LINFEDEMA EM CÃO - RELATO DE CASO LYMPHEDEMA IN DOG - CASE REPORT Márcia Kikuyo NOTOMI 1 ; Érica Pereira da SILVA 2 ; Kelly Cunha VITAL 3, Diego Fernando da Silva LESSA 4, Diogo Ribeiro CÂMARA 1 ; Anaemilia das Neves DINIZ 1 ; Pierre Barnabé ESCODRO 1 1 Professor (a) do Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Alagoas 2 Estudante de em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Alagoas, 3 Aluna de Metrado em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Alagoas 4 Aluno de Doutorado Da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade de São Paulo Resumo: O linfedema é caracterizado pela presença de edema localizado, devido ao acúmulo de fluído no espaço intersticial e/ou cavidades, decorrente de uma falha da drenagem linfática. Usualmente, sua origem é atribuída as anomalias linfáticas congênitas ou obstrução linfática adquirida. O edema surge quando a filtração capilar extrapola a reabsorção linfática e venosa, sendo a fase inicial do linfedema reversível, entretanto, com a cronicidade desenvolve uma fibrose tecidual e as alterações se tornam irreversíveis. Este trabalho relata um caso de linfedema canino localizado em membros pélvicos e atrofia/hipoplasia de linfonodos poplíteos de um cão macho de 4 meses de idade. O animal foi acompanhado durante o período de 2 anos onde se evidenciou um aumento progressivo do edema e formação de um fibroedema, provocando uma rigidez da textura da derme e do tecido subcutâneo e infecções bacterianas secundárias. Palavras-chave: Cão, Sistema linfático, Edema, Fibroedema. Keywords: Dog. Lymphatic System. Edema. Fibroedema. Introdução: O linfedema é caracterizado por um edema, decorrente do acúmulo de fluído altamente proteico no interstício, devido à falha da drenagem linfática. É atribuído a anomalias linfáticas congênitas ou obstrução linfática adquirida (WEBB et al., 2004). FOSSUM et al. (2005), relatam que o edema se manifesta normalmente como uma tumefação indolor e espontânea das extremidades, com característica de edema, podendo ser inicialmente insidioso. Frequentemente, os membros pélvicos são os mais acometidos, apresentando um inchaço unilateral, geralmente iniciando na Anais do 38º CBA, 2017 - p.0924
extremidade distal e progredindo para a proximal. A presença de claudicação e identificação de dor são incomuns nesses pacientes. A alta concentração proteica do fluido do edema favorece o crescimento bacteriano, linfagite e celulite, podendo ocorrer secundariamente a traumas e fissuras, que possibilita a entrada de bactérias (ROESLER et al. 1999). Além das complicações já citadas, Neto et al. (2004) relatam que uma das principais complicações é o fibroedema, decorrente do aumento da concentração de proteínas, desenvolvendo uma rigidez da textura da derme e do tecido subcutâneo, e linfangiossarcoma (neoplasia maligna). Descrição do Caso: Em maio de 2010, um edema discreto nos membros pélvicos, com início na epífise proximal do fêmur até a extremidade distal dos membros foi identificado em um cão errante, sem raça definida, de quatro meses de idade, que foi levado a clínica com a queixa principal de hipotricose e descamação. No exame clínico, os demais para parâmetros vitais encontravam-se dentro dos valores de referências, com exceção das alterações cutâneas e do linfonodo poplíteo que não foi identificado em ambos os membros. O animal presentava locomoção normal, ausência de aumento de temperatura ou dor à palpação do aumento de volume. No raspado cutâneo foi identificado Demodex canis e o tratamento à base de Ivermectina realizado por 2 meses, entretanto, mesmo após a cura da afecção cutânea os membros permaneceram edemaciados. Após 4 meses, observou-se um agravamento da edemaciação dos membros, principalmente o esquerdo. Foram realizados um hemograma, proteína plasmática total e exame de urina, sem alterações significativas. A avaliação ultrassonográfica em modo B do tronco linfático localizado na região metatársica mostrou irregularidade, aumento da ecogenicidade e textura heterogênea da parede do vaso. O diâmetro do segmento avaliado mediu aproximadamente 3,9 mm de diâmetro sendo em alguns pontos esse valor foi maior, sugerindo dilatação do vaso. O teste de absorção do corante azul patente foi realizado aplicando o corante azul patente a 5% (0,4ml), por via subcutânea, no espaço interdigital. O método foi avaliado durante três horas após injeção do corante, observando uma distribuição difusa do corante que é indicativo de falha no sistema linfático. Anais do 38º CBA, 2017 - p.0925
Durante o período de 2 anos, houve o aumento gradativo do edema dos membros, desenvolvimento de fibrose e espessamento do tecido cutâneo e subcutâneo, o que foi ocasionando uma dificuldade de locomoção, claudicação ocasional, presença de dobras cutânea e a fragilidade epidérmica com atraso na cicatrização, que desencadearam em dois episódios de infecção bacterianas superficial, nos quais o tratamento sistêmico foi necessário. Não houve mais informações sobre o animal após este período. Discussão: Em cães, o diagnóstico de linfedema primário se baseia na exclusão de causas que desencadeiam uma deficiência no sistema linfático, como doenças inflamatórias, infecciosas e neoplásicas; em conjunto com o resultado do teste da absorção do corante azul patente subcutâneo (JACOBSEN e EGGER,1997). No caso relatado, os achados no exame físico, ultrassonografia e o teste de azul de metileno indicam a um caso de linfedema primário em cães. Principalmente, diante da não identificação do linfonodo poplíteo, semelhante a outros relatos de linfedema primário em cão (PATTERSON et al., 1967; FOSSUM et al. 2005; SANTOS e ALESSI, 2010), com a obstrução linfática ocorrendo na altura da localização dos linfonodos poplíteos de acordo com Patterson et al, (1967). Apesar do linfedema envolver uma ou mais extremidades, é visto mais comumente nos membros pélvicos (WEBB et al. 2004) semelhantemente ao animal que já apresentava a tumefação dos membros pélvicos aos 4 meses de idade. Embora o edema ter afetado os membros bilateralmente, o membro esquerdo apresentou os sinais mais intensos, concordando Fossum et al, (1992) que descreve que a intensidade do inchaço é muitas vezes maior em um membro do que o outro. Corroborando com a palpação, o exame de ultrassonografia, não identificou os linfonodos poplíteos, porém observou a dilatação distal dos vasos linfáticos secundária ao processo obstrutivo (GILL e LEE, 1982). Quando os vasos se dilatam, eles podem perder a sua contratilidade e as válvulas linfáticos podem ficar permanentemente afuncionais em resposta à distensão excessiva crônica (FOSSUM e MILLER, 1992). Com a evolução de dois anos, gradativamente o edema se tornou crônico, com ocorrência de fibrose, e resposta menos evidente no teste de Godet. Um espessamento fibrótico é formado em consequência do fibroedema, provocado pelo Anais do 38º CBA, 2017 - p.0926
aumento da concentração de proteínas, fazendo com que ocorra a rigidez da textura da derme e do tecido subcutâneo (ROESLER et al. 1999). Conclusão: O caso apresentado sugere um caso de linfedema primário canino. Independente da causa, a progressão do linfedema leva a uma redução na qualidade de vida do animal pela limitação física, pelo aspecto estético, pela rigidez cutânea provocada pelo fibroedema e predisposição a infecções bacterianas cutâneas. Diante dos poucos recursos terapêuticos disponíveis, os resultados deste estudo vão ajudar na busca de novas alternativas de tratamento. Referências: FOSSUM, T. W; et al. Cirurgia de pequenos animais. 2. ed. São Paulo: ROCA, 2005. p. 536 a 539. FOSSUM, T. W; et al. Lymphedema: Clinical Signs, Diagnosis, and Treatment. Journal of Veterinary Internal Medicine, Texas, v. 6, n. 6, Nov - Dec, 1992. FOSSUM, T. W; MILLER, M. W. Lymphedema: Etiopathogenesis. Journal of Veterinary Internal Medicine, Texas, v. 6, n. 5, p. 253 306, sept oct.1992. Disponível em: <http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1939-1676.1992.tb00353.x/pdf>. Acesso no dia 10 de junho de 2016. GILL, JAMES; LEE, ROBIN. Primary lymphoedema in a dog: a case report. Journal small animal Practice, Glasgow, v. 23, n.1 p. 13-17, jan. 1982. JACOBSEN, J. O. G; EGGE, C. Primary lymphoedema in a kitten: case reports. Journal of small animal practice, Dinamarca, v. 38, n. 1, p. 18-20, jan.1997. JONES, T. C; HUNT, R. D; KING, N. W. Patologia veterinária. 6. ed. São Paulo: Manole. 2000. p. 182. MACEDO, J. T. S. A. e. Linfedema primário e outros defeitos congênitos diagnosticados em bovinos de 1964 a 2010 pelo laboratório de patologia veterinária da universidade federal de santa maria. 2010. 66 f. Tese (Doutorado em Medicina Veterinária) Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria. 2010. PATTERSON, D. F; et al. Congenital Hereditary Lymphoedema in the Dog: Clinical and Genetic Studies. Journal of medical Genetics, States United, v.4, n.3, p. 145 142, 16 Feb. 1967. ROESLER, R; et al. Doença de meige (linfedema precoce): relato de caso e revisão de literatura. Rev. Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, São Paulo, v.14, n.3, p. 69-78, set-dez.1999. Anais do 38º CBA, 2017 - p.0927
SANTOS, R.L; ALESSI, A.C. Patologia veterinária. São Paulo: ROCA, 2010. p. 79. WEBB, J. A; et al. Lymphangiosarcoma associated with primary lymphedema in a bouvier des flandres: case Reports. Journal of Veterinary Internal Medicine, States United, v.18, n. 1, p. 122 124, jan feb. 2004. Anais do 38º CBA, 2017 - p.0928