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Transcrição:

PN 6897/04-5; Ap: T.C. Porto, 4 J (24363/03.7TJPRT) Ap.te: Nestlé Portugal, SA [adv: Drª. Sofia Faro., Praça do Bom Sucesso, 127, Esc. 307 Porto] Ap.dos: Mariana Medinas & Francisca Janeiro [ Snack-Bar A Toca- Rua 1º. de Maio, 46 7940 Cuba]; Mariana Adelaide Raminhos Medinas; Francisca Antónia Galinha Janeiros [Rua de Beja, 9, Faro do Alentejo, 7940 - Cuba]. Acordam no Tribunal da Relação do Porto 1 Introdução (a) A A. não se conforma com a absolvição parcial do pedido decretada na 1ª. Instância. (b) Da sentença recorrida: (1) A cláusula penal do contrato ajuizado implica, pelo seu resultado, que a A. obtenha o cumprimento integral do acordo como se este não tivesse sido resolvido; (2) Ora, se o contrato foi cumprido tempestivamente por 36 meses, parece certo que a cláusula penal deve também atender, e ser adequada ou proporcional ao objectivo do acordo celebrado pelas partes. (3) Para além disso, o montante da cláusula penal ultrapassa aqui largamente o limite de 20 % do valor económico do contrato, que a jurisprudência tem vindo a fixar como limite ao montante global das cláusulas penais. (4) E convém não esquecer o limite absoluto que impõe o artº. 813 CC, precisamente para evitar o enriquecimento do credor: o montante da cláusula não pode exceder o valor da obrigação principal. (5) No caso em apreço, parece evidente que a aplicação da cláusula possibilitaria uma indemnização manifestamente excessiva, no confronto dos interesses dos contraentes, desproporcional face aos danos a ressarcir. 1

(6) Importa ainda acrescentar, aliás, que tal cláusula, passando despercebida, possibilita a existência de um efeito surpresa, já que aumenta de forma inesperada o montante indemnizatório numa quantia saliente. (7) É, por isso, passível, também, de redução, nos termos do artº. 8º c) e, sobretudo, artº. 15, DL 446/85. (8) Reduz-se, pois. visto também o artº. 812 CC, 720,00 ao montante da cláusula: de acordo com a mais recente doutrina, este procedimento é oficioso, dada a evidência da excessividade. 2 Matéria assente: (a) A A. e a 1ª. R., representada pelas 2ª. e 3ª. RR., celebraram em 12/08/99 o contrato de distribuição de produtos Nestlé nº. 1999002661; (b) De acordo com o quadro inscrito na cláusula I, 1º., 2º., e 3º., a 1ª. R. obrigou-se a não publicitar outras marcas de café e descafeinado e a consumir, em exclusivo, no seu estabelecimento, Snack-Bar A Toca, o café Buondi lote Premium. (c) E obrigou-se a consumir o mínimo mensal de 24 Kg. daquele café. (d) Como contrapartida, nos termos das cláusulas III e 1ª. do anexo, sob a epígrafe Comparticipação Publicitária, a A. entregou à1ª. R. a quantia de pte 292.500$00 (250.000$00 + 17 % IVA). (e) Logo na cláusula 2 do anexo, ficou estabelecido que, com a resolução do contrato, antes do termo do seu período inicial, a 1ª. R. restituiria à A. a comparticipação publicitária, mas deduzida do montante proporcional ao período do contrato decorrido, contado em meses. (f) Na cláusula 3ª. do anexo, e no quadro inicial do contrato, estipularam as partes que a violação das obrigações previstas na cláusula I, 1ª. a 3ª., faria incorrer o infractor na obrigação de indemnizar a A. no montante de pte 700$00 por cada Kg. de café não adquirido, até ao termo do prazo contratual. (g) Entretanto, ao abrigo da cláusula 1ª. do Anexo, sob a epígrafe Comodato e Aquisição de Equipamento, a A. colocou no Snack-Bar A Toca, um moinho de café San Marco- normal, no valor de pte 70.200$00. (h) Mas ficou estipulado na cláusula 4ª. do Anexo que, resolvido ou extinto o contrato, sem cumprimento perfeito e integral da 1ª. R., ficava esta obrigada a 2

indemnizar a A. pelo valor do moinho do café que, no entanto, ficava a pertencerlhe. (i) Ainda como contra-partida das obrigações assumidas, de acordo com as cláusulas 3 do Contrato e 1ª. do Anexo, sob a epígrafe Comodato-Material ponto de venda, a A. colocou também no Snack-Bar A Toca, 2 toldos Capota, no valor global de pte. 134.550$00 (57.500$00 cada + 17 % IVA x 2 ). (j) Por fim, na cláusula 4 do Anexo, foi estipulado entre as partes que, resolvido ou extinto o contrato, sem cumprimento perfeito e integral da 1ª. R. ficava esta obrigada a indemnizar a A. pelo sobredito valor bem como a restituirlhe os toldos. (k) Sucede que, a partir de Novembro de 2001, quando faltavam 34 meses para o termo dos 6º do contrato (cláusula V, 1º. e quadro inicial), e consumidos 394 Kgs. de café dos 1.440 contratados (24 Kgs./mês x 60 meses), a primeira Ré deixou de consumir o café Buondi da A., não mais retomando o seu consumo. (l) Face a esta circunstância, a A. resolveu o contrato por carta de 28/01/03, notificando-a de um pedido de ressarcimento de acordo com op quadro inicial do contrato e as cláusulas 2ª., 3ª. e 4ª. do Anexo. (m) Mas a 1ª. R., apesar de interpelada, não pagou quaisquer dessas quantias até agora. (n) A 1ª. R. não está matriculada como comerciante nem consta do Registo Comercial a inscrição do contrato de sociedade que lhe diga respeito. (o) As segunda e terceira RR. são as únicas sócias da primeira R. 3 Concl./Alegações 1 Para que o Tribunal possa ajuizar sobre o excesso da cláusula penal é necessário que o devedor solicite a sua redução. 2 A razão de ser desta resolução da cláusula penal consiste em evitar abusos do credor, surpreendendo-se aqui a mesma lógica e os mesmos pressupostos que determinam a anulabilidade dos negócios usurários, artº. 282 CC. 3 A recorrida não solicitou a redução da cláusula penal, que não cabe oficiosamente ao abrigo do artº 812 CC. 4 Mesmo que assim não fosse, para a intervenção do Tribunal, é necessária a presença de uma cláusula manifestamente excessiva, não bastando um simples 3

excesso, sendo sobre o devedor que pretende a redução, que recai o ónus de alegação e prova do manifesto excesso. 5 Ora, a recorrida foi citada regularmente e não contestou, enquanto não existem elementos factuais reveladores de qualquer desproporção entre o dano da recorrente e a pena estipulada. 6 Sendo certo que, para se poder aferir do excesso manifesto da cláusula penal, é, antes de mais, indispensável conhecer o dano efectivo do lesado. 7 E, no caso dos autos, desconhece-se o valor dos danos da recorrente, o que impossibilita a tarefa concretizadora da apreciação da cláusula penal. 8 Assim, a redução da cláusula penal operada nos presentes autos, pode conduzir à fixação de uma indemnização de montante inferior aos prejuízos efectivos da recorrente, contrariando os mais elementares princípios da responsabilidade civil. 9 Aliás, o Tribunal recorrido, socorreu-se indevidamente de factos estranhos aos debates, que não foram alegados nem resultaram provados: lucro do Kg. de café, valor económico do acordo, conhecimento de que a R. consumiu 394 Kg. de café em 36 meses a um ritmo aceite pela A. e que a R. demoraria quase 13 anos a consumir a quantidade acordada; tudo para lançar o juízo de excessividade sobre a cláusula penal em questão. 10 E, mesmo que tal fosse permitido ao Tribunal, esses mesmos factos não seriam, por si só, suficientes para a conclusão, face à total ausência de elementos que, como já se disse, permitam aferir do prejuízo efectivo da recorrente. 11 Não se verificam, pois, nenhum dos pressupostos de que o artº. 812 CC faz depender a redução equitativa da cláusula penal. 12 Por fim, da matéria provada, não resultam os elementos de conexão que lhe façam ser aplicável o DL 446/85, nem tão pouco ficou provado que a cláusula penal em análise passasse despercebida ou pudesse constituir surpresa. 13 Por conseguinte, a sentença recorrida violou os artºs. 4, 405, 810, 812 CC e artº. 659/3 CPC, devendo ser revogada para condenação da recorrida nos termos exactos do pedido. 4 Contra-alegações: não houve. 5 Sustentação: 4

(a) A posição tradicional e maioritária, em sede de conhecimento do carácter excessivo da cláusula penal, é de facto a defendida pela A. nas alegações do recurso; (b) Todavia, alguma doutrina e jurisprudência mais recentes, têm vindo a secundar a posição da sentença, com base em argumentos históricos (projecto Vaz Serra), teleológicos (equilíbrio efectivo dos contraentes) e sistemáticos (paralelismo com o abuso de direito) [vide, por todos, Oliveira, Nuno, Em tema de redução oficiosa da pena convencional, in Estudos em Comemoração do 10º. Aniversário da Licenciatura da Faculdade de Direito na Universidade do Minhopgs. 729 e ss.; Ac. RLP, em processo semelhante, neste juízo: julgou improcedente, recurso idêntico]. (c) Para além disso, o contrato celebrado entre as partes assume as características de contrato de adesão: as cláusulas são nulas ou podem ser reduzidas nos termos do invocado arº. 8 c), sobretudo 15, DL 446/85, disposições que proíbem respectivamente, as cláusulas contratuais que, pelo contexto em que surjam, passem despercebidas a um contratante normal colocado na posição de um contraente real e as cláusulas contrárias à boa-fé. 6 Recurso: pronto para julgamento nos termos do artº. 705 CPC. 7 - Sequência: (a) A A., no que diz respeito ao funcionamento da cláusula penal, exigiu da 1ª. R. o pagamento de 3.650,54, montante assim calculado: 24 Kg./mês x 60 meses = 1.440 Kgs.; 1.440 Kgs. 394 Kgs. = 1.046 Kgs.; 1046 Kgs. x 3,49 = 3.650,54. (b) A crítica da sentença ao pedido fixou-se no seguinte argumento: No caso presente, face ao valor global do fornecimento de café (conteúdo principal do sistema das obrigações contratuais), a fixação da cláusula penal no montante pedido constitui aproximadamente 90 % do valor global do contrato [considerado o lucro líquido da fornecedora: o valor de 3,49 que foi fixado no contrato, tendo naturalmente em conta este enquadramento] e esse montante é francamente excessivo face à posição das partes. 5

(c) Continuou: Se durante 36 meses a R. consumiu apenas 394 Kgs. de café (à média mensal de 10,9 Kgs.),. a esse ritmo, aceite pela A., a R. demoraria 131 meses (quase 13 anos) a consumir a quantia acordada:. a disparidade na situação de facto (volume de encomendas) é desconforme com a aplicação da cláusula penal, que corresponde aqui, no fundo, a permitir à fornecedora de café a obtenção do lucro completo de um negócio que bem sabia ir-se prolongar por um larguíssimo período de tempo. (d) Contudo, a cláusula V 3ª. do contrato celebrado entre as partes, diz-nos, apenas, que a violação pela R. do dever contratual de consumir o mínimo mensal, a obriga a indemnizar a A., em conformidade com o valor referido neste contrato, i. é, em caso de rescisão, tal como no formato da causa, tem de ter-se em conta, tão somente, os efeitos contratuais até ao momento da desvinculação. (e) Na verdade, a A. não tem razão quanto ao pedido, que não poderia proceder na figura dada, mas procede, apesar de tudo, em parte, esta apelação: não há necessidade de ser reduzida a cláusula de responsabilidade contratual, apenas de ser bem aplicado o sistema de responsabilização das partes concebido no convénio. (f) Este destina-se, com efeito, a reconfirmar o equilíbrio entre as partes num contrato de distribuição em exclusivo, onde são racionais e compatível com o escopo do negócio, cláusulas de consumo mínimo do produto distribuído e as obrigações decorrentes destas devem estar protegidas. (g) Todavia, o texto e o contexto da cláusula crítica não autoriza, como já foi dito, o pedido da A., mas a condenação ficou abaixo do montante a calcular segundo o estabelecido contratualmente: 24 Kgs/mês 10,9 Kgs = 13,1 Kgs.; 13,1 Kgs./mês x 36 meses = 471, 6 Kgs; 471,6 Kgs x 3,49 = 1.645,89. (h) Assim, a apelante faz vencimento no que vai de 720 a 1.645,89, não sendo necessário enfrentar os problemas da oficiosidade da redução da cláusula penal, defendida, aliás, com brilho na sentença recorrida, nem da tomada de conhecimento de factos excedentes ao objecto do litígio, tema que não influenciaria, dado ter sido feito, neste particular, uma mera análise económico - jurisdicional do contrato, com dados inferidos dos motivos e do escrito estabelecido entre as partes. (i) Por conseguinte, visto o artº. 406/1 CC, vai a sentença de 1ª. instância parcialmente revogada com a argumentação que antecede e fica, assim, incluído 6

no cômputo da medida da satisfação a dar ao pedido, esta verba de 1.645,89 e não a verba de 720,00, mantidas as restantes, pacíficas. 8 Custas: na proporção da sucumbência, por apelante e apeladas. 7