PN 813/95 Acordam no Tribunal da Relação de Évora 1., residente - - Quarteira, requerida na providência cautelar de restituição provisória da posse deferida no Tribunal Judicial da Comarca de Loulé em que foram requerentes e mulher, domiciliados na pediu que fosse declarada sem efeito visto não ter sido proposta acção principal nos 30 dias subsequentes à data em que aquela foi concedida e imediatamente notificada aos AA. Na verdade, a decisão cautelar foi ditada e notificada aos requerentes no dia 94.03.22 (dela não foi interposto recurso) e só no dia 94.04.26 foi proposta a acção de restituição da posse da fracção autónoma I, correspondente ao 2º andar direito do prédio urbano em propriedade horizontal, sito na 2. Na providência cautelar, mediante a alegação e prova por parte dos requerentes, foi aceite indiciariamente que à cerca de 1 ano - dado o interesse que a recorrente [e o requerido, de que não se sabe parte] manifestaram em adquirir por compra a fracção autónoma em causa - aí se instalaram, levando móveis e mudando a porta da entrada (com diferente fechadura), mas não concretizando o projecto, com ameaças à integridade física dos donos (que estes levaram a sério por serem idosos) passaram a impedir a retomada do andar aos requerentes, proprietários inscritos. 1
3. Na decisão recorrida sustentou-se que a natureza adjectiva do prazo alegadamente excedido, impunha a suspensão do mesmo durante o período de férias judiciais (27.3 a 4.4). Donde, não ter sido excedido e consequentemente indeferido o pedido da recorrente. 4. O recurso de agravo, recebido na espécie e com o efeito fixado na lei, interposto pela requerida, pode dele tomar-se conhecimento, corridos que são os vistos. 5. Concluiu: a) a notificação da decisão que ordenou a providência cautelar foi feita no dia 94.03.22 e a acção principal apenas foi interposta no dia 94.04.26; b) o prazo de propositura das acções principais interpostas no seguimento da providência cautelar, é de 30 dias; c) A contagem do referido prazo é feita de forma contínua, não se suspendendo o mesmo durante as férias judiciais, sábados, domingos e feriados; d) Assim, entre a data da notificação da decisão que ordenou a providência requerida e a data da propositura da acção principal decorreram mais de 30 dias, contados nos termos do artº 144/3 CPC; e) Deste modo, deve a providência cautelar ser dada sem efeito e consequentemente levantada nos termos dos artºs. 382/1 a. e 383/2 C PC; f) A decisão recorrida, ao indeferir o pedido de declaração sem efeito da providência, violou os artºs. 144/4, 382/1 a. e 383/2 CPC; 2
g) Deve ser revogada e substituída por acórdão que mande levantar a providência decretada. 6. Não houve contra alegações e na sustentação nada de novo foi acrescentado. 7. Verifica-se das certidões juntas que a decisão cautelar foi proferida e notificada aos requerentes em 94.03.22 e que a acção principal foi proposta em 94.04.26. 8. É-nos posto à consideração apenas o problema de saber se, face ao disposto no artº 144/4 CPC, há-de ou não, ainda assim, contar-se o prazo assinado no artº 382/1 a. do mesmo código com suspensão durante os fins de semana, feriados ou férias judiciais, como manda o nº 3 do primeiro dos preceitos legais citados. A divergência de opinião entre o despacho recorrido e as conclusões da agravante inscreve-se no modelo hermenêutico perante o qual se terá de questionar o texto do nº 4 ou como emergência do princípio da exclusão da aplicabilidade da norma do artº 144 aos prazos substantivos, esclarecendo que os prazos de propositura de acção são uns entre muitos que têm esta natureza, ou como excepção dentro do regime de suspensão da contagem dos prazos adjectivos que contempla os prazos de propositura de acção de natureza processual. Parecia que em qualquer dos casos sempre os prazos de propositura de acção, tendo uma ou outra das naturezas, deveriam ser contados de contínuo. De uma vez porque a lei se inclinava para que tenham sempre natureza substantiva, de outra porque, podendo ter natureza adjectiva, nestes casos, funcionava a excepção. Porém, se puder conceber-se que há prazos de propositura de acção de natureza substantiva e outros de natureza adjectiva, optando-se pela concepção interpretativa que vê no nº 4 do artº 144 CPC apenas a 3
emergência da regra geral de continuidade dos prazos substantivos, exemplificada restritivamente na referência aos prazos de propositura de acção de verdadeira natureza substantiva, então os prazos de propositura de natureza adjectiva não cabem na previsão e aplicar-se-lhes-ás o nº 3 do preceito citado. Há pois que tomar posição sobre a natureza dos prazos do artº 382/1 CPC. 9. Diz Alberto dos Reis, citado pela recorrente, que o prazo de 30 dias para propositura da acção de que é dependente a providência cautelar, estabelece apenas um período de tempo para a produção de um determinado efeito processual. Na verdade, expirado, não faz caducar o direito de propor a acção, torna-se simplesmente ineficaz a decisão provisória. Tem portanto natureza adjectiva, como concorda a doutrina aceite no assento do STJ de 94.03.02 (DR 102, I, 94.05.03). E porque nos convence, na colocação do problema interpretativo que delimitamos, haveremos de optar sobre o real significado da norma do nº 4 do artº 144 C PC. Pela inserção sistemática da norma em causa no Código do Processo C ivil que nos aponta para serem os prazos de propositura nela referidos prazos assinados em disposições desse monumento legislativo e portanto tendencialmente de cariz adjectivo; pela própria economia do preceito, todo ele virado para a definição rigorosa da contagem dos prazos processuais, concluímos que o nº 4 do artº 144 CPC se refere, ex cepcionado o regime do nº 3, aos prazos de propositura da acção de natureza adjectiva, como concluímos ser o prazo de propositura da acção de que depende procedimento cautelar. Ainda assim deveríamos concluir de igual sorte se entendêssemos, sem comprometimento, que os prazos referidos aqui são todos os consagrados no Código do Processo, tenham a natureza que tiverem. Assim, procedem as conclusões da agravante. 4
10. Não vá porém sem se dizer que a declaração sem efeito da providência pode ainda assim deix ar aos requerentes direito salvo a oporem-se à reocupação do prédio posto que, perante a matéria dada como indiciariamente provada na decisão que a concedeu, há a possibilidade de qualificação penal dos factos perante a incriminação da usurpação de coisa imóvel. 11. Não estando este problema em causa (aliás o procedimento criminal depende de queixa) e atento o que se concluiu em 9., decidem dar provimento ao agravo e determinar a cessação dos efeitos que concedeu a restituição provisória da posse da fracção autónoma I correspondente ao 2º andar direito do prédio urbano em propriedade horizontal, sito na Rua Projectada à Rua do Farol, em Quarteira. Custas pelos recorridos. 5