TÍTULO: O IMPACTO DA EXTINÇÃO DA FIGURA DO REVISOR NO JORNALISMO IMPRESSO DIÁRIO: UM ESTUDO SOBRE O TEXTO DO JORNAL DA CIDADE

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TÍTULO: O IMPACTO DA EXTINÇÃO DA FIGURA DO REVISOR NO JORNALISMO IMPRESSO DIÁRIO: UM ESTUDO SOBRE O TEXTO DO JORNAL DA CIDADE CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS SUBÁREA: COMUNICAÇÃO SOCIAL INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE DO SAGRADO CORAÇÃO AUTOR(ES): SAMANTA RAVAZZI ORIENTADOR(ES): DANIELA PEREIRA BOCHEMBUZO

1. RESUMO O presente trabalho propôs-se a realizar um estudo social exploratório sobre o cenário de produção e revisão de textos noticiosos no jornalismo impresso diário, tendo como objeto principal de estudo o Jornal da Cidade, de Bauru, interior de São Paulo. O objetivo específico foi elaborar um estudo qualitativo sobre a realidade do texto noticioso do jornal impresso e suas consequências em relação à compreensão por parte do leitor. Para tanto, além das pesquisas bibliográficas, o percurso metodológico contou com pesquisa de campo que foi dividida entre observação e entrevistas em profundidade por meio da qual buscou-se compreender quais perdas significativas a extinção da função de revisor trouxe para a eficaz compreensão do texto do jornal impresso. A proposta foi desenvolvida a partir de projeto de Iniciação Científica realizado por meio do Programa Voluntário de Iniciação Científica (PIVIC) e justificou-se porque, ao longo da história, o jornalismo adaptou-se às mudanças ocorridas nas sociedades em que estava inserido, porém, o texto claro, coeso e que respeita a norma culta da linguagem vigente manteve-se como condição imprescindível à concretização da comunicação. Problemas na ortografia e na coerência do texto do jornal impresso, por exemplo, podem vir a prejudicar a reputação do veículo de imprensa e, progressivamente, a própria profissão do jornalista. A pesquisa bibliográfica sobre o tema central e seus desdobramentos, o estudo de caso sobre o texto do Jornal da Cidade e a reflexão sobre a relação que uma amostra de jornalistas do veículo em questão e também de revisores textuais de outros jornais impressos possui com a revisão textual, propiciaram a análise, ainda que delimitada, de parte do cenário de produção do jornalismo impresso diário do interior paulista. 2. INTRODUÇÃO Ao olhar para a história mundial do jornalismo, depara-se com a ideia inicial de que o jornalista é aquele que ilumina a escuridão da ignorância, aquele que tira a população da condição do não-saber, que lidera a conquista do direito à informação - tudo isso expresso por um texto de qualidade, que transmita credibilidade ao leitor.

Desse modo, pode-se dizer que a ligação entre jornalismo e texto qualificado é intrínseca: além do texto jornalístico com características literárias ter marcado o início do jornalismo impresso no Brasil ( redator panfletário e jornalista literato são exemplos disso), muitos dos primeiros jornalistas brasileiros eram egressos das Academias de Direito ou seja, profissionais com perfil intelectual e erudito, o que colaborava para um texto de qualidade. Nesse sentido, o jornalista tem se mantido como aquele que, além de deter e transmitir as informações, o faz com um texto claro, coeso e respeitando a norma culta da língua na qual escreve. Segundo Erbolato (2002), as notícias chegam às redações dos jornais e/ou são produzidas ali, depois de apurações, e todo o corpo redacional é responsável, direta ou indiretamente, pelo texto: Na Redação dos jornais, a atividade é sempre das mais intensas, com notícias que chegam ininterruptamente. Os encarregados de recebê-las (Produção ou Recepção) as encaminham aos redatores, para que possam ser tratadas, de acordo com a importância de que se revestem. (ERBOLATO, 2002, p.220). Há muitos profissionais, então, responsáveis pelo texto e, até sua quase extinção (no final da década de 90), o setor de revisão textual era o principal encarregado dessa finalização da notícia e da manutenção da qualidade textual. Ao longo da história do jornalismo impresso no Brasil, porém, essa alta qualidade do texto, juntamente com a ortografia dentro dos padrões da norma culta, vem sofrendo uma queda vertiginosa e visível aos olhos dos leitores mais atentos ao texto impresso. Um dos prováveis motivos pelos quais esse fato pode estar ocorrendo é a substituição do profissional revisor de texto, provocada, em grande parte, pela diminuição do corpo redacional, em decorrência, também, da chegada de novas plataformas nas quais o texto impresso está inserido. 3. OBJETIVOS A investigação deste trabalho foi guiada pelos seguintes objetivos: 3.1. GERAL Realizar um estudo social exploratório sobre a extinção da função do revisor do jornal impresso diário e suas consequências.

3.2. ESPECÍFICOS Identificar a importância da função do revisor no jornalismo impresso diário; Pesquisar sobre o contexto atual das redações de jornal impresso diário, tendo como objeto principal de estudo o Jornal da Cidade, de Bauru/SP; Analisar se os instrumentos e ferramentas que substituíram a revisão feita por esse profissional são, de fato, efetivos; Especificar quais são as perdas mais profundas na qualidade do texto do jornal impresso diário, após a extinção do revisor textual. 4. METODOLOGIA Este trabalho é um estudo social exploratório cujo percurso metodológico envolveu, primeiramente, uma pesquisa bibliográfica sobre o jornalismo impresso sua origem e seu desenvolvimento histórico e social bem como sobre o papel da profissão de jornalista na sociedade, a fim de que houvesse embasamento teórico suficiente para a execução do projeto. Terminada a etapa preliminar de estudo teórico preliminar, pois, ao longo de todo o trabalho, surgiu a necessidade de outras pesquisas teóricas foi realizado um estudo de caso sobre o jornal impresso diário escolhido ( Jornal da Cidade). A opção por esse método deveu-se ao fato de que, assim, pode-se analisar de maneira mais completa e minuciosa o objeto, em relação ao seu contexto e relevância social. Marcia Yukiko Matsuuchi Duarte (DUARTE, 2010) reitera que, ao utilizar duas fontes de evidência, o método se torna importante para coletar informações de maneiras variadas: O estudo de caso deve ter preferência quando se pretende examinar eventos contemporâneos, em situações onde não se podem manipular comportamentos relevantes e é possível empregar duas fontes de evidências, em geral não utilizadas pelo historiador, que são a observação direta e série sistemática de entrevistas. (DUARTE, 2010, p.219). Após o período de observação direta, houve uma pesquisa qualitativa, a partir de uma seleção de 10 (dez) produtores de notícia jornalistas atuantes e outros que já exerceram a função de revisores para que se pudesse analisar a rotina de revisão. Nessa etapa o método envolveu entrevistas em profundidade (como

segundo momento do estudo de caso), já que o foco seria menor na quantificação do que nas experiências dos entrevistados. A entrevista em profundidade colaborou para uma observação mais detalhada da vivência dos entrevistados, contribuindo, assim, para integração de teoria e prática. De posse das transcrições das entrevistas realizadas, os dados foram compilados e analisados, a fim de que um breve panorama sobre o texto do jornal impresso (especificamente, o Jornal da Cidade, de Bauru) fosse delineado, com especial atenção à revisão textual. 5. DESENVOLVIMENTO 5.1. Desenvolvimento da Imprensa Brasileira e do Texto de Qualidade Embora tenha surgido na Europa no século XV e chegado em terras brasileiras junto com a Corte Portuguesa, em 1808, foi apenas no início do século XIX, a imprensa passou a se consolidar como órgão de importância para a sociedade, defendendo as posições políticas às quais os jornais estavam atrelados especialmente no Brasil. Surge, então, a figura do redator panfletário, com um estilo marcado por [...] capacidade de convencer e atacar, espírito mordaz e crítico, linguagem literária, sátira [...] (MARTINS; LUCA, 2001, p.37) e um a maneira mais livre de escrever e de instigar a reflexão de seus leitores, a partir de sua ideias políticas e, muitas vezes, revolucionárias. Essa fase da imprensa brasileira configurou-se como terreno fértil para polêmicas e confrontos de ideologia. Essa imprensa que buscava instigar a reflexão calcada em interesses políticos e ideológicos ganhou apoio dos egressos das Academias de Direito. A elite da época se encontrava ali e seus textos fossem eles poesia, filosofia, história ou atividade jornalística eram cuidadosamente escritos, já que a cultura e o nível intelectual eram diferenciais de quem frequentava o ensino superior. Pode-se notar, então, quão estreita é a ligação entre o texto jornalístico impresso e sua qualidade, desde os primeiros passos da imprensa no Brasil. Mesmo com o passar do tempo e a necessidade de diversificação da forma e conteúdo da imprensa escrita passando pela charge, pelo folhetim, pelo conto e pela crônica, por exemplo o texto escrito de maneira clara, coesa e de fácil compreensão por parte dos leitores nunca deixou de ser importante e essencial.

O texto dos veículos impressos sofreu, ainda, muitas influências até chegar aos dias atuais. Teve de se adaptar à formação das grandes empresas jornalísticas e, consequentemente, à chegada da publicidade à informatização das redações e, mais recentemente, ao advento e à consolidação da internet. Entre as mudanças pelas quais o jornalismo impresso passou, é necessário destacar a redução do corpo redacional e, com ela, a extinção do setor de revisão textual, na maioria dos veículos impressos diários. O profissional responsável pela revisão tinha a incumbência de fazer as devidas alterações no texto, sem descaracterizá-lo em relação ao estilo e às ideias do redator, mas, adequando-o à linha editorial do veículo e colaborando para a coesão da publicação. Desse modo, um texto que sempre primou pela qualidade e pelo cuidado sintático e semântico por parte de seus produtores, hoje, muitas vezes, por conta da rapidez com a qual a informação precisa ser transmitida e a sobrecarga de trabalho dos jornalistas além das ferramentas de correção dos editores textuais das quais dispõem é muito mais direto e menos revisado, podendo, muitas vezes, ter sua legibilidade comprometida. 5.2. Jornal da Cidade, de Bauru um estudo de caso Bauru é um importante município do centro-oeste paulista e sua imprensa impressa é extremamente consolidada, principalmente pelo jornal de maior relevância, na cidade e na região, o Jornal da Cidade, que circula desde 1967. O JC tem tiragem de, aproximadamente, 28 mil exemplares durante a semana, chegando aos 30 mil exemplares aos domingos. O corpo redacional possui 50 jornalistas e o veículo não conta com o setor de revisão textual desde o final de 2005 1. No estudo de caso, foi executada, primeiramente, a observação direta nos arquivos físicos do Jornal da Cidade. Foram analisados os textos de quatro edições completas do JC, sendo duas edições de 1994 (quando o veículo ainda contava com um setor específico de revisão textual) e duas de 2015, no que dizia respeito à legibilidade do texto jornalístico com critérios estabelecidos por esta pesquisadora, 1 Informações obtidas em documentos e/ou entrevistas realizadas com jornalistas do Jornal da Cidade, durante os meses de abril e maio de 2015, por esta pesquisadora.

tais como possíveis inadequações que pudessem prejudicar a compreensão eficaz dos textos, gerando dúvidas e/ou levando o público a repetir, uma ou mais vezes, a leitura da informação Como segunda etapa do estudo de caso, foram realizadas 07 entrevistas com jornalistas do veículo analisado. Durante o período do estudo de caso, surgiu a necessidade de buscar, também, a opinião de jornalistas que atuam ou atuaram diretamente no setor de revisão de veículos impressos diário, com o intuito de aprofundar o estudo sobre a qualidade textual do jornal impresso foram feitas, então, entrevistas em profundidade com três profissionais da área de revisão textual. O cruzamento dessas informações, bem como a análise das edições do Jornal da Cidade, foram de extrema importância para que o cenário embora delimitado da qualidade e da revisão textual no jornalismo impresso diário começasse a ser delineado nesta pesquisa. 6. RESULTADOS Após o estudo de caso realizado, dois pontos ficaram muito evidentes. O primeiro deles é referente às inadequações encontradas no texto das edições analisadas: as mais recorrentes são coesão e redundância (65 e 61 ocorrências, respectivamente), que estão ligadas muito mais às construções textuais do que às regras gramaticais propriamente ditas. É interessante pontuar que, muitas vezes, o leitor comum pode não identificar que o problema está no texto, a não ser pelo fato de precisar ler mais de uma vez para compreender a informação é possível, inclusive, que ele acredite que a dificuldade seja dele próprio, o que não acontece nos casos de inadequações ortográficas, por exemplo. O outro ponto essencial foi constatar praticamente as mesmas opiniões e visões nas 10 entrevistas realizadas com os jornalistas e profissionais de revisão. Ao cruzar as respostas obtidas em todas as entrevistas, nota-se que a questão da qualidade do texto é de extrema relevância para todos os jornalistas e que a visão que profissionais responsáveis pelo próprio texto e revisores têm em relação à importância da revisão é basicamente a mesma: há muitas falhas que precisam ser sanadas para que o texto de qualidade continue sendo condição essencial à

permanência do jornal impresso como veículo de grande credibilidade na história da comunicação. 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS A credibilidade com a qual o jornalismo impresso diário conta tem ligação estreita com a maneira como se dá a transmissão das informações. Se o leitor não encontra dificuldades ao ler o que está escrito no jornal, a compreensão eficaz e a legibilidade contribuem para manter a boa reputação do veículo e também dos jornalistas que ali trabalham. Porém, o contrário também é verdadeiro se o leitor encontra problemas de ortografia ou frases confusas, por exemplo, o processo comunicacional tende a ser prejudicado e a credibilidade conquistada, com o tempo, pode ser afetada. Os objetivos desta pesquisa foram alcançados integralmente e trouxeram com eles várias outras hipóteses e também constatações que não haviam sido pautadas no início do trabalho. De fato, a revisão textual no jornalismo impresso diário é fator indiscutível quando se fala em texto de qualidade (qualidade, aqui, representada pela compreensão efetiva das informações e da leitura sem grandes problemas de decodificação). Porém, a extinção da função do jornalista revisor nas redações não é um fator preponderante para a manutenção dessa qualidade. Considerando-se a especificidade dos desvios, notou-se que a coesão e a redundância textual foram as inadequações mais encontradas nas análises dos textos. Esse tipo de problema está muito mais relacionado à estilística e a elementos intrínsecos de construção do texto do que propriamente às questões básicas de ortografia e/ou concordância, que seriam facilmente detectados e retificados pelo revisor (seja ele um jornalista ou uma ferramenta tecnológica) e, desse modo, nem o mais competente e ágil setor de revisão textual poderia sanar os problemas, já que a revisão minuciosa de um jornal completo é extremamente demorada e também pelo fato de que esses reparos demandariam modificações na estilística do texto, ou seja, seria necessário, muitas vezes, que o trecho fosse reescrito. Os problemas detectados no estudo de caso mostraram-se anteriores ao exercício da profissão e, o que se nota, de maneira geral, é, portanto, uma falha no processo educacional brasileiro, que permite que o aluno termine seus estudos com

déficits e sem as habilidades consideradas básicas para uma efetiva comunicação escrita. Ao não conseguir cumprir essa função, o ensino básico, por sua vez, empurra-a para os cursos superiores enquanto a universidade espera que o aluno chegue preparado em relação à questão da linguagem escrita. A contribuição dessa pesquisa, portanto, foi estabelecer os pontos tidos como essenciais para a produção e manutenção de um texto de qualidade no jornalismo impresso diário. Mesmo que as conclusões tenham indicado razões mais profundas para a resolução desses problemas, acredita-se que a reflexão suscitada por este estudo possa colaborar para a busca de melhorias nos quesitos legibilidade e compreensão de informações na produção do jornal impresso. Como sugestão extra, viu-se a necessidade da questão de compreensão textual ser analisada em conjunto pelos setores de educação básica, de ensino superior e das empresas de comunicação. Um projeto constante que envolva esses três setores de maneira que cada um deles possa colaborar com aquilo que é de sua competência e interesse poderia ser uma primeira ação concreta para a melhoria dos textos dos profissionais do jornalismo e, consequentemente, para a elevação da qualidade das produções jornalísticas de uma maneira geral. 8. FONTES CONSULTADAS BAHIA, Benedito Juarez. História, jornal e técnica: história da imprensa brasileira, volumes 1 e 2. Rio de Janeiro: Mauad X, 2009. BARROS, Antonio Teixeira de; JUNQUEIRA, Rogério Diniz. A elaboração do projeto de pesquisa. In: DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio (Org.). Métodos e técnicas de pesquisas em comunicação. 2.ed. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2010. DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio (Org.). Métodos e técnicas de pesquisas em comunicação. 2.ed. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2010. ELEUTÉRIO, Maria de Lourdes. Imprensa a serviço do progresso. In: MARTINS, Ana Luiza; LUCA, Tânia Regina de. História da Imprensa no Brasil. São Paulo: Editora Contexto, 2011. ERBOLATO, Mario L. Técnicas de codificação em jornalismo. Redação, captação e edição no jornal diário. São Paulo: Editora Ática, 2002. Dicionário de propaganda e jornalismo: legislação, termos técnicos e definições de cargos e funções, abrangendo as atividades das

agências de propaganda e do jornalismo impresso, radiofônico e de televisão. Campinas: Papirus, 1985. Jornalismo Gráfico: Técnicas de produção. São Paulo: Edições Loyola, 1981. GENRO FILHO, Adelmo. O segredo da pirâmide: para uma teoria marxista do jornalismo. v.6. Florianópolis: Insular, 2012 (Série Jornalismo a Rigor). LAGE, Nilson. Linguagem jornalística. 7 ed. São Paulo: Editora Ática, 2003. LIMA, Edvaldo Pereira. Páginas Ampliadas. O livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura. Barueri: Manole, 2004. MARTINS, Ana Luiza; LUCA, Tânia Regina de. História da Imprensa no Brasil. São Paulo: Editora Contexto, 2011. MELO, José Marques de. História Social da Imprensa. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003. (Coleção Comunicação). História do Jornalismo: Itinerário crítico, mosaico contextual. São Paulo: Paulus, 2012. (Coleção Comunicação). MARCONDES FILHO, Ciro. Comunicação e jornalismo. A saga dos cães perdidos. São Paulo: HackerEditores, 2000. MEDINA, Cremilda. Notícia, um produto à venda: jornalismo na sociedade urbana e industrial. 2 ed. São Paulo: Summus, 1988 (Novas buscas em comunicação; v.24). PENA, Felipe. Teoria do Jornalismo. 3 ed. São Paulo: Contexto, 2012. PEREIRA JR., Luiz Costa. Guia para a edição jornalística. Petrópolis: Editora Vozes, 2006 (Coleção Fazer Jornalismo) SAVIOLI, Francisco Platão; FIORIN, José Luiz. Para entender o texto: Leitura e redação. 10.ed. São Paulo: Editora Ática, 1995. SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1966. SCHUDSON, Michael. Descobrindo a notícia: Uma história social dos jornais nos Estados Unidos. Tradução Denise Jardim Duarte. Petrópolis: Editora Vozes, 2010 (Coleção Clássicos da Comunicação Social) TRAQUINA, Nelson. Teorias do jornalismo: porque as notícias são como são. 2 ed. Florianópolis: Insular, 2005. VIANNA, Ruth Penha Alves. A informação da imprensa brasileira. São Paulo: Edições Loyola, 1992. VILLAMÉA, Luiza. Revolução Tecnológica e reviravolta política. In: MARTINS, Ana Luiza; LUCA, Tânia Regina de. História da Imprensa no Brasil. São Paulo: Editora Contexto, 2011.