Habitação e cidade no Brasil. II Encontro Nacional de Tecnologia Urbana Profa. E. Maricato nov Passo Fundo

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Transcrição:

Habitação e cidade no Brasil II Encontro Nacional de Tecnologia Urbana Profa. E. Maricato nov. 2015 Passo Fundo

2-Cidade no capitalismo periférico Os estudiosos da formação nacional: modernização conservadora, patrimonialismo, desigual combinado, ideias fora do lugar, o desprestígio do trabalho e a tradição escravista. Industrialização (tardia) com baixos salários: urbanização (tardia) dos baixos salários. O (não) lugar da classe trabalhadora na (não) cidade: produção doméstica (informal, ilegal) dos locais de moradia. Mercado imobiliário restrito e altamente especulativo: reserva para a burguesia nacional. Idem empreiteiras de construção da infraestrutura. DESIGUALDADE, ILEGALIDADE E VIOLÊNCIA: CIDADE PARA ALGUNS, DIREITOS PARA ALGUNS, LEIS PARA ALGUNS.

Gigantesca ilegalidade na ocupação da terra e na produção da moradia. Barateamento da FT (Chico Oliveira) Ocupação de áreas inadequadas (ambientalmente frágeis) que sobram para o assentamento dos trabalhadores. Falta de controle do estado sobre o ambiente construído e uso do solo apesar da existência de planos e leis. Regras detalhadas, poderoso aparato legal e burocracia exagerada convive com fragilidade operacional. Leis avançadas e prestigiosos planos urbanos: discurso longe da realidade. (Ele garça) Patrimonialismo (privatização do estado): leis avançadas que não são aplicadas ou são aplicadas de acordo com as circunstancias. Universalização da política do favor.

BERNA - SUIÇA

BERNA - SUIÇA

LAGOS - NIGÉRIA

Município do Rio de Janeiro Favelas e Loteamentos Irregulares/Clandestinos [2004] há lugar para eles na cidade? Fonte: Iplan RIO

RM Curitiba

Sao Paulo

SOEST HOLANDA

Capitalismo central: uso e ocupação do solo AMERSFOORT HOLANDA

São Paulo, Brazil

ROCINHA E GÁVEA RIO DE JANEIRO

ROCINHA E GÁVEA RIO DE JANEIRO

Impermeabilização contínua do solo Tamponamento de córregos, ocupação lindeira de rios e córregos Ocupação de mananciais, mangues e dunas Desmoronamentos de terra: áreas de risco ocupadas ou produzidas Ausência de drenagem, ausência de esgoto convivendo com mega obras (estações de esgoto ociosas) Prioridade ao transporte individual- obras rodoviaristas

O elegarça

Reforma urbana: progressos significativos 1988 Capítulo na Constituição 2000- Estatuto da Cidade 2003 Criação do Ministério das Cidades 2003, 2004, 2005 e 2007 Conferencia Nacional das Cidades 2003 Programa Nacional de Regularização Fundiária 2004 Conselho Nacional das Cidades 2005 - Lei Federal de Consórcios Públicos 2005 Campanha Nacional do Plano Diretor Participativo 2005 Lei Federal do Fundo Nacional de Habitação Social MINISTERIO DAS CIDADES FOI DADO PARA UM PARTIDO CONSERVADOR 2007-Lei Federal do Saneamento Básico 2007 PAC- Programa de Aceleração do Crescimento (infra urbana e urb. de favelas) 2009 PMCMV- Programa Minha Casa Minha Vida e PAC 2 2011 PMCMV 2 2011 Lei Federal dos Resíduos Sólidos 2012 Lei Federal da Mobilidade Urbana

Governos inovadores e democráticos Três eixos: A cidade ilegal autoconstruída previamente esquecida pelos governos tornou-se prioridade. Os principais programas foram: i urbanização de áreas precárias, recuperação de áreas de risco, melhora da condição urbanística (esgoto, drenagem, coleta de lixo, pavimentação, iluminação pública e equipamentos sociais de educação, saúde, cultura, sem remover a maior parte da população. Novos espaços de participação nas decisões: orçamento participativo. Assistência técnica e jurídica para os movimentos de moradia. Novas regras e leis para a justiça urbana

Favelas: urbanização

O direito à arquitetura e à cidade São Paulo

Vila Patrimonial, em finalização Zona Sul, São Paulo Ambiente Arquitetura-UMM/MOHAS

CEU- Unified Education Center S. Paulo-2006, the rigth to good education Sao Paulo

FROTA NACIONAL DE CARROS E MOTOCICLETAS (2003-2013) Fonte: Anuários da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) FROTA DE CARROS 50000000 40000000 30000000 23669032 24936451 26309256 27868564 29851610 32054684 34536667 37188341 39832919 42682111 45444387 20000000 10000000 0 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 FROTA DE MOTOCICLETAS 20000000 15000000 10000000 5000000 5332056 6079361 6934150 7969925 9410110 11045686 12415764 13950448 15579899 16910473 18114464 0 - Enquanto a frota de carros duplicou (x 1,91) a de motocicletas quase quadruplicou (x 3,39).

VIAGENS: DISTÂNCIA E TEMPO (ANTP, SIM, 2012) TC 248 bi km 10,9 bi h (49%) trilho: 4% TI 152 4,9 (22%) TNM 33 6,6 (29%) São Paulo, 2012: viagem média 2:42h RMBH: 42 min p 62 min de 2002 a 2012 em TC

Transporte individual no centro da matriz de mobilidade urbana no Brasil Irracional para a mobilidade coletiva Irracional para a sustentabilidade ambiental Irracional para a saúde humana, física e psíquica Irracional para a economia urbana. MAS PORQUE, AFINAL, ELE SE MANTÉM COMO CENTRO DA MATRIZ DE MOBILIDADE URBANA?

Brasil liderou valorização de imóveis do mundo por 5 anos Nos últimos cinco anos, nenhum lugar do planeta viveu valorização imobiliária tão grande como a ocorrida no Brasil. Comparação entre 54 países realizada por bancos centrais de todo o mundo mostra que o preço médio dos imóveis brasileiros subiu 121,6% no período pós-crise de 2008. Revista Exame 18/01/2014

DESIGUALDADE, ILEGALIDADE E VIOLÊNCIA: CIDADE PARA ALGUNS, DIREITOS PARA ALGUNS, LEIS PARA ALGUNS. ( Tensão na aplicação da lei)