Impáctos da Crise Econômia nos Sistemas de Saúde na Europa e Estados Unidos (2008-2013) André Medici Congresso Internacional de Serviços de Saúde (CISS) Feira Hospitalar São Paulo (SP) 23 de Maio de 2013
Sumário da Apresentação 1. A Dinâmica Econômica da Crise 2008-2013 2. Impáctos Sociais da Crise na Europa e Estados Unidos 3. Impáctos nas Políticas de Proteção a Saúde 4. Perspectivas Futuras
A DINÂMICA ECONÔMICA DA CRISE 2008-2013
A Crise Recente: Origens e Origens A crise financeira que assola o mundo é grave. Nada lhe é comparável desde 1929. Se inicia em 2007 no mercado norteamericano de hipotecas de alto risco (subprime), quando empréstimos baseados em devedores insolventes deixaram de ser pagos, aumentando a preferencia por ativos líquidos dos agentes econômicos. Se transforma, após a falência do banco de investimentos Lehman Brothers, numa crise sistêmica mundial. Está levando bancos e outras empresas financeiras à situação de quebra mesmo que elas próprias estejam solventes. Desdobramentos Desdobramentos Colocou em xeque a arquitetura financeira internacional; Mostrou as debilidades do sistema de regulação e supervisão bancária; Pôs em questão a sobrevivência de um perfil específico de instituições e operações financeiras. Elevou os níveis de desemprego, levando as familias a reduzir o consumo; as empresas a reduzir investimentos e o governo a cortar gastos para contornar o crescente déficit público Reduziu o ritmo de crescimento dos países desenvolvidos, com impactos posteriores nos países em desenvolvimento, desaquecendo o processo de globalização
Os impactos econômicos da crise nos países desenvolvidos Alguns interpretam a crise como tendo um formato de W. Ou seja, uma crise em 2008-9, seguida de uma recuperação em 2010, e uma segunda crise a partir de 2011. A primeira, de 2008, puxada pelos Estados Unidos, e a mais recente, pela crise dos países da zona do euro em 2011-12. Mas as duas estão unidas por tres sintomas: (a) elevados déficits públicos; (b) fragilidade das instituições financeiras e, (c) desaceleração do crescimento. 200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 Divida Pública do Governo Central como % do PIB - 2008-2011 2008 2009 2010 2011 Uniao Europeia Estados Unidos Japao
A Dinâmica Diferencial dos Países Ricos e o Alinhamento durante a Crise Período pré-crise Europa Japão e Estados Unidos tinham ritmos desalinhados de crescimento; Crises nos Estados Unidos, na Europa ou no Japão eram compensadas por crescimento em outras áreas desenvolvidas. Assim, no conjunto dos países ricos, nunca houve recessão profunda entre 1980 e 2008, embora pudesse haver recessões particulares nos Estados Unidos, Japão ou Europa Período da Crise Entre 2008 e 2009 se configura uma recessão, com taxas negativas simultaneas de crescimento do PIB nos Estados Unidos Europa e Japão Pela primeira vez, em quase 30 anos a economia mundial experimenta taxas negativas de crescimento do PIB. A recuperação em 2010 ocorre sincronicamente nos Estados, Unidos, Europa e Japão. Mas a desaceleração e 2011 e 2012 volta a ocorrer com o parâmetro pre-crise, sem manter o alinhamento verificado no período 2008-2009
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Taxas de Crescimento do PIB em Regiões e Países Selecionados: 1980-2012 8 6 4 2 0-2 -4-6 -8 Paises Ricos Area do Euro Estados Unidos Japão Fonte: Banco Mundial, Indicadores de Desenvolvimento Mundial
Comparando o Impácto dacrise: BRICS e Países Desenvolvidos Periodo pre-crise Entre 1999 e 2008, o Brasil disputou com a África do Sul as Taxas mais baixas de crescimento econômico, mas durante a crise teve um comportamento melhor do que a Rússia e a África do Sul. Depois de uma fase longa de taxas de crescimento negativo, nos anos noventa, a Rússia teve um bom desempenho econômico no-pre crise, mas foi fortemente afetada pela crise que se inicia em 2008, provavelmente pelos mercados europeus. China e Índia foram os gigantes do crescimento econômico no precrise. Durante a Crise Todos os BRICS tiveram suas economias afetadas pela crise, mas alguns (China e Índia) foram muito pouco afetados. Brasil, África do Sule e Rússia foram os mais afetados pela crise, especialmente a Rússia, que em 2008 teve seu crescimento econômico reduzido em quase 8%. A heterogeneidade dos BRICS, em suas estruturas econômicas, políticas e demográficas fazem com que seja díficil pensar uma estratégia conjunta de crescimento e política econômica.
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Taxas de Crescimento do PIB nos BRICS: 1980-2012 20 15 10 5 0-5 BRASIL RUSSIA INDIA CHINA AF. DO SUL -10-15 -20 Fonte: Banco Mundial, Indicadores de Desenvolvimento Mundial
O Peso Diferencial do Crescimento Econômico: BRICS, Europa e EUA Em que pese a crise, os efeitos do crescimento econômico dos últimos anos delineiam um novo cenário que deverá ser pensado nas estratégias econômicas e sociais globais nos próximos anos. Entre 1980 e 2012, o crescimento econômico dos BRICS, especialmente China e Índia marcam uma nova realidade. Neste período, o PIB da China cresceu 9 vezes seu PIB e o da Índia pouco mais de 4 vezes. Enquanto isso o crescimento da economia européia foi de 40% e o dos Estados Unidos, 66%. A crise recente marca, portanto, um futuro não muito distante de multipolaridade econômica e de múltiplos centros de poder. Taxas de Crescimento Agregado do PIB Regiões e Países Selecionados: 1990-2012 Regiões e Países Crescimento Agregado do PIB (1990-2012) (%) Rússia 12,03% Japão 26,78% Área do Euro 40,47% Estados Unidos 66,49% Brasil 77,27% África do Sul 78,17% Índica 424,59% China 892,10%
IMPÁCTOS SOCIAIS DA CRISE NA EUROPA E NOS ESTADOS UNIDOS
Sumario das consequências sociais Elevados níveis de desemprego e subemprego Queda dos salarios reais; Aumento do número de forclousures e perdas de imóveis por famílias pobres; Aumento do número de pessoas abaixo da linha de pobreza; Queda do número de pessoas com cobertura de seguros de saúde e direito a pensões pela seguridade social.
Alguns dados para os Estados Unidos O número de desempregados aumentou de 7 para 16 milhões entre 2007 e 2010, mas reduziu-se recentemente para em torno de 13 milhões O número de pessoas abaixo da linha de pobreza aumentou para 44 milhões. Um em cada sete norteamericanos estão abaixo da linha de pobreza A duração do tempo em condição de desemprego aumentou de 22 para 37 semanas entre 2008 e 2011 44% dos desempregados (cerca 6,2 milhões) esperam mais de 6 meses sem encontrar emprego. Cerca de 25,1 milhoes estão em situação de desempregado ou subempregado. Taxa de Desemprego Aberto nos Estados Unidos: 2007-2013 Anos Taxa de Desemprego Aberto 2007 4,6% 2008 5,8% 2009 9,3% 2010 9,6% 2011 8,5% 2013 (abr) 7,5%
Aumento do número e porcentagem de pessoas na condição de pobreza nos Estados Unidos Evolução do número de pessoas na linha de pobreza nos Estados Unidos: 1959-2011 Fonte: U.S. Bureau of Census
Alguns dados para a Europa Taxas de Desemprego se elevaram de 7,5% para 12,1%, entre 2007 e 2013 e seguem subindo Aumento da população abaixo da linha de pobreza. Em países como Grécia alcança 30% Medidas de austeridade fiscal em países que perderam o controle da dívida soberana (Portugal, Espanha, Italia, Irlanda e Grécia). Cortes e reduções de salários, beneficícios previdenciários e seguros socias para a população. Salários na Grécia foram cortados em 22% em média (32% para os jóvens) Redução de empregos de médicos, professores e outros profissionais que atendem a serviços públicos universais. Taxa de Desemprego Aberto nos Europa: 2007-2013 Anos Taxa de Desemprego Aberto 2007 7,5% 2008 7,5% 2009 9,4% 2010 10,0% 2011 10,1% 2013 (mar) 12,1%
IMPACTOS NAS POLÍTICAS DE PROTEÇÃO À SAÚDE
Europa x Estados Unidos: Modelos Diferenciados de Saúde Estados Unidos É um sistema que tem dos pilares públicos: MEDICARE Para cobertura dos riscos da população idosa e deficiente e; MEDICAID Para a cobertura de indigentes e populações abaixo da linha de pobreza Tem um sistema privado baseado na compra de planos de saúde de múltiplas características (HMO, PPO, POS, etc.) de adesão voluntária pelas empresas e-ou individuos; O Plano Obama de Saúde passa a tornar obrigatória a adesão a um seguro de saúde a partir de 2014. Europa Cada pais tem seu próprio sistema, mas existem similaridades e principios comuns: Direito Universal a Saúde com proteção social do Estado Os Sistemas podem ser Únicos (Single Systems UK, Portugal, Italia) ou Múltiplos Estruturados (França, Alemanha, Holanda, etc) através de Seguros Públicos ou Seguridade Social. A cobertura e acesso é bastante diferenciada por países e, em alguns países, por Regiões
Impacto da Crise no Gasto em Saúde Estados Unidos: O Impacto da crise foi pequeno. Entre 2007 e 2010 o gasto percapita com saúde aumentou constantemente. No entanto, como proporção do PIB, ele sofreu uma redução entre 2009 e 2010, pela primeira vez em muitos anos. O Gasto em saúde como proporção do PIB, segue sendo o maior entre os países da OECD. (Estados Unidos) Ano Gasto Percapita em Saúde (Em US$) Gasto em Saúde como % do PIB 2007 7482 16,2 2008 7760 16,6 2009 7990 17,7 2010 8233 17,6 Mudanças na dimensão e estrutura do gasto poderão vier com as reformas a serem introduzidas a partir de 2014, quando entra em vigência o Plano Obama.
Estimativa do crescimento do gasto público em saúde nos Estados Unidos
Impacto da Crise no Gasto em Saúde (Europa) Nos países Europeus, o gasto em saúde como % do PIB em 2010 variava de 7,0% (Polonia) a 11,6% do PIB (França). A maioria dos países europeus reduziu o gasto em saúde como % do PIB entre 2009 e 2010. As exceções foram: Holanda, Hungria, Espanha, Itália e Suiça. O gasto percapita em saúde na Europa em 2010 variava de US$1389 (Polonia) a US$5388 (Noruega). A maioria dos países europeus aumentou o gasto percapita em saúde entre 2009 e 2010. As exceções foram Rep Tcheca, Estonia, Finlandia, Grecia, Islândia, Irlanda, Italia, Eslovenia e Espanha, Os países mais afetados pela crise recente, como Grecia, Irlanda, Itália e Espanha foram os que tiveram cortes recentes nos gastos percapita com saúde, alguns deles já iniciando em 2008. A crise, portanto, tem trazido um cenário de gastos em saúde que muito raramente ocorreu no contexto europeu do crescimento do Estado de Bem Estar.
Impactos na Cobertura e Qualidade dos Serviços de Saúde Estados Unidos 2007 e 2010 - % de pessoas sem cobertura de seguro saude aumento de 14,7% para 16,3% e de trabalhadores adultos (18-64 anos) de 19,6% para 20,8%. 2010-2011 % sem cobertura se reduz de 16,3% para 15,7% No entanto, o número de pessoas sem asseguramento já vinha aumentando nos Estados Unidos, especialmente pela maior migração, devido ao peso da informalidade. Se estima que 134 mil pessoas morreram entre 2005 e 2010 por falta de cobertura de serviços de saúde. Mas entre 1978 e 2012, caiu de 73% para 68% o número de pessoas que pensam que existe crise e maiores problemas no sistema de saúde. Europa Os impactos da crise na Europa não se dão diretamente na cobertura, já que esta tem garantia pública, mas especialmente na qualidade. Na maioria dos países europeus caiu entre 2000 e 2010 o número de visitas médicas por pessoa, em proporções que variam de 0,2% (Luxemburgo) até 3,1% (Eslováquia). Boa parte deste processo pode estar associada às medidas de racionalização impostas pela crise, na tentativa de aumentar a produtividade e cortar visitas médicas desnecessárias.
Evolução do número e % de pessoas sem cobertura de saúde nos EUA: 1987-2011 Fonte: U.S. Bureau of Census
Distribuição dos trabalhadores sem cobertura de plano de saúde nos Estados Unidos - 2011 4-10% s/cobertura 10-14% s/cobertura 14-16% s/cobertura 16-20% s/cobertura 20-27% s/cobertura
PERSPECTIVAS FUTURAS
O que virá com a crise no setor saúde? EUROPA Ajuste Fiscal de curto prazo, sem muitas mudanças nos esquemas de cobertura Detenção do aumento de novos benefícios Medidas severas contra migração e extensão de direitos sociais Busca de medidas que aumentem a eficiencia na entrega dos serviços e racionalizem os gastos com pessoal, insumos e medicamentos ESTADOS UNIDOS Plano Obama de reforma de saúde Os cortes nos gastos no MEDICARE, estimados em US$ 390 milhões, são estimados pelas associações de pacientes e das HMOs em US$ 554 bilhões Se espera, com um investimento de US$1,7 trilhões, em 10 anos, ter uma economia de US$ 2,7 trilhões no mesmo período. Novos planos de saúde tem que cobrir exames e medidas preventivas sem co-pagamentos e dedutíveis. Os velhos planos de saúde terão que adotar as mesmas práticas a partir de 2018
Estados Unidos: Recursos para o Financiamento da Reforma de Saúde (Em US$ Bilhões)
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