O Parto
O parto, como desfecho da gravidez, não é um acontecimento momentâneo. Pelo contrário, corresponde a um conjunto de fenómenos que se estendem ao longo de algum tempo, o que dá origem à denominação, de natureza mais dinâmica e evolutiva, de «trabalho de parto»
Com a proximidade do fim do período de gestação, toda e qualquer contracção ou dor persistente na barriga é confundida com os verdadeiros sinais de parto. Embora para a maior parte das grávidas possam parecer conclusivos, esses sintomas nem sempre são considerados suficientes para o internamento
Alertas para o internamento Existem alguns sinais que são sinal de alerta para não perder tempo e correr para a maternidade e esses, diz quem já passou por eles, são inconfundíveis: Perda de líquido amniótico (perda de águas) Alteração do padrão dos movimentos fetais Perda do rolhão mucoso Perda de sangue Inicio do trabalho de parto
As contracções De um modo geral, as contracções são semelhantes a uma sensação de endurecimento do ventre, fazendo-se acompanhar de dores mais ou menos intensas
As contracções Um sinal de que o trabalho de parto já teve início é o facto de a grávida ter contracções de dez em dez minutos durante, pelo menos, uma a duas horas. Mas isto apenas se o ritmo e a intensidade das contracções forem crescentes
O internamento A grávida é finalmente aceite na urgência. É monitorizada através do cardiotocógrafo, que avalia o bem-estar fetal através do traçado que regista os batimentos cardíacos do feto e, ao mesmo tempo, a periodicidade das contracções
O colo do útero vai dilatando lentamente, à medida que as contracções vão aumentando de intensidade e periodicidade. Entretanto, é feito o exame obstétrico, ou seja, a palpação vaginal. Esta permite observar o comprimento do colo do útero e o seu grau de dilatação que, normalmente, à chegada à maternidade, é de 1 a 4 centímetros
Convencionou-se dividir o trabalho de parto em três estádios: Primeiro estádio: apagamento (encurtamento) e dilatação do colo. Por sua vez, também este primeiro estádio, se divide em duas fases principais: Fase latente e Fase activa. Segundo estádio: período expulsivo. Terceiro estádio: dequitadura
Primeiro estádio Fase latente Esta fase decorre desde o início das contracções regulares até ao momento em que o colo está completamente apagado e com cerca de três centímetros de dilatação; esta fase pode durar até 20 horas numa mulher que nunca passou por um parto antes (nulípara) e até 14 horas numa que já teve, pelo menos, um parto (multípara)
No seu estado normal, o colo do útero é um tubo de parede espessa, com cerca de dois centímetros de comprimento e seguramente fechado. No decorrer das últimas semanas de gestação, as hormonas segregadas ajudam a relaxar o colo do útero, mas só com a intensidade das contracções da primeira fase é que ele começa, gradualmente, a adelgaçar-se e a dilatar - a dilatação mede-se em centímetros (de zero a dez).
Primeiro estádio Fase activa Durante a fase activa, o colo dilata-se a um ritmo maior, até ser atingida a dilatação completa. Habitualmente dura até 7 a 8 horas quando se trata do primeiro parto e até 4 a 5 horas numa multípara. A progressão da dilatação, na fase activa, pode ser influenciada por factores como a sedação ou analgesia (que a prolonga) e/ou a estimulação da contractilidade uterina (que a abrevia).
Rebentamento das águas Este momento é indolor e acontece, geralmente, no final do primeiro período. O líquido pode escorrer ou esguichar para fora. Regra geral, após o rebentamento das águas, o trabalho de parto acelera. Todavia, pode haver atrasos já que a «bolsa de águas» pode romper antes, no início, durante ou só no final do trabalho de parto.
segundo estádio período expulsivo Começa na dilatação completa e termina com a expulsão do feto. Normalmente dura até 45 a 60 minutos, quando se trata do primeiro parto e até 15 a 20 minutos quando já não é o primeiro.
terceiro estádio Dequitadura Decorre desde a expulsão fetal até à expulsão da placenta e das membranas fetais e dura cerca de 30 minutos.
Posições para o parto Deitada, sentada ou de cócoras. São várias as posturas que podem tornar o nascimento de um filho um momento mais agradável e descontraído. Em vez de se ficar deitada, pode-se ter um seu filho de cócoras, de lado ou, até mesmo, sentada. Em alguns países, o parto pode ser realizado na água, numa banheira ou em cadeiras especiais que oferecem diferentes posições.
Posições para o parto Deitada Em posição totalmente horizontal, a mãe fica com as pernas elevadas e apoiadas em perneiras. VANTAGENS: Facilita o acesso do médico ao bebé. DESVANTAGENS: 0 peso do útero pressiona as veias e artérias na região lombar, reduzindo a circulação sanguínea. Exige mais esforço para a expulsão do bebé, porque a posição não aproveita a força da gravidade
Posições para o parto Semideitada Na cama, fica-se recostada a 45, com as pernas apoiadas em perneiras. VANTAGENS: A mãe participa mais no parto, uma vez que pode ver o bebé nascer. O canal de parto fica mais alinhado e em posição mais favorável à força da gravidade. Portanto, facilita a expulsão do bebé. DESVANTAGENS: Não permite qualquer movimento
Posições para o parto De cócoras Com as pernas flectidas, a mãe apoia-se nos tornozelos, segurando-se numa barra horizontal colocada à sua frente. VANTAGENS: Os músculos da bacia e da região do períneo ficam relaxados, o que aumenta a elasticidade do canal do parto. A força da gravidade é totalmente favorecida, facilitando a saída do bebé. A futura mãe pode movimentar-se à vontade durante o parto e acompanhar o nascimento do seu filho. DESVANTAGENS: Nenhuma. Esta posição exige preparação física especial, que fortaleça a musculatura das pernas e estimule a elasticidade do períneo. apenas
Posições para o parto De lado Deitada do lado esquerdo, a perna esquerda fica esticada e a direita dobrada. VANTAGENS: a mãe pode movimentar-se durante o parto e ver o bebé nascer. Beneficia a circulação sanguínea, uma vez que não pressiona a veia cava, que fica do lado direito da coluna vertebral. DESVANTAGENS: Nenhuma.
Posições para o parto Na água A futura mãe fica sentada ou de cócoras, dentro de uma banheira especial, com água entre os 34 e os 36 C. VANTAGENS: A temperatura da água permite um grande relaxamento muscular, o que facilita a expulsão do bebé. DESVANTAGENS: Alguns médicos receiam que a água transmita infecções ao bebé. Outros defendem que os microrganismos passados para a água pelo corpo da mãe não representam risco algum para o nascituro, que já estava em contacto com eles.
Cesariana, um método de recurso A cesariana consiste em abrir, por via abdominal, o útero materno, de modo a extrair o bebé. Segundo os obstetras portugueses, só se deve recorrer a este método nas gravidezes de risco/ como as de mães que têm problemas renais graves ou hipertensão severa.
A cesariana como intervenção obrigatória Se há sofrimento fetal Acontece quando os médicos recebem sinais de que o feto não está a suportar bem o trabalho de parto. Perante este tipo de situação, e se a expulsão do bebé ainda estiver atrasada, a equipa médica não espera que esta se faça e que o bebe, entretanto, corra o risco de ter um problema mais grave ou inclusive, vir a falecer dentro do útero da mãe.
A cesariana como intervenção obrigatória Se o bebé se apresenta numa posição estranha Uma mão junto à orelha ou uma cabeça deflectida podem fazer com que o bebé fique mais largo que o normal, o que pode dificultar a sua passagem pela pélvis. O feto pode também apresentar-se pélvico (sentado), com características que obriguem a cesariana, ou ainda transverso (atravessado horizontalmente), sendo inevitável a cesariana se estiver nesta situação durante o trabalho de parto.
A cesariana como intervenção obrigatória Problemas com a placenta ou com o cordão A placenta prévia (quando esta se implanta no útero numa posição muito baixa) e o descolamento da placenta (quando se descola das paredes do útero) podem causar hemorragias e sofrimento ao bebe. O prolapso do cordão umbilical (quando este descai para o colo do útero) é raro, mas é uma situação obstétrica grave que exige cesariana imediata.
A cesariana como intervenção obrigatória Paragem de trabalho de parto Esta situação acontece quando, no decorrer do trabalho de parto, por qualquer razão, este não progride. Se a grávida entrar na maternidade com contracções, com alguma dilatação, mas ao atingir os cinco ou sete centímetros esta não progride, então, poder-se-á ter de recorrer à cesariana, por várias razões.
A cesariana como intervenção obrigatória Incompatibilidade feto-pélvica É uma das razões mais frequentes para se recorrer à cesariana de emergência. Esta situação surge quando o bebé é demasiado grande em relação à bacia da mãe. Neste caso, não tem capacidade para sair por baixo. Isto não implica que numa gravidez posterior um feto mais pequeno não possa passar pela bacia, sem necessidade de recorrer à intervenção cirúrgica.
A cesariana como intervenção obrigatória Contracções insuficientes Se a grávida entra na maternidade com algumas contracções, mas depois se verifica que estas vão desaparecendo ou que, pelo menos, não são eficazes para continuar um trabalho de parto. Nessa altura, os médicos poderão recorrer a induções farmacológicas das contracções, através da administração de medicamentos que as provocam. No entanto, nem sempre é possível estabelecer contracções ritmadas, regulares e com força suficiente para o bebé sair.
A cesariana como intervenção obrigatória Por motivos maternos Por exemplo, se a grávida no final da gravidez tiver um acidente de automóvel, os médicos podem ter de provocar o parto, porque, apesar de a mãe não estar em trabalho de parto, pode já não estar em condições de ter o feto dentro de si.
A cesariana como intervenção programada Quando a mãe já fez duas cesarianas Normalmente, a partir do momento em que a mulher foi submetida a duas cesarianas, procede-se a uma terceira, mesmo que não haja sofrimento fetal, uma incompatibilidade ou uma doença qualquer
A cesariana como intervenção programada Quando a mulher é portadora de uma doença Existem uma série de doenças, das quais a mãe poderá ser portadora, que são condição obrigatória para se proceder a uma cesariana. A SIDA é uma dessas doenças; existe um consenso entre os médicos de que o risco de uma mãe infectada poder transmitir o vírus do HIV ao seu filho diminui ao proceder-se a uma cesariana.
Gravidez e parto. Biblioteca Médica da Família. Editora Civilização Mamã, papá estou a chegar! Guia prático Gravidez e parto. Impala editores http://www.preparacionalparto.eu/ http://www.paisefilhos.pt/
Eternidade Vens a mim pequeno como um deus, frágil como a terra, morto como o amor, falso como a luz, e eu recebo-te para a invenção da minha grandeza, para rodeio da minha esperança e pálpebras de astros nus. Nasceste agora mesmo. Vem comigo. Jorge de Sena, in 'Perseguição'