fls. 373, somente a parte ré se manifestou acerca do laudo as fls. 367/368. É o relato. Passo a decidir. Inicialmente, vale registrar que a relação jurídica estabelecida entre as partes encontra seu fundamento nas normas do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078, de 1990), conforme previsão contida no verbete nº 297 da súmula do STJ (O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras). No exame pericial foi constado que não considerando as taxas, o valor do bem seria de R$38.000,00. Os valores das taxas equivalem a 9,3% do valor do bem. O autor impugna igualmente o valor exacerbado que está sendo cobrado, requerendo que sejam consideradas nulas as cláusulas que trouxerem vantagem exagerada à instituição financeira. Concluiu o perito a fls. 343/346 que a capitalização de juros existente no cálculo das prestações é devido à utilização da Tabela Price. Entretanto, diz não ter encontrado a adição de juros não pagos ao saldo devedor. Disse que, na planilha apresentada pelo réu em folhas 213/214 foi cobrado mora quanto à prestação número 27. Conforme o documento acostado aos autos na folha 20, a data de vencimento seria 27/04/2011, data esta em que o autor pagou a prestação, não cabendo dessa forma a cobrança de mora. Afirmou-se, ainda, que considerando a taxa de juros praticada e a juros simples, e o indébito citado na exordial, afastando as taxas cobradas, o valor da prestação originária seria de R$ 992,33, conforme planilha VII. Concluiu ainda que restaria saldo a favor do Autor na presente 376Estado do Rio de Janeiro Poder Judiciário data de R$ 11.428,81, conforme a planilha VIII. Portanto, tenho que deve ser esse o cálculo aplicável à espécie, a uma porque tais tarifas são indevidas, na medida em que violam os princípios da boa-fé objetiva e da transparência. Vislumbro ainda, a prática de anatocismo pela ré no contrato em questão. Impende notar, também, que a jurisprudência está pacificada e consolidada nos verbetes nº 596 e 648 da súmula do STF, no sentido de que as instituições financeiras não estão sujeitas às disposições do Decreto-lei n 22.626/1933 para fins de fixação de taxas de juros e que a norma do artigo 3º do artigo 192 da Constituição Federal, revogada pela Emenda Constitucional 40/2003,

tinha sua aplicabilidade condicionada à edição de lei complementar. Os juros praticados em seus contratos estão sujeitos exclusivamente à regra de mercado. Ademais, quanto às tarifas impugnadas, tais como "tarifa de cadastro", a questão é singela. Trata-se da imputação, ao consumidor, de encargos que deveriam estar embutidos nos juros contratados, já que estes representam a remuneração do credor pelo capital cedido ao devedor. Com efeito, é do interesse do credor, apenas, que se abra cadastro com os dados pessoais do autor, com muitas das vezes violações a seu direito à privacidade no sentido de deter controle sobre o fluxo de seus dados. A jurisprudência já reconheceu a ilegalidade da exação de tais tarifas, conforme o seguinte aresto: "0022766-66.2010.8.19.0204 - APELACAO DES. CELIA MELIGA PESSOA - Julgamento: 24/01/2012 - DECIMA OITAVA CAMARA CIVEL APELAÇÃO CÍVEL. ARRENDAMENTO MERCANTIL. REVISÃO DE CONTRATO. TARIFA DE CADASTRO. SERVIÇO DE TERCEIROS. REGISTRO DE CONTRATO. CLÁUSULAS ABUSIVAS. VRG. As questionadas cláusulas (fls.15) tarifa de cadastro, pagamento de serviço de terceiros e registro de contrato são providências do estrito interesse do arrendatário, que não podem ser repassadas, a avultar que se locupletou em detrimento do consumidor ao fazê-lo pagar pelo que não lhe incumbia. Por abusivas, a restituição dos respectivos valores deve ser em dobro (art. 42, parágrafo único, do CDC). Jurisprudência deste Tribunal. No arrendamento mercantil, o VRG pode ser cobrado diluído nas prestações, como antecipação da opção de compra do bem arrendado ao termo final do contrato. Pelo fato de não se tratar de contraprestação pelo uso do veículo, mas sim de cobrança antecipada e parcelada, deve ser restituído sempre que o bem dado em garantia for entregue ao arrendatário. Como na hipótese, o contrato está em curso, descabe ser excluído do recálculo das prestações, nem os valores pagos serem deduzidos das prestações restantes. Jurisprudência do STJ. Súmula 67 do TJRJ. Súmula 293 do STJ. Estando em confronto com súmulas do TJRJ e do STJ e jurisprudência local, nos termos do art.557, caput, do CPC, NEGO SEGUIMENTO A AMBOS OS RECURSOS". No que toca ao pleito para restituição em dobro do indébito, verifico que há valores a serem restituídos. Conforme constatado no laudo, resta saldo a favor do autor na presente data no valor de R$ 11.428,81 Assim, tenho que tal pleito merece ser acolhido.

Quanto ao pleito de antecipação de tutela para determinar que o réu se abstenha de incluir o nome do autor nos cadastros restritivos de crédito, o mesmo deve prosperar, vez que, de acordo com o laudo pericial, não há saldo devedor. Via de consequência, acolho também o pedido para declarar quitado o contrato objeto da demanda. Já o pleito de nomeação do autor como depositário do veículo perde seu objeto, já que ora consolido a posse do bem ao autor, diante da quitação do contrato. Por fim, com relação à ocorrência do dano de natureza moral, não o vislumbro. A leitura atenta da inicial não relata nada que indique um desprestígio para a dignidade do autor. 377Estado do Rio de Janeiro Poder Judiciário Pelo exposto, antecipo os efeitos da tutela antecipada para determinar que a parte ré se abstenha de incluir o nome do autor nos cadastros restritivos de crédito, sob pena de multa diária de R$50,00, limitada globalmente ao valor da causa, e JULGO PROCEDENTE EM SUA MAIOR PARTE o pedido para: a) confirmar a tutela antecipada; b) que sejam expurgadas as tarifas de cadastro, serviços de terceiros e registro de contrato, bem como o anatocismo existente nas parcelas; c) que seja declarado quitado o contrato objeto da demanda; d) que seja consolidada a posse do bem ao autor; e) condenar o réu a devolver em dobro o valor de R$11.428,81 ao autor, atualizado monetariamente a partir da presente data e com juros de 1% ao mês a partir da citação. Condeno a parte ré nas custas e em honorários de 10% sobre o valor da condenação, que passarão a 15% no caso de execução forçada. A multa de que trata o artigo 475-J do CPC incidirá após o prazo de 15 dias do trânsito em julgado desta ou da decisão que receber recurso no efeito meramente devolutivo. Intime-se a ré pessoalmente, nos termos da tutela antecipada. Transitada em julgado, intime-se para pagamento das custas. No silêncio, oficie-se ao FETJ e arquivem-se sem baixa. Satisfeitas as custas, dê-se baixa e arquivem-se.

Rio de Janeiro, 21/07/2014. Altino José Xavier Beirão - Juiz Titular Autos recebidos do MM. Dr. Juiz Altino José Xavier Beirão Em / /