Crise econômica no Brasil Freie Universitat Berlin 07/02/2017

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meses Maio 1,23 2,82 5,41 0,79 2,88 5,58 Jun. 0,96 3,81 5,84 0,74 3,64 6,06 Jul. 0,45 4,27 6,03 0,53 4,19 6,

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Transcrição:

Crise econômica no Brasil Freie Universitat Berlin 07/02/2017 Luiz Fernando de Paula Professor Titular de Economia Política da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Pesquisador visitante do LAI/Freie Universitat Berlin

Brazil: Takes off (November 2009) or Has blown it? (September 2013) Porque?

Crescimento do PIB real (% a.a.) 20,0 PIB Agricultura Industria Serviços 15,0 10,0 5,0 0,0 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015-5,0-10,0 PIB real médio 2004/13: 4,0% a.a. 2014/15: -1,9% a.a.

Recessão econômica Cenário internacional adverso: desaceleração da China Equivoco da politica desenvolvimentista em Dilma I: má coordenação da politica macro -> desonerações fiscais ao invés de investimentos públicos Crise estrutural: desindustrialização Choques econômicos em 2014/2015: crise hídrica, politica monetária, desvalorização cambial, contracionismo fiscal Politica de austeridade em 2015 agravou a crise! Crise minskiana: famílias e firmas quase insolventes; crise financeira sistêmica? Porque a recuperação econômica tem retardado?

Taxa de crescimento dos investimentos públicos-1994-2014 (%) Governo Governos Governos Público Estatais Total Periodo federal estaduais municipais Administr. federais 1994-1998 -0,2 5,9-0,9 2,3 8,4 4,2 1998-2002 -0,2-8,4 7,9-0,9-0,7-0,9 2002-2006 0,3 2,8 1 1,5 0,9 1,3 2006-2010 28,9 17 9,1 16,7 26,7 20,3 2010-2014 1,0 3,3-1,0 1,3-1,1 0,3 Fonte: Orair (2016, p.16)

Choques econômicos em 2014-2015 Forte redução nos termos de troca (desaceleração econômica nas maiores economias) Crise hídrica eleva preços de energia Lava-jato + redução no preço do petróleo (Petrobras) Desvalorização cambial em 2015 (bens importados e divida externa) Aumento temporário na inflação (queda na renda disponível) Vários dos fatores acima se diluíram em 2016.

jan-03 Termos de troca do Brasil (Index 2006 = 100): relação entre preços de exportações e de importações de um país mai-03 set-03 jan-04 mai-04 set-04 jan-05 mai-05 set-05 jan-06 mai-06 set-06 jan-07 mai-07 set-07 jan-08 mai-08 set-08 jan-09 mai-09 set-09 jan-10 mai-10 set-10 jan-11 mai-11 set-11 jan-12 mai-12 set-12 jan-13 mai-13 set-13 jan-14 mai-14 set-14 jan-15 mai-15 set-15 jan-16 mai-16 140,0 130,0 120,0 110,0 100,0 90,0 80,0 70,0

Componentes do IPCA (acumulado em 12 meses) 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 IPCA Monitorados Livres Comercializaveis Nãocomercializaveis 5.9 6.5 5.8 5.9 6.4 10.7 6.3 3.1 6.2 3.7 1.5 5.3 18.1 6.1 7. 6.6 6.6 7.3 6.7 8.5 6.4 6.9 4.4 4.4 6.0 5,6 8.3 6.7 7.3 8.6 8.5 8.4 7.4 8.7 6.2 Source: IBGE. 8

Projeção Focus (Taxa Selic) 13,0 12,0 11,0 10,0 9,0 8,0 7,0 07/04/2016 19/08/2016 21/10/2016 20/01/2017 6,0 2017 2018 2019 2020

Taxa de câmbio real efetiva (jun/1994=100) 86,9 127,4 95,9 40,0 60,0 80,0 100,0 120,0 140,0 160,0 jan/03 jun/03 nov/03 abr/04 set/04 fev/05 jul/05 dez/05 mai/06 out/06 mar/07 ago/07 jan/08 jun/08 nov/08 abr/09 set/09 fev/10 jul/10 dez/10 mai/11 out/11 mar/12 ago/12 jan/13 jun/13 nov/13 abr/14 set/14 fev/15 jul/15 dez/15 mai/16 out/16

Investimento da Petrobras (% PIB) 1,8% 1,6% 1,5% 1,6% 1,5% 1,6% 1,4% 1,4% 1,2% 1,2% 1,2% 1,0% 0,9% 0,8% 0,8% 0,6% 0,4% 0,2% 0,0% 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 Source: DEST/Ministry of Planning *In 2016, accumulated data in 12 months until April 2016.

Percentual das empresas com EBITDA*/Despesa Financeira < 1 60,0 54,9 50,0 50,2 51,9 48,5 40,0 35,9 35,7 30,0 29,2 27,4 32,6 29,6 28,5 34,5 20,0 22,0 22,2 Total das empresas (aberta e fechadas) 10,0 Cias abertas (exclui Petrobras) - 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 1T 2016 2T Fonte: CEMEC (2016, p. 28) (*) EBITDA é "Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização".

mar/08 jun/08 set/08 dez/08 mar/09 jun/09 set/09 dez/09 mar/10 jun/10 set/10 dez/10 mar/11 jun/11 set/11 dez/11 mar/12 jun/12 set/12 dez/12 mar/13 jun/13 set/13 dez/13 mar/14 jun/14 set/14 dez/14 mar/15 jun/15 set/15 dez/15 mar/16 jun/16 set/16 Taxa de crescimento real do volume de crédito (%) IGP-DI out/2016 30,0 25,0 20,0 15,0 10,0 5,0 0,0-5,0-10,0-15,0 Total Pessoa juridica Pessoa física -20,0

mar/11 mai/11 jul/11 set/11 nov/11 jan/12 mar/12 mai/12 jul/12 set/12 nov/12 jan/13 mar/13 mai/13 jul/13 set/13 nov/13 jan/14 mar/14 mai/14 jul/14 set/14 nov/14 jan/15 mar/15 mai/15 jul/15 set/15 nov/15 jan/16 mar/16 mai/16 jul/16 set/16 Spread médio das operações de crédito com recursos livres (% a.a) 70,0 60,0 Pessoa jurídica Pessoa física 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0

jan/07 mai/07 set/07 jan/08 mai/08 set/08 jan/09 mai/09 set/09 jan/10 mai/10 set/10 jan/11 mai/11 set/11 jan/12 mai/12 set/12 jan/13 mai/13 set/13 jan/14 mai/14 set/14 jan/15 mai/15 set/15 jan/16 mai/16 set/16 Saldo das LFTs e das operações compromissadas do BCB (R$ milhões de out/2016) 2.000 1.800 1.600 LFTs Compromissadas LFT+Compromissadas Polinômio (LFT+Compromissadas) 1.400 1.200 1.000 800 600 400 200 -

Rentabilidade dos grandes bancos Itau: ROE de 20,3% em 4T/2016 contra 23,9% em 4T/2015 (Valor, 7/2/2017) Bradesco: ROE de 17,6% no 4T/2016 contra 20,5% em 4T/2015 (Valor, 3/2/2017)

Conclusões Vários fatores que levaram a desaceleração econômica se diluíram a partir de 2016; contudo, a recuperação econômica retarda em função do peso do endividamento dos agentes. Credit crunch não se configura em uma crise bancária! Contudo, solução da crise dependeria de um Big government! Quem paga o pato? PEC 241: Regra fiscal instituída é uma jabuticaba que não encontra paralelo em outros países. Impossibilita adoção de politicas anticiclicas; factivel? Sinuca de bico? Medidas microeconômicas - Programa de Regularização Tributária e a renegociação de dívidas do BNDES - proporcionam algum alívio para a dívida das empresas, assim como a liberação do saque de contas inativas do FGTS para as famílias, mas estão longe de resolver o problema da dívida já que não significam um deságio maior nas dívidas. Redução na taxa de juros vai dar um alivio gradual no peso da dívida, mas recuperação econômica será lenta face a elevada fragilidade financeira das empresas, firmas e governos. Recuperação robusta a vista?

Jornal Valor, dez/2016 Temos ouvido uma antecipação, pela mídia e atores do mercado, de uma tendência favorável. Entretanto, no mundo real, no dia a dia da loja, não se percebe esta recuperação. Por isso entendo que está cedo para falarmos em retomada Ronaldo Iabrudi, Presidente do Grupo Pão de Açúcar É a promessa de mudança que gera algum humor melhor do que efetivamente um conjunto sólido de resultados - Eugenio De Zagottis, diretor da Raia Drogasil

Obrigado! Email: luizfpaula@terra.com.br Site: http://www.luizfernandodepaula.com.br