Guimarães Apontamentos para a sua História Padre António José Ferreira Caldas 2.ª Edição, Guimarães, CMG/SMS, 1996, parte I, pp. 253/262 ASILOS ASILO DE INVÁLIDOS Posto que a benemérita corporação da Santa Casa da Misericórdia logo desde a sua fundação socorresse entrevados pobres nos seus domicílios, só mais tarde possuiu um edifício, onde os recolhesse convenientemente. Tal edifício foi levantado em 1844, no largo de S. Paio, numas casas doadas para tal fim, no 1º de Julho de 1843, pelo piedoso cidadão, José Joaquim da Silva e sua mulher. É administradora deste pio estabelecimento a mesa desta corporação, que possui para a sustentação dos inválidos um fundo de 27:302$735 reis. Recebe vinte e seis inválidos de ambos os sexos, aos quais dá cama e mesa, vestido e 20 reis diários a cada um, com o que anualmente dispende, termo médio, 999$428 reis. Neste asilo distribui-se na noite de Natal uma ceia a 24 pobres, convidados pela mesa. ASILO DE ENTREVADOS DE S. DOMINGOS Está colocado nas dependências do hospital da venerável Ordem terceira de S. Domingos, ao nível do seu formoso jardim. Foi fundado 1
por António Alves Teixeira e sua mulher a 30 de Maio de 1854. Recolhe seis entrevados de ambos os sexos, aos quais fornece cama, abundante mesa e vestido. É o seu fundo actual 10:695$160 reis, gastando anualmente do rendimento deste capital a quantia de 174$317 reis com a sustentação do asilo. ASILO DE ENTREVADOS DE S. FRANCISCO Está igualmente colocado nas dependências do hospital desta Ordem. Esta corporação já socorria os seus irmãos entrevados em suas casas desde o ano de 1853; contudo só os recolheu no seu hospital a 4 de Outubro de 1858, podendo portanto assinar-se esta data à fundação do asilo. Foi seu fundador e primeiro benfeitor o benemérito cidadão António Joaquim de Carvalho, que lhe legou 18:000$000 reis, tendo já dado em vida a quantia de 2:000$000 reis. Actualmente possui este asilo um capital de reis 22:779$595. Recolhe doze entrevados de ambos os sexos, aos quais distribui cama, abundante mesa e vestido, com o que anualmente se gastam, termo médio, 466$810 reis. Para se conhecer o magnífico tratamento dos entrevados nestes dois últimos asilos, podem ver-se as tabelas da distribuição das rações, patentes nas secretarias das respectivas Ordens, das quais se conclui, que em nenhuma outra parte do país, em estabelecimento deste género, são os pobres tratados com igual abundância e variedade de alimentos. E dou-as em seguida, por me parecerem, a muitos respeitos, dignos de publicidade. TABELA DOS GÉNEROS PARA A RAÇÃO DIÁRIA DE CADA ENTREVADO * Dias de gordo Pão trigo... 57,36 gr. Pão de mistura... 459» Carne de vaca... 143,41» Carne de porco... 28,68» Arroz... 57,36» Unto... 3,58» 2
Feijão para o caldo da ceia... 28,68» Vinho verde... 0,176 lit. Azeite... 0,060» Hortaliça a que for necessária... * Dias de magro Pão trigo... 57,36 gr. Pão de mistura... 459» Bacalhau... 114,73» Batatas... 114,73» Feijão para o caldo do jantar e ceia... 57,36» Arroz... 57,36» Unto para os caldos, jantar e ceia... 10,75» Vinho verde... 0,176 lit. Azeite... 0,036» Vinagre... 0,036» Hortaliça a que fôr necessária... * Géneros de subst. Peixe em lugar do bacalhau... 229,46 gr. Feijão para ensopar em lugar de arroz... 57,36» Farinha de pau em lugar de arroz... 57,36» * Extraordinário Os entrevados que tomarem rapé, se lhes dará aos domingos e quintas-feiras... 7,17 gr. Aos domingos terão uma ração de fruta do tempo, sendo barata. Nos dias 2 de Agosto, 4 de Outubro, domingo de Páscoa da Santíssima Trindade, 229,46 gramas de assado. Véspera do Natal, um prato de mexidos - dia de Natal, serrabulho e lombo de porco - dia de desobriga e quinta-feira maior, um prato de arroz doce. ASILO DE INFÂNCIA DESVALIDA Este asilo, intitulado de «Santa Estefánia, Amor de Deus e do Próximo», é de iniciativa particular, devida principalmente ao benemérito e ilustrado professor de instrução primária, Francisco 3
António de Almeida. Os primeiros recursos deste asilo foram o produto dum bazar de prendas, promovido entre as damas vimaranenses. Foi solenemente inaugurado a 16 de Julho de 1863 e tinha estatutos aprovados pelo governo a 16 de Setembro do mesmo ano, e que ultimamente foram reformados e de novo aprovados a 18 de Outubro de 1877. Ocupa este asilo o edifício do extinto convento do Carmo, que lhe foi cedido para tal fim por decreto real de 30 de Maio de 1860, e é administrado por uma direcção eleita dos subscritores e benfeitores do mesmo asilo. Recolhe quarenta crianças pobres de ambos os sexos de 7 a 12 anos de idade, às quais dá cama, mesa e vestido e educa convenientemente, gastando-se nisto aproximadamente 3:000$000 reis anuais, que se apuram das cotas anuais dos subscritores, de parte das sobras das irmandades e confrarias do concelho e dos rendimentos do próprio fundo, que já hoje atinge a quantia de 25:908$150 reis. ASILO DE MENDICIDADE Este asilo, que se intitula de Nossa Senhora da Consolação e Santos Passos, por ser fundado e administrado pela irmandade da mesma invocação, ocupa umas casas situadas ao nascente do campo da Feira, fronteiras ao rio, que foram compradas para este fim pela corporação aos herdeiros de Manuel de Magalhães de Araújo Pimentel pela quantia de 6:000$000 reis. A mesma irmandade, esperando que este pio estabelecimento precise mais tarde de maiores proporções, comprou igualmente as casas e campo da falecida condessa de Basto, ficando assim com terreno para um asilo de primeira ordem. Teve lugar a sua abertura solene a 4 de Fevereiro de 1877 tendo sido criado por deliberação de 23 de Janeiro de 1876. Recolhe um número incerto de pobres da cidade e concelho, aos quais distribui cama, mesa e vestido. O serviço interno deste asilo é feito por irmãs hospitaleiras, que nas dependências do mesmo estabelecimento regem uma aula de instrução primãria, costura e bordados, onde apenas se aceitam filhas de irmãos. Foi esta aula solenemente instalada a 17 de Julho de 1877. Não possui por enquanto este pio estabelecimento um fundo próprio, que mereça relatar-se, mas vai-se sustentando pelo óvulo da 4
caridade pública, pelas cotas dos subscritores e parte das sobras das confrarias e irmandades do concelho. 5