Aumenta número de países com juros negativos

Documentos relacionados
COMPORTAMENTO SEMANAL DE MERCADO

COMPORTAMENTO SEMANAL DE MERCADO

COMPORTAMENTO SEMANAL DE MERCADO

COMPORTAMENTO SEMANAL DE MERCADO

COMPORTAMENTO SEMANAL DE MERCADO

COMENTÁRIO ECONÔMICO Primeiro trimestre (1T18): Mais uma queda dos juros e crescimento moderado

Relatório Econômico Mensal Julho de Turim Family Office & Investment Management

Informativo de Mercado Mensal

COMPORTAMENTO SEMANAL DE MERCADO

COMPORTAMENTO SEMANAL DE MERCADO

Copom deve manter juros estáveis em 11% ao ano pela 4ª vez seguida

Relatório Semanal de Estratégia de Investimento

Finanças Internacionais

Causas da crise: Endividamento público elevado, principalmente de países como a Grécia, Portugal, Espanha, Itália e Irlanda. Falta de coordenação

EconoWeek 31/08/2015. juros e a China prevaleceram na semana.

COMPORTAMENTO SEMANAL DE MERCADO

Relatório Econômico Mensal Fevereiro de Turim Family Office & Investment Management

Opinião ABC Brasil /07/2017

INDX registra alta de 1,46% em Junho

Política Monetária e a Lenta Recuperação da Economia. José Júlio Senna. 11 de março de 2019

COMPORTAMENTO SEMANAL DE MERCADO

Carta Macro Mensal Icatu Vanguarda

Cenário Macroeconômico Brasileiro

COMPORTAMENTO SEMANAL DE MERCADO

Perspectivas para 2012

Relatório Semanal de Estratégia de Investimento

Terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Global: Após consumo, investimento lidera o ciclo EUA: Mercado de trabalho forte Europa: Crescimento revisado para cima

COMENTÁRIO ECONÔMICO Avaliação da Economia no 3T17

Banco de Dados Nov/10

Carta Mensal. Resumo. Janeiro 2019

COMPORTAMENTO SEMANAL DE MERCADO

II Seminário de Análise Conjuntural. José Júlio Senna. 17 de junho de 2019

COMPORTAMENTO SEMANAL DE MERCADO

COMPORTAMENTO SEMANAL DE MERCADO

Brazilian Economic Outlook

COMPORTAMENTO SEMANAL DE MERCADO

A ECONOMIA BRASILEIRA VOLTA A CRESCER EM 2015?

RELATÓRIO DE GESTÃO AVONPREV

Informativo de Mercado Mensal

Evolução Recente da Economia Brasileira

Segunda-Feira, 09 de janeiro de 2017

Quarta-Feira, 19 de outubro de 2016

Riscos Crescentes. Roberto Padovani Junho 2017

PERSPECTIVAS DA ECONOMIA BRASILEIRA

RELATÓRIO PREVI NOVARTIS. 1- Overview Macroeconômico. 18 de março de 2016

Relatório Anual Ultraprev Resumo. ULTRAPREV ASSOCIAÇÃO DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR Relatório Anual 2017 Abril de 2018 nº 22

COMPORTAMENTO SEMANAL DE MERCADO

21ªS JORNADAS TÉCNICO-CIENTÍFICAS DA FESA: ANGOLA FACE À ACTUAL ORDEM ECONÓMICA- FINANCEIRA MUNDIAL

VALOR ECONÔMICO 8/11/2011

ITABIRAPREV - INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DE ITABIRA - MG. Relatório de Acompanhamento da Carteira de Investimentos Setembro De 2015

É o Fim do Novo Normal? Desafios para o Ambiente Econômico-Financeiro Global e as Implicações para o Brasil 2013/14

RELATÓRIO DE GESTÃO AVONPREV

Carta Econômica Trimestral

Relatório Semanal de Estratégia de Investimento

Quinta-Feira, 22 de Setembro de 2016

COMPORTAMENTO SEMANAL DE MERCADO

PERSPECTIVAS PARA O DÓLAR EM 2015

Global: Atividade global desacelera EUA: Aperto nas condições financeiras China: Economia ainda dá sinais de fraqueza

NOTAS EXPLICATIVAS Plano B

Global: Atividade fecha o ano em ritmo forte Inflação: Ainda sem sinais de pressão EUA: Corte de impostos aprovado

COMPORTAMENTO SEMANAL DE MERCADO

Informativo de Mercado Mensal

PIB do Brasil cresce 1% no 1º trimestre de 2017, após oito quedas

Cenários para a economia brasileira Set/2018

COMPORTAMENTO SEMANAL DE MERCADO

RELATÓRIO PREVI NOVARTIS. 1- Overview Macroeconômico. 18 de abril de No compasso de espera doméstico, cenário externo favorável

Cenários. Plano Milênio. Justificativa da Rentabilidade Mensal

RESENHA SEMANAL E PERSPECTIVAS

Carta ao Cotista Julho Ambiente Macroeconômico. Internacional

ECONOMIA MUNDIAL: expectativas de uma recuperação lenta 1. Desempenho da economia mundial nos últimos meses

CENÁRIO ECONÔMICO. Fevereiro

PANORAMA CONJUNTURAL. Indústria mantém fraco dinamismo. Março de 2018 Publicado em Maio de 2018

Cenários. Plano Milênio. Ano IV FEVEREIRO/2013 Nº 31. Cenário Internacional. Cenário Nacional. Justificativa da Rentabilidade Mensal

PAINEL MACROECONÔMICO AUSTIN PROJEÇÕES

ATA DE REUNIÃO DO COMITÊ DE INVESTIMENTOS - COMIN COMIN - Nº 09/2016

Relatório Semanal de Estratégia de Investimento

Carta Loyall Dezembro 2018

Relatório de Mercado Semanal

COMPORTAMENTO SEMANAL DE MERCADO

INDX registra alta de 0,4% em Abril

ATA DE REUNIÃO DO COMITÊ DE INVESTIMENTOS - COMIN COMIN - Nº 13/2015

ATA DE REUNIÃO DO COMITÊ DE INVESTIMENTOS - COMIN COMIN - Nº 06/2015

INFORMATIVO AFINIDADE

Valor Econômico - SP 29/12/10 Opinião A13

Informativo de Mercado Mensal

COMPORTAMENTO SEMANAL DE MERCADO

INFORMATIVO AFINIDADE

BRASIL E A CRISE MUNDIAL

EUA: Mudança de postura do FED Europa: Atividade começa o ano em ritmo fraco China: Esperança de um acordo comercial

O Ambiente Econômico Asiático em Luiz Carlos Alves Jr

DESEMPENHO DA INDÚSTRIA NO MUNDO

Carta do Gestor Monetus

Informativo de Mercado Mensal

Opinião ABC Brasil /11/2017

Relatório Conjuntura Econômica Brasileira 4º trimestre de 2013

Informativo de Mercado Mensal

PANORAMA E DESAFIOS PARA A ECONOMIA BRASILEIRA. Bruno Leonardo

Brasil, conjuntura e perspectiva

Carta Macro Mensal Icatu Vanguarda

Transcrição:

O Globo, 10 de fevereiro de 2016 Aumenta número de países com juros negativos Crise leva BCs a cortarem taxas. Há US$ 6 tri em títulos com rentabilidade negativa Por: Lucianne Carneiro Com apenas 40 dias, o ano de 2016 já provocou uma reviravolta nos mercados globais. Nova turbulência na China, a queda do preço do petróleo para menos de US$ 30 e a apreciação das moedas internacionais frente ao dólar mexeram com as Bolsas e renovaram temores sobre o crescimento global. A resposta das autoridades foi numa direção que parecia ter ficado para trás, com políticas monetárias cada vez mais expansionistas, o que levou o planeta a uma situação pouco usual de ter vários países ricos praticando juros negativos em muitos de seus títulos de dívida pública. Ou seja, o investidor que emprestar dinheiro a esses governos receberá no futuro menos do que aplicou. Ontem, pela primeira vez na História, um título de longo prazo de um país do G-7 ofereceu rentabilidade negativa: os bônus de dez anos do governo japonês foram negociados por -0,035%. E o Japão não está sozinho. Também praticam juros negativos em alguns de seus títulos ou como taxa principal de referência o Banco Central Europeu (BCE), o BC da Suécia, da Suíça e da Dinamarca. Segundo a cálculos do J.P. Morgan, há hoje cerca de US$ 6 trilhões em títulos públicos com juros negativos. Esse montante dobrou em apenas dois meses. E, há um ano e meio, não havia nenhum bônus de dívida soberana com rentabilidade abaixo de zero. Nesta quarta-feira, economistas do JP Morgan afirmaram que investidores preocupados com os impactos negativos do dinheiro superbarato sobre bancos e mercados globais podem precisar se preparar para juros abaixo de zero em economias ao redor do mundo. Dos Estados Unidos à Austrália, passando pelo Canadá, os países ricos que ainda têm juros no terreno positivo estão recorrendo a novos estímulos monetários ou adiando a elevação de suas taxas. Vivemos uma nova onda expansionista. Quando o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) aumentou os juros, parecia o início da reversão da era do dinheiro barato no mundo, mas parece que essa era pode

ter sobrevida. Os acontecimentos do início do ano acenderam a luz vermelha nos bancos centrais, que se viram na obrigação de dar um suporte à economia afirma o economista da Tendências Consultoria Silvio Campos Neto, responsável pelo acompanhamento da economia internacional. A turbulência na China foi o principal motivo para a mudança de cenário, apontam especialistas. Ainda que houvesse um clima de incerteza em relação ao crescimento chinês, a volatilidade das Bolsas intensificou a preocupação com o chamado hard landing, ou pouso forçado da economia chinesa. Ao mesmo tempo, os preços do petróleo chegaram a cair abaixo dos US$ 30, após uma média de US$ 53,61 (do tipo Brent, referência do mercado mundial) em 2015. O baixo nível da commodity pressiona para baixo a inflação nos países ricos, elevando o risco de deflação. A perda das Bolsas mundiais chegou a quase US$ 6 trilhões no primeiro mês do ano. O começo do ano foi marcado pela volatilidade nos mercados internacionais por causa da China e as fortes quedas do preço do petróleo ganharam destaque. Ao mesmo tempo, as moedas se depreciaram fortemente em relação ao dólar, e há uma fuga de capitais em busca de mercados mais seguros. Com isso, começamos a ver a reação das autoridades monetárias, preocupadas com o possível impacto do mercado financeiro na economia real, principalmente pelo aumento do custo do crédito. De novo, os bancos centrais reagiram com mais expansão monetária explica o economista da MCM Consultores Antonio Madeira. Durante o feriado do carnaval no Brasil, as Bolsas globais não tiveram trégua e sofreram dois dias seguidos de queda. Na Europa, as perdas foram maiores, em meio a preocupações com a solidez financeira dos bancos. A Bolsa de Londres recuou 1% ontem, após ter caído 2,7% na véspera. Em Frankfurt, a queda foi de 1,58%, após perdas de 3,3% na segunda-feira. As ações do Deutsche Bank, maior banco da Alemanha, caíram mais 4% ontem e, no ano, já acumulam perdas de 40%. O ministro das finanças alemão Wolfgang Schäuble e o co-presidente do banco, John Cryan, tentaram minimizar os temores do mercado. Schäuble disse que não havia preocupações com o Deutsche, enquanto Cryan garantiu que o banco é sólido como uma rocha. BOLSAS DESPENCAM A Bolsa de Tóquio caiu 5,4%, o maior tombo em quase três anos, em meio a busca dos investidores por títulos seguros o que provocou, como efeito

colateral, a forte redução dos juros pagos pelos bônus da dívida pública japonesa. As Bolsas americanas fecharam ontem quase estáveis, porém, em dois dias, o Dow Jones acumulou perdas de 2,42%. O petróleo teve forte queda, de 7,79%, para US$ 30,32 o barril do tipo Brent. No dia 29 de janeiro, o Banco Central do Japão surpreendeu o mercado ao anunciar taxa de juros negativas no país e deixou em aberto a possibilidade de novas reduções, em mais uma tentativa de estimular a economia e combater a deflação. Antes disso, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, afirmou que o cenário para a inflação tinha piorado e poderia recorrer a novos estímulos. Na Inglaterra, a previsão para uma nova alta de juros foi adiada do fim deste ano para 2018. A expectativa na Austrália é que a autoridade monetária recorra a um corte de juros em algum momento do ano, para um novo recorde de baixa. E, nos EUA, parte dos analistas já prevê que a o Federal Reserve (Fed) não vá elevar mais os juros este ano. A presidente do Fed, Janet Yellen, fará um pronunciamento no Congresso hoje, que deverá ser acompanhado com lupa pelos mercados. Já o Banco Central brasileiro decidiu manter a taxa de juros na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), citando incertezas no mercado internacional e doméstico. No caso brasileiro, no entanto, analistas dizem que o contexto é diferente, com desequilíbrios que vão além do cenário global. Sem dúvida, os bancos centrais dos países ricos mudaram de posição. Hoje, se pudesse, o Federal Reserve voltaria atrás em sua decisão de aumentar os juros. Os bancos centrais ficaram mais cautelosos com o que pode acontecer com a segunda maior economia do mundo, se a transição do modelo de crescimento chinês pode ser feita de forma organizada ou não diz o professor da FEA/USP Simão Davi Silber. Segundo ele, a situação da política monetária no Brasil é diferente, mas o banco central fez a coisa certa em mudar de postura, embora de forma desastrosa. Ele lembra que as projeções são de uma nova recessão perto de 4% em 2016, nível semelhante ao de 2015. Na avaliação do professor do Instituto de Economia da UFRJ Luiz Carlos Prado, o que se vê neste início do ano não é exatamente uma retomada das políticas monetárias expansionistas. Ele admite que há mais cautela entre os bancos centrais, mas o que ocorre é que a expectativa de reversão que existia não se confirmou:

A política monetária frouxa é mais um sintoma que uma causa. É uma resposta ao pouco dinamismo da economia. A economia mundial está sem fôlego, com muito pouco vigor. O elevado endividamento das famílias, das empresas e dos governos é apontado por analistas como uma das principais razões para o ritmo fraco da economia mundial, consequência ainda da crise financeira internacional de 2008. Com dívidas ainda elevadas, sobra menos espaço para consumo, investimentos e gastos públicos, que ajudariam na recuperação da economia. Antonio Madeira afirma que as sequelas de 2008 foram muito fortes, e que os bancos centrais precisam enfrentar ventos contrários para cumprir seu trabalho: Dois ventos contrários atrapalham o trabalho dos bancos centrais. De um lado, há a reestruturação patrimonial das famílias, empresas e governos. Para reduzir o endividamento, cortam compras e gastos públicos, adiam investimentos, o que afeta a economia. Ao mesmo tempo, o saneamento dos bancos os tornou mais cautelosos. Os padrões para emprestar ficaram mais elevados. DESIGUALDADE DE RENDA No caso dos EUA, diz Luiz Carlos Prado, há outro fator que dificulta a recuperação da economia via consumo, que é a piora da desigualdade de renda: A participação dos mais ricos no total da renda aumentou, o que mexe com a estrutura da demanda. Só que os mais ricos não consomem tanto, em conjunto, quanto os mais pobres, que só tem como consumir mais através de endividamento. Para Silvio Campos Neto, há um excesso de capacidade produtiva no mundo: O fato de a inflação estar muito baixa é um sinal de anomalia e de lentidão na retomada da demanda. Um dos riscos da política monetária expansionista é a criação de bolhas. Isso porque, com taxas de juros baixas, os investidores vão em busca de alternativas de investimento que possam dar retorno maior. Assim, alguns setores podem receber volume significativo de recursos. Mas analistas minimizam esse risco no momento.

Hoje, na leitura do mercado, não tem um grande candidato para virar uma bolha, esse dinheiro pode ficar represado diz o economista da Tendências Consultoria.