REABILITAÇÃO NA MIELOMENINGOCELE. Luciane Robaina - Médica Fisiatra Coordenadora Clinica AACD/RS Responsável pela clinica de Mielomeningocele AACD/RS



Documentos relacionados
Patrícia Zambone da Silva Médica Fisiatra

Desvios da Coluna Vertebral e Algumas Alterações. Ósseas

Lembramos, no entanto, que a Deficiência Física, não está contemplada na sua totalidade, existindo outros CIDs não listados e que sofrerão análise.

Escoliose: uso de órteses

Cinesioterapia\UNIME Docente:Kalline Camboim

04/11/2012. rígida: usar durante a noite (para dormir) e no início da marcha digitígrada, para manter a ADM do tornozelo.

Gait analysis contribuition to problem identification and surgical planning in CP patients: an agreement study

Espinha Bífida. Dr. Fábio Agertt

DEFEITOS DE FECHAMENTO DO TUBO NEURAL

Avaliação Postural e Flexibilidade. Priscila Zanon Candido

Displasia coxofemoral (DCF): o que é, quais os sinais clínicos e como tratar

Mielomeningocele. Libia Ribas Moraes, Daniela Rosa Cristiane Ferreira. Introdução

ECO - ONLINE (EDUCAÇÃO CONTINUADA EM ORTOPEDIA ONLINE)

Fisioterapia nas Ataxias. Manual para Pacientes

ÓRTESES DE MÃOS. ÓRTESES: Vem da palavra grega orthos que significa corrigir.

Foco Critérios de diagnóstico Dependente, não participa Necessita de ajuda de pessoa Necessita de equipamento Completamente independente

Avaliação Fisioterapêutica da Coluna Lombar Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional

Alterações ósseas e articulares

Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 ISBN

LISTA DE ÓRTESES E PRÓTESES NÃO IMPLANTÁVEIS

EXAME DO JOELHO P R O F. C A M I L A A R A G Ã O A L M E I D A

Engenharia Biomédica - UFABC

Dados Pessoais: História social e familiar. Body Chart. Questões especiais Exames Complementares Rx (23/08/2012) placa de fixação interna a nível da

Genética Molecular Padrões de Herança Citoplasmática e Multifatorial

Amputação do membro inferior

CLASSIFICAÇÃO FUNCIONAL EM TÊNIS DE MESA PARA CADEIRANTES CLASSIFICAÇÃO FUNCIONAL EM TÊNIS DE MESA

CÂMARA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO

Dados Pessoais: História social e familiar. Body Chart

Clínica de Lesões nos Esportes e Atividade Física Prevenção e Reabilitação. Alexandre Carlos Rosa alexandre@portalnef.com.br 2015

EXAME DO QUADRIL E DA PELVE

TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR TRM. Prof. Fernando Ramos Gonçalves-Msc

Fraturas Proximal do Fêmur: Fraturas do Colo do Fêmur Fraturas Transtrocanterianas do Fêmur

PREVINA AS DEFORMIDADES DA COLUNA VERTEBRAL DO SEU FILHO!

Adutores da Coxa. Provas de função muscular MMII. Adutor Longo. Adutor Curto. Graduação de força muscular

Maria da Conceição M. Ribeiro


( ) CONSULTA EM CIRURGIA ORTOPEDICA

Alterações da Estrutura Corporal

Gestão do Paciente com Deficiência Uma visão Prática da Terapia Ocupacional e da Fisioterapia

PROTETIZAÇÃO E TIPOS DE PRÓTESES

Prótese e Órtese. Prof.ª Juliana Yule

Rede de Reabilitação Lucy Montoro

PONTO-FINAL CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA

INVOLUÇÃO X CONCLUSÃO

Síndromes Dolorosas do Quadril: Bursite Trocanteriana Meralgia Parestésica

Treino de marcha em criança portadora de mielomeningocele

Fundação Cardeal Cerejeira. Acção de Formação

ESCOLIOSE Lombar: Sintomas e dores nas costas

Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional. Profa. Dra. Sílvia Maria Amado João

AVALIAÇÃO POSTURAL. Figura 1 - Alterações Posturais com a idade. 1. Desenvolvimento Postural

O que é Hemofilia? O que são os fatores de coagulação? A hemofilia tem cura?

PROVA DE CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS MÉDICO FISIATRA

Reabilitação em Dores Crônicas da Coluna Lombar. Michel Caron Instituto Dr. Ayrton Caron Porto Alegre - RS

"Após a lesão medular, é preciso compreender a nova linguagem do corpo, para descobrir que é a mesma pessoa, com desejos, manias e grande potencial.

Apêndice IV ao Anexo A do Edital de Credenciamento nº 05/2015, do COM8DN DEFINIÇÃO DA TERMINOLOGIA UTILIZADA NO PROJETO BÁSICO

Especial Online RESUMO DOS TRABALHOS DE CONCLUSÃO DE CURSO. Fisioterapia ISSN

KINETIC CONTROL: OTIMIZANDO A SAÚDE DO MOVIMENTO

Inovações Assistenciais para Sustentabilidade da Saúde Suplementar. Modelo Assistencial: o Plano de Cuidado

RPG FISIOTERAPIA R$ 33,35. Avaliação Terapia Ocupacional não possui Não possui TERAPIA OCUPACIONAL R$ 42,

Reumatismos de Partes Moles Diagnóstico e Tratamento

TÉCNICAS EM AVALIAÇÃO E REEDUCAÇÃO POSTURAL

Alterações. Músculo- esqueléticas

INTRODUÇÃO. A doença de Parkinson (DP) é uma enfermidade neurodegenerativa de causa desconhecida, com grande prevalência na população idosa.

PROVA DE CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS MÉDICO ORTOPEDISTA. Referentemente à avaliação do paciente vítima de politrauma, é correto afirmar, EXCETO:

Avaliação Fisioterapêutica do Joelho Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional

1. CONSIDERAÇÕES SOBRE A MARCHA EM CASOS DE FRATURAS DO MEMBRO INFERIOR.

DE VOLTA ÀS AULAS... CUIDADOS COM A POSTURA E O PESO DA MOCHILA!

Médico Neurocirurgia da Coluna

Lombociatalgia.

Luxação da Articulação Acrômio Clavicular

Controle Postural. Orientação Postural: Relação adequada entre os segmentos do corpo e do corpo com o ambiente. manter CDM nos limites da BDA

Avaliação Fisioterapêutica da Coluna Lombar

NEOPRENE ORTOPEDIA PIERQUIM * QUALIDADE CONFORTO SEGURAÇA* ORTOPEDIA PIERQUIM

s.com.br Prof. Ms. José Góes Página 1

Fisioterapia na lesão medular

EXAME CLÍNICO DE MEMBROS SUPERIORES E COLUNA ATIVO CONTRA-RESISTÊNCIA MOVIMENTAÇÃO ATIVA

A causa exata é determinada em apenas 12-15% dos pacientes extensamente investigados

Implementação do treinamento funcional nas diferentes modalidades. André Cunha

Fisioterapia no Acidente Vascular Encefálico (AVE)

Proteger a medula espinal e os nervos espinais. Fornece um eixo parcialmente rígido e flexível para o corpo e um pivô para a cabeça

MMII: Perna Tornozelo e Pé

ABORDAGEM DAS DISFUNÇÕES POSTURAIS. André Barezani Fisioterapeuta esportivo/ Ortopédico e Acupunturista Belo Horizonte 15 julho 2012

SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO DA FUNÇÃO MOTORA GROSSA PARA PARALISIA CEREBRAL (GMFCS)

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ SUYANNE NUNES DE CASTRO PERFIL DAS ALTERAÇÕES POSTURAIS EM IDOSOS ATENDIDOS NO SERVIÇO DE REEDUCAÇÃO POSTURAL GLOBAL

Unidade 2. Tecnologias assistivas: habilidade física e autonomia motora

PROGRAMA DE ENSINO NA HIDROTERAPIA PARA LESADOS MEDULARES PARAPLEGIA

SERVIÇO: ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL PARA PESSOAS ADULTAS

Quem vou ser daqui a 20 anos Público. Privado. Assistencial Acadêmica Gestão. Assistencial Acadêmico Gestão Autônomo

Porque se cuidar é coisa de homem. Saúde do homem

CURSO DE FORMAÇÃO ISO-STRETCHING

Avaliação Fisioterapêutica do Tornozelo e Pé Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional

ESCOLIOSE. Prof. Ms. Marcelo Lima

NOTA TÉCNICA Nº 15/2015 SUVIGE/CPS/SESAP-RN

Alternativas da prótese total do quadril na artrose Dr. Ademir Schuroff Dr. Marco Pedroni Dr. Mark Deeke Dr. Josiano Valério

DEFORMIDADES DA COLUNA VERTEBRAL: avaliação postural em adolescentes da faixa etária entre 11 a 16 anos

Patologias da coluna vertebral

Nutrição & cuidados no tratamento do câncer. Valéria Bordin Nutricionista CRN3-4336

Transcrição:

REABILITAÇÃO NA MIELOMENINGOCELE Luciane Robaina - Médica Fisiatra Coordenadora Clinica AACD/RS Responsável pela clinica de Mielomeningocele AACD/RS

DEFINIÇÃO Espinha bífida consiste no grupo de defeitos que ocorrem durante a formação do tubo neural- defeito na fusão dos arcos vertebrais. Espinha bífida oculta: sem repercussão clínica- 10% dos adultos. Espinha bífida cística: com repercussão clínica

Mielomeningocele Meningocele 55% Mielocele Raquisquise Anencefalia 35 a 45% Encefalocele 7%

INCIDÊNCIA A frequência mundial é de aproximadamente 1:1000 nascidos vivos. Na Grã Bretanha a frequência chega a 4: 1000 nascidos vivos. No Brasil há 2 estudos: um em Curitiba realizado entre 1990-2000 frequência de 1,8:1000 nascidos vivos e outro em Campinas entre 1982 a 2001 frequência de 2.28:1000.

ETIOLOGIA Deficiência materna de ácido fólico. Uso de madicações: carbamazepina, ácido valpróico, fenobarbital, fenitoína, primidona, sulfassalazina, metotrexato. Hereditariedade: chance do segundo filho nascer com defeito do tubo neural é de 5%, do terceiro filho é de 10% e do quarto filho é de 25%.

Neurológicas Ortopédicas Urológicas Cognitivas Nutricionais COMPLICAÇÕES

NEUROLÓGICO Hidrocefalia: complicação mais frequente, sendo de caráter obstrutivo ( devido a mal formação de Chiari I, II ou III). Siringomielia ou hidromielia: cavidade liquorica no interior da medula ( entrada de liquido no canal central através do quarto ventrículo) sintomas de fraqueza em membros inferiores e superiores e escoliose

NEUROLÓGICO Medula presa (ancorada): ocorre aderência do tecido nervoso adjacente a ectoderme ao nascimento. Não ocorre migração da medula durante o desenvolvimento do nível L5 para o L1. O diagnóstico é clínico : espasticidade em membros inferiores, piora da escoliose, deformidades, dor lombar, piora do quadro urológico e intestinal.

UROLÓGICO Bexiga neurogênica- leva a ITU de repetição e perda da função renal. Mal formações renais. Puberdade precoce: ligada a hidrocefalia. Função reprodutora alterada no sexo masculino.

OUTRAS COMPLICAÇÕES Alergia ao látex: IgE mediada. Incide em aproximadamente 30 a 40 %. Sempre deve ser pesquisada antes dos pacientes se submeterem a procedimentos cirúrgicos. Obesidade: alteração no centro da saciedade pela hidrocefalia e redução da atividade física.

EQUIPE INTERDISCIPLINAR Fisiatra Urologista Neurologista Fisioterapia TO Fisioterapia aquatica Pedagogia. Psicologia Fonoaudiologia REABILITAÇÃO

OBJETIVOS Melhora da função, da independência FUNCIONALIDADE! Cirurgias SÓ COM FINALIDADE DE GANHO NA FUNÇÃO. Para o mesmo nível funcional o objetivo a ser alcançado deverá ser visto individualmente para não frustrar a equipe, o paciente e seus familiares.

MEIOS AUXILIARES Órteses: goteira suropodálica, órtese supramaleolar, órtese suropodálica não articulada, órteses longas com ou sem cinto pélvico, hastes derrotatórias, órteses de mão. Cadeira de rodas adaptada adequação postural.

PROGNÓSTICO DE MARCHA Fatores que influenciam: Peso Nível Motor Deformidades Cognitivo Condições sócioeconômicas e suporte familiar

NIVEL MOTOR- Conforme Hofmann e cols. ( 1973) Torácico Nâo apresenta movimentação nos membros inferiores Dembulação terapêutica com tutor longo com cinto pélvico e com RGO. Na vida adulta serão cadeirantes. Ortostatismo importante:redução da osteopenia, melhora do intestino e da bexiga, e evita deformidades.

NÍVEL MOTOR Lombar alto Tem funcionante o músculo psoas, adutores e eventualmente o quadríceps. Prognóstico de deambulação regular ( marcha domiciliar e comunitária para curtas distâncias) com uso de órteses longas com cinto pélvico e andador. Cadeirante na vida adulta.

NÍVEL MOTOR Lombar baixo Tem funcionante os músculos adutores, psoas, quadríceps, flexores mediais do joelho e eventualmente o músculo tibial anterior e gluteo médio. Prognóstico de deambulação é bom com o uso de órteses suropodálicas e com o uso de muletas canadense. Quando crianças podem necessitar de tutor longo com cinto pélvico para a deambulação.

NÍVEL MOTOR Sacral Tem funcionante os músculos psoas, adutores, quadríceps, flexores mediais do joelho, músculo tibial anterior, glúteo médio, flexores plantares e extensores do quadril. Podem ou não necessitar de órteses para a deambulação- deambulador comunitário. Cuidar pé neuropático!!!

Sistema de classificação FMS Descrita em 2004 como um método simples para descrever a mobilidade funcional em crianças com deficiência e auxiliar a comunicação entre os ortopedistas e a equipe de reabilitação Baseado na necessidade de utilização de meios auxiliares para a locomoção de pacientes portadores de deficiência Está sendo utilizado na maioria dos trabalhos que avaliam pacientes com PC e mielomeningocele

Sistema de classificação FMS Baseada nos meios auxiliares necessários para percorrer 3 diferentes distâncias: 5 mts (domiciliar), 50 mts (escola) 500 mts ( comunidade)

Sistema de classificação FMS ldada uma nota de 1 a 6 baseada na capacidade para deambular nestas 3 distâncias lclassificação: l1: cadeira de rodas; l2: andador l3: 2 muletas l4: 1 muleta l5: independente em superfícies planas l6: independente em todas as superfícies lgrahan, H Kerr; Harvey Adrienne; Rodda Jillian -The Functional Mobility Scale (FMS). Pediatric Orthop, vol 24, nro 5, l setembro/outubro de 2004.

DEFORMIDADES X NÍVEL TORÁCICO: flexão e abdução dos quadris, flexão de joelhos e equino dos pés. Medidas preventivas posicionamento, órteses e cinésioterapia. LOMBAR ALTO: flexão e adução dos quadris, pé equino e flexão de joelhos. LOMBAR BAIXO:flexão de joelhos, pé calcâneo valgo. SACRAL: pé calcâneo, cavo, dedos em garra.

TRATAMENTO DAS DEFORMIDADES Quadril: cirurgia só de partes moles para alinhar os membros inferiores e permitir o ortostatismo. Não se corrige a luxação do quadril ( não afeta a deambulação, não é dolorosa, quando é unilateral não se relaciona com o surgimento da escoliose.

TRATAMENTO DAS DEFORMIDADES Cirurgia com maus resutados ( desequilibrio muscular, flacidez muscular, instabilidade capsular, displasia acetabular, anteversão e valgismo exagerado do colo femoral) Pode levar a rigidez e a dificuldade para sentar

TRATAMENTO DAS DEFORMIDADES JOELHO: Quando a deformidade em flexão é maior que 30 graus, a indicação é cirúrgica. Em caso de recurvato, é indicado o uso de\ órteses longas. TORNOZELO: No caso de deformidade em valgo inicia com tratamento conservador. Se o uso da órtese promever áreas de hiperpressão maleolar prejudicando a deambulação o tto será cirúrgico.

TRATAMENTO DAS DEFORMIDADES PÉ: o objetivo do tratamento é a obtenção de pé plantígrado e com mobilidade, livre de áreas de hiperpressão e compatível com o uso de órteses. Pés rígidos podem levar ao desenvolvimento de pé de Charcot.

CONCLUSÃO Mielomeningocele por ser uma patologia complexa necessita ser atendida em um Centro de Reabilitação. O prognóstico para marcha é multifatorial. O objetivo de reabilitação pode diferir em pacientes com o mesmo nível de lesão Todas as intervenções em pacientes com mielomeningocele devem ter como objetivo melhorar a qualidade de vida e a funcionalidade.

Obrigada!!!