Especificar a Área do trabalho (FP) (EAP, FP, MD, LC, EX, HFS, EFD, TIC, EA, CTS, CA, MATERIAIS ADAPTADOS PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL E SUA IMPORTÂNCIA NA FORMAÇÃO ACADÊMICA DE LICENCIANDOS EM QUÍMICA Thamiris Pereira Cid 1, Ana Paula Bernardo dos Santos 2, Anne Caroline da Silva Rocha 3, Larissa Souza dos Santos 4, Vanessa de Souza Nogueira Penco 5, Ana Paula Sodré da Silva Estevão 6, Aires da Conceição Silva 7 1,2,3,4,5,6 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro; 7 Instituto Benjamin Constant 1 thamirispcid@hotmail.com, 2 ana.benardo@ifrj.edu.br, 3 annerocha308@gmail.com, 4 larissassds@gmail.com, 5 vanessa.nogueira@ifrj.edu.br, 6 ana.estevao@ifrj.edu.br, 7 airessilva@ibc.gov.br Linha de trabalho: Formação de professores Resumo Os princípios básicos que sustentam a Educação Inclusiva estão fundamentados nos direitos à educação, à igualdade de oportunidades e à participação na sociedade. Apesar da existência de políticas para a educação inclusiva, o sistema de ensino atende, principalmente, aos alunos considerados ideais. Esse fato pode ser justificado pela dificuldade que alguns professores têm em aplicar diferentes estratégias no processo de ensino aprendizagem. Baseando-se em parâmetros relacionados ao Ensino de Química, a execução deste trabalho, que está sendo realizado com a participação de graduandos do curso de Licenciatura em Química do IFRJ - Campus Duque de Caxias em parceria com o IBC, foi dividida nas seguintes etapas: a) discussão sobre a importância do professor e da comunidade escolar na inclusão do aluno com deficiência visual, b) seleção dos temas da área de Química para a construção de materiais didáticos, c) aplicação dos materiais didáticos desenvolvidos junto aos alunos do IBC. Palavras-chave: ensino de química, deficiência visual, materiais didáticos, formação de professores. Contexto do Relato No atual cenário educacional, o aumento do número de estudantes com necessidades específicas inseridos no sistema regular de ensino se tornou um desafio para a comunidade escolar. No Brasil, o acesso à educação de pessoas com deficiência passou a ser oferecido de forma mais efetiva, com a promulgação da Lei 9.394/ 96, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996) e, atualmente, com a Lei Brasileira de Inclusão (LBI), também chamada de Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015). Dentre os indivíduos com necessidades específicas, temos as pessoas com
deficiências visuais. A deficiência visual é uma situação irreversível de diminuição da resposta visual, em virtude de causas congênitas, hereditárias ou adquiridas, mesmo após tratamento clínico e/ou cirúrgico e uso de óculos convencionais. Com isso, tem-se que a expressão deficiência visual abrange da cegueira até a baixa visão (GIL, 2000). Segundo Jorge (2010), apesar da educação escolar especial ter como princípios promover aos alunos com deficiência visual uma aprendizagem significativa, ainda existe carência de materiais apropriados e falta de profissionais qualificados, problemas presentes em toda rede de ensino. Os professores precisam estar capacitados para lidarem com a diversidade existente em uma sala de aula, a fim de que possam mediar o conhecimento de maneira adequada. Por este motivo, tanto a formação inicial quanto a continuada de professores da educação básica deve: assumir e saber lidar com a diversidade existente entre os alunos (BRASIL, 2000). Diante desses fatos, o projeto Desenvolvimento de material didático na área de química para pessoas com deficiência visual vem sendo desenvolvido no Curso de graduação em Licenciatura em Química do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) campus Duque de Caxias em parceria com o Instituto Benjamin Constant (IBC). A importância desse projeto justifica-se, na medida em que proporciona aos professores e licenciandos que dele participam momentos de reflexão sobre a realidade dos deficientes visuais (DVs), desenvolvimento de estratégias metodológicas inclusivas e dinâmicas através de recursos e práticas docentes com alunos DVs. Atualmente, o projeto é composto por três alunas do curso de Licenciatura em Química no IFRJ-Campus Duque de Caxias e quatro professores de química. Detalhamento das Atividades Baseando-se em parâmetros relacionados ao Ensino de Química, a execução deste trabalho foi dividida nas seguintes etapas: a) discussão sobre a importância do professor e da comunidade escolar na inclusão do aluno com deficiência visual, b) seleção dos temas da área de Química para a construção de materiais didáticos, c) aplicação dos materiais didáticos desenvolvidos junto aos alunos cegos ou com baixa visão. Após a escolha dos temas, a parte textual foi elaborada utilizando-se da adaptação com fonte especializada (APHont) ampliada e também transcrição para o sistema Braille com
ajuda do software Braille Fácil. As figuras receberam contrastes adequados para permitir a visualização por alunos com baixa visão. Posteriormente, as matrizes construídas foram ajustadas em relação ao tipo de material utilizado para texturização, seguindo as exigências da técnica de termoduplicação, com auxílio do equipamento Thermoform. Dessa forma, o material irá atender, simultaneamente, alunos cegos e com baixa visão. Análise e Discussão do Relato De acordo com Regiani e Mól (2013), nem sempre os docentes se encontram preparados para atuarem como mediadores do conhecimento e, raramente, assumem posturas reflexivas em suas atuações didáticas. O reflexo deste despreparo docente é ainda maior na perspectiva do ensino inclusivo. A formação docente é um dos maiores obstáculos para a inclusão, pois muitos professores só adquirem informação e formação quando se deparam com alunos com necessidades educacionais especiais em sala de aula. A rejeição e a ansiedade dos professores vêm por conta do seu pouco ou nenhum conhecimento em sua formação inicial, se agravando porque uma grande parcela dos docentes das áreas de Ciências é formada em bacharel e, não, em licenciatura (PACHECO, COSTAS, 2006). Além desses fatores, existe a carência de materiais didáticos adaptados onde gera uma lacuna que dificulta o acesso e a permanência do aluno no ambiente escolar. Esses recursos didáticos são importantes para o processo de ensino-aprendizagem do aluno com deficiência visual. Cerqueira e Ferreira (2000) argumentam que a exploração tátil é um elemento essencial para o aluno com deficiência visual. Mesmo sendo de grande importância, ainda existe uma dificuldade de criar recursos para o Ensino de Química em Braille, pois deve-se ter um domínio específico do conteúdo, ter noção do contexto e ter conhecimento das necessidades dos alunos. Com o intuito de corroborar com o ensino e aprendizagem dos DVs e contribuir para a formação inicial do aluno de licenciatura foram desenvolvidos recursos didáticos complementares. Inicialmente, foram previstas a confecção de três materiais pedagógicos, com os temas: Propriedades Específicas da Matéria, Métodos de Separação de Mistura e Cinética Química. A escolha dessas temáticas se deu porque o grupo as considera como conteúdos que
podem apresentar dificuldades devido ao grau de abstração envolvida a nível macro e microscópico. Além disso, foi constatado que existe uma precariedade de materiais para a abordagem desses assuntos para os DVs. A partir das temáticas escolhidas, os cadernos didáticos adaptados foram elaborados. Nesta etapa visou-se uma aproximação com o cotidiano dos alunos, como por exemplo, a filtração presente no processo da produção do café. As etapas seguintes a elaboração dos cadernos foram realizadas no IBC, onde fez-se a adaptação do texto para pessoas com baixa visão, ampliando-se a fonte, utilizando fonte especializada (APHont) e, também com cores contrastantes em figuras, detalhe que é essencial. Posteriormente, realizou-se sua transcrição para o Braille, para os cegos, através do software Braile Fácil v.3.4 e adaptação das figuras, gráficos e diagramas, através da texturização do material a fim de que os alunos percebam os diferentes detalhes do trabalho - com posterior replicação em películas de policloreto de vinila (PVC), em um equipamento denominado Thermoform. Este equipamento reproduz a partir de vácuo e calor, em películas de policloreto de vinila (PVC), todos os detalhes por meio de texturas em relevo, representadas pela Figura 1. Figura 1. Figura em relevo após passar pela máquina de Thermoform. Os materiais já produzidos passaram pela revisão de duas pessoas cegas do Instituto Benjamin Constant. Os critérios estão baseados em: linguagem, clareza do texto, tamanho dos parágrafos, pontuação e a formatação, como também, as texturas utilizadas nas figuras. Até o presente momento, os cadernos já foram produzidos, adaptados, texturizados e revisados. Em breve, os materiais aprovados pelos revisores serão avaliados por alunos do Centro de Estudos de Jovens e Adultos Instituto Benjamin Constant (CEJA-IBC) e do Colégio Pedro II. Considerações O desenvolvimento desse projeto possibilita a produção materiais didáticos de
Química voltados a alunos do ensino médio com deficiência visual, visto que se têm uma defasagem de materiais adaptados para este público que possam contribuir para o processo de ensino-aprendizagem. Além disso, contribui para formação inicial do aluno do curso de licenciatura em química, ator importante na difusão do conhecimento, a partir de um processo que iniciou com a proposição de materiais didáticos e culminou com uma reflexão e compreensão sobre a educação inclusiva. A mediação do professor junto aos alunos cegos ou com baixa visão no momento de utilização dos materiais é fundamental. Os materiais adaptados não são auto-explicativos, o professor deve estar sempre presente na mediação visando a construção imagética de forma correta por parte de seus alunos. Nesse sentido, a formação continuada é fundamental para que os professores tenham acesso a conteúdos relacionados à produção de materiais adaptados e grafia química Braille, por exemplo. Cabe lembrar que a presença do Sistema Braille de ensino e a oferta de produção de materiais didáticos acessíveis são estratégias, itens 4.7 e 4.18 respectivamente, da meta 4 do Plano Nacional de Educação vigente (PNE, 2014). Referências BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 30 abr. 2015. BRASIL. Lei 13.146, 06 de julho de 2015. Estatuto da Pessoa com Deficiência. Brasília: Senado Federal,Coordenação de Edições Técnicas, p. 1-65, 2015. BRASIL. Plano Nacional de Educação 2014-2024 [recurso eletrônico]: Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, p. 1-86, 2014. BRASIL. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Orientações educacionais complementares aos parâmetros curriculares nacionais: Ensino médio. Brasília: MEC, p.1-141, 2000. CERQUEIRA, J. B., FERREIRA, E. M. B. Os Recursos Didáticos na Educação Especial. Revista Benjamin Constant, nº 5, ed. 1996. GIL, M. Deficiência visual. Ministério da Educação, Secretaria de Educação a Distância, Brasília, 2000. JORGE, V. L. Recursos didáticos no Ensino de Ciências para alunos com deficiência visual no Instituto Benjamin Constant. Monografia. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2010. PACHECO, R. V.; COSTAS, F. A. T. O processo de inclusão de acadêmicos com necessidades educacionais especiais na Universidade Federal de Santa Maria. Revista Educação Especial, Santa Maria, n. 27, p. 151-170, 2006. REGIANI, A. M., MÓL, G. S. Inclusão de uma aluna cega em um curso de Licenciatura em Química. Ciência & Educação, v. 19, n. 1, 2013, p. 123-134.