,OGÓSTICA a c i t s í g o L e n i a h C ply Sup Por Marco Aurélio Dias A logística sempre foi de grande importância no mundo, a qual, na verdade, é praticada desde 200 a.c. Lógico, os comerciantes daquela época não usavam esse nome, não sabiam nem o que era, mas compravam e negociavam, transportavam, armazenavam e distribuíam todas suas mercadorias para serem vendidas em diversas localidades, nas mais longínquas regiões e em vários mercados. Faziam e dedicavam-se a todo esse empenho e tinham, obviamente, que gerar lucro em todas essas operações. O mercantilismo só existiu e se consolidou por causa da logística. Então, podemos entender que para todos os mercados e para qualquer tipo de produto são necessários compra, movimentação, transporte, carregamento e descarregamento. Nesse ponto, porém, 8 estamos olhando a logística só como um segmento, uma parte, que é o transporte. Veremos, todavia, mais para frente, que atualmente a logística é mais abrangente, tendo variações e objetivos bem mais amplos do que somente o transporte. Os tempos mudaram muito, estão bem mais dinâmicos. A competitividade e a concorrência entre produtos e mercadorias, sejam de qualquer tipo e modelo, também, tiveram grandes alterações, cada vez mais crescentes e cada vez mais instáveis. O custo logístico pode chegar a 10% do faturamento de uma empresa. Mas, em vez de serem vistos como despesas, os gastos com controle de estoques, armazenagem e gestão de transportes representam na verdade um importante investimento. Investir em logística é uma forma de conciliar maior eficiência e maior produtividade.
(*) Em valores atuais - Fonte: Organização Mundial do Comercio A necessidade de adaptação a essa nova realidade torna-se cada vez mais importante. Existe também um grande diferencial nisso tudo, essa realidade está sendo modificada sem nenhum padrão de tempo e sem nenhum sinal ou qualquer aviso prévio. Os produtores, os fabricantes, os fornecedores de serviços, os distribuidores ou representantes precisam conquistar, aumentar e, no mínimo, manter seus clientes. Com a globalização mais intensa e com o curto ciclo de troca de produtos, as empresas estão sendo obrigadas a mudarem também rapidamente suas técnicas de gestão. A globalização nada mais é que uma eliminação de todas as fronteiras entre os países, por conseguinte, abrindo todos os espaços para a integração do comércio internacional. A consequência é mais ofertas de mais produtos, com mais competidores e com várias fontes de suprimento. Alguns produtos estão rapidamente se tornando commodities, quer em termos de características, quer pelo mercado, ou pelo preço. Cada vez mais essa diferenciação deve passar pela otimização dos serviços, visto que é preciso atender os clientes com entregas rápidas, eficazes e ao menor custo. O tempo em que as empresas apenas se programavam para vender suas mercadorias, sem preocupação com as necessidades e satisfação dos clientes, terminou há muito. Existe uma grande pressão, cada vez maior, de ordem global, no trinômio: PREÇO x QUALIDADE X ATENDIMENTO. O Brasil já tem uma posição muito bem-privilegiada e destacada na macrorregião da América Latina, e já temos também uma boa posição e cada vez mais crescente na economia mundial. Estamos lentamente invertendo nossas importações de CIF para EX-WORKS e nossas exportações de FOB para CIF. As barreiras operacionais ainda são grandes. Portos, aeroportos e rodovias são pouco eficientes e com um custo operacional elevado, aliados à burocracia lenta e grande, com uma legislação e controles aduaneiros desatualizados. Em vários países existem sistemas interativos de processamento de informações entre os diferentes intervenientes no processo de comércio exterior. No processo de globalização da economia e das grandes movimentações de troca, o Brasil será empurrado para acompanhar essas evoluções, senão por inércia, mas por absoluta necessidade de permanência no cenário internacional. É fundamental que o governo brasileiro racionalize e simplifique o comércio exterior. A nossa burocracia é exagerada e as dificuldades acabam inviabilizando todo o planejamento eficiente de qualquer que seja o projeto logístico. Hoje, como assinalado por muitos, já não basta satisfazer, é necessário encantar seu cliente. Os consumidores são cada vez mais exigentes em qualidade, rapidez de entrega e quanto a preços, obrigando as empresas a uma eficiente e eficaz gestão de compras, gestão de produção, gestão logística e comercial. Para se diferenciar e atrair o consumidor, é preciso fazer o produto chegar na hora certa e com o custo mais competitivo possível. Quando bem-planejada e executada, a logística garante a redução de custos de transporte, de distribuição, de estoques, a otimização do tempo da operação, além de reduzir os erros e as perdas consequentes de um processo falho. O conceito moderno de Supply Chain Management, ou Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos, tem como objetivo unir todas as fases do processo de Supply Chain, cadeia de suprimentos, visando a aperfeiçoar todo o processo de produção, compras, controle de estoque, previsões de vendas, armazenagem, transporte e distribuição física. Baseia-se principalmente na parceria de empresas entre diversos setores, o grande pilar de cada uma das etapas do Supply Chain. ecoenergia 9
Todo o processo principia com a colocação do pedido de compra pelo cliente, ou também por uma previsão de vendas fornecida pela área comercial. Após, vem o processo de produção, a armazenagem, a distribuição e a entrega do produto final ao cliente. Este tipo de procedimento reduz o tempo de fabricação, proporciona o compartilhamento de previsões de vendas, redução de custos, agiliza as entregas e, por consequência, aperfeiçoa a produtividade. Tudo com o objetivo final de satisfazer o cliente. No início dos anos 1970 e com a grande divulgação e implantação de sistemas informatizados, começaram a ser criados os famosos e muito utilizados Sistemas de Controle de Estoque. No princípio, foi um enorme sucesso, sua principal função era controlar o inventário de matérias- -primas, as entradas, as saídas e os saldos de estoque e o consumo dos materiais de processo. Na época, encontrava-se o auge da Administração de Materiais, e os conceitos e aplicações de lote econômico, estoque máximo, estoque mínimo, ponto de pedido, etc. Baseados nos consumos e vendas reais e tendo um sistema para controlar esses valores, podia-se, também, prever as necessidades para os períodos futuros, fossem eles mensais, semestrais e até anuais. Com o decorrer do tempo, a previsão de vendas e a previsão de consumo precisavam ser mais adequadas à programação de produção. Teriam também de ser considerados os estoques em processo, os pedidos colocados e em trânsito nos fornecedores. Concluía-se, então, que deveria haver maior interação entre o P.C.P. (Planejamento e Controle da Produção), o setor de Compras e o Armazém de Estoques. Para ocorrer essa maior interação entre esses três setores importantes para a empresa, criou-se uma nova ferramenta, um novo sistema, ele foi chamado de MRP - Material Requirement Planning, ou Planejamento das Necessidades de Materiais. Passado mais algum tempo, esse conceito de ferramenta foi novamente ampliado. Havia também a necessidade de incluir nesse processo as áreas financeira e de vendas, fechando mais o ciclo de informações e das necessidades de suprimentos e materiais. Esse novo sistema foi chamado de MRP II, estava também criado o modelo de planejamento mestre, MPS - Master Plan Scheduling, e, assim, fechava-se a integração de todos os participantes do processo de fabricação, suprimentos, financeiro e comercial. Enfim, no final da década de 1980, surge o conceito ERP - Enterprise Resource Planning, sistema de informação gerencial, que são sistemas desenvolvidos para integrar os vários departamentos de uma empresa, dessa maneira, possibilitando a automação e o armazenamento de todas as informações de seus negócios. Com o surgimento do ERP, começou-se a perceber a necessidade de que o sistema deveria estar alinhado à evolução de um ambiente empresarial mais focado. Com este intuito, surgiu o conceito SCM - Supply Chain Management - Gerenciamento da Cadeia Logística. Esta solução veio a complementar o ERP, para gerenciar toda a cadeia logística do cliente até o fornecedor, passando pelo planejamento da produção, logística, distribuição de produtos e transportes. Do recebimento da matéria-prima, passando pelo processo de produção e até a finalização do produto acabado, é preciso analisar com atenção toda a cadeia produtiva. Nesse caso, não estamos nos referindo, como cadeia produtiva, à linha de produção, ou à fabricação. Estamos nos referindo 10 ecoenergia
ao processo como um todo, inclusive quanto à fabricação. Estamos buscando não apenas aperfeiçoar o fluxo de cada etapa, mas também como estudar os impactos de cada fase do ciclo de vida do produto. Com essa realidade, é necessário definir uma modelagem que consiga planejar, programar e controlar de maneira eficiente o fluxo de produtos, dos serviços, das informações, desde o ponto de origem, que são os fornecedores, passando pela produção, armazenamento, estocagem, transportes, até o local de consumo. Podemos identificar e inserir este fluxo dentro do conceito e das atribuições da logística. No entanto, o conceito de logística tem também evoluído ao longo dos anos. Podemos afirmar que já está distante o tempo que a logística tinha pequenos e outros atrativos. As mudanças que aconteceram, ao longo dos anos, transformaram o que era basicamente operacional num tema de importância estratégica fundamental. A partir da década de 1980 e com os novos sistemas de MRP, começou a surgir o conceito de logística integrada, impulsionado principalmente pela tecnologia da informática e pelas exigências crescentes do desempenho em serviços de controle de inventário, distribuição, transportes e seus custos de entrega. Para contribuir com esses vários conceitos e cenários, surgiu também uma nova discussão conceitual, chamada de logística de mercado, marketing logístico, logística e supply chain mangement. Isso ocorreu porque facilmente se percebeu que as atividades englobadas pela logística representavam uma grande parcela do valor agregado dos produtos e que ainda assim poderiam ser mais incrementadas. Podemos identificar entre essas principais atividades: compras, negociação e aquisição de bens, serviços e insumos; Set Out ecoenergia 11
manuseio, recebimento e armazenagem dos insumos de produção; abastecimento de linha de produção; embalagem, acondicionamento e armazenagem de produtos acabados. gestão de transportes e distribuição física; previsão dos recursos financeiros relativos à movimentação; controle e gestão da informação de todo o processo em tempo real. A cadeia de suprimentos nada mais é que a junção de todos esses setores. Os fornecedores, os fabricantes, os distribuidores e atacadistas, os clientes e até os clientes desses clientes. Para as operações que são envolvidas o mercado interno e o mercado externo, como importação de insumos, peças, componentes e na exportação dos produtos acabados, percebe-se a utilização e a grande necessidade de uma eficiente coordenação logística. No comércio exterior, nas importações e exportações, devido ao volume de informações e documentos, a quantidade de órgãos governamentais e de várias empresas intervenientes no processo é muito grande, assim sendo o controle eficaz do tempo decorrido de cada fase é fundamental para o cumprimento das metas. Essa complexidade das operações e a enorme quantidade de informações envolvidas fazem com que o processo de gestão da logística exija uma visão totalmente diferenciada do sistema tradicional. A visão dessa cadeia de suprimentos precisa ser sistêmica e integrada, em que as várias atividades multidisciplinares são desenvolvidas e coordenadas de forma otimizada e orientadas para a competitividade nacional e internacional. A necessidade de competitividade, contraposta a uma oferta inadequada de estrutura e recursos de apoio, faz da logística uma área de fundamental importância estratégica nas operações de uma empresa. A logística integrada, o supply chain, tem hoje diferenças marcantes, comparadas entre os serviços de transporte e armazenagem tradicionais e o serviço logístico. Os serviços tradicionais geralmente são unidimensionais, que são o transporte rodoviário e armazenagem. A logística é multidimensional, unindo transporte, armazenagem, controle de inventário, sistemas de controle e outros. Podemos também definir a função da logística como sendo a concentração de quatro atividades fundamentais, que são: a negociação e a compra das mercadorias, o transporte e movimentação dessas mercadorias compradas, a armazenagem e estocagem e, por fim, a entrega das mercadorias, que podem ter sido beneficiadas por algum processo, ou não. Para que todas essas atividades interajam, é fundamental que essas fases tenham um correto planejamento, seja de materiais ou de processos, e que também estejam intimamente relacionadas com as funções de manufatura e marketing. A cadeia produtiva e/ou de manufatura é um processo integrado. A logística precisou se adaptar a esse processo e conceito. Hoje são muito comuns os termos de logística integrada, gestão da logística, cadeia de suprimentos e supply chain management, porque na verdade é necessário que seja mesmo tudo integrado. Para alguns, ainda o termo gerenciamento da cadeia de suprimento, supply chain, está confundindo-se com logística, mas não é só isso, ela é um pro- 12 ecoenergia
cesso de gestão, é uma parte fundamental dessa cadeia como um todo. A logística, em uma fase mais avançada, está como suporte para o planejamento do processo de todo o negócio. Vai integrar não só as áreas funcionais da empresa, como também a coordenação e o alinhamento dos esforços dos diversos departamentos, vendas, produção, financeiro, marketing, na busca por reduzir custos e agregar o máximo valor ao cliente final. A essa visão sistêmica e integrada, tem sido dado o nome de Gerenciamento da Cadeia de Abastecimento, ou Supply Chain Management. Sem dúvida alguma, ninguém discute que agregar valor para o cliente é um dos elementos mais importantes da cadeia de suprimentos. Na realidade, todos admitem, sem restrições, que de fato é o componente principal. A lógica indica também que, se você não entregar esse valor, é bem possível que, em algum momento, alguém vai entregar, e, com isso, pode colocar seu negócio em risco. Portanto, é preciso implantar essa filosofia na base operacional, de forma que toda a gerência concorde. Embora tenhamos toda a vasta literatura a respeito, essa questão não é puramente abstrata ou teórica, o que na verdade qualquer cliente quer, e não é pouco sempre repetir, é: o menor preço, a melhor qualidade e o menor prazo de entrega. Esse trinômio, como já dissemos, é valido e muito importante para qualquer produto e para qualquer serviço, os clientes estão se reinventando todo dia e buscando sempre alguém que lhe oferte e preencha essas necessidades. É necessário que a empresa tenha definido exatamente qual e como pode atingir esse nível de valor para seu cliente. Após essa definição surgirá uma série de questionamentos estratégicos, táticos e operacionais relacionados com a implantação da cadeia de suprimentos. Desse debate emerge a definição também de qual será a melhor proposta para entregá-lo no prazo, da maneira desejada e para sua inteira satisfação. Para melhor ajuda em todas essas definições, algumas e principais perguntas seriam: Existe um parâmetro único de medição por cliente, classe de cliente ou segmento? Os parâmetros de medição do valor para o cliente são estáticos ou dinâmicos? Como se conciliam os objetivos estratégicos do seu fornecedor e do seu cliente? Como o ERP incide na proposição de valor? O que ocorre com o EVA - Valor Econômico Agregado de sua empresa? Quando a empresa definir essas respostas, ela deverá abandonar a postura tradicional e trabalhar em função do novo foco, em que o conceito de valor adquiriu nos últimos anos. O seu cliente já se transformou, ou está se transformando naquele que define as regras. Anteriormente, o embarcador ou o transportador decidia quantas caixas carregava por palete, ou que padrão de satisfação do cliente deveria ser atendido. Aplicavam-se também regras implícitas ou, em alguns casos, explícitas impostas unilateralmente pelo embarcador ou pelo fornecedor em produtos-chave, como o tipo e qualidade do embarque, ou o tratamento das reclamações, ou disponibilidade de informações. Atualmente, o valor transformou-se paralelamente em uma ideia mais complexa. Hoje, o fabricante, o fornecedor ou o embarcador veem com absoluta naturalidade que sua proposta de valor, inclusive o objetivo de suas empresas, transforme-se no modelo de valor do cliente. Esse mesmo conceito acontece na terceirização, nos operadores logísticos. Em muitos casos, todos os elos da cadeia de suprimentos são avaliados pelo cliente em função do valor econômico agregado ou algum outro critério de medição, o qual, com certeza, ele está medindo. A estabilidade é outra questão a ser considerada nas relações entre os integrantes da cadeia de suprimento. O valor, tal como ocorre nos processos de melhoria contínua, está sujeito a mudanças permanentes, pois não se consegue montá-lo em função de uma única e estática proposta. Se não ocorrer avaliações constantes, não deverá sobreviver por muito tempo, porque a dimensão do valor é flutuante, e as contribuições de cada participante modificam-se em consequência disso. Marco Aurélio Dias Economista, mestre em Adm. de Empresas, Professor de Logistica, Distribuição Física e Administração de Materiais. Set Out ecoenergia 13