FRACASSO ESCOLAR NA ALFABETIZAÇÃO/LETRAMENTO Autor: Rosimeire Farinelli Aluna do Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Educação Nível de mestrado - Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS/Paranaíba - Orientadora: Milka Helena Carilho Slavez) Coautor: Daniella Cristini Fernandes da Silva - Aluna do Programa de Pós- Graduação stricto sensu em Educação Nível de mestrado - Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS/Paranaíba - Orientadora: Milka Helena Carilho Slavez) Problema de pesquisa As discussões que acontecem nos dias atuais sobre alfabetização/letramento em congressos, cursos de formação inicial e continuada de docentes, em pesquisas/estudos, entre outros, têm apontado de modo preciso as causas do fracasso escolar nas séries iniciais da Educação Básica? Hipóteses As discussões sobre o fracasso no processo de alfabetização/letramento aparecem associadas a vários fatores. E, em muitos momentos, se definem de acordo com a perspectiva de quem discute o assunto apresentando certa parcialidade. Questões variadas como: carência cultural, fatores orgânicos, afetivos, emocionais, cognitivos, entre outros, são algumas condições que aparecem como determinantes na causa do fracasso escolar na alfabetização. Muito pouco é levado em conta, a prática pedagógica, o método de ensino aplicado, a formação inicial e continuada do professor, e o fator que podemos julgar como o mais importante; o modo como o aluno aprende. Objetivos Abordar alguns autores que tratam de alfabetização/letramento e suas perspectivas em relação ao tema; Trazer algumas considerações sobre o fracasso escolar na alfabetização/letramento; Favorecer a reflexão, e contribuir para a busca de novos olhares sobre o processo de alfabetização/letramento. 12607
2 Procedimentos metodológicos O trabalho será desenvolvido por meio de pesquisa qualitativa. Será realizada pesquisa bibliográfica e serão aplicados questionários aos professores que atuam nas séries iniciais do Ensino Fundamental da Rede Pública de Ensino e Particular da cidade de Paranaíba/MS. Serão realizadas entrevistas com especialistas (Neuropediatras, fonoaudiólogos, psicólogos, psicopedagogos, terapeutas ocupacionais, e outros), que são responsáveis pelos diagnósticos dos alunos, e também com a família que exerce um papel muito importante nesse processo. Discussões e resultados Tradicionalmente, a alfabetização é discutida centrada em métodos (fonético, sintético, global entre outros), não levando em consideração, o que as crianças sabem de escrita e o modo como elas aprendem conforme destacado por Emília Ferreiro e Ana Teberosky na obra Psicogênese da língua escrita publicada no Brasil em 1986. Lerner em sua obra Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário (2002) diz, que os propósitos de leitura e escrita dentro da escola, estão distantes do que se pretende fora dela, pois na escola pauta-se muito em propósitos didáticos e não para que os conteúdos favoreçam o conhecimento de mundo. Como o objetivo final do ensino é que o aluno possa fazer funcionar o aprendido fora da escola, em situações que já não serão didáticas, será necessário manter uma vigilância epistemológica que garanta uma semelhança fundamental entre o que se ensina e o objeto ou prática social que se pretende que os alunos aprendam. A versão escolar da leitura e da escrita não deve afastar-se demasiado da versão social não-escolar. (LERNER, 2002, p. 35) A obra A Psicogênese da Língua Escrita, de Emília Ferreiro e Ana Teberosky, também trata dos processos psicológicos pelos quais a criança passa, e assim, procura compreender, de que maneira esta se apropria do conhecimento. O psicólogo suíço Vygotsky, um dos grandes pensadores do meio acadêmico, trata da importância da interação social e do instrumento linguístico, como fatores essenciais para o bom desenvolvimento cognitivo. Vê a escrita como um artefato cultural. 12608
3 Morais (2010) aborda em sua obra: A pesquisa psicolinguística de tipo construtivista e a formação de alfabetizadores no Brasil: contribuições e questões atuais, como se carece de pesquisas que tratam de como alfabetizar aprendizes diferentes: Além da análise das práticas e das representações dos docentes sobre como alfabetizar aprendizes diferentes, carecemos de pesquisas que melhor caracterizem os alunos de nossas séries iniciais que têm dificuldades em se alfabetizar. Sim, estamos em um país onde ainda se faz pouquíssima investigação sobre os alunos lentos ou com dificuldade de aprender (...). Carecemos de um exame mais acurado, que nos permita distinguir dificuldades de aprendizagem, vinculadas a um ensino deficiente, de quadros de fracasso que mereçam ser tratados como resultantes de dislexias. (MORAIS, 2010, p. 31 e 32) Em muitos momentos da história da educação, a condição de ser considerado alfabetizado foi avaliada sobre diferentes aspectos do conhecer da leitura e da escrita. Como apontou Ferraro (2002); (...) tornou mais preciso e menos arbitrário o critério de avaliação de níveis de letramento em função de grau de instrução, não só propondo três níveis de letramento, correspondentes a três cortes na escala de anos de escolaridade, mas também caracterizando cada um desses três níveis de letramento. Com o passar do tempo, o sistema de avaliação do rendimento dos escolares foi ampliando e tomando novos formatos como, por exemplo: Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o Exame Nacional de Cursos (o Provão ); estaduais, como o Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) e o Sistema Mineiro de Avaliação da Educação Pública (Simave); e ainda gerou a participação do Brasil em avaliações internacionais, como o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Essas avaliações têm dado destaque especialmente para o desenvolvimento de leitura e de escrita dos alunos, quanto às habilidades de letramento nos diferentes níveis de ensino. Apesar de todos os recursos disponíveis e em especial estudos e pesquisas realizadas que têm como objetivo oferecer uma educação de qualidade, os resultados como aponta Magda Soares (2014-6ª edição) em sua obra Alfabetização e Letramento; revelam dados incoerentes e muitas vezes não conclusivos. São dados que resultam de diferentes perspectivas do processo de alfabetização, a partir de diferentes áreas de conhecimento (Psicologia, Linguística, Pedagogia), cada um tratando a questão independente e ignorando as demais. 12609
4 Ainda destacando Soares, muitas vezes, estudos sobre os problemas de alfabetização/letramento apontam em alguns momentos, o aluno como causa do fracasso em seus diversos aspectos como pelo fator psicológico, saúde, linguagem, cultural, entre outros. O professor pela sua formação, ineficiência de métodos, material didático e o próprio sistema de escrita. A alfabetização e letramento são tratados sobre diferentes pontos de vistas dependendo da conceituação desses temas dentro do grupo em que são discutidas. Conforme destaca Soares nesta mesma obra, uma teoria coerente de alfabetização, exigiria uma articulação e integração dos estudos e pesquisas a respeito de suas diferentes facetas. Soares (2014); A natureza complexa e multifacetada do processo de alfabetização e seus condicionantes sociais, culturais e políticos têm importantes repercussões no problema dos métodos de alfabetização, do material didático para a alfabetização, particularmente a cartilha, da definição de prérequisitos e da preparação para a alfabetização, da formação do alfabetizador. (SOARES, p. 23, 2014) Diante da importância da aquisição da leitura e da escrita como um recurso favorável para a participação social de forma efetiva, reflexiva e crítica; paramos para questionar a qualidade do processo de alfabetização/letramento que foi, e que ainda é oferecido nas instituições de ensino. É possível refletir então, sobre a influência de fatores positivos e negativos internos e externos à escola. Porém, muitas vezes, nos deparamos com informações contraditórias deste processo de ensino-aprendizagem que pouco contribuem para a reflexão/ação. O fracasso do processo de alfabetização/letramento em muitos momentos, aparece associado à práticas pedagógicas e métodos de ensino. Para Soares (2014); A discussão sobre método de alfabetização é hoje, difícil, porque se apresenta sempre contaminada por duas questões. Em primeiro lugar, o fato de que o problema de aprendizagem da leitura e da escrita tenha sido considerado, no quadro de paradigmas conceituais tradicionais, como um problema, sobretudo metodológico, tem levado a que se rejeitem métodos de alfabetização ao mesmo tempo em que 12610
5 se rejeitem esses paradigmas que já não mais são aceitos. Em segundo lugar, e em estreita relação com a questão anterior, método, na área da alfabetização, tornou-se um conceito estereotipado... (SOARES, 2014, p. 93) Emília Ferreira e Ana Teberosky, quando na obra Psicogênese da língua escrita, 1985 tratam dos métodos de alfabetização e fazem crítica a eles, estão se referenciando aos métodos tradicionais como maneira de concepções empiristas do processo de aprendizagem. Porém, não negam a aplicação de um método, ao menos que se conheça de forma profunda e eficaz o processo de aprendizagem do sujeito e quais metodologias podem contribuir de forma positiva para seu desenvolvimento. Dessa forma deixam claro, que a metodologia de ensino pode favorecer, estimular, ou, bloquear a construção do conhecimento. Considerações finais Diante dessas primeiras reflexões, é possível perceber, que embora se tenha uma discussão significativa sobre alfabetização/letramento, dificuldades de aprendizagem e fracasso escolar, ainda há muito que se pesquisar, quando se pensa em uma concepção de alfabetização que se inicia na educação infantil e que deve acontecer de maneira satisfatória até o final dos três primeiros anos do ensino fundamental. REFERÊNCIAS FERRARO, A. R. Analfabetismo e níveis de letramento no Brasil: o que dizem os censos? Educação & Sociedade, Campinas, v. 23, n.81, p.21-47, dez 2002 FERREIRO, E. & TEBEROSKY, A. A psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986. LERNER, D. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Porto Alegre: Artmed, 2002. MORAIS, A.G. A pesquisa psicolinguística de tipo construtivista e a formação de alfabetizadores no Brasil: Contribuições e questões atuais, XV, v. 1, p. 31-32, 2010. SOARES, M. Letramento e escolarização. In: RIBEIRO, Vera Masagão (Org.). Letramento no Brasil. São Paulo: Global, 2003. p.89-113. 12611