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PN 816.021; Ap.: TC. Matosinhos, 3º J. Ap.e2:; Ap.a3: Acordam no Tribunal da Relação do Porto. 1. O Ap.e discorda da sentença de 1ª instância pela qual a Ap.a foi absolvida do pedido nesta acção para tornar efectiva a responsabilidade civil decorrente de um acidente de viação do qual emergiram como danos: (a) a destruição do veículo do Ap.e; (b) prejuízos decorrentes da falta, até certa altura, do mesmo, que era utilizado pelo dono em deslocações. 2. Conclusões: (a) A decisão da matéria de facto fez errada apreciação da prova produzida: devem nomeadamente ser corrigidas as respostas a Q7, Q8, e Q19 4; 1 Vistos: Des Ferreira). 2 Adv. Dr.. 3 Adv. Dr.. 4 Nas conclusões da minuta refere-se Q8, Q9 e Q19, mas logo depois também se afirma que as respostas alteradas deverão ser no sentido do que vem sugerido no arrazoado; contudo neste defende-se exp ressamente a alteração das respostas a Q7, Q8 e Q19. Base instrutória:... Q7. O condutor do IP seguia completamente alheado do trânsito que se processava no loca l: uma freguesia com numerosas habitações de ambos os lados da via? Provado apenas que a Rua Hintze Ribeiro se situa numa freguesia com numerosas habitações, as quais no local estão de ambos os lados da rua; Q8. O condutor do IP não travou, nem desviou a tranjectória que imprimia ao veículo, indo embater com a frente d este na parte latera l direita, a meio, junto à porta, do veículo NE? Provado; [Q9. O emb ate foi muito violento? Provado;]... Q19. Ao chegar à embocadura da Rua Oliveira Leça [o ME] não respeitou o sinal de STOP, tendo transposto aquele cruzamento sem se aperceber da presença do IP, cortando a linha de trânsito deste? Provado apenas q ue ao chegar ao cruzamento com a Rua Hintze Ribeiro, o condutor do ME, a q uem se apresentava um sinal de STOP antes de entrar nesse cruzamento, entrou nele sem se aperceber da aproxima ção do IP, e corto u a linha de marcha deste. 1

(b) Na verdade, como resulta da fundamentação da sentença no domínio do estabelecimento da matéria de facto5, e no que diz respeito à dinâmica do acidente, à falta de outra prova, o tribunal atendeu ao depoimento do condutor do IP: (1) a via por onde circulava tinha muitos cruzamentos; (2) não conseguiu ver o Golf/ME, antes do embate; (3) não sabe se o condutor do Golf tinha visibilidade ou não; (c) Ora, este depoimento impõe, sem dúvida, a alteração das respostas aos quesitos..., assim se adequando estas ao depoimento prestado: Q7.- a Rua Hintze Ribeiro situa-se numa freguesia com numerosa s habitações, as quais no local estão de ambos os lados da rua, tendo vários outros cruzamentos antes do cruzamento com a Rua Augusto Leça, atento o sentido de marcha do IP; Q8.- o condutor do IP não viu o Golf/ME antes de embater, e não travou, nem desviou a trajectória que imprimia ao veículo, indo embater com a frente na lateral direita do outro; Q19.- ao chegar ao cruzamento com a Rua Hintze Ribeiro, apresentava-se um sinal de STOP ao condutor do ME; nesse cruzamento, cortou [ depois] a linha de marcha [do IP]; (d) A sentença recorrida fez por conseguinte er rada valor ação dos factos apurados e incorrecta e inexacta aplicação da lei, nomeadamente do disposto nos arts. 483 e 487 CC, arts. 24/1, 25/1 cf 27 e 29 CE; (e) É que o condutor do IP circulava com velocidade superior ao nível máximo legal, entre 20 a 40%, e havia no local (zona populosa, com casas e com diversos cruzamentos), impunha uma especial moderação da marcha; (f) Por outro lado, ao aproximar-se do cruzamento do acidente, não abrandou a marcha do veículo, indo embater no ME, que surgiu repentinamente da esquerda, sem ter travado ou alterado a trajectória que levava; (g) E o embate aconteceu, assim, entre a frente do IP e a lateral direita do ME, quando este havia já transposto mais de metade da Rua Hintze Ribeiro; 5 Transcrição:... O tribunal fundou a sua convicção sob re a matéria de facto provada e não provada no depoimento de, condutor do Peogeot, que d e forma isenta e convincente descreveu as circunstân cias do acidente, afirmando que circulava pela Rua Hintze Ribeiro, pelo seu lado direito, a uma velocidade entre 60 e 70 Km/hora, quando lhe apareceu o Golf, de matrícula ME, da esquerda, de uma rua onde havia um STOP, o qual lhe cortou a linha de marcha de forma tão inesperada que nem sequer travou ou mudou a direcção em que seguia. 2

(h) Enquanto isto, nada se apurou acerca do comportamento do condutor do ME antes do embate; (i) Deste modo, ao condutor do IP é possível imputar unicamente a culpa na produção do acidente; (j) Decerto: (1) provou-se que circulav a a velocidade consideravelmente superior ao máximo legal; (2 ) e que circulava ao dobro da de um condutor medianamente prudente, naquelas condições de via e local; (k) Em qualquer caso, essa velocidade excessiva e desadequada foi causal do acidente, que não teria ocorrido não for a a conduta [do condutor do IP] pois que, ao contrário, p ermitiria, por um lado, ao ME concluir a travessia da Rua Hintze Ribeiro (atravessada já a mais de metade) ou, se necessário, dar tempo ao condutor do IP, decerto, para abrandar a marcha, travar e desviar a trajectória; (l) Concluindo: foi a velocidade excessiva do IP que afectou negativa e significativamente o nível de segurança da condução do mesmo; (m) Acresce por fim, que a condução do tripulante do IP, em desconformidade com as regras do CE, foi negligente, e faz presumir logicamente a sua culpa na produção dos danos causados em consequência do acidente; (n) Danos esses que à R. Seguradora cabe ressarcir, por força do contrato de seguro existente: o A. teve-os, que globalmente ascendem a Pte 3 450 000$00, ou 17 208,53, somados com a compensação da falta do veículo durante 30 dias, valor a fixar por recurso à equidade, tendo por referên cia o preço Pte 5 000$00/dia; (o) Deve pois ser alterado o julgado, no que diz respeito à matéria de facto; depois, condenada a R. Seguradora a pagar, desde logo, ao A. uma indemnização de 17 208,53, acrescida de juros à taxa legal desde a citação. 3. Contra-alegações: não houve. 4. Matéria provada, segundo a sentença: (1) No dia 00.09.02, 05.30h, ocorreu um acidente de viação no cruzamento das Ruas Hintze Ribeiro e Oliveira Leça, em Leça da Palmeira, Matosinhos; (2) A Rua Hintze Ribeir o situa-se numa f reguesia com numerosas habitações, as quais no local estão de ambos os lados da rua; 3

(3) Foram intervenientes: [a] o veículo ligeiro de passageiros,, Peogeot 106, conduzido e propriedade de ; [b] o veículo ligeiro de passageiros,, Golf 1.6, conduzido por, filho do A., proprietário; (4) O veículo ME circulava pela Rua Oliveira Leça, no sentido S/N; (5) Quando o IP se aproximava do cruzamento da Rua Hintze Ribeiro (por onde seguia) com a Rua Oliveira Leça, surgiu-lhe o ME do lado esquerdo, súbita e inesperadamente, provindo dessa Rua Oliveira Leça; (6) Ao chegar ao cruzamento com a Rua Hintze Ribeiro, o condutor do Me, a quem se apresentava um sinal de STOP, antes de entrar nesse cruzamento, entrou nele sem se aperceber da aproximação do IP, e cortou a linha de marcha deste; (7) Quando o ME já havia transposto parte d a Rua Hintze Ribeiro, tendo já metade do veículo ultrapassado o eix o da via, aproximou-se, vindo da sua direita, o veículo IP, que circulava pela Rua Hintze Ribeiro, no sentido Nasc./Po.; (8) O condutor do IP imprimia-lhe uma velocid ade entre 60/70 Km/hora; (9) Não abrandou a velocidade imprimida ao veículo; (10) Não travou, nem desviou a trajectória, indo embater com a frente deste na parte lateral direita, a meio, junto à porta do veículo ME; (11) O embate foi muito violento; (12) Os serviços técnicos da Ap.a concluíram pela perda total do ME, e por não ter possibilidade de reparação, atribuindo-lhe o valor de Pte 3 000 000$00, e ao salvado de Pte 200 000$00; (13) Em consequência do embate, o ME foi projectado, tendo embatido num poste; (14) Ficou impedido de circular, tendo sido rebocado para a oficina de, VN Famalicão; (15) À data do acidente, o Me estava em bom estado, tendo sido adquirido novo, 11.98, por Pte 4 637 000$00; (16) Estava bem conservado; (17) O seu valor de mercado não era, antes do embate, inferior a Pte 3 500 000$00; (18) O Ap.e ficou privado do veículo Me, que utilizava para se deslocar a VN Famalicão; 4

(19) Em 00.10.03, o Ap.e passou a poder utilizar um veículo novo, adquirido por uma empresa de que é sócio; (20) À data do acidente, a responsabilidade civil por danos causados a terceiros emergente da circulação do veículo, encontrava-se transferida para a Ap.a, por contrato de seguro titulado através da apólice nº 6556113. 5. Sentença recorrida: síntese dos argumentos (a) O sinal de STOP (sinal B2, Reg. CE) impõe para o condutor a quem se apresenta a obrigação de parar antes de entrar na intersecção junto da qual o sinal está colocado, e ceder a passagem a todos os veículos que transitem na via a que vai entrar, art.3-a/2 Reg. cit.; (b) A actuação do condutor do VW Golf consubstancia o incumprimento de uma tal obrigação: não poderia Ter cortado a linha de marcha do IP, estando proibido de obstar a que este continuasse a marcha sem interferência; (c) Em face desta violação, verifica-se ser irrelevante a ilicitude da conduta do condutor do IP... para a eclosão do acidente,...em face da manobra do VW; (d) [E] fazendo apelo à noção de culpa subjacente ao regime prescrito no art. 483/1 CC, não pode deixar de ser concluído que a actuação culposa, causa directa do acidente, foi a do próprio condutor do VW: era a ele, atentas as circunstâncias do caso e às suas capacidades (idênticas, pelo menos, às de um qualquer condutor habilitado legalmente para o exercício da condução) que se impunha agisse por forma diferente da maneira que agiu, e foi causa do acidente; (e) Ao condutor do VW deve ser imputada exclusivamente a culpa pela produção do sinistro. 6. O recurso está pronto para julgamento. 7. A discordância do recorrente em relação à matéria de facto dada como provada é de certo modo irrelevante. Na verdade, as sugestões que apresenta de alteração das respostas em nada contribuiriam para uma alteração qualitativa do quadro da culpa e da imputação da responsabilidade, segundo as normas estrad ais em jogo: desrespeito do sinal de STOP, por um lado; excesso de velocidade, e correspectiva incúria na passagem de um cruzamento, por outro. 5

Assim, o que em boa verdade está em cima da mesa é a validade do argumento levado à fundamentação da sentença, e no sentido de ter sido posto de lado qualquer contributo determinante do sinistro, provindo da conduta (censurável) do condutor do veículo segurado. Vejamos: os ilícitos previstos no CE, definem padrões de comportamento que, a partir do ponto de vista cumpridor, se destinam muito em particular a diminuir o risco da circulação rodoviária; afinal de contas, apresenta-se-nos globalizado, ele, atingindo na generalidade todos os utentes simultaneamente, por assim dizer. Deste modo, na maior parte das situações estradais, maxime naquelas que se caracterizam pela aproximação de veículos, só pode ser diminuído esse risco automóvel (no seu particular aspecto negativo e potencial de sinistros) se todos os procedimentos, afinal de contas elencados na lei em volta da prudência comum, forem observados com rigor, ao mesmo tempo, por todos os frequentadores das rodovias, sobretudo na presença uns dos outros. Este modelo (que se ajusta ponto por ponto à serena análise e explicação do choque verificado) aponta então para a concausalidade, neste caso, das atitudes arriscadas de ambos os condutores envolvidos. E comportamentos estes que afin al se traduzem para cada um no cometimento de específicas infracções, de todo aptas, uma e outra, aqui, a produzir um resultado infeliz, aquele que se verificou... e a lei trata agora de reorientar, a partir da salvaguarda e imputação das suas consequências danosas. Por conseguinte, há-de concluir-se: também o excesso de velocidade do veículo IP (particularmente perigoso num cruzamento6) foi determinante da colisão. Foi-o justamente em medida não subestimável, muito próxima da contribuição que para o choque dos veículos deu o desrespeito do sinal de STOP7, por parte do veículo ME. Aliás, se usarmos o criterioso ponto de vista sancionatório, ou melhor dito, o critério de comparação d a relevância e intensidade das sanções eleitas pelo legislador para nos orientarmos não no plano das causa/ef eitos naturalísticas, mas no plano de um verdadeiro empreendimento da repartição ajustada dos esforços exigíveis para a 6 Vd. arts. 24, 25 e29/2.3 CE, e não obstante a infracção punível com multa de 20 000$00 a 100 000$00. 7 Vd. art. 3-A/2(B2) Reg. CE; e não obstante a infracção ser punida co m multa de 10 000$00 a 50000$00. 6

remoção dos danos produzidos pelo ex cesso de risco social tomado por cada uma das partes envolvidas no acidente, teremos de dar conta do posicionamento paralelo que obtém qualquer dos ilícitos, ou no sistema do CE ou do Reg. CE: seremos então levados a optar por uma quase equivalência. Logo, implicam, sem dúvida, proibições de falta de cuidado de igual medida, e proibições que se destinam a fazer observar e a estimular o correspond ente procedimento positivo, reputado essencial e de igual modo adequado a minorar o risco concreto da circulação motorizada. Por isso mesmo talvez devêssemos aceitar aqui uma culpa pela produção do acidente repartida em partes iguais, por um e por outro dos condutores. Operador normativo, esse da culpa, só admite concretização, em qualquer caso, do ponto de vista que focaliza um sentido de cumprimento ou incumprimento das normas correlacionado aos acontecimentos, mas apagados em si mesmos, para se nos apresentarem eles afinal, no campo da respo nsabilidade civil, unicamente sob a tónica, o âmbito e alcance da semântica legal e normativa. C ontudo é a particular modalidade da descrição normativa inserida no art. 3A/2(B2) R eg. CE8, interiorizada pelo ensino da condução e o senso comum, que impõem, apesar de tudo, uma diferença, penalizando o recorrente: parece ajustado, nestas circunstâncias, fixar a percentagem de contribuição deste para o resultado danoso em 60%, 40% para o segurado da recor rida; na verdade, o modelo plástico da decisão do condutor com prioridade no cruzamento, aderiria na fase inicial, tudo contado, à paragem esperada - dado incontornável. 8. Em face deste juízo, tem em parte razão o recorrente: a C ompanhia de Seguros Ap.a terá de acorrer com 40% do valor do automóvel imprestável, e segundo o provado é aquele, na totalidade, de Pte 3 500 000$00, i.é, 17 457,93, correspondente ao preço de mercado no momento imediatamente anterior ao do sinistro, que liquidou o automóvel. 8 Cit.: paragem obrigatória na intersecção - indicação de que o condutor é obrigado a parar antes de entrar na intersecção junto da qual o sinal se encontra colocado e ceder a passagem a todos os veículos que transitem na via em que vai entrar. 7

Ao montante em causa será subtraído o preço dos salvados, Pte 200 000$00, oferecido e aceite (segundo as respostas e o que depois resulta, como confirmação última, da minuta do recurso). Assim: Pte 1 320 000$00, i.é, 6584,13. Por fim, não se trata de considerar como verba da indemnização, o valor correspondente à falta do veículo, justamente porque não foi feita qualquer prova do preço da desutilidade, não podendo intervir (ao contrário do que defende o recorrente) o juízo ex aequo et bono: não são danos não patrimoniais, nem futuros; funciona o ónus probatório. 9. Atento o ex posto, vistos os arts. 483 e 559 CC, 24, 25 e 29/2.3 CE, 3A/2(B2) Reg. CE, decidem julgar em parte procedente a Apelação, cond enando agora a Companhia de Seguros Fidelidade SA ao pagamento de uma indemn ização no montante referido em 8. parte final, e em favor do Ap.e, com juros de mora contados da citação. 10. Custas na proporção da sucumbência. 8