Ganhos e perdas com a lei da terceirização



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Transcrição:

Ganhos e perdas com a lei da terceirização Sumário Sumário Executivo... 2 A base para avaliação... 4 Responsabilidade pela cadeia de contratação... 5 De que terceirização a lei está cuidando?... 5 Ganhos e perdas... 7 Quem ganha com a nova lei?... 7 A cadeia produtiva automobilistica... 7 O caso Nike... 9 Terceirização nos condomínios residenciais... 9 Qual seria a solução?... 11 Os perdedores... 11 Ampliação da terceirização... 12 Substituição de empregados por trabalhadores terceirizados... 13 A lei não melhoraria as condições dos trabalhadores terceirizados... 13 A sequência... 14 O risco do aumento da precarização... 14 O efeito perverso... 15 Os cenários da sequência... 15 E o Brasil? Ganha ou perde com a lei da terceirização?... 16 Impactos sobre a macroeconomia... 16 Impactos sobre o quadro social... 17 As relações sociais... 17 A reação dos sindicatos... Erro! Indicador não definido. 1

Sumário Executivo O projeto de lei 4.330/04 amplia a possibilidade de terceirização por parte das empresas, eliminando um fator de insegurança jurídica, mas cria outros problemas, por conta da regulação do processo. No quadro atual há restrições à terceirização das atividades-fim, sem uma definição objetiva do que seja, mas mesmo a permitida não segue regulação específica, com decisões administrativas e judiciais segundo a legislação geral. Com a regulação da terceirização são estabelecidas diversas restrições específicas, que impedem algumas das práticas vigentes, como, por exemplo, a ampla utilização dos pejotas. A regra mais importante é a caracterização de solidariedade do tomador dos serviços em relação ao cumprimento da legislação trabalhista, como em geral, por parte do prestador do serviço. A responsabilização solidária é mais imediata e mais forte do que a responsabilidade subsidiária. Para os tomadores de serviços terceirizados a regulação do PL 4.330 traz mais obrigações e restrições do que concessões. Cria obrigações adicionais de retenção na fonte de contribuições sociais que poderá ser estendida para a contribuição previdenciária. Gera uma contradição com os incentivos dados pelo Governo às empresas de menor porte. Há um grande e grave retrocesso nesse sentido. O principal receio e objeção dos sindicatos é que com a terceirização haverá demissões de empregados, com todos os seus direitos e benefícios e substituição por trabalhadores terceirizados, sem os mesmos direitos e benefícios. Isso inevitavelmente irá ocorrer em relação aos benefícios, mas não significa, necessariamente que os direitos legais não sejam respeitados. Terceirização não é sinônimo de precarização do trabalho, no sentido de descumprimento da legislação do trabalho, embora haja maior 2

ocorrência de irregularidades em relação aos trabalhadores terceirizados do que com os próprios das empresas tomadoras dos serviços. Com a regulação, haverá perda de renda para os trabalhadores, assim como de benefícios, mas não necessária e automaticamente dos direitos. Mas as normas mais rigorosas deverá reduzir o nível de irregularidades e de ocorrência de trabalho precário. A legislação deverá favorecer o trabalho decente e não o contrário. Já os sindicatos tradicionais perderão filiação e receita, dando margem à criação ou expansão de sindicatos dos trabalhadores terceirizados, em categorias específicas ou generalizadas. Os benefícios macroeconômicos são todos baseados em expectativas favoráveis, mas sem a segurança de que venham a se efetivar. Haverá ganhos de produtividade, porém se essas não resultarem em efetiva melhoria de competitividade, significativos aumentos de venda e de produção, será obtido às custas de menor volume de emprego. O impacto macrossocial terá elementos contraditórios. A renda média dos trabalhadores formais tenderá a cair. O aumento global dos empregos não está assegurado. Mas as irregularidades e os casos de trabalho não decente deverão diminuir. Já os conflitos trabalhistas deverão aumentar no curto prazo, mas deverão se ajustar ao longo do tempo, sem levar à reversão. A terceirização ampla veio para ficar. Mas não deve ser confundida como uma terceirização irrestrita, desregulada e contrária ao trabalho decente. As regras estabelecidas favorecem o trabalho decente. Já a sua efetivação depende da fiscalização, da aplicação das regras e penalidades pelo Estado e pelo controle por parte dos sindicatos e da sociedade em geral. 3

A base para avaliação A lei que regula a terceirização de serviços muda, de imediato, uma situação presente, determinando ganhos e perdas. A partir do novo quadro legal os agentes econômicos irão (ou poderão) adotar novos procedimentos que determinarão outros ganhos e perdas. A situação presente pode ser caracterizada pela terceirização existente. O que a lei, uma vez promulgada muda, de imediato, são as relações jurídicas entre a contratante e a contratada. Para as empresas que hoje terceirizam serviços e ou compram produtos de terceiros, o ganho maior está na segurança jurídica. Na falta de lei regulatória, a legalidade das terceirizações contratadas depende de interpretação judicial, embora exista uma súmula do TST, sem caráter vinculante, além de constitucionalidade contestada, e ainda haja instancias superiores para dirimir eventuais conflitos. Na prática do STF, diante de um caso concreto, pressionou o Poder Legislativo: ou esse regula a questão ou o STF judicializa e define o entendimento que deve prevalecer em todas instâncias judiciais, mediante uma decisão com efeito vinculante. Com a lei, as empresas não mais correm o risco de ver um contrato de terceirização anulado judicialmente e as relações com os trabalhadores da empresa contratada serem considerados como empregados da contratante com todos os direitos e benefícios acordados com os respectivos sindicatos, até mesmo retroativamente. Eventuais provisões feitas para cobrir tais riscos poderão ser revertidas, com melhoria de resultados dos balanços. Porém com a lei as empresas contratantes passam a ter novas obrigações, e mais encargos, seja sobre os contratos futuros, como em relação aos contratos atuais. As contratantes passam a ter a obrigação de recolher antecipadamente na fonte, as contribuições sociais incidentes sobre os contratos de terceirização, descontando os valores das faturas dos serviços. Essa antecipação e generalização gera um conflito com as empresas terceiras que estão no regime do SIMPLES e outros que favorecem as empresas de menor porte. Uma emenda propugnada pelo Ministério da Fazenda, pretende cobrar antecipadamente a contribuição previdenciária devida pela empresa contratada sobre a sua folha de pagamentos. Porém ao generalizar a alíquota, descontando pelo percentual máximo de 11%, pode gerar graves distorções: o preço dos serviços contratados não inclui apenas mão-de-obra, mas abrange também custo dos 4

equipamentos, eventuais materiais, outros serviços, tributos e lucros. Ao ter descontado antecipadamente a contribuição previdenciária a contratada acabará contribuindo com muito mais do que exigido pela legislação atual. Abrir exceções para considerar situações específicas torna o processo operacional complexo e mais difícil de fiscalizar. Nessa questão a empresa contratada ou subcontratada é a grande perdedora. Responsabilidade pela cadeia de contratação A contratante principal passa a ser legal e explicitamente responsável pelo cumprimento das obrigações trabalhistas, previdenciárias e tributárias da contratada e eventuais subcontratadas. Em função da legislação geral, a contratante é responsável solidária das obrigações da contratada/subcontratada, o que significa que ela pode ser acionada diretamente para cumprir as obrigações da contratada, se essa não as cumprir regularmente. No caso das obrigações subsidiária as cobranças devem ser feitas, inicialmente da contratada, empregadora e se essa não tiver condições de cumprir a contratante inicial pode ser acionada. Na solidária não é preciso passar por essa fase. No regime atual a contratante primária exige contratualmente a regularidade pela contratada das obrigações legais, com direito de reter pagamentos. Faz ainda seguros para cobrir eventuais indenizações. Com a lei, poderá reter antecipadamente alguns dos encargos, fazendo diretamente os recolhimentos ao Tesouro, afastando o risco da inadimplência da contratada. Mas pode ela mesma reter e não recolher, o que é caracterizado como crime de apropriação indébita. De que terceirização a lei está cuidando? O centro da questão e foco da lei é a situação dos trabalhadores utilizados pelas empresas contratadas por uma empresa principal para a prestação de serviços a esta. São caracterizados como trabalhadores terceirizados. O foco principal não é o trabalhador contratado diretamente pela empresa principal, como autônomo, MEI ou EIRELI, mas os empregados da contratada. Como aqui já foram colocadas as discussões principais estão: 5

1. na demissão de empregados formais das empresas e sua substituição por trabalhadores das empresas contratadas, ou seja, por trabalhadores terceirizados; 2. nas condições piores desses trabalhadores terceirizados em relação aos empregados formais da primeira seja: 1. com rendimentos e benefícios menores; como 2. com condições de trabalho precárias. O cenário mais provável é que haja uma demissão de empregados formais das empresas contratantes e sua substituição por trabalhadores terceirizados, por duas razões principais: redução de custos; ganhos de produtividade. A primeira é certa: a empresa principal irá substituir o seu empregado por um trabalhador terceirizado por que nas suas contas sai mais barato, ainda que suas contas possam estar erradas. Já a segunda é uma expectativa, que poderá ocorrer ou não. Analisaremos mais adiante. Na piora das condições dos trabalhadores terceirizados há três situações básicas: 1. a mais provável que os terceirizados terão todos os seus direitos legais respeitados, com algumas exceções por ignorância e não por má fé; 2. a menor participação em benefícios conquistados pelos empregados da empresa primeira, ou seja, da contratante dos serviços terceirizados; 3. o cenário marginal com a manutenção de ilegalidades, seja de não cumprimento das normas do trabalho, como a de trabalho similar à escravidão, trabalho infantil, salário mínimo, concessão de férias, etc. assim como a sonegação de contribuições previdenciárias e outras. Este cenário de trabalho precário não será extinto, mas será fortemente minimizado conta de diversas medidas que já vem sendo tomadas e reforçada pela lei da terceirização. A maior responsabilização da contratante pelos cumprimento das obrigações pela contratada, assim como pelas subcontratadas e a responsabilização solidária, caso não faça o devido controle, inibirá a contratante primeira a utilizar contratadas e subcontratadas que oferecem preços menores para os seus serviços, em função do não cumprimento das obrigações trabalhistas, previdenciárias e fiscais. Há um grande aumento dos riscos, sendo o maior o da imagem, custo valor econômico é incalculável, mas proporcional ao tamanho do seu negócio. 6

Ganhos e perdas Quem ganha com a nova lei? Os ganhadores são evidentes. São as empresas industriais que se inserem - de forma especializada - nas cadeia produtivas, com ampla utilização de fornecedores. Embora utilizem a terceirização estavam sob risco de sofrer processos trabalhistas por interpretação predominante da jurisprudência, fundada numa súmula do TST que inaceita a terceirização das chamadas atividades fim. A nova lei, aparentemente resolve essa questão, ao permitir a "transferência pela contratante, da execução de parcela de qualquer parte de suas atividades à empresa contratada". Com essa redação dirime o impedimento de terceirização de serviços em atividadesfim, em função da súmula do TST, mas não resolve a contento o processo de compra pronta de bens produzidos por terceiros dentro das cadeias produtivas industriais. A compra de partes prontas, como insumos da montagem de um produto industrial não envolve apenas serviços com utilização de mão-de-obra, mas bens materiais que são transformados pela ação de máquinas e pessoas. A cadeia produtiva automobilística Já citamos aqui os casos da indústria automobilística, com a estruturação dos condomínios industriais, também caracterizados como consórcio modular, onde os fornecedores de componentes ou subconjuntos, se instalam numa mesma ampla área, centralizada pela montadora, preparando partes prontas que serão incorporadas ao veículos pela montadora. Os trabalhadores dessa "modulistas" são empregados da fornecedora e não da montadora. Em geral fazem parte da mesma categoria econômica e estão filiados a um mesmo sindicato. Um automóvel sai de uma linha de produção, com uma composição predominante de aço estampado, isto é, moldado por prensas segundo o formato estabelecido. O ferro entra também na composição do carro, mediante fundidos ou forjados, como no chassis, nos eixos das rodas e outros componentes. A predominância dos metais na produção automobilística a caracteriza como uma indústria do ramo metalúrgico e os empregados são considerados todos metalúrgicos, ainda que uma parte não opere com metais. Os empregados da parte administrativa não mexem com metais (a menos dos grampeadores e clips) mas também são considerados metalúrgicos, a menos que constituam uma categoria diferenciada. 7

Tradicionalmente um componente fugia da metalurgia: os pneus, produzidos a partir da borracha. A evolução tecnológica da composição dos automóveis foi introduzindo outros materiais, com a substituição dos metais por plásticos. Houve também a introdução de peças de madeira. Os bancos receberam forro de algodão, depois de espumas plásticas. A cobertura externa passou a ser de couro verdadeiro, sintético ou tecidos. Quando essas partes são produzidas pela montadora final dentro da sua fábrica, a partir da matéria prima, os empregados envolvidos nessas tarefas também são considerados metalúrgicos, ainda que não mexam com metais. Mas quando a montadora compra pronto um conjunto ou subconjunto, como um banco só para ser encaixado dentro do veículo, o painel frontal, ou os forros, embora a atividade econômica continue sendo a produção automobilística, a categoria econômica é outra: não é mais metalúrgica. A indústria automobilística caminhou no sentido de agrupamento sequencial da produção de conjuntos e subconjuntos, substituindo o modelo tradicional de aquisição de matéria prima ou peças para a sua transformação e reunião dentro da unidade da montadora. Desenvolveu novos modelos, com a compra pronta desses subconjuntos, instalando-os próximos à montagem final, mas não dentro dela. Formou os chamados condomínios industriais ou consórcios modulares. A montagem final do automóvel continuou seguindo a tradicional linha de produção, inventada por Henry Ford e tornada mundialmente conhecida pela famosa sequência de Charles Chaplin, com a sua chave de parafuso. Carlitos, um típico metalúrgico vem sendo substituído gradual e amplamente por robôs, previamente programados por engenheiros, analistas de sistemas e programadores, acionados e monitorados por operadores que não são mais metalúrgicos. Em muitos casos são empregados de uma firma especializada contratada como terceira pela montadora. Do ponto de vista da tradicional teoria da administração estariam dentro de uma atividade-fim, mas podem ser consideradas como uma atividade-meio, porque é o suprimento de um recurso especializado. Por conta dessa confusão que a moderna organização da produção criou a moderna teoria da administração vem abandonando essa distinção entre atividade-meio e atividade-fim. Diversamente da compra pronta de conjuntos ou subconjuntos que se caracteriza por uma terceirização de bens, a contratação de serviços especializados de robotização pode envolver quase que exclusivamente a utilização de mão-de-obra ou seja de trabalhadores. Isso torna complexa e diversificada a representação sindical, tanto a patronal como a dos empregados. 8

O caso Nike Já o caso da Nike é diferente. A sua atividade principal é o marketing da marca e ela contrata e licencia diversas fábricas em todo o mundo para a produção. Os empregados dos fabricantes são de categoria distinta dos da sede ou da lojas da Nike, além de estarem em países diferentes. É uma terceirização de âmbito global e não local, como o caso do consórcio modular da indústria automobilística. Outro caso de terceirização produtiva sequencial ocorre na cadeia produtiva da celulose, onde ocorreu o principal embate sobre a terceirização. Para as empresas que integram o fluxo principal da cadeia produtiva, a nova lei, eliminando a distinção entre atividade-fim e atividade-meio afasta o risco da contratação de fornecedores, poderem ser caracterizados como terceirização de atividade-fim e, como tal, proibida. Segundo a súmula 331 do TST, obrigando-as a recorrerem ao STF, como fez a Cenibra. Essas são, as principais ganhadoras com a nova lei. Por terem maior segurança jurídica, embora muitos pontos ainda tenham ficado em aberto, dando margem a contestações judiciais. Mas com a nova lei, aquelas empresas que já praticam usualmente a terceirização de serviços, estarão sujeitas a regras mais rigorosas. Terceirização nos condomínios residenciais Os condomínios residenciais, com tendência a serem cada vez maiores, agregando diversos prédios dentro de uma mesma unidade imobiliária, são um caso amplo e diferenciado de terceirização de serviços. São uma unidade jurídica, com movimento econômico, empregadora, mas não são empresas. Para o exercício de suas finalidades pode contratar empregados, obrigatoriamente, pelo regime da CLT, ou contratar serviços terceirizados, com empresas supridoras dos mesmos, que hoje são inúmeras, a maior parte especializada. Essa contratação pode ocorrer desde o gerenciamento do condomínio, através de administradoras imobiliárias, que requer grande conhecimento e especialização a serviços mais elementares como a de faxinas. O que o condomínio podia terceirizar e o que não podia terceirizar em função da CLT e da súmula 331 do TST. O que muda com a transformação do projeto de lei 4.330 em lei? Ou seja com a regulação geral da terceirização. 9

Era difícil caracterizar claramente o que seria atividade-meio e atividade-fim de um condomínio. Essa distinção acaba com a nova lei, mas há milhares de ações pendentes de trabalhadores terceirizados pleiteando equiparação aos empregados celetistas dos condomínios. Dependerá de uma decisão vinculante do STF, em relação à sumula 331 do TST ou uma anistia genérica, ainda não prevista em Lei. Só para exemplificar, uma das finalidade do condomínio é manter as áreas comuns limpas e bem conservadas. Consequentemente a atividade de limpeza (ou faxina) é uma atividade-fim e principal do condomínio e não uma atividade-meio ou auxiliar. Como é também a segurança patrimonial e pessoal dos condôminos. O condomínio é uma entidade dos condôminos. O empregador principal é o condômino. Pode ele, como um dos donos finais, ainda que de parcela, determinar ao empregado ou ao terceirizado o que fazer, como fazer ou onde fazer? Pode dar ordens? Ou só síndico, seus prepostos ou os gestores da empresa contratada podem fazê-lo? Se um condômino dá ordens a um porteiro terceirizado e esse obedece caracteriza uma situação de subordinação? A insegurança jurídica com a súmula TST 331 não está apenas em ser permitida ou não a terceirização de atividades-fim, mas a descaracterização do contrato, nesses casos, reconhecendo o vínculo empregatício dos funcionários da terceirizada com a tomadora dos serviços. Isso implica em equiparação salarial, reconhecimento de direito a todos os mesmos benefícios dos empregados. A nova lei não resolve adequadamente esse problema, que tem base na própria CLT. O reconhecimento de vínculo empregatício é caracterizado pela habitualidade, subordinação e pessoalidade. Os condomínios não terão mais restrições para terceirizar qualquer das suas atividades, sejam entendidas como meios ou fins, mas o risco do reconhecimento do vínculo empregatício dos trabalhadores terceirizados com o condomínio permanece. O trabalhador nos condomínios, próprio ou terceirizado, são pela natureza da atividade, habituais. Trabalham dentro do condomínio e não há como evitar que recebam ordens diretas, sejam do sindico, como de condôminos, podendo o trabalhador alegar sempre uma relação de subordinação. Essa se liga também à questão da pessoalidade. A empresa prestadora dos serviços pode ser impessoal, mas os seus empregados que trabalham dentro do condomínio se tornam pessoais. Para o condomínio não interessa a alta rotatividade. Quer maior permanência do trabalhador o que gera as condições de habitualidade e pessoalidade. 10

Qual seria a solução? Aparentemente a solução é a terceirização integral. O condomínio contrata uma prestadora de serviços para o gerenciamento integral das atividades do condomínio. O condomínio não manteria nenhum empregado, exceto o síndico, com condições diferenciadas, como é usual a isenção da taxa de condomínio. Todos os demais trabalhadores dentro do condomínio seriam empregados da administradora ou prestadora de serviços contratada. O eventual pleito de um trabalhador terceirizado de reconhecimento de vínculo trabalhista direto com o condomínio só teria sentido se o seu empregador não cumprisse as obrigações trabalhistas, para poder receber diretamente do condomínio. Com a caracterização de solidariedade do tomador dos serviços, essa condição poderá transferir o ônus dos pagamentos, sem a necessidade de reconhecimento do vínculo trabalhista. Se o condomínio não tem empregado, não haveria a situação de equiparação salarial ou de benefícios. É uma solução legal, mas não a melhor operacionalmente, principalmente por razões de segurança. Os condôminos querem trabalhadores com habitualidade longeva e pessoalidade. Eles querem ser reconhecidos pelos empregados e querem, em contrapartida, que barrem os desconhecidos. Isso ocorre por uma permanência mais longa. Se o condômino chega na portaria do condomínio não querem ter a obrigação de se identificar. Ele quer ser automaticamente reconhecido pelos porteiros. E poder chamá-los pelo nome. A outra questão envolvida é da sindicalização. Há diferenças de filiação sindical entre os empregados diretos dos condomínios e de prestadores de serviços? Os perdedores Não há perdedores automáticos com a nova lei, como apontam os sindicatos dos trabalhadores. O problema é que as eventuais perdas dependem do comportamento dos empresários em se valer da maior abertura para a prática da terceirização dos serviços. O maior risco apontado é o aumento da precarização das condições do trabalho, em três níveis: 11

o da perda de renda, ainda que mantendo os direitos trabalhistas formais; o do aumento da informalidade; o do aumento da ilegalidade. Ampliação da terceirização A consideração principal se baseia numa equação: a restrição da terceirização de atividade-fim, contém a sua maior utilização; as terceirizações atuais precarizam o trabalho dos terceirizados. Portanto, ao permitir o aumento da terceirização, com o levantamento do impedimento da sua aplicação para atividades-fim, haverá um aumento geral da precarização. O resultado não é automático, pois há diferentes situações de terceirização das atividades ditas fins. O importante é que pela nova lei não há mais restrições e a empresa pode terceirizar toda e qualquer parte das suas atividades. Ou seja, em vez de "fazer em casa" com os seus empregados irá comprar o produto de terceiros. A principal suposição é que o terceiro irá produzir o produto em sua casa, distinta da casa do contratante. Não é bem assim. A empresa contratante pode acordar com a produção terceirizada de um bem dentro da sua casa. Uma empresa industrial compra um equipamento pesado ou especializado e o fornecedor leva as peças e componentes e monta na casa do contratante. Um supermercado pode comprar as gôndolas para instalá-las com os seus empregados. Ou contratá-las para produção e instalação dentro da loja. O terceiro leva os insumos, como os perfis, que são cortados e montados dentro da loja. Mas em vez de contratar empregados a contratante contrata trabalhadores para completar o seu quadro próprio. Isso ocorre muito em duas situações. A primeira é da contratante estatal que só pode contratar empregados mediante concurso público. A segunda é de contratação de quadro adicional para atender a picos, como o comércio varejista em épocas festivas ou comemorativas. Isso pode ocorrer também com a indústria, por exemplo, para a produção de ovos de páscoa. Essa terceirização é legalmente caracterizada como "trabalho temporário", sujeita à legislação específica. A nova lei proíbe a simples locação de mão-de-obra, também caracterizada como MOC - mão de obra contratada, a menos do trabalho temporário. Não é permitida a terceirização da mão-de-obra, mas apenas a terceirização de serviços, sem distinção de para qual atividade da contratante. Essa proibição, no 12

entanto, não evitará a prática, como já existe hoje, de contratar mão-de-obra sob o manto de um contrato de serviços. Evitar essa ocorrência é uma questão de fiscalização e de penalização. Substituição de empregados por trabalhadores terceirizados Levantada a restrição da terceirização de atividades-fim a empresa pode ampliar a terceirização de serviços, inclusive demitindo empregados próprios, substituindo-os por trabalhadores terceirizados. Não pode fazer isso, mas faz um contrato de serviços que implica em uso apenas do trabalho. E o fará em função de um dos dois objetivos: reduzir os custos; melhoria da produtividade. Isso tenderá a ocorrer com grandes empresas onde os trabalhadores, através dos seus sindicatos, conquistaram benefícios adicionais aos básicos, como a participação nos lucros, bônus, vale alimentação mais elevado e outros. Os trabalhadores terceirizados, mesmo que formalizados e com carteira assinada, não teriam os mesmos benefícios. A lei não melhoraria as condições dos trabalhadores terceirizados A lei não pode regular as diferenças específicas por empresa. Pela lei os direitos trabalhistas legais são assegurados e em condições mais efetivas do que o da legislação atual. O contratante é obrigado a exigir e fiscalizar o cumprimento das obrigações trabalhistas e se tornará solidária no pagamento dos direitos e multas. Isso seguramente inibirá a prática... Já os benefícios adicionais conquistados pelos trabalhadores de uma empresa poderão não ser estendidos aos terceirizados, como o caso de participação nos lucros, horas extras, bônus, valores do vale alimentação e outros. No caso da participação nos lucros 13

o trabalhador terceirizado terá direito, mas dos resultados da contratada que é o seu empregador e não da contratante inicial. A sequência Estabelecidas as novas regras, com a lei regulatória da terceirização os agentes econômicos irão definir suas estratégias e desenvolver as suas ações podendo ser identificadas as seguintes principais: 1. as grandes empresas, movidas pelo seu objetivo de ampliar os seus resultados ou lucros, irão ampliar a terceirização, demitindo empregados, com muitos benefícios e salários acima da média do mercado, substituindo-os por trabalhadores terceirizados, de menor custo, mesmo com as taxas de administração dos intermediários. 2. as empresas organizadas, prestadoras de serviços terceirizados, buscarão oferecer preços competitivos, em função da organização dos seus processos de trabalho, tecnologia e inovação, gerenciamento e capacitação do seu pessoal, cumprindo com todas as obrigações trabalhistas, previdenciárias e fiscais. 3. os trabalhadores que se organizaram como "pejotas", isto é como pessoa jurídica, valendo-se das vantagens dos sistemas simplificados de tributação tenderão a retomar a condição de empregados celetistas, dados os riscos de bitributação ou de créditos tributários e difícil ressarcimento. 4. as empresas marginais, que oferecem preços menores, persistirão nas suas práticas porém terão um campo cada vez mais reduzido dados os riscos da sua utilização. O risco do aumento da precarização Uma das principais contestações à lei da terceirização é a possibilidade de ampliação do trabalho precário, pelo maior uso de contratos de serviços terceirizados com empresas que não atendem aos requisitos mínimos dos direitos trabalhistas, assim como das obrigações previdenciárias e fiscais. Essas práticas irregulares já ocorrem atualmente, inclusive em atividades fins, sendo a cadeia produtiva dos vestuários a que mais apresenta incidência de casos. Todo o processo atual é ilegal e praticado por carência da fiscalização e baixa responsabilização dos contratantes. 14

A lei elimina o risco da ilegalidade da contratação dos serviços, mas impõe regras e obrigações mais severas que irão inibir as ilegalidades atualmente praticadas. O efeito perverso Com a maior repressão ao trabalho precário, as empresas que os praticam não vão desistir e vão buscar alternativas para se manter no mercado e ganhar os seus lucros. No caso da cadeia dos vestuários a alternativa mais provável é a transferência da produção para países vizinhos, onde as exigências e fiscalização sejam menos rigorosas. Os cenários da sequência A partir dai podemos desenhar os seguintes cenários dos passos seguintes com a aprovação da lei: 1. as empresas irão demitir parte do seu quadro e substituir por trabalhadores terceirizados, seja na forma de serviço ou de compra de produtos de terceiros; 2. essas empresas organizarão o seu gerenciamento da cadeia de suprimento para que as empresas contratadas e subcontratadas atendam às regras legais estabelecidas; 3. as empresas prestadoras de serviços "sérias" se organizarão, com o cumprimento de todas as regras, buscando na produtividade dos seus quadros as condições de competitividade para conquista dos serviços; 4. os "pejotas" tenderão a retornar à condição de empregados celetistas, em função das perdas de vantagens tributárias e previdenciárias; 5. o Governo terá que regulamentar a lei no que se refere às antecipações dos encargos fiscais e previdenciários, para não anular os benefícios concedidos às empresas SIMPLES, MEI, EIRELI e similares; 6. as empresas com práticas irregulares permanecerão no mercado, mantendo as suas práticas, ainda que com tendência de queda em função das exigências das contratantes e da maior fiscalização; 7. como alternativa à essa redução do seu campo de atuação no país, buscarão alternativas em países vizinhos, principalmente no setor de vestuário. 15

E o Brasil? Ganha ou perde com a lei da terceirização? Para evitar os vieses de avaliar se é bom ou ruim para o Brasil, em função das repercussões para si ou para o seu grupo, é preciso definir, preliminarmente, os parâmetros para avaliar os impactos globais, sobre a economia brasileira, sobre o quadro social, assim como para as relações sociais globais. Impactos sobre a macroeconomia Em relação à economia os principais indicadores são a evolução do PIB, a taxa de inflação e o saldo do comércio exterior. O fator intermediario, de mensuração mais subjetiva é a competitividade, que estaria subordinado a dois fatores: produtividade e inovação. A principal expectativa econômica é que com a superação da segurança jurídica em relação ao que pode ou não ser terceirizado as empresas irão ampliar a produção, com maior terceirização. Haverá demissões de empregados, com substituição direta ou indireta por terceirizados. A expectativa dos empresários é que o número de empregos criados pelas empresas terceirizadas seja maior do que a dos empregados demitidos, em função dos ganhos de competitividade e substituição da produção de importados. Já os trabalhadores e os respectivos sindicatos entendem que essa competitividade será obtida por "arrochos salariais" e redução dos benefícios, assim como por efetiva precarização das condições de trabalho, como o aumento do trabalho em condições similares à escravidão. Mesmo que haja compensação de empregos, a massa salarial global cairia, levando a uma redução da capacidade de compra e do consumo, em geral. Numa como em outra interpretação o efeito sobre o PIB e a inflação, por conta da terceirização, seria marginal. O principal efeito macroeconômico seria na balança comercial com uma redução das importações. Isso porque a compra de conjuntos ou partes nacionais pela indústria poderia ser considerada como terceirização de atividade-fim, enquanto a interpretação de terceirização não se aplicaria a compras de produtos importados. Sem esse risco as empresas compradoras podem estabelecer relações de parceria mais amplas e intensas com seus fornecedores nacionais: principalmente na indústria automobilistica. Não existem estatisticas institucionalizadas sobre o volume de serviços ou produção terceirizada, embora alguns dados possam ser inferidos pela avaliação dos dados setoriais sobre as variações de composição do valor adicionado. 16

Impactos sobre o quadro social Os impactos macros sobre o mundo do trabalho podem ser avaliados pela evolução dos dados apurados pelas PNADs (Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios) que identifica o total da população economicamente ativa, a ocupação e desocupação, assim como os regime de trabalho. Com a ampliação da terceirização, a perspectiva dos seus defensores é que haja um aumento de trabalhadores formalizados. Os empregados celetistas desligados pelos tomadores de serviços, seriam substituídos por empregados celetistas dos prestadores de serviços, em maior número. Já os oponentes supõem que com a ampliação da terceirização haverá um aumento da informalidade e da ilegalidade, pois essas ocorrem mais em empresas prestadoras de serviços terceirizados, do que entre as tomadoras de serviços. Não se pode fazer uma projeção com base nos parâmetros atuais, porque a lei prevê uma série da condições e responsabilidades dos tomadores de serviços, visando evitar que essas sejam levadas a contratar as empresas que usem trabalhos informais ou em condições precárias. Mas não pode se desconsiderar a tentação das empresas em comprar produto ou serviços mais baratos, sem levar em conta as condições de trabalho da mão-de-obra dos fornecedores ou prestadores de serviços. E continuarão praticando, em função da sensação de impunidade. E também, não faltarão, de outro lado fornecedores e prestadores de serviços, propondo preços mais baixos para conquistar os contratos, precarizando as condições de trabalho dos seus trabalhadores. A lei estabelece as regras para evitar que ocorra a precarização das condições de trabalho, mas a sua efetivação ou o "enforcement" da lei (nos termos juridicos) dependerá da fiscalização e da resposta efetiva dos tomadores de serviços. Os oponentes à lei continuam contra por não acreditar na capacidade da fiscalização. Os defensores acreditam que as medidas prevista já são excessivamente rigorosas e são suficientes. As relações sociais A terceirização tem sido fonte de conflitos sociais, haja em vista as manifestações populares contrárias à aprovação da lei, principalmente em Brasília e o confronto de posições, predominantemente emocionais. 17

Com o promulgação da lei, qualquer que seja o seu conteúdo final, a tendência é de esvaziamento do conflito, com funcionamento pacífico do mundo do trabalho, com eventos pontuais de irregularidades e de greves limitadas contra terceirizações de grande porte. 18